Cabeça das Mós: entre castelos e moinhos de vento

Situada a nascente da Vila de Sardoal, a cerca de 3 km, a aldeia de Cabeça das Mós estende-se por uma considerável superfície, distribuindo-se por diversos núcleos populacionais de curiosas e características designações toponímicas: a Estrada, as Lameiras, as Almoinhas, o Monte, o Vale de Enxame, as Lojas (Largo do Comércio), as Casas Crespas, as Casas Louras, o Casal da Cordeira, o Colmeal, a Portela, o Vale da Pedra, o Vale das Figueiras, entre outras.

A designação toponímica Cabeça das Mós não deve ser muito antiga, porque apenas a partir de meados do século XVII se começam a encontrar-lhe referências escritas.

Creem alguns que a sua origem tenha sido em torno da pedreira que existiu no Colmeal, de onde se extraíram pedras para muitas mós e construções. Como nota curiosa, recordo um passo do manuscrito «Memórias restauradas do antigo lugar e Vila de Sardoal», de Jacinto Serrão da Mota, sardoalense que as escreveu por volta de 1750, e que se conservam no Arquivo Municipal de Sardoal: «No ano de 1552, entrando Gil Vaz, cavaleiro, por Provedor e Rodrigo de Parada, por Escrivão, mandaram fazer o páteo na forma que hoje se acham e custaram 17 000 réis, sendo os oficiais desta vila e a pedra de Cabeça das Mós, termo dela.” – escrevia o autor sobre a construção da Igreja da Misericórdia de Sardoal.

A alguma distância da aldeia, abaixo do Vale da Pedra e na direcção de onde sopra o vento suão, nos Castelos, existem vestígios que atestam a vida do homem para lá da história. Por ali se exploraram minas de que o Dr. Giraldo Costa no seu «Esboço Corográfico da Vila de Sardoal – 1882», diz o seguinte: «Aquela que pareceu dar produto, próximo à aldeia da Cabeça das Mós, no sítio denominado o Castelo, está desde há muitos anos abandonada, não se sabe bem porque motivo e passada ao domínio do Estado, pela falta de renovação dos manifestos.». Também o General Carlos Ribeiro escreveu, em meados do século passado, uma curiosa memória sobre uma mina de chumbo na Ribeira das Caldeiras, que não transcrevo neste local, por ser muito extensa e de carácter eminentemente técnico.

Creem outros que na zona dos Castelos tenha existido uma povoação galo-celta, de que se diz terem sido encontrados vestígios. Querem alguns, ainda, que ali tenha sido a cidade de Tubuci, que aparece associada ao nome de Abrantes e consta ter sido a designação que lhe deram os romanos.

Na obra manuscrita de Jacinto Serrão da Mota, consta uma nota muito interessante sobre o Castelo de Arecez que não resisto a transcrever:

