Nota prévia: Estas memórias das tradicionais Festas de Santa Maria da Caridade foram antes publicadas no Sardoal com Memória e ainda antes numa brochura editada em 1998 de promoção às Festas do Concelho desse ano. Decidimos ainda assim republicá-las, por duas razões. A primeira, por se apresentar um novo arranjo gráfico, que, esperamos, torne a leitura mais escorreita. A segunda, para juntar uma reprodução dos cartazes antigos apresentados nessa edição física de 1998 editada pela Câmara Municipal de Sardoal.
Introdução
A publicação de algumas memórias das tradicionais Festas de Santa Maria da Caridade, que durante muitos anos animaram o mês de Setembro, na Vila de Sardoal, organizadas pela Santa Casa da Misericórdia tem como objectivos, por um lado, registar para a história momentos lúdicos e culturais importantes que, decerto, estão ainda presentes no espírito de quem os viveu directamente e divulgá-los junto dos mais novos que apenas os conhecem pelo que deles ouviram contar aos mais velhos e, por outro lado, homenagear as pessoas que de forma altruísta e desinteressada colaboraram na sua organização ao longo dos anos, proporcionando aos Sardoalenses e povos vizinhos, momentos de salutar convivência e enriquecimento cultural, garantindo ao mesmo tempo a arrecadação de meios financeiros indispensáveis para o funcionamento do antigo Hospital da Misericórdia, que durante muitos anos foi o último refúgio para os Sardoalenses e em especial para os mais carenciados, quando atingidos por situações graves de doença.
Temos consciência de que se trata de um trabalho muito incompleto, que publicamos mesmo assim na convicção de que pode ser um primeiro passo para um trabalho mais desenvolvido se, como já vem sendo felizmente hábito, o mesmo despertar o interesse dos Sardoalenses, que poderão dar um importante contributo se nos facultarem alguns elementos documentais que muitos guardam carinhosamente nos seus “baús de memórias (programas, cartazes, fotografias, objectos diversos) por forma a que este trabalho, revisto e aumentado, possa constituir um interessante elemento de consulta para quem se interessa pela história da vida cultural da nossa Terra.
As memórias
A Festa do Espírito Santo (Festa do Bodo) foi durante séculos a festa mais importante que se realizou na Vila de Sardoal, seguindo-se-lhe, em importância, a Festa do Senhor dos Remédios e a celebração do Dia do Corpo de Deus.
Só em 1924 tiveram início as Festas de Santa Maria da Caridade, por iniciativa da Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Sardoal, conforme relata o “Jornal de Abrantes”, de 3 de Agosto de 1924:
SARDOAL – GRANDES FESTEJOS NOS DIAS 23, 24 E 25 DE AGOSTO Sardoal, nos dias 23, 24 e 25 está em festa, feita a Santa Maria da Caridade, padroeira do Hospital desta Vila. É a primeira vez que se realiza esta festividade, por isso a Mesa da Misericórdia não se poupa a trabalho para que ela tenha um brilhantismo invulgar. Foi esta Santa que deu o nome ao Hospital desta Vila, por isso, tratando-se de um festejo cujo fim é arranjar receita para sacudir a situação precária em que esta instituição de caridade se encontra, não podia ser mais acertada a escolha do título. Em todo o concelho se trabalha com afinco e persistência para que a receita seja avultada, estando constituídas comissões em todas as aldeias do concelho para esse fim. O programa ainda não está definitivamente organizado, no entanto já sabemos que haverá uma exposição de produtos agrícolas, a que concorrem todas as povoações do concelho, produtos que serão vendidos, revertendo o seu valor a favor do Hospital, fogos de artifício nos dias 23, 24 e 25 e diversos divertimentos. No próximo número falaremos mais detalhadamente sobre a festa e daremos o programa. No entanto, o que podemos asseverar é que os atractivos e comodidades, tê-las-ão os visitantes em larga escala, de modo a poderem passar três dias de alegre convívio. Às festas do SARDOAL!!! |
Em 17 de Agosto de 1924, no mesmo Jornal e com o título:
IMPONENTES FESTEJOS A FAVOR DO HOSPITAL DE SARDOAL Dia a dia vai aumentando o entusiasmo pela festa que se realiza nesta Vila, nos dias 23, 24 e 25 a favor do Hospital desta Vila. As ornamentações já começaram, esperando-se que a festa se revista de uma grande imponência, não só pela variedade de atractivos, mas também pelo esmero que os seus organizadores empregam na sua preparação. O serviço de bufete está sendo montado nos claustros do hospital, com farta iluminação à moda do Minho. Os produtos agrícolas serão expostos em barracas ao longo do adro, onde depois serão vendidos, revertendo o seu produto a favor do Hospital. Haverá também outras rifas. No domingo venda da flor por gentis meninas desta Vila. No domingo à noite fogo de artifício confeccionado pelo hábil pirotécnico Sr. Galinha e na segunda-feira, pelo não menos hábil Sr. Ameixoeira. Na terça-feira haverá tiro aos pombos e à noite récita ao ar livre na cerca do Hospital, apresentando-se pela 1ª vez em público o Grupo Dramático Sardoalense, que inicia as suas récitas oferecendo o produto do primeiro espectáculo a favor do Hospital. Belo gesto que bastante os nobilita. As festas de Igreja serão acompanhadas pela Orquestra Sardoalense e as festas civis pela Filarmónica desta Vila. No dia 25 espera-se a vinda da Banda de Infantaria 2, dependendo apenas de autorização superior, pois os músicos e o chefe, da melhor vontade acederam ao pedido que lhe foi feito, vindo, assim, uma vez mais prestar o seu desinteressado concurso a favor do Hospital. Que os organizadores da festa não esmoreçam, demais quando de todos os pontos do Concelho afluem boas vontades e incentivos. Sardoal vai, pois, ter quatro dias de festa que a todos vai deixar satisfeitos. |
Em 2 de Agosto de 1925, noticiava o “Jornal de Abrantes”:
