O estandarte dos Bombeiros Municipais de Sardoal (BMS), tem inscrita a data de 1 de Outubro de 1953, que tem sido adoptada como a data da fundação deste Corpo de Bombeiros.
Após apuradas pesquisas no Arquivo Municipal de Sardoal, nomeadamente nos livros de actas da Câmara Municipal dos anos 40/50 do século passado, o registo mais antigo que foi possível localizar em que se referem os Bombeiros Municipais de Sardoal consta de uma acta da reunião ordinária da Câmara Municipal realizada em 1 de Outubro de 1953, sendo o seu teor o seguinte:
“Voto de Louvor: Tendo o Senhor Presidente informado que a Excelentíssima Senhora Dona Laura da Silva Rosa tinha resolvido ceder gratuitamente e sem qualquer encargo para quartel dos Bombeiros Municipais do concelho, o prédio de que aquela Senhora é usufrutuária e sito na Rua Avelar Machado, desta Vila, a Câmara deliberou que se expresse o seu melhor agradecimento àquela Senhora e se exare um voto de louvor pelo seu gesto cheio de significado e que contribui para a realização de um grande benefício para o Concelho.”
Nesta altura era Presidente da Câmara o Senhor Lúcio Serras Pereira e Vereadores o Reverendo Padre Eduardo Dias Afonso e o Senhor António Miguel.
Na acta da reunião ordinária da C.M. Sardoal, realizada em 1 de Junho de 1954, sendo Presidente o Senhor Lúcio Serras Pereira, Vice-Presidente o Senhor Dr. José Fernandes Agudo e Vereadores o Reverendo Padre Eduardo Dias Afonso e o Senhor António Miguel, consta a seguinte deliberação:
“Requerimentos:
De Júlio Grácio dos Santos, residente nesta Vila, solicitando a sua admissão como bombeiro na corporação municipal – deferido;
De Armando Navalho, idem, idem – deferido;
De José Moleirinho, idem, idem – deferido;
De Joaquim Grácio dos Santos, idem, idem – deferido;
De João Augusto Bernardo, idem, idem – deferido;
De Manuel dos Santos, idem, idem, – deferido;
De Guilherme António, idem, idem – deferido;
De Joaquim Chambel Dionísio, idem, idem – deferido.
Na acta da reunião ordinária da C.M. de Sardoal, realizada em 16 de Agosto de 1954, consta a seguinte deliberação:
“Serviço de Incêndios: A Câmara Municipal deliberou, em face da proposta do Senhor Presidente, nomear Comandante dos Bombeiros Municipais, o Senhor Joaquim Chambel Dionísio, residente nesta Vila.”
Deverão ter ocorrido alguns problemas burocráticos ou legais com as duas últimas deliberações atrás referidas, uma vez que na acta da reunião ordinária da C.M. de Sardoal, realizada no dia 16 de Outubro de 1954, surge sem outras explicações a seguinte deliberação:
“Corporação de Bombeiros: A Câmara Municipal deliberou dar como inexistente a sua deliberação tomada em reunião ordinária de um de Junho do corrente ano, na parte respeitante ao deferimento dos pedidos para admissão na corporação dos bombeiros municipais, dos indivíduos constantes da acta de tal reunião e deliberou perante os respectivos processos e nos termos do artigo 349 do Código Administrativo, nomear e admitir na Corporação dos Bombeiros Municipais desta Vila, os seguintes indivíduos:
Emídio António Aires, casado, funcionário administrativo, residente em Sardoal – Comandante;
Álvaro Andrade e Silva Passarinho, casado, farmacêutico, residente nesta Vila – Adjunto de Comando;
Joaquim Chambel Dionísio, casado, carpinteiro, residente nesta Vila – Chefe
Guilherme António, casado, serralheiro, residente nesta Vila – Bombeiro de 1ª Classe;
Armando Navalho, casado, alfaiate, residente nesta Vila – Bombeiro de 2ª Classe;
Júlio Grácio dos Santos, casado, negociante, residente nesta Vila – Bombeiro de 2ª Classe:
Joaquim Grácio dos Santos, casado, maleiro; António Grácio Salgueiro, casado, cobrador da Câmara Municipal; João Augusto Bernardo, casado, maleiro; José Chambel Dionísio, solteiro, carpinteiro; Manuel dos Santos, casado, servente; António Carvalho, solteiro, maleiro; Manuel Moleirinho, casado, pedreiro; José Moleirinho, casado, maleiro; Joaquim Grácio, casado, motorista, todos residentes nesta Vila – Bombeiros de 3ª Classe.
Depois desta data encontram-se várias referências aos BMS nas actas das reuniões da Câmara Municipal, em que se referem factos pouco relevantes para a sua história, como a construção de um reboque para transportar a moto-bomba, que foi adjudicada ao Sr. Manuel Lobato Correia (Badico), ou a necessidade de aquisição de uma viatura para transporte do pessoal e para rebocar a moto-bomba, mas não foi possível encontrar outra justificação para a data de fundação (1 de Outubro de 1953) que não seja a de ser a referência documental mais antiga que se conhece aos BMS.
