Um percurso por fontes e pontes e árvores classificadas

Roteiro Para Um Passeio Pedonal

Perderia a viagem encanto se o seu começo não fosse no coração da Vila de Sardoal, na Praça da República, junto ao Pelourinho, que só poderá, infelizmente, ser feito sem a vigilância atenta da Palmeira da Casa Grande, um notável exemplar classificado, cuja esbelta silhueta de muito longe sinalizava o Sardoal, atingida por uma faísca, que provocou a sua morte e consequente abate.

Quando a palmeira sinalizava de longe o Sardoal e vigiava a Praça

Este percurso vai ser marcado em torno da própria Vila, saindo da Praça da República, pela Rua Mestre do Sardoal, em direcção à Igreja Matriz da Paróquia de São Tiago e São Mateus de Sardoal.

Antes de partir vale a pena observar com atenção o harmonioso ambiente urbano que envolve os Paços do Concelho de Sardoal, aqui instalados no princípio do século XVII, transferidos da Cadeia Velha, por onde passaremos no final deste passeio. Se quiser entre na Capela do Espírito Santo e observe também a frontaria da Casa Grande ou dos Almeidas. Para já e porque um dos motivos deste passeio são as fontes públicas, chamamos a sua atenção para a Fonte da Praça, construída por volta de 1933 com projecto do Arquitecto Raul Lino, na sequência das comemorações do IV Centenário da elevação do antigo lugar de Sardoal à categoria de Vila que ocorreram em 1931, ano em que foi inaugurada a rede de distribuição de energia eléctrica da Vila de Sardoal.

Projecto de 1933, do Arq. Raul Lino, da Fonte da Praça e arranjo traseiro.
Pormenor da fonte

No local onde hoje está o Pelourinho (uma reconstituição do original em que colaborou o mesmo Arquitecto) encontrava-se a fonte que agora está junto da Cadeia Velha e que é, por isso, designada como Fonte da Cadeia e que tem inscrita a data de 1894, ano em que entrou em funcionamento nesta Praça e onde permaneceu cerca de 40 anos.

No lugar do Pelourinho estava o fontanário entretanto instalado junto da Cadeia Velha (fotografia de Jayme Landal, 1901)

Seguindo para a Matriz observe o oratório com a invocação do Senhor dos Aflitos, profundamente venerado pelos Sardoalenses. No Adro encontrará um outro fontanário que ali foi recentemente colocado.

Se entrar no templo sugerimos que busque motivos relacionados com a água: A pia baptismal, a pia da água benta e o depósito da água benta (na sacristia).

No Adro observe a paisagem deslumbrante a sul e a poente, com a cidade de Abrantes como pano de fundo, a encobrir horizontes mais vastos.

Desça pelas escadas junto à Casa do Adro e procure a Fonte do Largo da Escola, construída em 1954, quando foi realizada o primeiro grande reforço do abastecimento de água à Vila de Sardoal.

Fonte do Largo da Escola em 2020

Desça para a Igreja da Misericórdia, prosseguindo, depois, para a Rua da Amoreira. As flores e as plantas ornamentais são uma fonte de beleza e por ali encontram-se em profusão. Percorra-a no sentido poente/nascente, até ao Bugalhinho, seguindo depois para a Rua da Portela, até encontrar a Estrada do Ramal. Procure a Fonte Férrea ou do Ferro, ali bem junto da Ribeira.

Sinalização da Fonte Férrea

Sobre esta fonte, uma das de maior tradição e maior utilização pelos moradores do Sardoal, em tempos idos, refere o Dr. Francisco da Fonseca Henriques, de Mirandela, médico de D. João V, no seu Aquilégio Medicinal, publicado em 1726, o seguinte:

“No termo da dita Vila do Sadoal, no sítio de S. Sebastião e ribeira do Cadaval, está uma fonte a que chamam do ferro, de que há tradição antiga, que é boa para intemperanças quentes do fígado e mais partes do corpo; e entendemos nós que também será boa para obstruções, que as águas férreas as gastam roborando o estômago.”

Capa do Aquilégio Medicinal do Dr. Francisco da Fonseca Henriques

A ela se refere, também, o Abade de Castro, no seu “Mapa de Portugal”, chamando-lhe fonte milagrosa, por só ter água no Verão e secar no Inverno, o que não é verdade.

Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal, na sua obra “Portugal Antigo e Moderno”, Vol. 9, publicado em 1880, refere-se-lhe, afirmando:

Rebenta de uma rocha granítica, um pouco abaixo da ermida de S. Sebastião e na margem esquerda da ribeira, produzindo nove centímetros cúbicos de água por segundo. A sua temperatura é de 60º. F. – É transparente, inodora e com o sabor ordinário das águas ferruginosas. Atribuem-se-lhe qualidades desobstruentes e litotrípticas.

Esta fonte deve ter sido a primeira que houve de bica no Sardoal, à qual se seguiu o Chafariz das Três Bicas e tomou o nome de Fonte Férrea ou do Ferro, da qualidade da água que nela brota e está situada junto à Ribeira do Cadaval, um pouco abaixo da Capela de S. Sebastião.