FESTAS DE SANTA MARIA DA CARIDADE – 22, 23 E 24 DE AGOSTO A Comissão organizadora destes festejos, cujo produto reverte a favor do Hospital, já tem delineado o programa que este ano promete ser grandioso pela qualidade de atractivos que a todos deixarão satisfeitos. Vamos ter três dias de festa que em tudo excederá o não passado, apesar destas terem tido um brilho invulgar. Iremos informando os leitores dos detalhes do programa que está entregue à Santa Casa da Misericórdia, que se esmerará na sua confecção. |
Em 16 de Agosto de 1925, no mesmo Jornal:
FESTAS NO SARDOAL Por conveniência da Comissão que devia promover nos próximos dias 22, 23 e 24 do corrente a festa de Santa Maria da Caridade, na Vila de Sardoal, ficam as mesmas transferidas para os dias 12, 13 e 14 de Setembro próximo. |
Ainda no mesmo Jornal, do dia 13 de Setembro de 1925:
GRANDES E IMPONENTES FESTEJOS NO SARDOAL À hora a que este jornal começar a circular nesta Vila de Sardoal, inicia-se a grande festa anual à Santa Maria da Caridade, cujo produto é para o Hospital. Sardoal está animadíssimo, havendo grande profusão de bandeiras e muitos forasteiros. Hoje, domingo, dia 13, o programa é o seguinte: Venda da flor, venda dos produtos agrícolas, das ofertas resultantes do cortejo agrícola. À tarde, torneio de tiro aos pombos e à noite récita por amadores. Amanhã, 14: quermesse, festa de Igreja no Convento, continuação da venda dos produtos agrícolas. À tarde exercício de acrobacia por aeroplanos de Tancos que generosamente se prontificaram ir ali. À noite, fogo de artifício. Pelos preparativos que vimos, a festa reveste-se de um brilhantismo invulgar, havendo no local da festa um excelente bufete e vários jogos desportivos. Todos à festa do Sardoal!!! |
Ainda nos anos 20, aparecem outras referências às Festas de Santa Maria da Caridade, como por exemplo no “JORNAL DE ABRANTES” de 19 de Agosto de 1928:
FESTAS NO SARDOAL – PROGRAMA Como prometemos vimos hoje anunciar o programa da festa que constará de missa, arraial, quermesse e fogo de artifício e diferentes divertimentos desportivos, nos dias 26 e 27. Em todos os dias haverá um esmerado serviço de bufete, cinema e uma aparatosa iluminação eléctrica. A afluência de prendas é enorme, pois os filhos do Sardoal e outras pessoas a quem têm sido dirigidas circulares, têm a verdadeira noção que a vida do Hospital é difícil e de quantos sacrifícios é necessário para o manter. Abrilhanta a festa de igreja a Orquestra desta Vila, o arraial a Filarmónica Sardoalense. O fogo de artifício é dos pirotécnicos de Valhascos, Ameixoeira e Galinha. Os nossos amigos Barroso e Florêncio estabelecem carreiras entre Alferrarede e esta Vila. |
Sobre as Festas de Santa Maria da Caridade, noticiava o mesmo Jornal, em 20 de Agosto de 1933, o seguinte:
FESTAS NO SARDOAL: Estiveram muito concorridas e produziram apreciável receita as festas que se realizaram nos dias 10 e 11 deste mês, em honra de Santa Maria da Caridade. Estas festas tiveram a colaboração da Banda de Vila Nova de Ourém, cujo reportório bem escolhido e executado sob a hábil regência do Maestro Valente. A referida Filarmónica que abrilhantou as ditas festas na segunda-feira, deixou a melhor impressão e agradou ao público do Sardoal, conhecedor de boa música. O produto das festas foi destinado ao Hospital da Misericórdia. |
Em 1938 e ainda no “JORNAL DE ABRANTES”, era a seguinte a notícia sobre as Festas de Santa Maria da Caridade:
NOTÍCIAS DE SARDOAL: GRANDES FESTEJOS ANUAIS Começaram ontem e prosseguem hoje e amanhã importantes festivais em benefício da Santa Casa da Misericórdia, que são abrilhantados por duas bandas e pelos Ranchos Folclóricos de Ponte de Sôr e Sardoal, este exibindo-se pela primeira vez, o que está despertando grande interesse. A florescente Vila de Sardoal vai regorgitar de forasteiros, pois são bastante apreciáveis as belezas naturais dos seus arredores e deveras atraente o programa dos festejos em realização. Hoje, dia 18, às 7 horas alvorada pela Filarmónica Sardoalense, que percorrerá as principais ruas da Vila, queimando-se numerosas girândolas de foguetes e muitos morteiros. 12H3oM: Chegada da excelente Banda do Tramagal. 13 Horas: Aparatoso cortejo folclórico, que será organizado junto da antiga Igreja da Misericórdia e dispersará no largo do Hospital. 15 Horas: Abertura da quermesse, bufete, barraca de chá, tômbola, barraca de tiro, etc., etc., seguindo-se o arraial de tarde com música, danças características e regionais. 17 Horas: Venda das ofertas na barraca agícola. Chegada do Rancho da Ponte de Sôr, acompanhado da sua orquestra. 20 Horas: Exibição do Rancho da Ponte de Sôr. 23 Horas: Será queimado um lindo fogo de artifício, confeccionado pelos hábeis pirotécnicos de Valhascos, Srs. Galinha e Filhos e Ameixoeira e Filhos. Segunda-Feira, 19, às 7 hora alvorada pela Filarmónica Sardoalense. 10 Horas: Missa rezada na Capela da Misericórdia por intenção dos beneméritos do Hospital. 15 Horas: Reabertura das diferentes barracas. Concerto pela Banda do Sardoal. Danças e descantes populares. 16 Horas: Corridas de Sacos, pratos e pedestres, com prémios. 20 Horas: Exibição do Rancho do Sardoal. 23 Horas: Queima de um lindo fogo de artifício. A seguir, hino cantado pelo Rancho Sardoalense, no coreto da música, com o que terminarão as festas. |
7 de Setembro de 1941 – “JORNAL DE ABRANTES”
FESTEJOS NO SARDOAL Têm lugar nos dias 14 a 21 deste mês os grandes festejos na Vila do Sardoal que constam dos programas profusamente espalhados, estando os números principais distribuídos pelos dias 14, 15 e 21. Entre les consta uma Exposição Agrícola, Artística e Industrial. Será uma boa ocasião para os que não conhecem, admirarem as Tábuas do Sardoal, que figuraram na Exposição dos Primitivos. Pena é que as providências relativas ao trânsito de automóveis impeçam os que têm de vir aqui nos dias principais. Do Sr. Vice-Presidente da Misericórdia recebemos um ofício enviando os programas. A eles nos referiremos no próximo número. |