“No ano de 1775 tornei a calcular ou a apegar as ruínas do Castel de Arecez e achei o seu âmbito ainda maior, calculando que levaria dentro de seus muros de que só se veem vestígios e ruínas, que em toda a parte os têm demolido e posto por terra, de que apenas em parte se veem com alguma formalidade de muros nas escarpas e achei que dentro deles se poderia semear um bom moio de pão.
Reparei como ali se poderia conservar povoação tão dilatada sem vestígio algum de fonte por aquela redondeza do monte: porém vi que tudo entupiria o tempo com as ruínas. De que esta povoação de que não temos nome seria na antiga Lusitânia e um dos povos Tubucenses, a razão não o mostra por não distar mais de uma légua da antiga Tubuci, Abrantes.
Tendo, porém, discorrido não se poder alcançar pela História, nem pela tradição se foi fundação de Cartagineses, Romanos, Godos, nem Árabes, supondo-a mais antiga e acho opinião favorável de que os Godos a destruíram. Dou a razão e mostro a opinião:
Havemos de fazer esta reflexão que depois da invasão dos bárbaros nas Hespanhas e da porta destas em que El-Rei D. Rodrigo, último dos primeiros Godos, se continuava no Infante Pelayo, Duque da Cantábria, a linha dos segundos Godos. Este Infante Pelayo morrendo, ficou sua filha Hermesinda detentora de todas as suas possessões que seu pai havia ganhado aos Mouros, ajudado de alguns senhores e gentes, relíquias que ficaram dos antigos e primeiros Godos. Entre estes senhores foi um deles D. Afonso, descendente de Recarredo e filho de Leogivildo que gozava muitos estados com o título de Duque. Este D. Afonso teve grande parte nas vitórias de El-rei Pelayo, adiantando seus estados, estando a seu lado em todas as batalhas contra os infiéis, a quem despossuiu de todas as que lhe restava na Galiza, Astúrias e Biscaia.
Esteve casado Afonso, pelos anos 739, no 8º século, com a Infanta Hermezinda, filha de D. Pelayo e se chamou Afonso I, apelidando-o o povo com o nome de Católico, pelo muito que o mostrou ser no culto da Religião entre bárbaros.
Deste nasceu D. Truillo ou Truela, de quem foi único herdeiro o 2º Afonso, chamado o Casto, que libertou a hespanha do vil tributo das cem donzelas que o seu irmão bastardo havia celebrado com o Rei Mouro de Córdova, o qual ofendido de Afonso lhe negar o contrato e o tributo, entrou pelas suas terras com um exército formidável e lhe fez suas hostilidades, não se livrando de receber outras maiores.
No século 8º e pelos anos de 791 até 821 os empenhou numa acção decisiva, em que lhes matou 5 000 homens em Lugo, na Galiza e os seguiu desde ali até às margens do Tejo, retirando-os e carregando-os até Lisboa, tirando-lhes todas as praças fortes que a destra sinistra encontrava no caminho.
Eu não terei a leveza de o jurar, mas a liberdade de opinião é que nesta revolta acabou aquela forte praça em vizinhança de Abrantes. Esta liberdade não se me pode impedir. As histórias daquele tempo não nos oferecem outras clarezar: os soldados eram mais que os escritores; grandes memórias se não concederam à nossa notícia!
Esta povoação, segundo a sua grandeza não poderia ser sem nome e este nem nos duvidosos treslados da tradição se nos consta. É certo que os habitantes por aqui haviam de ter suas fazendas, assim como hoje as temos por ali. O que não consumisse a guerra para as suas vizinhanças, os havia de atrair a criação e amor da pátria, a naturalidade. Cada um conjecture como lhe parecer. Eu tenho disso a minha conjectura.
Já se disse que na Lapa, Montes da Vilhena e Sobral há vestígios de povoações antigas. Todas estas são mais vizinhas a esta Vila e poderão ser já dela. Eu nada afirmo sem prova que me favoreça e esta não era mais do que a conjectura referida que não é sem verosimilhança.”

Tudo isto são suposições que não puderam ser confirmadas e só a título de curiosidade aqui as deixo. É facto que a tradição trouxe até nós lendas de mouras encantadas e é assaz curiosa a lenda do Poço das Caldeiras, cuja recolha deveria ser feita com o rigor possível.

A Ribeira das Caldeiras que desliza ao encontro do Tejo sobre um leito sinuoso, com margens de exuberante vegetação e frescura é a continuação da Ribeira de Arcez, que vem da Lapa, um pouco acima da qual se dá a confluência das duas ribeiras que lhe dão origem e que têm as suas nascentes na freguesia de Alcaravela, uma um pouco acima da Saramaga e que passa pelo Pisão e Vale Formoso, a caminho da Carrascosa, onde se dá a confluência com a outra que nasce um pouco acima de Santa Clara, passando pela Rosa Mana, Cabril, Vale de Oliveira, Porto de Mação, também a caminho da Carrascosa.

Um pouco abaixo da Carrascosa, equidistante de Cabeça das Mós, de Entre Serras e da Palhota, fica a Lapa, local paradisíaco, onde se situa na margem direita da ribeira a Capela de Nossa Senhora da Lapa, que mergulha as suas raízes num passado longínquo, de tal modo que a tradição trouxe até nós memórias de lutas com mouros, que documentalmente se não podem comprovar.

