Moinhos de Entrevinhas

Um dos moinhos de Entrevinhas (2020)

Sobre os aspectos técnicos e construtivos destes moinhos, principalmente do que se encontra totalmente recuperado, aconselho a leitura de um extracto do livro “Sistemas Primitivos de Moagem em Portugal – Moinhos, azenhas e atafonas – II”, da autoria dos Professores Jorge Dias, Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, editado em 1959 pelo Instituto de Alta Cultura – Centro de Etnologia Peninsular, que é o trabalho de investigação académica mais completo que conheço sobre esta matéria.

Recomendo também um texto que escrevi há algum tempo, com o título: “Os caminhos da modernidade. Tão longe e… tão perto!”, com algumas memórias e testemunhos deste espaço e da sua ruralidade, ainda tão presentes na minha memória.

“Moinho de Entre-Vinhas.” Do livro “Sistemas Primitivos de Moagem em Portugal – Moinhos, azenhas e atafonas – II”. A) Corte e planta do moinho; B) Rebordo de pedra mostrando um dos tacos (a), e um rasgo vazio onde eles se encaixam (b); C) Perspectiva do capelo e disposição do barrotamento com a janela; D) Interior do rés-do-chão, vendo-se o urreiro com as pontas escondidas nos maçiços; E) Raposa firmada pela escora; F) Carrete; G) Moega com o arrocho de regular a quelha (d) e o cordão de levantar o chamadouro.

Sempre que regresso ao Alto dos Moinhos de Entrevinhas, percorre-me um frémito de emoção, como se fosse possível viajar no tempo e recuar mais de quatro dezenas de anos, quando ainda funcionava o moinho que agora, se o vento o permitir, volta a funcionar, quando o seu moleiro era o Sr. Joaquim dos Santos Baptista ou o seu filho Tiago, que também eram os donos da azenha no Porto de Mação.

Meio dos anos 90 do séc. XX, quando estavam em ruínas

Nasci a pouco mais de trezentos metros daqui. Por aqui cresci, brinquei e trabalhei. Aliás, era aqui que nos finais dos anos cinquenta se juntavam os rapazes da aldeia de Entrevinhas para disputar renhidos desafios de futebol com bolas de trapos, descalços, para não estragar os sapatos e em que quase sempre acabávamos com os dedos dos pés esfolados e/ou com grandes nódoas negras. Era também aqui que se vinha buscar uma espécie de argila amarelada (ocre) que misturada com a cal servia para pintar as barras das casas.

Em 1999, quando foram recuperados de acordo com as características originais (incluindo o telhado de duas águas, que lembrava um “barco de quilha para o ar”, e que fazia destes moinhos um caso único no país). Numa recuperação de 2012, foi colocado o tradicional cone que se vê em todos os demais moinhos de vento, como é possível ver na primeira foto da página.

Quanto à paisagem envolvente, basta que a olhem com atenção. E ainda que a altura dos primeiros pinheiros impeça uma maior abrangência do horizonte que se abre, especialmente a sul e a poente, podemos ver algumas casas de Cabeça das Mós e de Mouriscas, a Vila do Sardoal e algumas casas de Carvalhal. Se a limpidez da atmosfera o permitir, vemos também a cidade de Abrantes, que invejosa nos esconde as planuras da Lezíria Ribatejana. Na direcção das torres da Central Termoeléctrica do Pego, um elemento estranho à paisagem, que simboliza, para o bem e para o mal, a evolução tecnológica na produção de energia eléctrica, as planuras alentejanas, onde tantos homens da aldeia de Entrevinhas e de todo o concelho de Sardoal, no papel de «ratinhos», labutaram em longas jornadas de ceifas, trabalho e sofrimento. Para norte e nascente as agrestes serranias, que a pouco e pouco se voltam a vestir de verde, depois de percorridas por uma língua vermelha de fogo, nos escondem a Beira Baixa, cujas características já são evidentes na vizinha freguesia de Alcaravela, cujos limites daqui se avistam.

22 de Setembro de 2000