14 de Setembro de 1941 – “JORNAL DE ABRANTES”:
FESTAS NO SARDOAL Começam hoje as festas que constam do programa e que se estendem pelos dias 15 a 21 de Setembro. Hoje terá lugar o cortejo agrícola, abertura da Exposição Agrícola, Arte e Flores, arraial, récitas e fogo de artifício. Nos outros dias abrem-se as barracas e as exposições e continuará o arraial. No dia 21, além dos números dos outros dias há uma sessão de cinema, distribuindo-se diplomas e fogo de artifício. No dia 15: arraial e fogo de artifício. A exposição abrange os ramos agrícola, artístico, industrial e ainda uma secção de flores. Além de dois programas que foram enviados pelo Vice-Provedor da Misericórdia, não nos foram fornecidos outros elementos, nem facultados outros meios, para podermos dizer mais alguma coisa, mormente no que diz respeito às exposições que interessam não só ao Sardoal, mas a toda a região. |
28 de Setembro de 1941: “JORNAL DE ABRANTES”
AS FESTAS A FAVOR DA MISERICÓRDIA Missão difícil e ingrata escrever para a Imprensa quando o temos de fazer em tom discordante, com pessoas que nos merecem a maior consideração e que algumas vezes temos elogiado e defendido e a quem reconhecemos qualidades de inteligência e trabalho fora do vulgar. Mas esta circunstância dá-nos mais autoridade para tratar do assunto em questão. Realizou-se nos dias 14 e 15 do corrente, a festa a favor do Hospital desta Vila, festa que nasceu com um programa cheio de fantasias e exageros, que só servem para prejudicar em anos futuros, o fim que visam. Raro é o programa que não tem algum exagero. No entanto tudo tem os seus limites, mas tanto que as censuras se têm acentuado cada vez mais. Num dos dias da festa o que houve foi arraial, quermesse e exposição. Na exposição que se dividia em quatro secções, temos a destacar a arte antiga, representada pelos nossos quadros Primitivos que figuraram na Exposição do Mundo Português, onde obtiveram o 2º prémio e que são o nosso maior orgulho e a nossa maior glória artística. A par deles estavam paramentos religiosos de grande valor artístico e real. Na Exposição Industrial viam-se meia dúzia de coisas que bastante honram a serralharia manual deste Concelho. Exposição Agrícola bastante pobre porque o Sardoal não pode sair da vulgaridade, porque o seu solo é bastante fértil, mas a densidade arborizada é grande e traz o solo esgotado. Exposição florícola: flores bem tratadas, com o carinho que os sardoalenses lhes emprestam. No entanto nada digno de menção especial ali se denota. Enfim, o Sardoal é um Concelho pequeno e sem condições para organizar uma exposição que possa atrair visitantes, prendendo a sua atenção e bom será que no futuro nos restrinjamos, fazendo aquilo que as nossas possibilidades nos permitem. Teatro: no primeiro dia agradou imenso e teve a casa à cunha. No segundo dia foi bastante prejudicado por um incidente desagradável ao máximo e que podia ter desagradáveis consequências, se não fora o critério, ponderação e prudência de muitos que acalmaram os ânimos, fazendo com que o espectáculo prosseguisse até final, quando inesperadamente queriam dá-lo por findo às 0 horas. O espectador que compra o seu bilhete não tem a responsabilidade do espectáculo começar tarde e tem o direito, salvo caso de força maior, de ver o programa cumprido. Por isso os organizadores têm o dever de organizar programas compatíveis com o tempo que dispõem. Assim é que está certo. Além disso organizar festas com teatro, arraial, música, etc. etc. e querer regulamentá-los com horas certas, locais para divertimentos por conta gotas, como se administra qualquer medicamento a um doente é, não só um erro de visão, mas também o desconhecimento dos direitos que todos nós usufruímos e que podem dar origem a factos lamentáveis. O povo precisa e tem direito de se divertir, esquecendo um pouco as agruras da vida, direito este que tem sempre e o próprio Estado, organizando os cortejos folclóricos, criando o Teatro do Povo que anda por este País fora, criando Casas do Povo, quando a par da assistência há divertimentos de várias modalidades, reconhece-lhes esse direito, já citando-lhe o mesmo. Como carácter impeditivo, revela uma autoridade que nós não toleramos. É uma ilusão que se há-de desprezar com o tempo. Sobre o resto do programa, a pedra tumular do silêncio, porque quem não cala, nunca pode viver, glória ou ingloriamente. Palavras simples, ditas sem azedume nem paixões, mas ditas contristadamente e que todos, de futuro, pensem calmamente no que vão fazer para evitar desgostos e dissabores de maior. |
Sobre as Festas de 1946, traz, também, o “JORNAL DE ABRANTES” de 15 de Setembo de 1946, uma pequena nota:
FESTAS Hoje dia 15 e amanhã 16, grandiosos festejos do Hospital da Santa Casa da Misericórdia do Sardoal, abrilhantados pela Filarmónica Sardoalense, devendo exibir-se na noite do dia 15 o Rancho Folclórico da Chainça. |
Sem novidades é a seguinte a notícia publicada no “JORNAL DE ABRANTES”, de 22 de Agosto de 1950:
FESTAS DA MISERICÓRDIA: A Mesa da Misericórdia do Sardoal promove festas em benefício do seu Hospital, nos dias 16 a 19 de Setembro próximo. No dia 16, no Teatro Gil Vicente será exibido um filme português. No dia 17 haverá alvorada, missa cantada e sermão, recepção do cortejo de oferendas ao Hospital, arraial com barracas de bazar, chá e outras, concerto e bailes regionais e fogo de artifício, preso e do ar. Dia 18: Alvorada, missa, lançamento de foguetes chineses, abertura das barracas, fogo preso e do ar. Dia 19: Alvorada e de tarde reabertura das barracas, à tarde e à noite arraial, fogo preso e do ar. |
18 de Setembro de 1960 – “JORNAL DE ABRANTES”:
FESTEJOS NO SARDOAL: Em benefício do seu Hospital, começaram nos dias 11 e 12 do corrente e continuam hoje e amanhã as tradicionais festas de Verão em benefício do hospital concelhio. No local mais aprazível desta pitoresca terra, lindamente ornamentado e com os mais variados atractivos constantes dos prospectos já distribuídos e a distribuir ainda, figurarão, também, ranchos folclóricos, bandas de música, etc. etc. Um dos números que despertou grande entusiasmo foi a realização de um “Serão Para Trabalhadores”, um conjunto dos melhores artistas da F.N.A.T. que expressamente se deslocou de Lisboa a esta Vila e se fez aplaudir na noite de dia 11. Alguns bairristas da colónia sardoalense em Lisboa, trabalham afanosamente em conjunto com a mesa da Santa Casa da Misericórdia para que estas festas tenham a maior projecção sob o ponto de vista de muita alegria, caridade e espiritualismo. |
3 de Setembro de 1961- “JORNAL DE ABRANTES”:
FESTEJOS: Iniciam-se hoje, nesta Vila os tradicionais festejos em benefício da Santa Casa da Misericórdia, que continuam amanhã e nos próximos dias 9 e 10 do corrente. O programa de hoje é o seguinte: Alvorada pela Filarmónica Sardoalense. Às 9 horas peditório aos habitantes da Vila por alguns membros da Mesa Administrativa, acompanhados pela Filarmónica. Às 20 horas, abertura da barraca de chá, a qual será animada pela Filarmónica Sardoalense e orquestra Figueira Padeiro, de Alpiarça. Amanhã, além da alvorada o programa inclui pelas 15 horas, no Cine Teatro Gil Vicente, a exibição do excelente filme português “A LUZ VEM DO ALTO” e a abertura às 20 horas das barracas de chá e comes e bebes, igualmente abrilhantado pela Filarmónica Sardoalense e Orquestra “FIGUEIRA PADEIRO”. |
10 de Setembro de 1961 – “JORNAL DE ABRANTES”:
FESTEJOS Realizou-se no passado domingo e segunda-feira, como foi anunciado, a 1ª parte dos festejos da Santa Casa da Misericórdia, que tiveram, conforme se supunha, grande afluência de forasteiros, especialmente no domingo. Na segunda-feira, com a noite bastante fria, pouco público se juntou no Largo do Convento, pois em noites ventosas aquele local torna-se bastante desagradável. Tanto no domingo como na segunda-feira, fez-se ouvir a Filarmónica União Sardoalense e a Orquestra “FIGUEIRA PADEIRO”. Hoje, domingo, terão as festas o seu final, ou seja a 2.ª parte, havendo uma matiné com o filme português “RAPSÓDIA PORTUGUESA” e a presença da Orquestra “TULIPA NEGRA”, de Abrantes. |
17 de Setembro de 1961 – “JORNAL DE ABRANTES”:
FESTEJOS Realizou-se conforme estava anunciado, nos passados dias 10 e 11, as Festas da Misericórdia, que como se calculava tiveram bastante afluência de forasteiros. A Mesa da Misericórdia resolveu prolongar as festas. Assim temos hoje a abrilhantá-las a orquestra “TEATRO TRAMAGALENSE”, em mais uma noite de festas que se prevê animada. O grande movimento que tivemos nos 4 dias é talvez devido a não ter havido outra qualquer no nosso Concelho este Verão, em virtude da hora grave que a Nação atravessa, mas estamos plenamente de acordo com as ideias da Mesa da Misericórdia em executar estes dias de festa previstas, aproveitando o facto de não haver outras, pois que os lucros como se sabe são destinados à manutenção do nosso Hospital e por isso nunca é demais para tão edificante obra a favor dos doentes pobres e desprotegidos da sorte. Apesar de serem muitos os soldados do nosso Concelho e só da Vila são 13, que estão no Ultramar em missão de soberania, todos vieram com a sua presença em auxílio do nosso Hospital. |
24 de Setembro de 1961 – “JORNAL DE ABRANTES”:
FESTAS Terminaram no passado domingo as festas em benefício do Hospital da Misericórdia, com a actuação da Orquestra “TEATRO TRAMAGALENSE”. Devido à noite bastante fria, não teve a festa o brilho dos outros dias, mas mesmo assim grande multidão se juntou no Adro do Convento. Vão-se ausentando dia a dia os sardoalenses que anualmente vêm passar as suas férias nesta ocasião, ao Sardoal, o que se vai notando no movimento que nos trazem neste mês de Setembro. |
Nota: A Mesa da Misericórdia era nesta altura constituída pelo Sr. Manuel Lopes Alpalhão, como Provedor, Sr. Manuel Pires, Vice-Provedor, Sr. Armando Navalho, Secretário, Sr. José Alves, Tesoureiro e os Srs. Joaquim da Silva Lopes e Manuel Pires de Oliveira, como vogais.
26 de Agosto de 1962 – “JORNAL DE ABRANTES”:
FESTAS DA MISERICÓRDIA Foram já distribuídos os programas a anunciar os tradicionais festejos da Santa Casa da Misericórdia, em benefício do seu Hospital, que se realizam nos dias 2, 9 e 10 de Setembro. Do programa constam variadíssimas atracções. Destacamos a colaboração da orquestra “FIGUEIRA PADEIRO”, de Alpiarça, além da Filarmónica União Sardoalense e uma excelente aparelhagem sonora, dancing, bufete e um óptimo serviço de barraca de chá e vistosa iluminação. Portanto, sardoalenses, preparem-se para visitar a vossa terra natal, naqueles dias. |
2 de Setembro de 1962 – “JORNAL DE ABRANTES”
FESTAS DA MISERICÓRDIA Conforme foi anunciado no último número, realizam-se hoje e nos dias 9 e 10 do corrente, as Festas da Misericórdia com aliciante programa, aos quais temos de acrescentar novas atracções anunciadas para hoje, por programas de última hora. Assim temos, hoje dia 2, a categorizada orquestra “TEATRO TRAMAGALENSE”, que abrilhantará o dancing até de madrugada. No dia 9 teremos a apresentação da pequenina artista Victória Maria, uma promessa no futuro da canção nacional e disco. Dia 10 continuará a actuar a graciosa artista de palmo e meio, que tem vindo a encantar todos quanto a escutam. Abrilhantará o dancing a orquestra “FIGUEIRA PADEIRO”. Está reservado largo êxito às nossas festas e assim o desejamos, pois como sabe são em benefício do Hospital da Misericórdia. |
16 de Setembro de 1962 – “JORNAL DE ABRANTES”