Seja como for, já por volta de 1600 o seu culto tinha atingido grande difusão. Foi por essa altura que se erigiu a igreja em que passou a ser venerada a Imagem de Nossa Senhora da Lapa. Da história deste Santuário dou nota em trabalho anexo.

Qualquer dos caminhos de entrada na Lapa vão dar a pequenos recantos de bucólica meditação e nas árvores são visíveis as marcas de corações feridos pela seta de Cupido, sinais de fugidias paixões ou de românticos encontros, apenas iluminados pelo luar de prata do mês de Agosto, em que também se encontram furtivos pescadores de enguias e as que ficam, não mais regressam ao Mar dos Sargaços, antes enriquecem saborosos ensopados, de que o autor destas linhas, modéstia à parte, se considera exímio executante.

ALGUMAS NOTÍCIAS SOBRE A FESTA DO SENHOR JESUS DA BOA MORTE  EM CABEÇA DAS MÓS E OUTRAS CURIOSIDADES

A notícia mais antiga que conheço sobre a Festa do Senhor Jesus da Boa Morte, em Cabeça das Mós, consta do Jornal “ECHO DO TEJO” que se publicou em Abrantes no princípio do século, e data de 4 de Maio de 1902:

No dia 6 do passado mês de Abril, Domingo de Pascoela, foi a festa da Cabeça das Mós que este ano excedeu em brilho os limites do costume.
Foi abrilhantada pela velha e popular Filarmónica desta Vila, que ali foi desempenhar muitas e variadas peças do seu reportório.
O senhor Simões que é quem dirige esta Filarmónica composta por rapazes de boa vontade, muito concorreu, também, para o maior brilho daquela festa pois forneceu grande quantidade de bandeiras para adornar o adro da Capela.
“Nunca na Cabeça das Mós se viu uma festa assim!”, era o que todos diziam.
Ninguém quis ficar em casa na tarde desse dia. Todos os habitantes daquela aldeia, velhos e novos, saíram das suas casas para virem presenciar o espectáculo que oferecia o adro da Capela. A mocidade folgava por ver o arraial com uma animação desusada e poder dar maior alegria à sua expansão juvenil.
Os velhos e aqueles a quem os anos e as lutas da vida já trouxeram reflexão, deixavam transparecer na fisionomia uma tal ou qual admiração.
Todos, enfim, se julgavam agradecidos ao Sr. Simões que foi decerto a alma de tanto entusiasmo.
Nós pela nossa parte aqui deixamos consignados os nossos parabéns ao Sr. Simões pela sua boa vontade em ser útil a esta Vila e pela vida e animação que imprime a qualquer acto em que toma parte.
Bem haja ele pelo o muito que está fazendo a favor desta Vila.”

No Jornal “NOVIDADES” de 30 de Abril de 1925, publica-se a seguinte notícia:

“Realizou-se no passado domingo, dia 19, na aldeia de Cabeça das Mós, a tradicional festa em honra do Senhor Jesus da Boa Morte.
Constou de missa cantada e sermão que foi pregado pelo Revº Padre Francisco Pires, mui digno Prior de Alcaravela.
Foi grande a afluência dos fiéis e mais seria se não fosse o tempo chuvoso.
No dia seguinte houve missa, tendo comungado bastantes pessoas.”

Ainda que não relacionada com a Festa do Senhor Jesus da Boa Morte, transcrevo uma outra notícia publicada no “NOVIDADES” em 9 de Junho de 1926:

“Vão bastante adiantadas as obras de construção da Igreja da vizinha aldeia de Cabeça das Mós. Espera-se que as obras estejam concluídas para a Páscoa do próximo ano.
Era esta obra necessitada porque a Igreja que estava demasiado pequena e não chegava para comportar os fiéis deste numeroso povo.”

