Por vales e montes: à procura de ruínas e não só!…
O percurso deste passeio foi marcado por forma a que os participantes passem por alguns sítios que durante séculos foram importantes locais de culto dos povos do Sardoal e de algumas povoações do vizinho concelho de Abrantes (Carvalhal, Casais de Revelhos e Sentieiras).
Tem início na Vila do Sardoal, na Praça da República, junto à Capela do Espírito Santo, um dos locais de culto mais antigos do Sardoal, existindo provas documentais de que a Festa do Espírito Santo já se realizava antes de 1470.
Descendo para a Fonte Velha, passarão depois junto ao Sobreiro de D. Maria, uma das árvores classificadas do Sardoal, seguindo depois pelo antigo caminho das Sentieiras, ao longo da Quinta do Coro, atravessando as suas vinhas, a partir do Alto do Ramalhão, até chegar ao caminho municipal para as Sentieiras.
A partir das uvas destas vinhas, produz-se um excelente vinho, já premiado em termos nacionais e internacionais.As receitas conventuais recolhidas pela sua proprietária, D. Florinda Pires, são a base de alguns produtos de grande qualidade, como a marmelada, as compotas, a geleia e o licor de rosas e os figos pingo de mel.
Algures, à esquerda, situava-se a antiquíssima ermida de Santa Maria Madalena, que nos meados do século XVIII já se encontrava arruinada, mas da qual se sabe que no século XVI era objecto de grande devoção por parte dos povos circunvizinhos.
Seguindo o caminho para as Sentieiras, um pouco antes do marco que assinala o limite dos concelhos de Sardoal e Abrantes, à esquerda, podemos avistar a Quinta do Vale da Lousa, também chamada Quinta do Constâncio.
Esta quinta terá sido fundada pelo Dr. Manuel Constâncio (1726-1817), cirurgião e lente de Anatomia, patrono do Hospital de Abrantes e de cuja filha, Maria Margarida, se diz ter sido a Marília, musa inspiradora das poesias românticas de Bocage.
O Dr. Manuel Constâncio encontra-se sepultado junto ao altar da capela privativa da quinta, em cuja adega também se produzem vinhos de boa qualidade, comercializados sob a marca “Cantarinho” e que tem um parque/jardim com espécies exóticas e autóctones variadas. Infelizmente não nos foi concedida autorização para visitar a Quinta do Vale da Lousa.
Assim, continuamos pelo caminho das Sentieiras, entrando no concelho de Abrantes. À nossa esquerda, na encosta fronteira, está a aldeia das Sentieiras que não chegaremos a visitar, porque antes da ponte que cruza a ribeira vamos seguir pelo caminho à direita, que segue paralelo à ribeira, para norte. O povoamento vegetal que vamos encontrar, quer nas margens da ribeira, quer nas encostas adjacentes, merece uma observação atenta, pela variedade da flora existente e pelo tamanho de algumas espécies.
Pouco depois de deixar o concelho de Abrantes entrando, de novo, no concelho de Sardoal, encobertas por vegetação diversa e afastadas algumas dezenas de metros do caminho, à direita, encontram-se as ruínas da antiquíssima Igreja de S. Miguel de Alferrarede, com cemitério anexo, e que segundo a tradição popular terá sido o local de culto para os povos de Casais de Revelhos e de Sentieiras (que apesar de pertencerem ao termo de Abrantes, durante séculos pertenceram em termos religiosos à Paróquia de S. Tiago e S. Mateus de Sardoal).
A limpeza e posterior levantamento arqueológico da Igreja e da sua área envolvente pode fazer alguma luz sobre a importância histórica deste local.
Retomando o caminho para S. Simão, aproveitando, se for caso disso, as sombras das frondosas árvores que ladeiam a ribeira, seguindo sempre o caminho mais próximo da ribeira, irá passar perto das primeiras casas da aldeia de S. Simão que, por uma questão de tempo e extensão do percurso não chegaremos a visitar. Esta aldeia que durante séculos se chamou Alferrarede, deve ser uma das mais antigas do concelho de Sardoal e tem uma interessante capela com pia baptismal o que indicia uma existência anterior ao Concílio de Trento (meados do século XVI), até porque a vintena de Alferrarede aparece referenciada no Censo Geral do Reino de 1527.
Antes de chegar ao caminho municipal Sardoal/S. Simão, peça que lhe indiquem o caminho para o que parece ser uma ponte romana.
Seguindo pelo Vale da Amarela, continuando a encontrar uma cobertura vegetal diversificada e pouco vulgar, não demorará muito a chegar ao Vale Carvalho.
Com muito cuidado, devido ao trânsito automóvel, siga pela EN 358 em direcção a Carvalhal. Desvie-se para a floresta no primeiro caminho à direita, seguindo-o até ao ponto onde termina.
Siga, depois, por um carreiro íngreme que vai subir até encontrar o caminho da Senhora da Saúde, que continuará a subir até encontrar a Ermida da Senhora da Saúde, recentemente restaurada, no local onde existiam as ruínas da Ermida de Nossa Senhora dos Barbilongos, assim era chamada no século XVI, por ali viverem uns monges de grandes barbas e que depois da grande peste de 1580, por ali terem encontrado abrigo e cura muitos dos moradores de Andreus afectados por aquele flagelo, passou a ter a invocação da Senhora da Saúde, que ainda hoje se mantém em Andreus.
Pode aproveitar para fazer uma pequena pausa para descanso, após o que irá descer o caminho da Senhora da Saúde, podendo constatar que o aforismo popular para baixo todos os santos ajudam, não é tão verdadeiro como pode parecer. Nas proximidades de Andreus vai voltar a encontrar asfalto. Dentro da aldeia de Andreus continue pelo caminho da Senhora da Saúde, agora a subir, até à Rua da Eira, que seguirá, à esquerda, até encontrar a Capela de S. Guilherme, que no século XVIII era o padroeiro das três aldeias que então existiam e que se juntaram para formar a actual aldeia de Andreus. Seguindo pela Avenida da Associação de Moradores de Andreus, pode fazer uma paragem num dos cafés do Porto, para tomar um café ou outra bebida que lhe apeteça. Subindo pela Rua 25 de Abril, volte a atravessar a EN 358, seguindo no caminho em frente até encontrar os muros da Tapada das Touces. Siga pelo caminho da direita, até perto do Poço Redondo, desviando pelo caminho florestal que liga ao Alto do Chão das Maias / Vale de Encimão, onde volta a encontrar o caminho municipal Sardoal / S. Simão, que seguirá à direita durante alguns metros, até encontrar à esquerda indicação “Tomada de Água”, seguindo o caminho florestal que sobe para o Alto de S. Domingos, onde próximo do tanque para abastecimento de carros de bombeiros e de helicópteros, à direita, encobertas por pinheiros e eucaliptos, poderá encontrar as ruínas da antiquíssima Ermida de S. Domingos, adjacente ao local onde foi construído o primeiro campo de futebol de Sardoal. Próximo deste local têm sido encontrados diversos vestígios arqueológicos, nomeadamente machados de pedra polida do Paleolítico Superior, o que indicia um espaço de povoamento muito antigo.
Seguindo as orientações da organização desça para o Cabeço / Vale da Carreira, até voltar a encontrar o caminho municipal Sardoal / S. Simão, descendo pela Sequeira até ao Sardoal.
22 de Setembro de 2002