No dia 11 de Janeiro de 2013 passaram setecentos anos sobre a data de emissão do documento mais antigo que se conserva no Arquivo Municipal de Sardoal. Trata-se de uma carta da Rainha Santa Isabel que foi donatária do antigo lugar e depois vila de Sardoal, dada aos moradores do dito lugar, ordenando aos passageiros que viessem da Beira para Abrantes e Punhete (actual Constância) e vice-versa, a passar por dentro do lugar de Sardoal, e a deixar a estrada próxima. Não menos importante é uma outra carta dada pela mesma Rainha em 20 de Setembro de 1318, para que os moradores do dito lugar pudessem conservar a posse antiga em que estavam de ter alcaide natural do mesmo lugar de Sardoal.
Estes documentos comprovam a antiguidade desta terra cuja existência deve ser anterior à da nacionalidade portuguesa, ainda que não conheça documentos que permitam precisar uma data para tal ocorrência
Sabe-se, pela referida carta, que em 1313 eram aqui Juízes Gonçalo Fernandes e Vicente Annes, num tempo em que o Reino de Portugal tinha cerca de 170 anos, tempo muito apertado para ganhar esta importância, não sendo, por isso, muito difícil de admitir que a fundação do lugar de Sardoal seja anterior à da nacionalidade portuguesa.
Jacinto Serrão da Mota, no seu manuscrito «Memórias Restauradas do Antigo Lugar e Vila de Sardoal», escrito em meados do século XVIII, que se guarda no Arquivo Municipal de Sardoal, deixa várias pistas para importantes vestígios de povoamentos antigos nas proximidades do Sardoal, que atestam a presença do homem desde tempos primitivos, com especial destaque para as ruínas da que teria sido uma importante povoação tubucense, no local que designa por Castelo de Arcez.
Tanto quanto sei, estas pistas nunca foram estudadas por investigadores qualificados, em especial no âmbito da Arqueologia, admitindo que muitos locais possam ter sido vandalizados por curiosos em busca de eventuais tesouros enterrados pelos povos primitivos que por aqui habitaram.
Mas como seria o lugar de Sardoal no princípio do século XIII?
Para tentar responder a esta pergunta socorro-me da localização das fontes de água potável mais antigas que se conhecem que tinham, como é de calcular, uma importância crucial para a população. Estas fontes públicas deveriam ser a Fonte dos Lobos e a Fonte do Vale da Gala, para sul e a Fonte Nova e a Fonte Velha para poente. Refere-se a circunstância de estas fontes ainda existirem, apesar de não terem uso há muitos anos, por serem fontes de mergulho, facto que desaconselha a sua utilização para consumo humano. Mas a sua importância histórica justificava a sua limpeza e conservação pelas autoridades locais, como marcos da nossa memória colectiva que correm sérios riscos de desaparecer para sempre.
O Sardoal medieval devia estender-se numa faixa próxima da Ribeira da Laje e da Ribeira do Sardoal, que corresponde de grosso modo às actuais Rua do Paço, Rua do Poço dos Açougues, Rua Velha, Travessa do Paço, Praça da Palha, Rua do Chafariz, Rua da Amoreira, Rua da Amargura, Rua da Portela e Rua das Olarias.
Sabe-se que a primitiva Matriz de Sardoal era dedicada apenas a S. Mateus (S. Tiago apenas passaria a ser, também, orago da Paróquia de Sardoal em meados do século XV). Serrão da Mota localiza esta Igreja de S. Mateus um pouco abaixo da Igreja da Misericórdia onde, segundo ele, em meados do século XVIII ainda existia um arco que o povo chamava de S. Mateus, que mais denotava ser de porta lateral do que de porta principal.
Para além dessa igreja existem memórias de antigas capelas nos arredores do Sardoal como as de S. Francisco, S. Domingos, S. Miguel de Alferrarede e de Santa Maria Madalena, existindo apenas vestígios da de S. Domingos e da de S. Miguel, sendo provável que já existisse a Igreja do Espírito Santo que se sabe ter sido restaurada no início do século XVII.
A actual Igreja Matriz da Paróquia de S. Tiago e S. Mateus foi construída em meados do século XV, numa altura em que a povoação do Sardoal se expandia para norte ocupando o espaço que é limitado pela actual Rua dos Mestres de Sardoal e pela Praça da República/ Rua Vasco Homem. Nos finais do século XV ou nos princípios do século XVI existiam nas traseiras da Igreja do Espírito Santo uma casas onde se sabe ter estado hospedado o Rei D. Manuel, como consta de uma escritura pública que Serrão da Mota refere no seu livro atrás citado.
Através da escritura de compra pela Câmara que se guarda no Arquivo Municipal sabe-se que nos primeiros anos do século XVII já existia a Rua Vasco Homem e que a Praça da República se chamava, então, Praça Nova.
Janeiro de 2013