FESTAS DA MISERICÓRDIA Decorreram com brilho as Festas da Misericórdia, que no passado domingo e segunda tiveram o seu epílogo. Especialmente no domingo muita gente acorreu ao local da festa, o que encheu por completo a barraca de chá que aplaudiu com calor a pequena Victória Maria, que se exibiu naquelas duas noites, a quem a orquestra “FIGUEIRA PADEIRO” deliciou com o seu reportório de música de dança, que tanto animou o dancing. |
27 de Agosto de 1967 – JORNAL DE ABRANTES
FESTAS DA MISERICÓRDIA Como é tradicional, mais uma vez, a Santa Casa da Misericórdia da nossa Vila organiza as imponentes festas de caridade em benefício do Hospital e assim nos dias 9, 10, 11, 16 e 17 de Setembro, o Sardoal será cartaz com um extraordinário programa que resumidamente apresentamos: artistas da Rádio e T.V.: João Maria Tudela, Cecília Cardoso, Isabel Fontes, Carlos Areias com o se acordéon electrónico e Victor Teixeira. Agrupamentos musicais: “CONJUNTO MÓNACO”, “CONJUNTO MELODIA AZUL”, “CONJUNTO ZURITA DE OLIVEIRA”, todos de Lisboa e ainda a Filarmónica União Sardoalense. Sorteios, fogo de artifício, barraca de chá, quermesse, bufete, e música constante para dançar. |
31 de Agosto de 1968 – “JORNAL DE ABRANTES”
FESTAS DA MISERICÓRDIA Conforme já anunciámos vão realizar-se os tradicionais festejos em benefício da Santa Casa da Misericórdia, nos dias 14, 15, 16, 21 e 22 de Setembro. Este ano com um programa sensacional e uma organização esmerada, teremos, além da colaboração da Filarmónica União Sardoalense, três categorizadas orquestras: “NOVA ONDA”, “OS MARIALVAS”, ambas de Bucelas “WHITE STAR”, de Lisboa e sete consagradas estrelas da nossa Rádio e T.V.: MARIA JOSÉ VALÉRIO, FERNANDO LITO, IDÁLIA MARIA, MARIA DA CONCEIÇÃO, MARIA GASCON E PEPE CARDINALE, além de valiosos sorteios entre o público, fogo de artifício, quermesse, bufete e barraca de chá e ainda uma gincana de perícia automóvel. No próximo número do nosso jornal daremos novas e mais pormenorizadas informações sobre este extraordinário programa de festas e bem assim a distribuição, por dias, das várias atracções. Para já, em perspectiva, uns festejos que, como é tradicional, são, de longe, os melhores da região. Visitem, pois, o Sardoal nos dias das festas da Santa Casa da Misericórdia e não darão por mal-empregue esse tempo. |
7 de Setembro de 1968 – “JORNAL DE ABRANTES”
FESTAS DA MISERICÓRDIA É já no próximo sábado que terão início as tradicionais Festas da Misericórdia na nossa Vila, para as quais podemos anunciar as seguintes atracções: Dia 14: Conjunto “NOVA ONDA” e MARIA JOSÉ VALÉRIO. Dia 15: Conjunto “NOVA ONDA” e FERNANDO LITO, IDÁLIA MARIA e ISABEL AMORA. Dia 16: Conjunto “MARIALVAS” e outras surpresas. Dia 21: Conjunto “WHITE STAR”, MARIA DA CONCEIÇÃO e PEPE CARDINALE. Dia 22: Conjunto “WHITE STAR” e uma extraordinária sessão de fogo de artifício. Em todas as noites das festas haverá, além do tradicional bufete, dancing e barraca de chá, onde se servem os mais variados e gulosos petiscos. |
5 de Outubro de 1968 – “JORNAL DE ABRANTES”
Findou Setembro, última etapa das férias, chamadas grandes. O Verão com os seus dias grandes e quentes, a solicitar férias, vai quase no ocaso. Mas para os Sardoalenses e muito especialmente para os ausentes, este é o grande mês, pois as suas festas anuais, realizadas por e em benefício da Santa Casa da Misericórdia, é neste mês que se realizam e é nesta altura que os sardoalenses se deslocam à sua terra para matarem saudades dos seus locais queridos, a escola, o local do nascimento e das brincadeiras e muitos o local onde dormem o sono eterno os seus antepassados. Mas é, sem sombra de dúvida a festa, o grande local e a razão da confraternização dos sardoalenses. Os ausentes ou em férias, ou com um fim-de-semana, aqui vêm nesses dias e, assim a nossa terra viu a sua fisionomia tão pacata, transformada, com a presença de imensos sardoalenses e suas famílias. É o Setembro, as Festas da Misericórdia e o Bairrismo dos Sardoalenses, a triologia responsável por este fenómeno anual, que tanto movimenta alegra e dignifica a família sardoalense e esta nobre Vila do Sardoal. |
Ao invés deste texto que elogia as Festas da Misericórdia, num artigo publicado no jornal “NOVIDADES” em Outubro de 1968, escrevia-se o seguinte:
As Festas da Santa Casa da Misericórdia: Todos os anos a Mesa da Santa Casa da Misericórdia desta Vila promove festas com o fim de angariar fundos para a instituição. Discorda-se, no entanto, do local das festas, o Largo do Hospital, por se perturbar o natural repouso e necessário descanso dos doentes, dias e noites consecutivos, até alta madrugada. Quando noutras localidades se tomam todas as precauções para evitar os barulhos junto dos hospitais, no Sardoal tudo se processa de modo diferente. E mais uma vez isto acontece este ano. Aqui os pobres doentes ou têm de suportar com paciência de Job os incomodativos barulhos da música e cantorio que potentes altifalantes avolumam, ou optam por ir para suas casas e não juntar aos seus males mais estes tormentos. Isto não pode estar certo. |
E mais adiante.
Este ano a coisa deu brado na noite de 16 para 17. Em fila quase indiana, uns após outros, os do grupo convidam uma jovem para dançar. Esta resiste até final, permanecendo sentada à sua mesa. Ainda há gente digna. Terminou a façanha num ensaio de pancadaria de que foi alvo um rapaz por verberar a atitude menos delicada de quantos quiseram obrigar a referida jovem a condescender com a sua vontade. |
E terminando:
Pelo que fica exposto e não é tudo, não haja dúvida de que tal programação extra, é, sem dúvida um belo cartaz para o Sardoal… É o diabo à solta. |
NOTA: O ano de 1968 é, na minha modesta opinião, o ano de referência dos míticos anos 60. Em termos internacionais, a Guerra do Vietname estava no auge e nos Estados Unidos alastrava um movimento de contestação à participação dos americanos naquele conflito. O movimento hippie continuava a implantar-se em força e em Paris, o famoso mês de Maio, gerou um movimento de luta e contestação que ganhou dimensão mundial.
