Ruas: algumas evoluções toponímicas

Nota: Esta lista não é de todo exaustiva. Foi compilada por curiosidade a partir do que fomos vendo em publicações diversas do autor das linhas deste site.

Praça da República: é assim designada desde uma deliberação por unanimidade, na reunião da Câmara de 17 de Novembro de 1910 (de outra deliberação do mesmo dia resulta o dia 22 de Setembro como feriado municipal, por razões evidentes). Em 1603 aparece como Praça Nova num alvará régio, no tempo em que os Paços do Concelho para aqui foram transferidos, na sequência da expansão da Vila para norte. No final do século XIX era designada por Praça do Comércio, ainda que a designação oficial fosse, nos últimos anos da Monarquia, Praça Conselheiro João Franco.

A Praça por volta de 1908, quando era do Conselheiro João Franco (fotografia de Francisco Dionísio)

Rua Mestre do Sardoal: Foi Rua Avelar Machado e antes disso Rua dos Cónegos (ou Clérigos). José Alves Pimenta de Avelar Machado nasceu em Abrantes em 8 de Novembro de 1847. Foi militar e político ilustre, tendo sido deputado pelo círculo de Abrantes.

Avenida Luís de Camões: Desde os finais do século XIX era Rua Serpa Pinto. Desde 1933 designou-se Avenida Salazar, deliberação tomada no mesmo dia em que Oliveira Salazar foi nomeado cidadão honorário da vila de Sardoal, e assim ficou até 1974. Antes e desde tempos imemoriais chamou-se Rua do Vale, designação que ainda perdura em relação à actual Rua 5 de Outubro.

Também por volta de 1908: Rua Serpa Pinto (fotografia de Francisco Dionísio)

Rua Gil Vicente é assim designada desde os anos 80 do século XX. Foi antes Rua Simões Baião e ainda antes Rua Direita e Rua do Comércio – era o núcleo comercial da Vila. Em 1905 já tinha a designação de Rua Simões Baião, pelo que presumimos que esta designação fosse uma homenagem a Simões Baião como Governador Civil de Santarém, cargo que exerceu em 1900 e 1901. Foi um escritor e erudito investigador, que nasceu em 1878 no concelho de Ferreira do Zêzere.

Anos 1950, quando era Rua Simões Baião

No local da Fonte da Preta houve antes o Chafariz da Murteira. Como reconhecimento do grande trabalho desenvolvido pelo Presidente da Câmara Sr. Máximo Maria Serrão, no princípio do século XX ou ainda nos finais do século XIX foi atribuída a designação toponímica “Praça Máximo Serrão” ao largo fronteiro a esta fonte.

A Fonte da Preta fica na confluência da Rua Bivar Salgado com a Rua Dr. David Serras Pereira, que é a antiga Rua do Chafariz da Murteira. Também era popularmente conhecida por Rua da Sardinha. Aos domingos vendiam-se sardinhas em grande quantidade no local onde hoje é a Praça Nova, e mesmo com esta já construída, dizendo-se até que uma das tílias secou nessa altura, por efeito do sal que sobrava dos caixotes. Esta rua chamou-se por pouco tempo Rua Mestre do Sardoal, o que acabou por ser rectificado em 1987 para manter na toponímia sardoalense, com toda a justiça, o nome do Dr. David Serras Pereira, na rua onde nasceu. O Dr. David, como era conhecido na região, foi um dos principais obreiros da reconstrução do Pelourinho, da colocação do painel de azulejos que se encontra na parede da capela do Espírito Santo, da reconstrução da Igreja da Misericórdia em 1931, e da divulgação dos quadros do Mestre do Sardoal. Foi também, cremos bem, um dos principais mentores do Movimento Pró-Sardoal, tendente ao alargamento do concelho, também em 1930/31.