Foi construída ou sofreu grande arranjo em 1710. Até 1790 consistia num pequeno poço na margem esquerda da ribeira, sujeito às inundações da mesma, que lhe entravam dentro, sendo nesse ano de 1790, à custa das rendas do concelho, posta de bica e fechada com uma arca.

Alguns anos depois, a Câmara passou-a para a margem direita da ribeira a fim de mais facilmente ser aproveitada pelo povo.

Fonte Férrea ou do Ferro em 2020

Regresse à estrada e desça para a Ponte do Ramal, seguindo o caminho para o Chafariz das Três Bicas.

Ponte do Ramal ao fundo, onde se vê o açude do lagar traseiro ao Chafariz das Três Bicas (fotografia anterior a 1908)

A nascente que alimenta este Chafariz apareceu, segundo a tradição, por ocasião do Terramoto de 1 de Novembro de 1755, uns metros acima da Ponte do Ramal, na margem esquerda da ribeira, em resultado de um abalo de terra que fendeu o rochedo de onde começou a correr. Diz ainda a tradição que achando-se ali um frade na ocasião em que a nascente rebentou, este pegou numa pedra e introduziu-a na fenda aberta, motivo por que nunca mais secou. Se não fosse esta prevenção, diz-se que ter-lhe-ia sucedido o mesmo que a uma outra que rebentou, por igual motivo, nas imediações da Fonte Velha e que secou passados tempos, por falta de objecto que impedisse fechar-se a fenda que lhe dava passagem.

Chafariz das Três Bicas em 2020

Fosse como fosse, o que é certo é que esta nascente só se faz notada depois do ano de 1755, o que condiz, em parte, com a tradição.

O povo da Vila, em vista das qualidades terapêuticas que lhe atribuíam e da sua abundância, tomou tal entusiasmo por esta nascente que à sua conta e sob a direcção de Sebastião Serrão da Mota de Albergaria Galhardo, que era Juiz Presidente e que cremos ter sido pai de Máximo Maria Serrão, a canalizou e construiu o Chafariz que hoje se vê ao lado da Ponte de S. Francisco.

Concorrendo uns com dinheiro e outros com serviço, a obra ficou concluída em 1791, tendo sido iniciada um ano antes. A canalização tinha que atravessar a ribeira e foi por isso convenientemente construída, de forma que a água desta não se misture com a da nascente.

Pinho Leal, ibidem, afirma:
“Produz em cada segundo três centímetros cúbicos de água, por três bicas, e a sua temperatura e qualidade terapêuticas são como a do Ferro. Ainda não foram competentemente analisadas, mas demonstram ser mineralizadas pelo carbonato de ferro. Empregam-se nos padecimentos gastrálgicos e cloróticos. Com as remanescentes, se regam e fertilizam muitas terras.”

A água é bastante férrea e por onde passa deixa um sedimento avermelhado próprio e tem um sabor a ferro bastante pronunciado.

Cai repartida em três bicas, sobre uma pequena bacia e desta passa por baixo de um pavimento quadrilongo, lajeado e vai cair da altura de 2,23 m, num tanque reservatório que mede 10,50 m de comprimento, 1,40 m de largura e 0,72 m de profundidade, que serve de bebedouro para animais.

No seu princípio devia ser uma nascente importante, pois em 1888 produzia por minuto 180 litros de água, segundo afirma o Dr. Giraldo Costa no seu esboço corográfico do Sardoal.

O Chafariz e a Ponte de S. Francisco (fotografia de Pedro Barneto Nogueira)

Não se pense, porém, que esta obra não teve detractores, como todas as obras importantes os têm. Assim o escreveu o citado Sebastião Serrão, em nota às memórias do Sardoal, de Joaquim Serrão da Mota, seu pai, dizendo: “Em que continuou a minha diligência e liberalidade de alguns, ainda que com a oposição de outros”.

Os sobejos da água deste Chafariz são aproveitados para regas das hortas próximas, partilhadas por acórdão da Câmara, que pode ser lido no Livro das Vereações que serviu nos anos de 1792 a 1798, de fls 47 a 69.

Caso lhe apeteça beber água, escolha bem a bica, porque se beber pela bica do meio, arrisca-se a ficar enfeitiçado por esta terra e a escolhê-la para sua morada permanente!…

Planta da nascente e trajecto da canalização do Chafariz das Três Bicas – canalização substituída por tubos de grés de 0,12m, em Dezembro de 1930.
A – Nascente; B – Fenda que vai da pedreira à nascente.