Em Portugal a cena política foi, em 1968, dominada pela doença do Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar, que em princípio de Outubro foi substituído nas suas funções pelo Professor Marcelo Caetano. Continuava a situação de guerra nas então chamadas Províncias Ultramarinas, que levavam à mobilização para “missões de soberania”, da maior parte dos jovens do sexo masculino de todo o País.
Na música pontuavam por cá alguns êxitos internacionais de 1966 e 1967, de que são exemplos inesquecíveis, “Michelle”, dos Beatles, “Black is black”, de Los Bravos, “Puppet on a String”, de Sandie Shaw, “ A Whiter Shade of Pale”, Procul Harum, “S. Francisco (Be Sure To Wear Some Flowers in Your Hair), Scott MacKensie, “Massachusetts”, Bee Gees e “Hey Joe”, de Jimi Hendrix, entre outros. Não possuo muitas referências sobre a música portuguesa daquele ano. Tanto quanto me lembro, o Festival da Canção da Canção da RTP de 1968 foi ganho pelo Eduardo Nascimento, com a canção “Ouçam”, depois de ter sido ganho em anos anteriores pelo António Calvário, pela Simone de Oliveira e pela Madalena Iglésias. Nas festas de Verão era ainda muito tocado uma música chamada “Juntos outra vez”, cantada pelo Victor Gomes, vocalista dos “Gatos Negros”.
Na televisão pontificavam algumas séries famosas como, por exemplo, “Dr. Kildaire”, “O Santo”, “Os Vingadores”, “Bonanza”, e programas com “Melodias de Sempre”, “Riso e Ritmo” e as famosas crónicas do Professor Vitorino Nemésio “Se bem me lembro…”
Os carros da moda eram os minis Austin e Morris, o FIAT 600 e 850, o MG e sempre os “carochas” Volkswagen 1200 e 1300. Alguns anúncios publicados na imprensa regional, anunciavam camisas a 30$00, que antes custavam 60$00 e os andares e apartamentos construídos por J. Pimenta, SARL, com preços na ordem dos 150 contos. Um litro de gasolina andava pelos 5$00, uma cerveja Sagres (média, porque então ainda não existiam as minis), andava pelos 3$50 e um maço de cigarros com filtro, pelos 4$20.
São apenas algumas referências de uma época que foi vivida intensamente, apesar das muitas dificuldades impostas por razões de natureza económica e social, em que, por exemplo, nas escolas os pátios de recreio ainda eram separados por sexos e em que nas festas, as raparigas eram atentamente vigiadas pelas mães, que não permitiam qualquer veleidade ou aproximação física dos rapazes.
No Sardoal era Presidente da Câmara Municipal o Dr. Júlio Rodrigues Garcia, tendo em Março de 1969, tomado posse naquele cargo o Dr. Álvaro Andrade e Silva Passarinho.
As Festas de 1969, não tiveram a presença de artistas da Rádio e TV. Apenas os conjuntos e o Rancho Folclórico da Quinta da Alorna, Almeirim e a Filarmónica União Sardoalense.
Para ilustrar o espírito das Festas de 1970, 1971 e 1972, socorremo-nos de um trabalho elaborado pelo Mário Jorge de Sousa, publicado no Boletim Cultural “ATRIUM”, n.º 8, de Abril de 1987, do GETAS – Centro Cultural de Sardoal, com o título: ”Breves Memórias dos Anos de Oiro da Música Rock no Sardoal”:
“Boa noite! Somos os “CHINCHILAS” e estamos muito contentes por estar aqui!” – Foi com exactamente com estas palavras que Filipe Mendes, líder daquele grupo de música rock começou a sua actuação no Sardoal, já passava das 10 horas da noite.
QUE FRUSTRAÇÃO!
A nossa Vila não estava habituada a uma coisa daquelas. Uma hora depois, já dezenas de pessoas “menos jovens” tinham abandonado o Cimo do Convento, protestando contra aquela “música de malucos e guedelhudos”.
E à medida que as “mãezinhas” iam debandando para casa, levavam as filhas consigo, porque, sem a sua atenta vigilância, não havia bailação para ninguém.
Os jovens e os pares de namorados, frequentadores dos arraiais por via dos slows, tangos e marchinhas, repartidos por séries de três músicas, olhavam atónitos, porquanto aqueles sons agressivos não davam para dançar agarradinhos. Que frustação! Um dos elementos da organização chegou a ir ao palco pedir ao conjunto para “tocar mais baixo”.
No “dancing” foram ficando alguns resistentes. Uns porque vieram da capital e estavam acostumados àquela confusão; outros porque se consideravam “modernos” e não tinham coragem de “dizer mal”; ainda outros, indiferentes à potência dos decibéis, dançavam aos pares, como se ouvissem a “TULIPA NEGRA”, “OS 6 LATINOS”, a “FIGUEIRA PADEIRO”, a “LUA AZUL” ou a “ORQUESTRA BRASIL”, conjuntos de baile que, naquela altura, visitavam com frequência, as festas do Sardoal.
SENTIDO DE HOMENAGEM
Esta é uma possível caricatura daquilo que se passou no Sardoal, naquela sexta-feira, dia 12 de Setembro de 1970. Foi nesse ano que as tradicionais festas em honra de Santa Maria da Caridade, organizadas pela Misericórdia local, tomaram um rumo original, apostando em atracções musicais para a juventude, uma acção de muita ousadia para aquela época. Era então Provedor da Instituição promotora, Jorge Alves Paulino.
Apesar dos festejos sempre terem dado lucro, não se pode dizer que aquela iniciativa, em termos culturais, tivesse sido eficaz para o nosso meio.
Se hoje existe uma maior abertura sociológica, naquele tempo não era assim.
Os valores sociais eram conservadores e estagnados e a comunicação como “exterior” era menor, razão pela qual, a música rock e os seus executantes, de cabelos compridos e vestes bizarras, eram conotados como “coisas esquisitas”, que transcendiam o quotidiano dos nossos hábitos regionais.
Assim, o esforço de inovação tentado pela Mesa da Santa Casa, nem sempre foi compreendido pelo senso comum e grandes actuações dos melhores grupos e músicos portugueses, da altura, passaram despercebidos e sem o devido destaque.
A publicação destas “memórias” no “ATRIUM”, têm – por assim dizer – um sentido de homenagem, aos homens que, naquela data, tiveram a coragem de avançar com um projecto desta dimensão.
