A Sagração de D. António Alves Ferreira

No Sardoal com Memória existe uma pequena resenha biográfica de D. António Alves Ferreira, natural de Valhascos.

Aqui repescam-se notícias publicadas no “Jornal de Abrantes”, respeitantes à sua sagração, no Sardoal, como Bispo de Martinopolis (Viseu), que ocorreu no dia 26 de Janeiro de 1908.

Deixamos também as fotografias desse dia, da autoria de Francisco Dionísio, publicadas na “Ilustração Portuguesa”, n.º 103, de 10 de Fevereiro de 1908.

“Antes da sagração: o cortejo a caminho da egreja”

Sagração de um Bispo no Sardoal
18 de Janeiro de 1908

Realiza-se no próximo dia 26 do corrente, na Igreja Matriz desta vila a sagração do bispo Rev. António Alves Ferreira, filho desta vila… À cerimónia assistirão como é da praxe, mais três bispos, que consta serem o Bispo Barroso do Porto, Bispo de Lamego, Arcebispo-Bispo da Guarda. Também assistiram ao acto os Srs. Ministro da Justiça, Lente Dr. Serras e Silva, e muitas outras pessoas importantes. Haverá jantar de gala que consta de ser acerca de 200 talheres.
Reina grande entusiasmo e ansiedade por este dia que deve ser uma concorrência extraordinária, pois que é uma cerimónia que nunca aqui se fez nem nos concelhos vizinhos consta que se tenha feito.
O jantar realizou-se no salão nobre da casa grande, e já se está dispondo as coisas para esse fim, e sob a direcção da Exm.ª Sr.ª D. Prudência Serras e Silva.

“Depois da sagração: regresso da egreja”

A Sagração de D. António Alves Ferreira
Bispo de Matrinopolis (Viseu)
2 de Fevereiro de 1908

Como tínhamos noticiado realizou-se no dia 26 do mês findo na vila de Sardoal, a Sagração de D. António Alves Ferreira, natural da aldeia de Valhascos, deste concelho de Sardoal, e ultimamente levado à dignidade de Bispo de Matrinopolis. A Igreja onde teve lugar aquela imponente e majestosa cerimónia achava-se rica e vistosamente ornamentada.
Muito antes da hora indicada para a cerimónia, já o majestoso templo se encontrava repleto de fiéis. As 11 horas e 25 minutos sob a presidência do Bispo de Lamego, deu-se o princípio ao acto religioso empunhando o Báculo o Reverendo Cónego Alexandrino Nunes.
A orquestra habilmente regida pelo digno mestre Sr. Ligner, tocou admiravelmente. Do seu conjunto faziam parte, entre outros, 2 violas e 2 vozes de Santarém. O orago está confiado ao padre Sabino. Em seguida a esta cerimónia teve lugar um solene Te-Deum que terminou por volta das 3,5 horas da tarde, beijando-se os Bispos entre si.
Depois organizou-se o cortejo que acompanhou o Rev. Bispo à residência do Sr. Tenente Tavares, onde se achavam hospedados, assim como o Sr. Ministro da Justiça. Atrás seguia a filarmónica, tocando o hino nacional, demorando ali algum tempo.

O Jantar

O jantar começou às 9,5 horas da noite, e terminou cerca das 3 horas da madrugada, correndo sempre no meio de um indescritível entusiasmo.
O salão onde foi servido, achava-se ricamente ornamentado com vistosas colchas de seda e damasco, verdura e grande profusão de flores, e lindamente iluminado com 7 lustres de cristal, a velas, sendo uma ao centro e as demais dispostas sobre a mesa.
À entrada dos convidados no salão, a velha filarmónica Sardoalense executava num vistoso coreto que se erguia em frente ao salão do palácio dos antigos fidalgos Mouras e Mendonças, o hino da carta, tocando também várias peças de música até à meia noite, hora a que foi dispensada.
A mesa percorria toda a volta do salão e comportava 61 convidados.
À cabeceira estava o novo Bispo, D. António Alves Ferreira, e ao seu lado direito os Srs. Ministro da Justiça, D. Francisco José, Bispo de Lamego, Dr. Serras e Silva e a família do novo Bispo, e ao lado esquerdo, D. António Barroso e D. Mateus de Oliveira Xavier.
Numa sala contígua ao salão achava-se numa outra mesa igualmente bem disposta para 20 pessoas.

O jantar foi variadíssimo, sendo o menu, o seguinte:
Consommé à la tête de veau: petits pâtés à la Reine.
Poisson à l’Hollandaise, sauce de huîtres aux câpres.
Génisse à la financière: Perdreaux   aux champignons,
Gélatine de poulpes truffées, a l’aspic : Saumon à L’italienne : Dindon truffées au cresson : Asperges sauce à la l’anglaise : celée de fruits : charlottes rousse : Pundings à la brésilienne, œufs a la portugaise, pundings à la diplomate, vin du Porto, Madeira, Colares, etc.

Discursaram no fim do jantar, D. António Alves Ferreira, Bispo de Viseu (novo) D. António Barroso, Bispo do Porto, D. Francisco José, Bispo de Lamego, Dr. Teixeira de Abreu, Dr. Serras e Silva, Cónego Mora, Dr. Manuel Pinto Montenegro, Padre António Basso, Padre Francisco Correia Ventura, Germano Silva Jornalista, José Alexandre, Júlio Bivar Salgado, Dr. Avelino Figueiredo, Dr. Anacleto da Fonseca Matos Silva, Dr. Miguel Ferreira de Almeida, Dr. José Frutuoso da Costa, e António Dias Conde. Salientaram-se nos seus discursos os Bispos, Ministros da Justiça e Dr. Serras e Silva.

Ao terminar, D. António Alves Ferreira, agradeceu a todos pelo ter acompanhado neste dia tão solene, e as provas de consideração e estima que lhe acabam de tributar.

Não damos nomes de todas as pessoas que tomaram parte em visita da falta de espaço com que lutamos.
No rápido de Madrid, de segunda-feira retiraram-se os Bispos do Porto, Lamego e Coxim, e o Ministro da Justiça. Também retiraram nesse mesmo dia o Sr. Dr. Serras e Silva, Cónego Mora e João Coimbra e família.
Na terça-feira foi o Bispo D. António Alves Ferreira, visitar a aldeia de Valhascos, sua terra natal, onde tem ainda muita família, sendo ali recebido no meio de uma grandiosa manifestação de alegria, com vivas ao novo Bispo, deitando-lhe muitas flores e queimando grande quantidade de foguetes. O Reverendo Bispo dirigiu-se à capela, onde deu o anel a beijar. Depois regressou ao Sardoal onde ainda se demorou alguns dias, sendo, no seu regresso novamente cumprimentado pela filarmónica Sardoalense, a quem ofereceu um jantar.