Não são muitas as referências históricas que conheço sobre a aldeia de Andreus. Uma das mais antigas vem na “Corografia Portuguesa”, escrita pelo Padre Carvalho da Costa, publicada em 1712, que se refere a Andreus como sendo “três aldeias, com uma Ermida de S. Guilherme”.
A Andreus se refere, também, Jacinto Serrão da Mota, nas suas “Memórias Restauradas do Antigo Lugar e Villa do Sardoal”, trabalho manuscrito que se guarda no Arquivo Municipal de Sardoal, coligido entre 1754 e 1762, na forma seguinte: “…Nos Andreus a Ermida de S. Guilherme e a antiquíssima Nossa Senhora dos Barbilongos, assim era chamada pelo século de 500 e hoje com a invocação de Nossa Senhora da Saúde”. Em nota de rodapé refere, ainda, o seguinte: “Esta invocação nasceu no ano da peste, por se mandarem para ali os feridos dela a curar em barracas que para isso se fizeram. Ali era o lugar da cura e se chamou da Saúde. Foi no ano de 1580, aproximadamente, a peste neste Reino e do dito a esta parte teve princípio a invocação de Nossa Senhora da Saúde, chamada antes a Senhora dos Barbilongos, aludindo a uns monges de grandes barbas que ali viveram.”
Com o passar dos anos, a Capela dos Barbilongos foi sendo abandonada e dela apenas restaram algumas ruínas. O Povo de Andreus transferiu a imagem da Senhora da Saúde para a Igreja da Aldeia. S. Guilherme foi sendo “esquecido” como padroeiro que foi das três aldeias que constituíram a vintena de Andreus e que, com o tempo, se transformaram numa só.
Há cerca de 20 anos, a Senhora Luísa Falcão, já falecida, contava uma lenda sobre a Senhora dos Barbilongos, que já não consigo reproduzir fielmente (talvez algumas pessoas mais idosas de Andreus ainda a saibam contar), mas de que recordo mais ou menos o seguinte:
“Diz a lenda que há muitos anos houve uma grande peste que atingiu muitos habitantes da aldeia de Andreus e de que muitos morreram.
No desespero da doença que era muito contagiosa, muitos dos doentes procuraram a protecção da Senhora dos Barbilongos, que ficava do outro lado da Ribeira do Vale de Carvalho, num monte que fica à direita da estrada, como quem vai para Carvalhal.
Diz também a lenda que todos os doentes que conseguiram passar a ribeira se salvaram e todos os que ficaram do lado da aldeia morreram. Daí que passassem a chamar à Senhora dos Barbilongos a Senhora da Saúde, cuja Imagem trouxeram, depois, para a Capela da Aldeia.
No entanto, a Senhora, ou porque gostasse mais do lugar de onde viera, ou porque quisesse um lugar de maior destaque na sua nova morada, muitas vezes fugiu para a Capela dos Barbilongos, indo sempre os moradores buscá-la, com veneração. Mas depois que de todo se lhe acabou e aparelhou o lugar em que pudesse ser venerada, depois de rogada com muito afecto e devoção, o aceitou, pelo que o Povo lhe ofereceu uma coroa de prata e um manto que ainda hoje usa.”
Setembro de 2001