OS GRUPOS
Pelas suas constantes mutações, não se pode afirmar com segurança os elementos dos “CHINCHILAS” que actuaram durante dois dias no Sardoal, mas não andamos longe da verdade se avançarmos com os nomes (agora sobejamente conhecidos) de Guilherme Inês, Luís Pedro Fonseca, João Ribeiro e, claro, Filipe Mendes, tido como o melhor solista português daqueles tempos.
Os “CHINCHILAS”, formados em Junho de 1970, vieram ao Sardoal, após gravarem o seu single “Barbarela”, tema distinguido no concurso de música moderna “Barbarela-70”, realizado em Palma de Maiorca, Espanha.
No ano seguinte (1971), a Misericórdia brindou o Sardoal com mais dois grupos de grande qualidade : “OBJECTIVO”(dia 11 de Setembro) e “BEATNIKS” (dias 18 e 19).
“OBJECTIVO”, ainda hoje considerado como um dos melhores conjuntos portugueses de sempre, no género, era liderado por um escocês de nome Kevin. Fazia equipa com Mike Sergeant, Terry, Zé Nabo e Zé da Cadela (mais tarde Guilherme Inês). Gravaram um single denominado “Dance of Death”.
Quanto aos “BEATNIKS”, que em Maio desse ano venceram o “Festival Pop” de Coimbra, eram provavelmente formados por João Ribeiro, Mário Ceia, José Diogo e Rui Silva, “O Pipas”. Foram os representantes portugueses no Festival Internacional de Vigo, Espanha.
Mas, talvez, o concerto mais importante desse ciclo, se tenha realizado em 1972, com os “HEAVY BAND”, cuja PRIMEIRA actuação em Portugal foi feita precisamente na nossa Vila, em Setembro, depois de uma digressão por Moçambique e Brasil. Gravaram dois discos (um no Brasil), outro (em Portugal) e sobre a sua actuação no Sardoal existem documentos seguros que comprovam a identidade dos músicos que aqui actuaram. Foram eles: Filipe Mendes (sempre ele), João Heitor, Basílio e Xico.
E pronto, no tocante à música Rock nada mais se passou no Sardoal que mereça relevo, se exceptuarmos a experiência (infelizmente pouco conseguida) de um concerto de rock organizado pelo clube “Os Lagartos”, em 1981, com o grupo “T.I.R.”, de Coruche.
Por isso, só nos vai restando a lembrança saudosa desses “Anos de Oiro”.
Até quando?”
Em 1973 as Festas de Santa Maria da Caridade voltaram a ter a presença de artistas da Rádio e T.V. (Artur Garcia, Gabriel Cardoso, José Freixo, entre outros).
Depois de 1974 ainda se realizaram algumas vezes, mas já sem o brilho e a adesão de outros tempos.
DA SEMANA CULTURAL ÀS FESTAS DO CONCELHO
18 de Setembro de 1921 – “JORNAL DE ABRANTES”
FESTEJOS NO SARDOAL Na próxima terça-feira está o Sardoal em festa: Aniversário da sua elevação a vila. Em 22 de Setembro de 1531, el-rei D. João III fazia o Sardoal vila e concedia-lhe diferentes regalias. Já esse tempo o Sardoal tinha foros de concelho e jurisdição própria, Juízo, Procurador e Alcaide. Foi esse dia escolhido pela câmara para feriado do concelho, que este ano vai ser festejado de um modo especial. Está criada uma feira franca que se inaugura nesse dia, e foi convidada a Agricultura, Comércio e Indústria a fazerem-se representar condignamente. Alvorada às 6 horas pela Filarmónica Sardoalense. Às 10 horas solene Te Deum na Igreja paroquial, seguindo-se a inauguração da feira. Às 12 horas sessão solene nos Paços do Concelho com a assistência de todas as classes sociais e conferências, comemorativas do Sardoal e assuntos sociais feitos por filhos do Sardoal e que na sociedade ocupam lugares de destaque. Descerramento de uma lápide comemorativa da grande Guerra, quermesse, arraial, cavalhadas e à noite fogo de artifício. Tal o programa dos festejos a realizar e parece que vão ser convidados os povos dos concelhos vizinhos. Ao Sardoal, pois, no dia 22 de Setembro. Oisilon |
2 de Outubro de 1921 – “JORNAL DE ABRANTES”
A COMEMORAÇÃO DA ELEVAÇÃO DO SARDOAL A CONCELHO O dia 22 de Setembro, aniversário da elevação do Sardoal à categoria de concelho, foi festejado este ano com grande brilho, o que trouxe farta concorrência de forasteiros a esta vila, e mais viriam, se não fora a grande trovoada que houve nesta tarde. A festa começou às 6 horas da manhã, por alvorada da Filarmónica desta vila com salvas de morteiros. Às 10 horas Te-Deum a que presidiu D. António Alves Ferreira, bispo de Viseu. Às 11 horas, cortejo cívico onde se incorporam vários carros, merecendo menção o carro da Quinta de Arcêz, que se apresentou ornamentado com bastante gosto e arte, transportando mostras de todos os produtos agrícolas da quinta, e animais de todas as espécies que ali há: Todos devidamente separados em compartimentos apropriados, e o carro dos artistas que transporta ferramentas de todas as artes, sendo este carro ladeado pelos artistas desta vila. Depois do cortejo percorrer as ruas da vila dirigiu-se ao mercado, onde foi inaugurada a feira anual, tendo o presidente da Comissão Executiva da Câmara, Padre Silva Martins, discursado incitando a agricultura, comércio e indústria a reunirem-se para o engrandecimento do concelho e da vila. Pena foi que a comissão dos festejos não tivesse organizado delegações nas aldeias, para que cada uma trouxesse o seu carro, o que traria estímulo entre eles e daria mais brilho à festa. Às 13 horas, sessão solene comemorativa da elevação do Sardoal a concelho a que presidiu D. António Alves Ferreira, secretariado pelo Sr. Cónego Mora e Dr. David Serras Pereira. Pelo Sr. Presidente foi explicado o fim da sessão, a que lhe era grato presidir, não só por ser filho do Sardoal, mas também já ter sido nesta vila que passou a sua infância, dando em seguida a palavra ao Sr. Dr. Anacleto Matos Silva que começou por descrever a epopeia de glória que revestiu sempre o Sardoal e o concelho em que era tido pelos Reis e Governos desse tempo, como o demonstraram os litígios havidos entre o Sardoal e Abrantes, em que o Sardoal sempre triunfou, e as regalias que lhe eram dadas, que davam sempre supremacia ao Sardoal. Dessas concessões e regalias destacavam-se aquelas em que Abrantes não podia fazer a procissão “Corpus Christis”, sem lá chegarem os