No “NOVIDADES” de 30 de Junho de 1927:

“Cabeça das Mós – Viagem Eucarística à Senhora da Lapa.
Como tínhamos anunciado, realizou-se no passado dia de S.João a viagem eucarística à Senhora da Lapa. A afluência foi extraordinariamente superior aos outros anos, calculando-se em cerca de 3 000 o número de peregrinos que nela tomaram parte.
A festa que nesse mesmo dia se fez em honra de Nossa Senhora da Lapa, constou de missa campal, comunhão geral e sermão.
Como era lindo ver aquele grande número de cabeças prostrado ante JESUS SACRAMENTADO, enquanto uma grande parte com recolhimento e fervor se abeirava da Sagrada Mesa.
À tarde depois de cada um ter refeito as suas forças com os seus farnéis, houve terço, ladaínhas, cânticos e sermão.
O orador da manhã foi o Revº Prior de Alcaravela e de tarde o Revº Padre Ventura, zeloso Vigário do Mação.
Acompanhados dos respectivos Párocos incorporaram-se no préstito as freguesias de Abrantes, Sardoal, Mação, Alcaravela, Queixoperra, Mouriscas e Mógão.
À despedida houve troca de discursos muito efectuosos, tendo-se salientado a nota da estreita união e obediência ao nosso venerando Episcopado para a eficaz reivindicação das liberdades católicas.
Todos os peregrinos retiraram muito bem impressionados, entoando cânticos ao SENHOR e à SANTÍSSIMA VIRGEM.”

No mesmo Jornal:

Em 27 de Janeiro de 1929:

“Até que enfim, já reabriu a Escola de Cabeça das Mós, tendo sido nela colocada a Srª D. Maria do Carmo Leitão.”

Em 29 de Maio de 1930:

“Mediante concurso, tomou ontem posse do lugar de professora efectiva da Escola do Sexo Masculino de Cabeça das Mós, a Srª D. Maria Previdência Lucas.
Por esse motivo retira por estes dias a Srª Professora interina que aqui se encontrava, a D. Maria José.
Esta Senhora deixa em toda a população grandes saudades, pelo seu fino trato, tanto para os grandes, como para os pequenos.”

No “JORNAL DE ABRANTES”, de 28 de Agosto de 1932:

“No dia 14 do corrente foram inauguradas na aldeia de Cabeça das Mós, três fontes que a Câmara deste concelho, auxiliada por um grupo de naturais daquela localidade, ali mandou construir.
Usaram da palavra diversos oradores que enalteceram as qualidades da digna vereação municipal deste concelho.”

No Jornal “NOVIDADES”:

14 de Abril de 1933:

“Consta-nos que no próximo mês de Maio vão começar os trabalhos de montagem do telefone para Cabeça das Mós e S. Domingos. São melhoramentos de grande valia e utilidade.”

29 de Abril de 1933:

“Já se encontram efectuados os trabalhos de terraplanagem da estrada de Cabeça das Mós-Arcês. O povo da Cabeça das Mós mostra-se satisfeito pela realização desta velha aspiração que traz importantes vantagens para o povo desta fértil região.”

3 de Junho de 1933:

“Está já completa a terraplanagem da estrada Sardoal – Cabeça das Mós – Arcês. Por esse motivo tem sido grande o movimento de automóveis, camionetas e diversos veículos, pela Cabeça das Mós.”

22 de Julho de 1933:

“Causou aqui grande agrado o decreto inserido na folha oficial que manda que seja dado o nome do Padre Manuel Lopes Alpalhão à escola de Cabeça das Mós, que aquele belo sacerdote ofereceu à sua terra natal, bem como uma casa contígua para o professor.
Bem haja o Governo por tal resolução e ao povo de Cabeça das Mós que pediu para o benemérito sacerdote tal homenagem, depois de lhe ter manifestado o seu reconhecimento bem sincero por ocasião do descerramento do seu retrato na sala de aulas.”

9 de Setembro de 1933:

“Em passeio com alguns amigos tivemos há dias o ensejo de admirar o «Poço das Talhas», situado ao sul da Cabeça das Mós, na ribeira de Arcês, no fundo de um monte onde, segundo dizem, estiveram outrora situados castelos mouriscos.
Perto fica a «Raposeira».
É realmente de admirar este poço singular. Sendo no interior do feitio de uma talha colossal e extremamente perfeita, apesar da dureza dos rochedos onde está situada. Junto vêem-se outras talhas, sem água, que primam também pela perfeição.
Calcula-se que a maior tenha uma capacidade de 10 000 litros. A este poço andam ligadas lendas, interessantes, de mouras encantadas.
No fundo, diz ainda a lenda, encontra-se depositada uma grade de ouro puro, que por enquanto está por desencantar.
Devido às intempéries do tempo, restam fracos vestígios dos altos castelos mouriscos. Só tijolos e pedras dispersas pelo chão indicam o provável ponto em que estavam situados para dominar os montes em redor.”

