Sardoal – 1999: Jornadas Vicentinas

Apresentação

Em 1988, o GETAS – CENTRO CULTURAL DE SARDOAL, desenvolveu a sua actividade em torno de um projecto denominado «SARDOAL – 88 / Ano de Gil Vicente», que mereceu o reconhecimento de «manifesto interesse cultural», por despacho de 15 de Abril de 1988, da Secretária de Estado da Cultura, Dra. Maria Teresa Patrício Gouveia.

Na época em que foi desenvolvido tratou-se de um projecto inovador, que envolveu um considerável esforço financeiro para as disponibilidades do GETAS, cerca de 800 contos, e teve então como objectivo primordial associar o Sardoal à vida e obra de Gil Vicente, através das referências que o Autor faz a esta terra em, pelo menos, dois dos seus autos, vincando a relação afectiva e efectiva que há muitos anos perdura entre as gentes sardoalenses.

Foi, então, encenado um espectáculo designado genericamente «AUTO DA ÍNDIA E OUTRAS REPRESENTAÇÕES», sendo este Auto a sua estrutura central, completado com uma colagem de quatro textos, extraídos do «Auto do Juiz da Beira» e da «Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela», obras em que o Autor refere concretamente o Sardoal.

Poder-se-á dizer que eram dois espectáculos num só;

  • Em palco decorria o «Auto da Índia”;
  • A cenografia desta representação pretendia sugerir o painel em azulejos, evocativo de Gil Vicente, colocado na parede sul da Capela do Espírito Santo, por iniciativa da Câmara Municipal de Sardoal, por volta de 1933/34.
  • Noutros pontos estratégicos da sala de espectáculos decorriam as restantes dramatizações, através de cenas de rua, com pastores e elementos do povo, que ressaltavam o espírito alegre e folião das gentes do Sardoal;
  • As representações eram encadeadas e integradas umas nas outras, através de uma narrativa teatral plausível e ritmada;

Porquê assim?

Porque com o «Auto da Índia» se pretende invocar (homenagear) o iniciador do Teatro Português, através de uma obra em que as memórias das navegações/descobrimentos são analisadas (humanizadas), para lá dos mitos e da institucionalização de uma verdade histórica factual;

  • Navegações que levaram (também) muitos homens do Sardoal para os sete-mares, andarilhos do destino, em busca de fortuna e aventura. Ou, talvez, em busca de si próprios…;
  • Com as dramatizações do «Auto do Juiz da Beira» e da «Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela», o objectivo era a ligação efectiva/afectiva de Gil Vicente ao Sardoal.
  • Em linguagem simbólica, o palco era uma maré de histórias vivas, recordaçõesdo passado/presente de uma memória colectiva, o promontório onde o povo anónimo, observa o mar da sua Esperança;
  • As dramatizações complementares, pretendiam significar o quotidiano de um país (de uma terra – o Sardoal), na sua complexidade de alegrias e tristezas, nas vagas da sorte e do azar.

Porquê as «JORNADAS VICENTINAS», no Sardoal, em 1999?

Onze anos depois, entendemos que continuam válidos os objectivos de 1988, podendo, no entanto, ser alargado o seu âmbito de acção.

Gil Vicente é, sem qualquer dúvida, um dos maiores vultos da Cultura Portuguesa de todos os tempos. O estudo das suas obras é fundamental para compreender a estrutura e funcionamento da sociedade portuguesa no período dos Descobrimentos, tanto mais que a permanência quase constante do Autor na Corte de D. João II, D. Manuel I e D. João III, o coloca numa posição de observador privilegiado dos mais importantes acontecimentos políticos e sociais que determinaram os novos rumos da Civilização, decorrentes da expansão ultramarina conduzida naquela época, essencialmente, pelas Monarquias Peninsulares.

No entanto e apesar do reconhecimento da importância da obra de Gil Vicente na cimentação de uma cultura genuinamente portuguesa, a divulgação popular dessa obra tem sido insuficiente, resumindo-se a algumas abordagens nos programas escolares e a algumas montagens teatrais dos Autos mais significativos ou de colagens de textos, não existindo um trabalho organizado e sistemático que evidencie, claramente, a profunda influência que teve e continua a ter na nossa Cultura e na percepção de uma época feita de glórias, mas também de fracassos. Para essa percepção muito pode contribuir uma análise sistemática dos diversos aspectos do quotidiano de Quinhentos, para o que a obra de Gil Vicente se torna um contributo inestimável.

