Sobre os aspectos técnicos e construtivos destes moinhos, principalmente do que se encontra totalmente recuperado, aconselho a leitura de um extracto do livro “Sistemas Primitivos de Moagem em Portugal – Moinhos, azenhas e atafonas – II”, da autoria dos Professores Jorge Dias, Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, editado em 1959 pelo Instituto de Alta Cultura – Centro de Etnologia Peninsular, que é o trabalho de investigação académica mais completo que conheço sobre esta matéria.
Recomendo também um texto que escrevi há algum tempo, com o título: “Os caminhos da modernidade. Tão longe e… tão perto!”, com algumas memórias e testemunhos deste espaço e da sua ruralidade, ainda tão presentes na minha memória.
Sempre que regresso ao Alto dos Moinhos de Entrevinhas, percorre-me um frémito de emoção, como se fosse possível viajar no tempo e recuar mais de quatro dezenas de anos, quando ainda funcionava o moinho que agora, se o vento o permitir, volta a funcionar, quando o seu moleiro era o Sr. Joaquim dos Santos Baptista ou o seu filho Tiago, que também eram os donos da azenha no Porto de Mação.
Nasci a pouco mais de trezentos metros daqui. Por aqui cresci, brinquei e trabalhei. Aliás, era aqui que nos finais dos anos cinquenta se juntavam os rapazes da aldeia de Entrevinhas para disputar renhidos desafios de futebol com bolas de trapos, descalços, para não estragar os sapatos e em que quase sempre acabávamos com os dedos dos pés esfolados e/ou com grandes nódoas negras. Era também aqui que se vinha buscar uma espécie de argila amarelada (ocre) que misturada com a cal servia para pintar as barras das casas.
Quanto à paisagem envolvente, basta que a olhem com atenção. E ainda que a altura dos primeiros pinheiros impeça uma maior abrangência do horizonte que se abre, especialmente a sul e a poente, podemos ver algumas casas de Cabeça das Mós e de Mouriscas, a Vila do Sardoal e algumas casas de Carvalhal. Se a limpidez da atmosfera o permitir, vemos também a cidade de Abrantes, que invejosa nos esconde as planuras da Lezíria Ribatejana. Na direcção das torres da Central Termoeléctrica do Pego, um elemento estranho à paisagem, que simboliza, para o bem e para o mal, a evolução tecnológica na produção de energia eléctrica, as planuras alentejanas, onde tantos homens da aldeia de Entrevinhas e de todo o concelho de Sardoal, no papel de «ratinhos», labutaram em longas jornadas de ceifas, trabalho e sofrimento. Para norte e nascente as agrestes serranias, que a pouco e pouco se voltam a vestir de verde, depois de percorridas por uma língua vermelha de fogo, nos escondem a Beira Baixa, cujas características já são evidentes na vizinha freguesia de Alcaravela, cujos limites daqui se avistam.
22 de Setembro de 2000