O escritor sardoalense Gregório Cascalheira, na sua novela “Na Terra dos Gregórios” de 1928, chama a este chafariz a “Fonte das Bicas-Verdes” e num diário de uma sardoalense escrito em 1930 encontrámos a mesma designação. Assim o descreve a pena inspirada de Gregório Cascalheira:

“No cimo, a igreja velha com a sua torre esguia onde o sino badalava a uma hora da manhã, pingo de som morrendo melancólico no espaço infinito.
Dois caminhos levavam à vila: a estrada e uma calçada íngreme de lajes mal sobrepostas, que vinha parar na fonte das Bicas-Verdes.
Teodorico, premindo a testa com um vintém, desceu à fonte a lavar a cara onde alguns grãos de poeira teimavam em ficar espetados.
Era interessante aquela fonte escondida entre salgueiros e chorões vistosos, cujos ramos pendiam quasi até às águas que, escorridas das bicas, serpeavam sorrateiras por entre musgos e avencas, formando riachozinhos, e se iam juntar lá mais em baixo à ribeira onde as lavadeiras, de perna ao léu e cabeça ao sol, cantavam batendo a roupa até ao lusco-fusco.
Quantas gerações tinham vindo beber àquelas bicas que as heras abraçavam nostálgicas?”

Perto do Chafariz das Três Bicas fica a Ponte de S. Francisco, que ouvimos afirmar ser de construção romana, o que não pudemos confirmar. Pena foi que em obras de reconstrução as pedras não tenham sido colocadas na mesma posição, o que impede a leitura de uma inscrição que ainda é visível em algumas pedras, mas incompleta e sem possibilidades de ser descodificada. Esta situação já se verificava por volta de 1750, conforme refere Serrão da Mota nas suas memórias do Sardoal.

Passando a Ponte, siga pelo caminho à direita em direcção à ETAR de Sardoal, fazendo de seguida um exercício de orientação para localizar a Fonte dos Lobos, em relação à qual não foi possível encontrar referências escritas, mas que pelas suas características e pelo uso que evidencia, é das mais antigas fontes públicas do Sardoal, se não a mais antiga.

Seguindo pelo caminho à beira da ribeira, encontraremos mais abaixo as ruínas do lagar do Vale da Gala, próximo do local denominado o Medonho, por entre olivais envelhecidos e muitas outras árvores e arbustos, alguns de espécies raras. Sinta as cores da sombra, desses castanhos e cinzentos das nuvens, de natureza morta a renascer de um sono profundo. Descobre-se e encobre-se o tempo em vagas lentas. Há melancolia, tudo muito calmo, como se o tempo aqui não estivesse. Pela paisagem que vai encontrando pode perceber-se que os ciclos da vinha, da oliveira e da figueira marcaram a vida destas gentes e enchiam a paisagem de tonalidades mágicas. Arrastado pela brisa há no ar esse permanente aroma tão característico das estevas.

Siga pelo caminho que sobe, em direcção a nascente. No alto encontrará marcas indicativas da direcção a seguir para encontrar a Fonte do Vale da Gala, cujas águas estiveram aforadas ao Senhor do Sardoal. O seu título de posse tem a data de 19 de Março de 1507 e acha-se registado no livro de registos do ano de 1534 e seguintes a fls. 38, com o seguinte teor:

Saibam quantos este instrumento de posse e marcação virem, como no ano de N.S.J.C. de 1507, aos 19 dias do mês de Março, no lugar de Sardoal, termo da Vila de Abrantes e Fonte do Vale da Gala, estando aí o Honrado Henrique Lopes, Juiz Ordinário do dito lugar e Jorge Delgado, Escudeiro e João Alves, Criado do Senhor D. Francisco, Vice-Rei nas partes da Índia, oficiais da povoação. Os sobreditos Juiz e Oficiais, foram ver uma contenda que era entre Sebastião Dias, Clérigo de Missa e o Concelho, sobre um pedaço de chão que fora recusado ao dito Juiz, que o dito Sebastião Dias metia em sua horta pela qual razão o dito Juiz tomou dois homens velhos e amigos, assim Diogo do Vale, o Velho e Filipe Alves, que se recordariam do chão que a dita fonte tinha para sua serventia em tempo antigo, concordando-se com eles, perante o dito Sebastião Dias e com seu prazer e contentamento e assim dele Juiz e Oficiais por parte do concelho, por não acharem uma escritura que se dizia que o concelho tinha da serventia e rossio da dita fonte e cujo juramento que lhe por ele foi dado. Logo tomaram marcos: marco em direito da dita fonte contra a horta do dito Sebastião Dias, quatro covados da dita fonte e além deste marco está outro que parte com outro que está junto com este primeiro marco e a dez covados dum ao outro que está para a sebe da dita fonte entre o dito Sebastião Dias e João do Mação, que é de marco ao outro sete covados e assim fica o rossio da fonte. Parte do dito Sebastião Dias por marcos demarcado como dito é, ficando de cabo deste, não fazer o rossio da dita fonte despejado grande parte como se por um marco mostra que está na boca da serventia que vai para a dita fonte e vai para outras heranças por a qual demarcação o dito Juiz e Oficiais mandaram ao dito Sebastião Dias que se tapasse e desocupasse a fonte e o rossio do concelho, como sempre fora e desse assim ao concelho como a Sebastião Dias, senhas e instrumentos velhos. Diogo do Vale e Filipe Alves e outros. E eu, João Maia, Tabelião Público do dito lugar por D. João de Almeida, Fidalgo e Senhor da Vila de Abrantes e seus termos, nosso Senhor, que neste instrumento, a requerimento de Sebastião Dias, Procurador deste concelho, escrevi por mandado de Diogo Leitão; Juiz Ordinário e dos Vereadores e o concertei bem fielmente com Gil Vaz, Escrivão da Câmara, que assinou o concerto. E eu, Fernão Vaz, Público Tabelião na dita Vila, por mandado de D. António de Almeida, nosso Senhor, fui o que o trasladei e concertei fielmente, com o dito Gil Vaz, Escrivão da Câmara.