“JORNAL DE ABRANTES” – 25 de Março de 1934:

“ Acaba de ser concedida a comparticipação do Estado de esc: 29.454$71 para o empedramento da estrada municipal de Sardoal a Arcês, entre esta Vila e Cabeça das Mós.
Sardoal, conseguindo mais este valioso auxílio continua suprindo as suas principais necessidades de uma maneira digna de todo o elogio, mercê da honesta e criteriosa acção da Comissão Administrativa dos principais valores do Concelho desde a Política do Estado Novo.
Sardoal que antes do 28 de Maio era um concelho quasi abandonado e desprovido dos mais rudimentares melhoramentos, impõe-se hoje servindo de modelo. Todos os lovores merecem, pois, as pessoas que com o seu esforço e boa vontade deram ao progresso concelhio o bem estar e harmonia que presentemente usufrui.
O Jornal de Abrantes, modesto semanário regionalista – defensor do Estado Novo, ao qual não são indiferentes quaisquer manifestações de vitalidade na região- congratula-se por poder prestar justiça à gente do Sardoal que tanto zelo tem posto ao serviço do progresso do concelho.”

Jornal “ NOVIDADES” – 30 de Julho de 1938

“SARDOAL, 25

JORNADA EUCARÍSTICA

Celebrou-se ontem no aprazível local da Lapa, subúrbios desta vila, uma festa de piedade.
Por volta das 11 horas, havia já milhares de pessoas de todas as condições sociais na ribeira de Arcês, em frente da antiga e histórica capelinha de Nossa Senhora da Lapa.
Imponente de majestade e beleza foi a entrada do povo das freguesias de Mouriscas, Sardoal e Alcaravela, com as crianças da catequese, filhas de Maria, Cruzada Eucarística, rapazes e raparigas da Acção Católica, dirigido pelos seus respectivos párocos.
As bandeiras das diferentes associações drapejando no ar, o cântico cheio de melodia que os romeiros cantavam em honra de Nossa Senhora, o local aprazível e próprio para a oração, formavam um conjunto magnífico, que encantava e aquecia as almas.
Principia a missa cantada, oficiada pelo revº Prior de Alcaravela, acolitado pelos Padres Roldão e Milheiriço.
A missa de Angelis dirigida pelos Padres Matos e Marujo e cantada pelo povo, centenas de vozes, ecoava nas quebradas.
Ao Evangelho, o pároco de Mouriscas fala da devoção dos portugueses a Nossa Senhora, incitando os presentes a confiar no seu poderoso patrocínio para as horas amargas dos nossos dias.
Ao Comunio 1 400 pessoas receberam Jesus Hostia, enquanto o povo canta hinos apropriados ao momento solene que se passa.
Depois de um intervalo para tomar algum alimento, aquela enorme multidão, rezou o terço meditado, seguindo-se uma sessão solene de propaganda da Acção Católica.
Em frente da capela, num estrado previamente preparado tomaram lugar as Sras. D. Clara Geirinhas, D. Delfina lalanda e D. Maria do Carmo, respectivamente professoras em Mouriscas, Alcaravela e Sardoal – Cabeça das Mós e o sr. Dr. João Calado Rodrigues, advogado em Mação e Director da Revista “Terras do Tejo”.
O Sr. Arcipreste do Sardoal que preside, secretariado pelos Revºs Pires e Roldão, convida a professora Srª D. Maria do Carmo a usar da palavra. A oradora falou da mulher como apóstola em todos os tempos, para concluir que as mulheres católicas de hoje, sobretudo as de Portugal, não devem ficar atrás das de ontem e por isso convida as mães e as filhas que a escutam a dar um passo em frente, acudindo ao chamamento da Igreja que as convida a trabalhar na recristianização da nossa querida Pátria.
Fartas palmas coroam o final de tão substanciosa lição.
Em seguida falou a srª D. Clara Geirinhas que focou o bem que adveio à humanidade da vinda de Jesus ao mundo, que a felicidade deste só pode provir da doutrina de Cristo vivida, e por consequência da reconquista das almas para Jesus, com a vinda de Jesus às almas para pôr termo aos males presentes.
Uma manifestação calorosa, principalmente das raparigas de Mouriscas. Coroou as suas últimas palavras.
A srª Delfina Lalanda convidou as raparigas presentes a ingressar de facto na Acção Católica, prégando, principalmente com o seu cristão exemplo, no modo de vestir, de falar e de viver na sociedade.
Diz que a mulher dignificada pela religião cristã, só pela prática das virtudes que ela inculca pode continuar na elevada situação a que o cristianismo a elevou e evitar a desgraça a que o comunismo procura degradá-las. Palmas e vivas estrondosos.
Dada a palavra ao sr. Dr. João Calado Rodrigues, principia por agradecer a honra que lhe concederam para falar nesta sessão. Lendo e comentando um página sublime do seu livro de versos em preparação «Jesus nos Evangelhos» dá uma magnífica lição ao povo que ali se encontrava. Dirige-se depois às crianças que em grande número o ouviam, incita os pais e os mestres a cuidar com todo o desvelo das suas almas, pois as crianças são verdadeiramente o encanto de Jesus.
Fechou a série de discursos o Presidente para agradecer a gentileza dos oradores. Focou as partes mais importantes de cada um dos discursos, louvando a coragem, a disciplina católica e o amor a Jesus que acabavam de manifestar.
Convida os ouvintes a imitar os oradores na sua fé, na sua coragem e na sua disciplina e com calorosos vivas a Cristo Rei, Sua Santidade o Papa, Prelado da Diocese e Católicos presentes, deu por terminada aquela linda e oportuna festa.
Encontravam-se também presentes um núcleo importante de católicos da Vila de mação e bastante povo das freguesias de Souto, Abrantes e Mouriscas.
Também as sras. Proprietárias da capela, Matos e Silva de Vila de Rei, que sempre ao serviço de Deus e das almas não se poupam a sacrifícios, quiseram tomar parte na nossa tão linda festa, pelo que aqui lhe endereçamos os nossos melhores agradecimentos.