Anos 1920: rua do Chafariz da Murteira, actual Rua Dr. David Serras Pereira

Uma outra parte da Rua do Chafariz da Murteira foi nomeada Rua Bivar Salgado, sendo que em 1904 já tinha essa designação. Júlio Bivar Xavier de Azevedo Salgado era natural de Abrantes (São João), onde nasceu a 10 de Novembro de 1841. Era filho de José Nicolau de Azevedo Salgado, natural de Torres Novas, e de Maria Teresa Garcia Bivar Salgado, natural de Lisboa. Segundo o livro “Istoria do cativeiro dos prezos d’estado na Torre de S. Julião da Barra de Lisboa durante a dezastroza epoca da uzurpasão do Legitimo Governo Constitucional deste Reino de Portugal“, de João Batista da Silva Lopes (1833), o seu pai teve um percurso atribulado, sendo “empregado no Comisariado, natural de Torres Novas, preso no Porto a 18 de Julho de 1828, deu entrada na Torre a 11 de Agosto de 1830: Condenado por toda a vida para Pedras Negras. Rem. para a cadeia de Belém a 2 de Junho de 1833; reclamado como filho de Francês.”
No Sardoal, Júlio Bivar Salgado teve um importante papel político. Foi Administrador do Concelho e depois Presidente da Câmara em 1890, 1899 e 1900, sendo também vice-presidente noutros períodos.
Foi casado com Maria Engrácia Xavier de Azevedo Salgado, natural da vila do Sardoal. O filho Augusto Bivar Xavier de Azevedo Salgado nasceu no Sardoal em 1881 e foi coronel no Regimento de Infantaria 2 de Abrantes, tendo falecido também no Sardoal em 1950.

Anos 1950, Rua Bivar Salgado

Rua do Paço: Mantém-se na toponímia local, junto a um espaço amuralhado, ainda hoje conhecido por Paço, que esteve no domínio público até ao princípio do século XX, altura em que foi vendido, sendo tradição que era ali a residência dos Reis de Portugal quando se deslocavam ao Sardoal.

A Rua do Poço da Ratinha, na zona histórica da Vila, tem o seu nome relacionado com um poço que aí existia e que em 1536 aparece referido por via de uma queixa que os moradores da zona fizeram a El-Rei D. João III, contra o facto de a Câmara ter vendido o terreno onde estava o dito poço. Refira-se que o Dr. Francisco Tavares, Corregedor com alçada na Comarca da Estremadura, na sentença que o caso lhe mereceu, deu a venda como sem efeito, alegando os prejuízos que daí advinham para os moradores daquela artéria.

A Rua António Duarte Pires, antes de ter esta designação, era chamada Rua Manuel Pires Coelho. António Duarte Pires era natural de Sardoal e aqui ocupou posições de relevo, tendo sido Provedor da Misericórdia e Presidente da Câmara Municipal, em 1852-59 e 1872-73. Foi um dos fundadores da Sociedade Filarmónica Sardoalense, em 3 de Agosto de 1862, tendo sido Presidente da mesma.

A rotunda fronteira ao edifício do antigo Externato Rainha Santa Isabel tem a curiosa designação de Taberna Seca, e que antigamente se chamava também de Largo da Fadina. A Fadina explou a taberna que aí existiu e que ao que consta era escassa de bebidas para vender.

A Rua Cónego Silva Martins foi antes designada Rua de Santa Catarina e popularmente também foi designada de Rua da Camareira, em virtude de uma taberna/estalagem que ali existiu. Quanto a António Joaquim Silva Martins, era natural de Entrevinhas e foi pároco de Sardoal durante muitos anos. Foi igualmente presidente da Junta da Paróquia e Presidente da Câmara Municipal.

Rua Dr. Giraldo Costa: Chamou-se antes Avenida, ou Rua da Avenida. Giraldo Joaquim Maria da Costa era natural da Sertã, onde nasceu em 1821. A partir de 1851 foi médico do Partido Municipal nesta Vila. Interessado pela história do Sardoal, escreveu um interessante “Esboço Corográfico da Vila de Sardoal“.

Rua Dr. Giraldo Costa em 1987 (fotografia de Maurício Abreu)