Atravessando a Estrada do Ramal, ficamos no local denominado Ribeiro Barato, onde se prevê construir um parque de merendas, mantendo-se ali uma nora que é propriedade municipal. Junto às bombas de combustíveis, siga pela antiga Estrada Nacional 244-3, em direcção ao Castiço. Algumas centenas de metros à frente começará a encontrar algumas pinheiras (pinheiros mansos) de grande porte, mas já junto às casas da Quinta do Castiço, encontra um notável exemplar daquela espécie, árvore classificada, que é o motivo que justifica a sua passagem por este local.

Depois das casas, siga o primeiro caminho que encontra à sua esquerda, até encontrar a antiga Estrada Nacional 358, no Correão.

Desça para a Vila até à Ponte de S. Sebastião. À saída da Ponte corte à esquerda, pelo caminho que vai dar à Capela de S. Sebastião. Antes de lá chegar volte a cortar à esquerda até à Ribeira e na margem oposta encontra a Fonte da Pena ou da Penha.

Fonte da Pena ou da Penha em 2020

Em 1906 a Câmara Municipal mandou abrir uma pequena mina e formar-lhe uma arca de ar, sendo então posta de torneira.

A esta fonte se refere, em 1726, o Dr. Francisco da Fonseca Henriques (ibidem), nos seguintes termos:

“No mesmo sítio de S. Sebastião da dita Vila do Sardoal, há outra fonte, a que chamam da Penha, ou da Pena, que ainda que não tem virtude medicinal, faremos aqui menção dela, por uma raríssima particularidade da sua corrente: Nasce ela de uma penha, e corre somente de verão, suspendendo totalmente o curso no Inverno, ainda que seja o mais chuvoso; e quando os Estios são mais ardentes, então corre com maior afluência. A sua água sempre é fria, mas quando o calor é maior, então é muito mais fria; razão porque os moradores a não bebem, porque pela nímia frialdade lhe causa a alguns dores de ventre e vólvulos mortais.”

Seguindo para a Capela de S. Sebastião encontrará uma outra pequena fonte, a Fonte das Olarias, que também deve ter sido construída em 1954, quando o abastecimento de água a todas as habitações ainda não se tinha generalizado.

Fonte das Olarias (imagem Google Maps – 2018)

Subindo para a Vila, invocaremos algumas memórias de algumas fontes que já desapareceram. Próximo do local onde hoje fica a Repartição de Finanças e o Cartório Notarial, ficava o quase monumental Tanque das Bestas, que foi demolido por volta de 1975/76 e que aproveitava os sobejos da Fonte da Preta. A água corria por uma cabeça de cavalo, em bronze, que durante alguns anos foi guardada em instalações da Câmara Municipal, mas de que se perdeu completamente o rasto, há vários anos.

Na Avenida Heróis do Ultramar, existe a Fonte do Mercado, com um tanque/bebedouro para animais, com rara utilização na actualidade.

Fonte do Mercado (imagem Google Maps – 2014)

Ao fundo, nas traseiras do Banco, situavam-se os antigos Lavadouros Públicos de Sardoal, cujas ruínas se encontram soterradas. Para seguir para a Fonte da Preta, suba as Escadinhas que se encontram ao lado do edifício do Banco Atlântico.

Fonte da Preta em 2020

Na Praça Máximo Serrão, confluência da Rua Bivar Salgado com a Rua Dr. David Serras Pereira (antiga Rua do Chafariz da Murteira), encontra-se a Fonte da Preta, inaugurada em 29 de Dezembro de 1894, que foi, durante muitos anos, uma das principais fontes públicas do Sardoal. No largo fronteiro à Praça Nova ou das Tílias, está ainda o poço que abastecia o Chafariz da Murteira, onde existia há alguns anos uma bomba de roda que foi retirada, com a qual os moradores das imediações se abasteciam de água para lavagens, visto a água do poço não ser da melhor qualidade.

Encontra-se nos arquivos da Câmara Municipal, uma carta de compra desta fonte, feita pelo concelho de Sardoal a Fernão Gomes e a seus irmãos, todos do Sardoal, com o respectivo chão, no local que antes de denominou Regato do Paio, que partia com o chão de Rui Lourenço e com Diogo Moreno, pelo preço de 800 réis brancos, em 29 de Março de 1488. Esta escritura foi lavrada pelo Tabelião do Sardoal Diogo Filipe.