Jornal “NOVIDADES”:

 15 de Fevereiro de 1940

“Projecta-se a construção de um cemitério entre Cabeça das Mós e Entrevinhas, para o qual o Estado já contribuiu com 5 000$00.”

Num suplemento do Jornal Ilustrado Português “A HORA”, dedicado ao Concelho de Sardoal, publicado em Julho de 1940, vem a seguinte nota sobre Cabeça das Mós:

“A dois quilómetros da Vila, entre oliveiras e árvores de fruto, encontra-se a povoação de Cabeça das Mós com as suas casinhas brancas a denunciar asseio tanto exterior como interiormente. Como ainda não tem, como outras localidades do concelho, edifício escolar próprio, pois que as escolas funcionam na casa oferecida pelo benemérito Rev. Padre Alpalhão, a quem a aldeia muito deve. As suas principais aspirações são:
Construção de uma escola, uma fonte e um cemitério, para o qual já há comparticipação do Estado e será começado no próximo ano e instalação dum posto telefónico.
Tem alguns locais que são dos mais pitorescos de todo o concelho, tais como:
A Ribeira de Arcez e a Capela da Senhora da Lapa. Produz principalmente azeite, cereais e frutos.

23 de Abril de 1945

“Reina grande entusiasmo na florescente aldeia de Cabeça das Mós pela instalação da nova escola. O povo vai contribuir para a sua construção.”

27 de Abril de 1945

“Estão constituídas as Comissões para angariar fundos destinados à construção das Escolas Primárias de Cabeça das Mós.”

25 de Dezembro de 1945

“A estrada Sardoal – Cabeça das Mós passou a estrada nacional e brevemente vai ser empedrada.”

Sardoal, Abril de 1999