Por ser muito curiosa, transcreve-se uma intervenção do Dr. Manuel Rodrigues Ribeiro, feita numa reunião ordinária do Conselho Municipal realizada em 15 de Setembro de 1961:
“Intervenção do Dr. Manuel Rodrigues Ribeiro: Referiu-se depois o Senhor Dr. Ribeiro às precárias circunstâncias de material em que vive a corporação de Bombeiros. Quem mesmo superficialmente examinar o modo como decorre essa vida, só poderá encontrar a abnegação da respectiva corporação, no que se refere ao pessoal. Quanto aos meios de que dispõem se não são nulos, são improdutivos e como inexistentes. Que se perdem o sacrifício e vitalidade dos Bombeiros da corporação, contando apenas com os machados e as mangueiras para a sua missão. A aquisição de transporte deverá ser encarada urgentemente, sob pena de se verificar, ou melhor, continuar a verificar-se a ineficácia dos esforços dos bombeiros.”
Ao longo dos seus 50 anos de vida, os BMS tiveram diversos comandantes.
1954 – Joaquim Chambel Dionísio – nomeado em 16/08/54 até 16/10/54;
1954 – Emídio António Aires – nomeado em 16/10/54 até 16/09/70;
1970 – Joaquim Chambel Grácio – nomeado em 16/09/70 até 02/02/77
1977 – Manuel dos Santos – nomeado em 02/02/77 até 03/05/78
1978 – Vítor Manuel Pereira Águas – nomeado em 03/05/70 até 20/03/79
1979 – Domingos Machado Rodrigues – nomeado em 20/03/79, tendo pedido a demissão em 17/10/79
1980 – Júlio Martins (comandante interino) – nomeado em 10/12/80 até 26/08/81
1981 – Vítor Lopes Pires – nomeado em 26/08/81 até 24/06/85
1985 – Joaquim António dos Santos Chambel (comandante interino) – nomeado em 24/06/85 até 24/01/86
1986 – Joaquim António dos Santos Chambel – nomeado em 24/01/86 até 94
1994 – José Rosa Reis Curado – nomeado em 94 até à actualidade
Na segunda metade do século XX ocorreu, de forma vertiginosa, uma revolução no modo de vida das populações rurais e da sociedade em geral. A evolução da actividade dos Bombeiros foi fortemente influenciada pelas mudanças que entretanto ocorreram e pelos reflexos que estas tiveram nos sistemas de Protecção Civil.
Em 1953, o concelho de Sardoal era um concelho em que predominava a actividade agrícola e florestal e em que não havia um recanto de terra arável que não estivesse cultivado ou um pedaço de floresta que não fosse tratado.
A Vila do Sardoal tinha ainda uma intensa actividade comercial e na parte industrial predominavam a fabricação de malas, a serração de madeiras e a serralharia civil.
Os incêndios florestais eram raros e de pequena dimensão, uma vez que a floresta andava permanentemente limpa, os fogos urbanos poucas vezes atingiram uma expressão significativa, a sinistralidade rodoviária era quase inexistente e o transporte de doentes era feito com o meio de transporte que estivesse à mão, porque não existia qualquer ambulância no concelho de Sardoal.
Tanto quanto se recorda o Sr. Júlio Grácio dos Santos, um dos três elementos que integraram o primeiro quadro dos BMS, que felizmente ainda se encontram entre nós (os outros dois são o Dr. Álvaro Passarinho e o Sr. António Carvalho), a fundação dos BMS ficou a dever-se a um imperativo legal que impunha a presença de bombeiros nas sessões de cinema do velho Cine-Teatro Gil Vicente. Disse, também, que o Sr. Emídio António Aires (Mora), apenas foi comandante no papel, uma vez que o comandante até 1970, na prática, foi o Sr. Joaquim Chambel Grácio. No início tiveram instrução dada por um indivíduo de Abrantes, de apelido Sobral. As aulas eram dadas no pátio do Sr. Joaquim Grácio, até ser adaptado a quartel de bombeiros, o edifício cujo usufruto tinha sido doado pela Senhora D. Laura da Silva Rosa, cuja nua propriedade ou raiz, pertencia à Santa Casa da Misericórdia de Sardoal, por doação do saudoso Senhor Pedro Barneto Nogueira.
Durante anos, quase vinte, os BMS apenas dispuseram de uma moto – bomba, de algumas mangueiras, dos machados e algum equipamento rudimentar para sapadores florestais. Sabe-se que tiveram duas viaturas com muito uso, quase sempre avariadas, que serviam para o transporte do pessoal e para rebocar a moto – bomba. O primeiro carro de combate a incêndios só foi adquirido por volta de 1970 e a primeira ambulância para os BMS só foi adquirida depois de 1977. Entre 1970 e 1977/78, apenas existia uma ambulância no concelho de Sardoal que foi oferecida pela Fundação Calouste Gulbenkian à Santa Casa da Misericórdia de Sardoal.
Sardoal, Outubro de 2003