Em nota às “Memórias” de Jacinto Serrão da Mota, refere-se que foi chafariz de Bica pelos anos de 1598, o que, a ser assim, lhe concede a primeira fonte de bica do Sardoal e ainda que não teve água nos anos de 1753 e 1754.

Siga pela Rua Cónego Silva Martins até à Rua 5 de Outubro, no fundo do Jardim que fica do lado esquerdo de quem sobe, encontra-se um elegante fontanário, a Fonte da Rua do Vale, também construído em 1954.

Fonte da Rua do Vale em 2020

Na subida para o Convento pode encontrar, ladeando a escadaria, os Freixos do Convento, árvores centenárias que a tradição diz terem sido trazidas da Índia, na segunda viagem de Vasco da Gama. No Largo encontrará, para além da imponente tília, uma amoreira, de idade avançada e que durante anos e anos abastecia a rapaziada do Sardoal de folhas de amoreira para os seus bichos da seda.

Escadaria do convento (fotografia anterior a 1908)

Ainda em busca de motivos relacionados com a água, procure obter autorização para entrar no refeitório do Lar/Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia de Sardoal e observe o excelente enquadramento arquitectónico que foi conseguido da Cisterna dos Frades.

Antigo fontanário da Taberna Seca (fotografia 1972 do Diário Popular)

Volte a descer o primeiro lanço da Escadaria do Convento e passando entre dois dos depósitos de água que abastecem a Vila (um construído em 1954 e o outro mais recentemente) e as antigas instalações do Dispensário do Serviço de Luta Antituberculosa, desça para a Rotunda fronteira ao edifício do antigo Externato Rainha Santa Isabel, local com a curiosa designação de “Taberna Seca”. Já não encontra o antigo fontanário com tanque para as bestas que ali existia, idêntico ao que ainda se encontra na Avenida Heróis do Ultramar, que foi demolido há cerca de 10 anos. Incorporado no conjunto edificado onde se situa a sede do Grupo Desportivo e Recreativo de Sardoal “OS LAGARTOS”, existe ainda o primeiro depósito-reservatório que serviu para o abastecimento de água à Vila de Sardoal, construído em 1905, onde era recolhida a água produzida pela Fonte de Frei Álvaro.

Eucalipto Grande em 2020

Descendo para junto do Eucalipto Grande, outra das árvores classificadas do Sardoal, faça uma pequena pausa para descansar e aproveite para conhecer um pouco da história da Fonte de Frei Álvaro e da importância que teve para os habitantes do Sardoal.

A nascente de Frei Álvaro em seu princípio era uma pequena poça à superfície do terreno, situada a uns três mil metros de distância desta vila, numa propriedade denominada “Casal do Maio”. Toma o seu nome de um frade que segundo a tradição residiu muito tempo no dito Casal e que se abastecia da mencionada poça. Por ser aquela água de primeira qualidade, muitos habitantes desta vila iam ali abastecer-se para usos mais ou menos medicinais.

Com o andar dos tempos, porque a nascente de Frei Álvaro produzia um grande jacto de água que espontaneamente rebentava à superfície, pensou a Câmara do Sardoal aproveitar esta riqueza encanando-a para vir abastecer a Vila.

Não era sem grandes sacrifícios que a Câmara poderia empreender uma tal obra. Começou por adquirir a propriedade da nascente, como se vê pela escritura pública lavrada nas notas do Tabelião desta Vila, Joaquim da Silva Correia, em 13 de Março de 1876, na qual figuram como outorgantes, de uma parte a Câmara Municipal, sendo Presidente Máximo Maria Serrão, desta Vila e da outra parte António Alves Côdea e sua mulher Maria da Piedade, da Venda Nova, enfiteutas do citado Casal do Maio, estando também representado o senhorio directo, Sebastião Francisco Falcão de Lima e Melo Trigoso, de Lisboa, na pessoa de Bento Xavier Moreira Cardoso, Vereador da Câmara e farmacêutico nesta Vila.

Foi esta uma decisão que honra a Vereação daquele tempo, pois além de ser uma aquisição importante, foi a escritura lavrada de forma a não poderem ser levantadas dificuldades às vereações vindouras, como se pode verificar pelas principais condições que estão como segue:

  • Fica pertencendo à Câmara Municipal do Concelho do Sardoal a propriedade da água da citada Fonte Frei Álvaro e o direito de exploração da mesma, segundo julgar mais conveniente, podendo também a Câmara explorar qualquer água potável que apareça na directriz da canalização que pretendem fazer da dita fonte.
  • A Câmara poderá construir depósito, chafariz, canalização ou outra qualquer obra de arte sem que o senhorio útil ou directo do referido Casal do Maio tenha direito a indemnização alguma, desde que estas obras sejam aplicadas para o fim da mesma canalização.
  • O senhorio do Casal, seus herdeiros ou sucessores não poderão, por forma alguma, prejudicar a quantidade, qualidade, depósito e canalização da água.
  • Foi esta compra feita pela quantia de cem mil réis.

