Anacleto da Fonseca de Mattos e Silva
Magistrado. Nasceu no Sardoal em 18 de Novembro de 1877. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 8 de Junho de 1899. Desemprenhou funções de Procurador Régio em Mação, Caminha, Santiago do Cacém, Mafra, Golegã, Torres Vedras e Santarém. Foi curador geral dos órfãos em Lisboa e Procurador da República, na Relação de Lisboa, situação em que atingiu limite da idade e foi aposentado em 1957.
Durante muitos anos fez parte dos júris para exame de habilitação para cargos dependentes do Ministério da Justiça, onde exerceu diversas vezes o cargo de Chefe de Gabinete do titular da pasta.
Foi colaborador da Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira.
Faleceu em Lisboa, em 17 de Novembro de 1958.
Abílio da Fonseca de Mattos e Silva
Irmão do supracitado.
Nasceu em Vila Franca de Xira em 22 de Setembro de 1881. Foi um republicano convicto. Teve uma importante acção em termos concelhios, que injustamente é pouco recordada. Como Provedor da Misericórdia, além de outros benefícios, foi sob a sua gerência que foi construído o Cine-Teatro Gil Vicente, inaugurado em 1927.
Esteve ligado à Sociedade Fraternidade Sardoalense, ou Música Nova, despendendo para ela a maior parte dos fundos necessários. Essa filarmónica era oposta à do sr. Francisco Augusto Simões, a Sociedade Filarmónica Sardoalense, ou Música Velha. Desempenhou depois um papel preponderante na fusão de ambas, de onde resultou a actual Filarmónica União Sardoal, em 1911. Sobre a história dessa fusão, já se deu conta no Sardoal com Memória.
A sua fase principal de actividade ocorreu entre 1900 e 1925, quando para além de ser Provedor da Santa Casa da Misericórdia, foi também Presidente da Câmara (01/11/1911 a 19/07/1913) e Administrador do Concelho.
Faleceu em Óbidos em 27 de Dezembro de 1941. Em 13 de Novembro de 1971, a urna com os seus restos mortais foi transladada para o Sardoal, onde no Cemitério Municipal ficaram junto dos da sua esposa, D. Maria Judith Leal de Gouvea Pinto e Cerqueira de Mattos e Silva.
Abílio de Mattos e Silva
Filho de Abílio da Fonseca de Mattos e Silva.
Nasceu no Sardoal em 1 de Abril de 1908. Por ter sido funcionário público no Ministério da Economia, acabou por ir trabalhar na Nazaré, em 1931, e depois em Óbidos.
Foi artista plástico, coreógrafo e figurinista, tendo exercido funções de Director de Cena do Teatro Nacional de São Carlos.
Faleceu em Lisboa, em 29 de Maio de 1985.
Desde Junho de 2008, existe o Museu Abílio de Mattos e Silva, em Óbidos.
Augusto Leal de Mattos e Silva
Filho de Abílio da Fonseca de Mattos e Silva.
Nasceu no Sardoal em 26 de Fevereiro de 1905.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi Chefe de posto administrativo em Laga, Timor, tendo sido barbaramente morto em Maio de 1944, em Díli.
Desde 1946, uma lápide colocada na varanda do edifício dos do Paços do Concelho perpetua a homenagem do Município a este Sardoalense.
O “Diário de Notícias” de 15 de Setembro de 1946 publicou a notícia seguinte com o título “Sardoal consagrou o sacrifício heróico de Matos e Silva, um dos bravos defensores de Timor”, de onde também se extraiu a respectiva foto.
“SARDOAL, 14. – Este concelho prestou homenagem póstuma a um dos seus filhos mais gloriosos – Augusto Leal de Matos e Silva – consagrando o seu nome para que o exemplo do seu patriotismo permaneça entre as gerações vindouras.
Descendente de família muito considerada na região, Augusto Leal de Matos e Silva era filho de Abílio da Fonseca de Matos e Silva, falecido há poucos anos e de D. Maria Judite Leal de Gouveia e Cerqueira de Matos e Silva; sobrinho do dr. Anacleto da Fonseca de Matos e Silva, procurador da República junto da Relação de Lisboa e do eng. José Maria de Matos e Silva, administrador adjunto dos C.T.T.; e irmão do artista Abílio Leal de Matos e Silva. Foi companheiro, na colónia de Timor, na luta contra o invasor nipónico, do tenente de infantaria Manuel José Pires, natural do Porto; de José Tinoco, nascido na Guiné, e outros, continentais e nativos cuja odisseia em prol do prestígio de Portugal lhes custou, depois de pesadíssimas privações, a própria vida, caídos ante a arremetida feroz e criminosa do despotismo nipão.
Augusto Leal de Matos e Silva partira para Timor em 1935, já experimentado na vida colonial por ter passado anos antes tempo apreciável em terras de África. Era chefe de posto administrativo; e o seu espírito inquieto, sedento, empreendedor, activo e moço rapidamente o elevou a uma posição de merecido destaque naquela possessão. De uma personalidade atraente e forte, dotado de invulgar sensibilidade artística, imediatamente a todos se impôs, quer a metropolitanos, quer a colonialistas e nativos, como figura digna de admiração e do maior respeito e consideração pessoal e hierárquica.
Durante a ocupação japonesa foi um dos componentes do grupo de portugueses que, embrenhados pelas montanhas e florestas timorenses, sob o comando do tenente Manuel de Jesus Pires, administrador de circunscrição, manteve um valioso serviço de informações, por T.S.F., com a Austrália, proporcionando o embarque, (a que, porém, se furtou) para aquele domínio britânico de muitas pessoas, especialmente mulheres e crianças, que assim foram poupados à fúria do agressor. Embora com o apoio de alguns indígenas, que, conforme podiam, procuravam servi-los de mantimentos e levar-lhes notícias, a resistência desses bravos soldados de Portugal foi certamente abatida principalmente pelo definhamento físico.
Matos e Silva deve ter sido dos últimos a extinguir-se, perdendo a vida numa prisão, em Dili, para onde foi conduzido pelos nipónicos depois de se entregar, vencido pelo esgotamento, ainda num derradeiro acto de heroicidade, por haver chegado ao seu conhecimento que da sua não apresentação até certo prazo adviria o massacre de todas as pessoas de família de um regulo, cuja filha fora sua dedicada companheira.
A homenagem consistiu no descerramento, às 11.30, na parte exterior dos Paços do Concelho, de uma lápida com o nome do herói e a exaltação dos seus feitos. Procedeu ao acto o sr. dr. Matos e Silva, tio do falecido, em presença de todas as autoridades, da Filarmónica Sardoalense e de muito povo. O presidente do Município, sr. dr. José Lúcio Serras Pereira, fez em comovidos termos, o elogio do esforçado defensor da soberania portuguesa em Timor e justificou a homenagem.”