Os aspectos cénicos, como em 1988, continuam a ser relevantes e devem ter o seu lugar de destaque no projecto que, ora, se apresenta.

O GETAS – Centro Cultural de Sardoal, pode e deve voltar a levar à cena o Teatro Vicentino. Por outro lado, justifica-se que possam ser realizados no Sardoal alguns espectáculos, eventualmente por Companhias de Teatro profissionais, subordinados à mesma temática Vicentina.

Mas, é de extrema importância para o desenvolvimento cultural do Concelho de Sardoal que sejam feitas outras abordagens, através dos seguintes vectores complementares e de outros, que venham a ser considerados relevantes e que, de momento, não nos ocorrem:

  • O património histórico/arquitectónico/artístico do Sardoal, cenário de uma História que nos pertence;
  • A Vila de Sardoal, como reflexo de espaços temporais distintos, unidos pela abertura a culturas diferenciadas;
  • O papel da Igreja, das Ordens Religiosas e das Misericórdias, na difusão cultural no século XVI;
  • A influência dos Descobrimentos Portugueses e da Expansão Ultramarina no desenvolvimento do Sardoal no século XVI.

Uma iniciativa deste tipo recomenda a criação de uma Comissão Executiva que planeie e coordene todas as actividades a desenvolver e promova uma gestão financeira equilibrada do acontecimento.

Esta Comissão Executiva deve ser integrada por personalidades oriundas das forças vivas do Concelho e deve criar condições para incentivar a participação das Escolas, das Associações Culturais e de outros agentes da política sócio-cultural (nomeadamente das Paróquias e da Santa Casa da Misericórdia de Sardoal), para que possam assumir um papel de relevo e parceria em todo o processo.

Enquadramento:

  • Dar a primazia a acções/eventos culturais que promovam a ligação Escola/Comunidade, envolvendo os Professores, Alunos, Pais e Encarregados de Educação e a população, em geral;
  • Promover acções que permitam a recuperação do património arquitectónico e artístico do Concelho de Sardoal (neste âmbito julgamos que a situação do pórtico da Igreja da Misericórdia pode ser um bom motivo para uma campanha de sensibilização das autoridades competentes);
  • Promover uma ampla discussão sobre o desenvolvimento estratégico do Concelho de Sardoal, nomeadamente no que concerne às opções de desenvolvimento económico, requalificação urbana da sede do Concelho, ao ambiente, à qualidade de vida dos seus habitantes e das pessoas que nele trabalham.

Eventos:

  1. Acções de promoção da Leitura – Parcerias entre a Biblioteca Fixa Calouste Gulbenkian, Escolas do Ensino Básico e Jardins de Infância do Concelho, Escola E.B. 2, 3 de Sardoal, Ensino Recorrente, etc.;
  2. As Festas Religiosas do Concelho de Sardoal na perspectiva do seu enquadramento histórico e da sua tradição: Procissão dos Santos Passos, Semana Santa, Festa do Bodo do Espírito Santo e Corpo de Deus, entre outras;
  3. Realização de espectáculos de Teatro Vicentino quer através de trabalhos do GETAS, quer com recurso a Companhias de Teatro profissionais;
  4. Realização de concertos musicais com obras do século XVI;
  5. Realização de Conferências e Seminários sobre os diversos aspectos da temática Vicentina;
  6. Realização de visitas guiadas ao património artístico da Vila de Sardoal, com destaque para o património artístico de inspiração religiosa, com vista à sua divulgação e, também, à sensibilização para a necessidade da sua defesa e preservação;
  7. Realização da promoção dos eventos culturais do Concelho e edição de livros e brochuras temáticas;
  8. Definição das linhas gerais da vertente cultural da Carta Estratégica do Concelho de Sardoal;
  9. Realização de outros eventos/acções cuja oportunidade se venha a determinar com o desenvolvimento do processo.

Sardoal, 1999