Faltava agora efectuar o resto que era canalizar a água até à Vila. Não pensou a Câmara em realizar este melhoramento pelas forças ordinárias do município, visto que contraiu um empréstimo de 2.700.000 réis, em 9 de Abril de 1878, exclusivamente destinado àquele fim. O dinheiro foi insuficiente em virtude do primeiro projecto ser para manilhas de grés e depois ter passado para canalização de ferro, por judiciosas e acertadas considerações. A canalização chegou ao sítio da Alagoa, perto da Taberna Seca, a uns trezentos metros do centro da Vila, isto é, uma extensão de 2073 metros desde a nascente até à Alagoa. Ficou naquele ponto correndo de bica aberta (alguns metros depois do Eucalipto Grosso, que deve ter sido plantado por aquela altura) esperando o ensejo de atravessar a vertente da Taberna Seca e vir a beneficiar os habitantes da Vila, que com uma paciência angélica para lá caminhavam, cântaro à cabeça num vaivém constante, fatigante, mas alegres, felizes por terem aquela tão desejada água ali já tão perto…

Foi no ano de 1894, a 29 de Dezembro, que o Sardoal, nas que então se chamavam Praça do Comércio, hoje Praça da República e Chafariz da Murteira, hoje Fonte da Preta, pôde ver correr a água da Fonte de Frei Álvaro. Isto é, levou 16 anos a percorrer o espaço de 300 metros que vai do Chafariz da Alagoa ao centro da Vila.

Estava realizado o melhoramento concebido pelo solícito Presidente desta Municipalidade, Máximo Maria Serrão.

Para completar esta obra faltava um depósito/reservatório para obviar aos inconvenientes de faltas de água por efeitos de reparações e limpezas dos canos. Esse depósito foi construído em 1905, no alto da Taberna Seca, com a capacidade de 72 m3, podendo, na altura, por si só, abastecer a Vila durante 5 ou 7 dias.

Apesar de ser um importante manancial de água, a fonte de Frei Álvaro em anos de grande estiagem não abastecia abundantemente o povo do Sardoal. Isto por terem sido abandonadas as outras fontes existentes no Sardoal e, principalmente, porque o povo recorria à água dos marcos fontanários para gastos que não eram rigorosamente domésticos, no tempo de estiagem.

A Câmara pensou, em 1907, canalizar a água para domicílios ao preço de 80 réis o metro cúbico, não excedendo o consumo mensal os 5 m3, sendo os excedentes pagos a 40 réis, o que representava uma importante receita, a avaliar pela realizada nas cinco casas para onde foi canalizada. Também em 1907 foi substituída a canalização de parte da conduta por outra de maior diâmetro para o que foi contratado um empréstimo de 2.500.000 réis, ao juro máximo de 6% ao ano.

Em 1954 foi explorada água no Braçal, sendo então construído um depósito na Cerca do Hospital e remodelada a canalização na Vila e construídos alguns fontanários para abastecimento dos que ainda não tinham água ao domicílio. Nos finais dos anos 80 foi construído um novo depósito de maior capacidade, junto do depósito da Cerca. Espera-se, agora, que com a entrada em funcionamento do sistema de abastecimento a partir da Barragem da Lapa que o problema da água para consumo público esteja resolvido por muitos anos, com garantias de qualidade e quantidade.

Continuando o passeio com um breve percurso pelo Jardim da Tapada da Torre, suba as escadas até junto do antigo Centro de Saúde. Atravesse a estrada e siga em direcção à Quinta de S. Bruno, contornando-a pelo caminho que vai dar ao Vale do Mú. Não vai encontrar muitos motivos relacionados com a água, mas terá, por certo, algumas vistas da Vila do Sardoal que serão talvez uma novidade para si. Na direcção do Poente fica o Chão das Maias, onde se situava a Fonte do Abade, que há muitos anos deixou de ser considerada pública. Sobre ela existe no Arquivo Municipal um pergaminho com uma carta de sentença dada no Paço do Concelho de Sardoal, pelo Juiz Ordinário Lourenço Vasques, em 3 de Janeiro de 1446, a favor dos moradores do mesmo concelho, contra Afonso Martins, por este desviar as águas da Fonte do Abade, em benefício da sua horta. Foi condenado em 14 libras da antiga moeda, de multa, por cada vez que tirasse água para regar a horta, concedendo-lhe poder utilizar a água que corresse da fonte e não fosse precisa ao público.

Depois de encontrar o Caminho do Vale do Mú, siga à esquerda até à Sequeira. Na Quinta de Santo António existem nascentes de onde brotam água que, segundo escritos antigos, têm propriedades medicinais, devido às suas características sulfurosas.

Junto à Ponte, recentemente remodelada, corre uma bica a que atribuem essas qualidades.