fidalgos do Sardoal a moradores do concelho de Abrantes serem obrigados a vir concertar os caminhos e calçadas do Sardoal, não sendo estes obrigados a ir lá prestar idênticos serviços, os passageiros da Beira que iam para Constância serem obrigados a passar por aqui, e nessa altura pôs em contraste o proceder dos fidalgos desse tempo obrigando esses passageiros à passagem por aqui os do tempo em que foi feita a estrada de Castelo Branco em que os dirigentes do Sardoal a desviaram desta vila, e nós citaremos também o caso por nós aqui debatido da estrada de Sardoal a Carvalhal. Citou, que Sardoal em 1531 quando foi elevado à categoria de concelho, já era terra importantíssima, pois já tinha Juízes, Alcaides e demais autoridades, descreveu as fases porque têm passado a delimitação entre Sardoal e Abrantes, tendo o Sardoal da última vez ficado prejudicado, sendo o nosso concelho reduzida quase a metade do que era, pois ele ia desde o Tejo até ao Zêzere, começando aí a nossa decadência, a que é necessário pôr um dique e num rasgo de oratória terminou apelando para que todos se reunissem em prol dos interesses do concelho. Falou depois o Sr. Dr. Anacleto Fernandes Agudo, Director e proprietário do Colégio Caliponense, que fez um discurso que mais se pode chamar um hino ao concelho onde nasceu, discurso de sentimento e brilho, que pôs em realce as suas qualidades de orador. Sendo dada a palavra ao Sr. Dr. Manuel Serras Pereira, este leu um bem elaborado trabalho sobre o Sardoal antigo, donde se pode concluir que em 1313 data da primeira carta existente no arquivo da câmara, já Sardoal tinha Alcaide e outras autoridades, sendo sua opinião que esse Alcaide era ao mesmo tempo comandante de um Castelo existente na Lapa que denominava a Ribeira D’ Arcês e desenvolvendo o seu estudo agudo com grande profusão de argumentos demonstra que nesse tempo o Sardoal era terra tida d importante, ou se desenvolveu rapidamente, mas que esta última hipótese não é credível, por causa da falta de gente que andavam nos exércitos de “Musa e Insufa” e pelos “Algoeses” que os Reis de Leão e seus adiantados dirigiam anualmente contra o poder dos “Walis e Ruicxs”, enviados pelo Emir a castigar as ousadias dos descendentes de “Favila e Pelagio”. Pelos vestígios do Castelo da Lapa e pelas moedas encontradas no concelho, chega à conclusão que ele data do começo da era cristã. Tanto este trabalho como o discurso do Sr. Dr. Matos Silva são cheios de datas que o espaço deste jornal não permite desenvolver e citar, mas bom seria que os seus resumos ficassem arquivados na câmara, porque são elementos de valor para os que se interessam pela história do Sardoal antigo. Falou depois o Sr. Padre Silva Martins, que iniciou o operariado a ter por base da sua vida a economia e a desenvolver o cooperativismo como está sucedendo na Bélgica. Procedeu-se depois ao descerramento da lápide comemorativa da homenagem aos dois filhos do Sardoal que morreram em França, a música tocou a Portuguesa, os contingentes de Artilharia, Infantaria e a Guarda nacional Republicana que se fizeram representar no acto, apresentaram armas, e da varanda falaram: Em primeiro lugar o nosso conterrâneo, Sr. Júlio Serras Pereira, Alferes de Infantaria 2, que esteve em França onde recebeu várias condecorações pelos seus feitos heróicos, incitando todos que seguissem os caminhos do Dever e da Honra, para engrandecimento da Pátria, e o Sr. Dr. David Serras Pereira, que num rasgo de eloquência exortou as mães que educassem os filhos na história daqueles dois nomes que são a honra e a glória do Sardoal. Mas que para nada faltasse, no da sessão o hábil violinista e ilustre mestre de Lisboa, Sr. Luis Soares Barbosa, deliciou-nos com alguns trechos de musica que maior realce e brilho deram a esta festa, sendo acompanhado ao piano por sua Exmª Esposa Sr.ª D. Ema Coimbra. Tocaram: “Spanisch-dança-granada-la ronda des lulhins-Bazzine-Chanson e Pavane Luis XVI-Confucia. Não sabemos que mais apreciar se a maviosidade do som se o primor da execução e não é demais dizer-se que o entusiasmo da assistência atingiu o auge e logo ali surgiu a ideia para melhor poderem ouvir e apreciar, de lhe pedirem para no dia 25 cooperar num Sarau dramático musical, que se projectava levar a efeito, que sua Exª acedeu. À tarde houve canadas, depois música, quermesse e fogo de artifício, divertimentos estes que foram bastantes prejudicados pelas intensas chuvas. Oisilon |
SEMANA CULTURAL
Este tipo de realizações culturais teve início em 1986, com a realização da 1.ª SEMANA CULTURAL, nesse ano com exclusiva organização do GETAS – CENTRO CULTURAL DE SARDOAL, passando a partir de 1987 e até 1992, a ser organizadas conjuntamente pela Câmara Municipal e pelo GETAS, ganhando, de ano para ano, maior relevância cultural e recreativa, que lhes veio a conferir grande importância no calendário cultural concelhio e regional.
Em 1995 não se realizaram as FESTAS DO CONCELHO, em resultado das dramáticas consequências que decorreram dos incêndios florestais que devastaram grande parte da mancha florestal do nosso Concelho e de Concelhos vizinhos, agravadas pela perda de três vidas humanas de Cidadãos Sardoalenses.
A partir de 1988 as FESTAS DO CONCELHO/SEMANA CULTURAL, passaram a integrar uma MOSTRA INTERCONCELHIA DE ARTESANATO, sendo em 1994 formalmente constituída a COMISSÃO PARA A PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO ARTESANATO DE SARDOAL, já com actividade em anos anteriores, que tem participado na organização das Festas e, de forma especial, na Mostra Interconcelhia de Artesanato.
Importa, também, destacar o facto de as edições deste certame terem obtido maior êxito quando foi possível reunir na sua organização, para além da Câmara Municipal, um leque alargado de Associações e obter uma boa adesão dos habitantes da Vila do Sardoal e de outras localidades do Concelho, particularmente em termos da decoração das ruas da Zona Histórica da Vila de Sardoal.