Regresse um pouco atrás e siga pela Estrada das Sentieiras até à entrada da Quinta do Coro. Siga o caminho à esquerda que o vai levar próximo do Sobreiro de Dona Maria. Desviando-se um pouco para a direita, encontra três caminhos. Siga pelo do meio até à Fonte Nova.

Esta Fonte de “Nova” apenas tem o nome, porque foi adquirida pelo Concelho em 24 de Julho de 1462, através de uma carta de escambo (=permuta), que pelo seu interesse transcrevo:

“Saibam os que esta carta de escambo e outra tal virem, como no Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1462, aos 24 dias do mês de Julho, no Sardoal, termo de Abrantes, na Câmara de Arrolação do dito lugar, estando aí Rui Lourenço, Escudeiro, Vassalo de El-Rei e Vaz Gil, Juizes Ordinários do dito lugar e Filipe Gonçalves, como Procurador do dito lugar, em lugar de João Gonçalves, seu irmão e Álvaro Paes e Jorge Vasco, almotacés e Álvaro Gonçalves, Escudeiro da Arrolação e outros e muitos homens bons e oficiais do dito lugar, segundo mais completamente são contidos em um Acordão que logo os ditos oficiais e homens bons fizeram para o que adiante segue e outrossim estando Gonçalo Anes, de Nisa, morador no dito lugar e Maria Anes, sua mulher, os sobreditos oficiais e concelho e considerando em como eram desfalecidos de água no dito lugar e lhes era bem necessária, fizeram seus escambos com o dito Gonçalo Anes e sua mulher, por esta guisa que se segue: que o dito Gonçalo Anes e a dita Maria Anes, sua mulher, davam em escambo e em nome de escambo ao dito concelho de Sardoal uma horta e fontes de águas que em ela estão e que eles tinham e têm no Ribeiro da Madalena, que parte com os herdeiros de João Ferreira e da outra parte com Lopo Álvares, lavrador e pelo ribeiro. E os ditos juizes e oficiais do dito concelho deram ao dito Gonçalo Anes e dita sua mulher, em escambo e em nome de escambo pelo escambo que lhes o dito Gonçalo Anes dava, um chão para ele fazer casa, que é do concelho, que já foi dado a Pedro Castanho que jaz, na Bagaceira, com a parede que aí está, o qual tem a largura de 15 covados (covado = 0,66m) e de longo, segundo o que já é e vai a parede feita, os quais sobreditos escambadores mandaram e outorgaram que cada uns hajam e façam do seu escambo o que lhes aprouver como sua coisa própria, deste dia para todo o sempre, obrigando-se cada um a defender o seu escambo de que em eles ou parte deles, sem algum embargo com todas as suas entradas e saídas, direitos e pertenças, que a cada um dos escambadores pertencem e compor as benfeitorias em dobro e ao senhor da terra outro tanto e que outorgaram assim por feita esta carta de escambo para cada um com sua que foram feitas no dito lugar, dia e mês. E eu, Diogo Filipe, Tabelião do Senhor El-Rei no dito lugar, que a escrevi. Esta dei ao dito concelho na qual meu sinal fiz, que tal é. (segue sinal público).

As sobras da água desta fonte foram aforadas, cujo foro foi remido desde 1907.

Volte para trás até encontrar o Sobreiro de Dona Maria, outro notável exemplar classificado e observe a altura do seu tronco e a imponência da sua acolhedora copa e contemple a imagem da Vila que dali pode ver. Parece envelhecida, não parece? Puro engano!…

Sobreiro da Dona Maria em 2020

Seguindo para a Vila uns metros à frente encontrará um portão que tem por cima as letras BXMC, que são as iniciais do nome de um antigo farmacêutico do Sardoal, Bento Xavier Moreira Cardoso, que era o dono das casas e da horta anexa, que hoje se chama Horta do Nogueira, porque também pertenceu a outro farmacêutico, Pedro Barneto Nogueira, que a legou à Santa Casa da Misericórdia do Sardoal, sua actual proprietária. Se conseguir entrar na horta encontrará a Fonte de Santa Isabel, conforme consta de um painel de azulejos datado de 1908, que não consta ter sido fonte pública e que tinha uma bomba de roda, idêntica à do Chafariz da Murteira. Apesar do abandono que é visível, quando devidamente tratado e arranjado, aquele espaço devia ser muito agradável e bonito.

Fonte Velha em 2020

Uns metros à frente e antes de chegar à Ribeira, chamada Pequena, do lado esquerdo encontra a Fonte Velha, que já tinha esta designação em 1543, como se pode ver por uma escritura lavrada em 22 de Dezembro desse ano, da compra feita pelo Juiz Ordinário Fernão Caldeira, sendo Vereador Diogo Dias Gueifão e Procurador do Concelho Fernão Pinheiro, aos herdeiros de Vasco Maia, de uma oliveira sita no quinchoso de João Ferreira, por cobrir a Fonte Velha, a qual oliveira mandaram arrancar e assinaram o termo de nunca mais se plantar oliveira ou alguma árvore naquele sítio, para não se danificar a fonte.

Desta fonte diz o Dr. Francisco da Fonseca Henriques (ibidem):

“Na Vila do Sardoal há uma fonte chamada a Fonte Velha, a que se não conhece mineral por onde passe, mas entende-se que é boa para preservar de dores nefríticas; e de estupores e paralisias; por nunca haver estes achaques na dita Vila, em que há a experiência de que indo de fora algumas pessoas com eles, reconhecem melhoria e a atribuem à virtude da água.”

Para atestar o grande uso que teve em tempos idos basta reparar no desgaste causado pelos cântaros no parapeito, onde eram pousados quando se tiravam da fonte.

Sobre esta fonte transcrevo uma interessante nota, extraída das memórias do Padre Fradique Ferreira de Miranda.

Depois de expor que a qualidade da água da dita fonte é a melhor das desta Vila, segundo experiências feitas por pessoas inteligentes, diz o seguinte: Aos nove de Julho de 1730 por ordem do Senado desta Vila se arrematou a renda do verde, com a obrigação de abrir junto da mesma fonte dois anéis de água, que deu um vedor que no ano pretérito esteve nesta terra. Principiou-se a obra ao longo da calçada acima 8 braças em comprimento, quase no directo da fonte da horta do Padre Fradique Ferreira de Miranda e terá duas braças de altura e nesta mesma altura se acharam quase os dois anéis de água. Fez-se-lhe no nascente uma arca de pedra e com o seu córcito de tijolo muito feito e daí até se meter na fonte, de uma e de outra parte vem parede de comprimento de três palmos de largura e altura de um homem, em pedra e cal e depois calafetado muito bem com betume, até se meter na mesma fonte. Antes de chegar à bica da fonte duas braças está da parte do olival de Jacinto da Mota outra mãe de água de altura de um palmo e meio e de comprimento três que deita uma boa pena de água. Defronte desta para a parte da estrada ou calçada, duas varas para baixo, fica parte do cano, fechada a tijolo e cal.”.

Numa das hortas da margem direita da ribeira, algumas dezenas de metros abaixo ficava a Fonte do Prior, que deixou de ser do domínio público há cerca de 70 anos.

Regressando à Vila suba a Rua da Fonte Velha e vá até ao Largo do Poço da Ratinha, onde já não encontrará o poço que foi entulhado há algumas dezenas de anos. O Poço da Ratinha deve ter tido grande importância para o abastecimento de água ao Sardoal, visto que tendo-se queixado os moradores da Rua do Poço da Ratinha a El-Rei D. João III, de que os oficiais da Câmara haviam vendido o chão onde estava o poço e sendo este entupido lhes causava prejuízo, porque abasteciam as suas casas e lagares com água deste poço. El-Rei mandou informar aos juizes e vereadores que responderam que era verdadeira a queixa dos moradores, porém que eram eles que haviam causado o dano, mas sim os seus antecessores, o que visto por El-Rei, mandou vir perante ele Diogo Gonçalves que havia comprado ao concelho o dito chão e lhe fez ver esta demanda e a necessidade deste poço e determinou por carta de sentença, o seguinte: “e anuleis e julgueis por minha sentença a dita venda por nenhum valor…” e concluiu: “o que asy cumpryreys e all não façades”. Dada no dito lugar do Sardoal aos onze dias do mês de Fevereiro do ano de 1533. Francisco da Cunha a fez. Registada pelo Escrivão da Câmara, Gil Vaz, aos 18 de Novembro de 1536.

Do Largo do Poço da Ratinha siga pela Travessa do Poço da Ratinha, entrando na Rua do Paço, percorrendo-a alguns metros até entrar na Rua do Poço dos Açougues em direcção à Cadeia Velha. A tradição manteve a memória deste poço, que se situava a poucos metros da Fonte da Cadeia, como quem segue para a Rua Velha ou para a Rua da Amoreira.

Fonte da Cadeia em 2020

A Fonte da Cadeia foi ali colocada em 1934 e o fontanário é o mesmo que se encontrava na Praça da República, próximo do local onde está o Pelourinho e, muito provavelmente, o primitivo pelourinho do Sardoal estaria colocado onde hoje está a fonte, porque ali foram as antigas Casas da Câmara (Paços do Concelho), a Cadeia e os Açougues.

A estrutura urbana envolvente transmite-nos a ideia, quase a certeza, que antes da mudança do núcleo central da Vila do Sardoal para a actual Praça da República, o que aconteceu, seguramente, entre os finais do século XVI e os princípios do século XVII, se situava aqui o “coração” do Sardoal antigo. Repare-se que aqui confluem ruas importantes dessa época, como sejam a Rua Velha e a Rua da Misericórdia. Também é significativo que o Tribunal funcionou na casa que foi da família Ferreira Campos.

Subindo uma pequena parte da Rua Dr. Giraldo Costa, entre na Rua António Duarte Pires e regresse à Praça da República, para terminar este passeio no local onde o mesmo começou.

Sardoal – Setembro de 2003