Livro – Gastronomia, Tradições, Política e Outras Memórias do Concelho de Sardoal

O conteúdo deste livro foi, na sua maior parte, publicado no blogue “Sardoal Com Memória”. Não se encontra aqui na sua forma completa original, porque incluía também, entre outras coisas, alguns capítulos entretanto publicados neste site também em forma de edição autónoma, como sejam Valhascos – Contributo para a Sua História. Tinha também uma transcrição das fundamentais “Memórias Restauradas do Antigo Lugar e Vila de Sardoal”, também disponíveis aqui.

Para download:

Numa carta de 31 de Janeiro de 1997, dirigida ao então Presidente da Câmara Municipal de Sardoal, este livro é contextualizado da seguinte maneira:

Como V. Exª. bem conhece, tenho dedicado, ao longo dos anos, alguns dos meus tempos livres à investigação da história do Concelho de Sardoal, procurando conhecer e dar a conhecer alguns dos seus aspectos mais relevantes, ainda que reconheça, sem falsas modéstias, que os meus conhecimentos não são os mais indicados para o efeito. Do meu trabalho resultaram algumas publicações de maior ou menor dimensão, de que destaco o livro “ SARDOAL – Do passado ao presente – Alguns subsídios para a sua Monografia”, editado em Setembro de 1992 pela Câmara Municipal de Sardoal, que, com alguma vaidade, reconheço ter tido uma boa aceitação por parte dos Sardoalenses e que é hoje material de consulta frequentemente utilizado por todos os que, pelas mais diversas razões, pretendem conhecer alguma coisa da história do nosso Concelho.

Nesta área, apenas o trabalho do Dr. Augusto Serras intitulado “ALCARAVELA – Memórias de Um Povo”, deu continuidade às iniciativas editoriais da Câmara Municipal de Sardoal, constituindo um excelente e indispensável referencial documental para quem queira conhecer a freguesia de Alcaravela, em especial no que respeita aos seus usos, costumes e tradições.

Estou convicto que a ausência de outras publicações nos anos que entretanto decorreram se ficam mais a dever à falta de trabalhos para publicação ou vontade dos autores que deles possam, eventualmente, dispor, do que à falta de empenhamento e vontade da Câmara Municipal de Sardoal em promover a divulgação da história e de aspectos relevantes do Concelho, promovendo a edição de trabalhos existentes que possam justificar a sua publicação.

Entretanto e ao longo dos anos continuei a pesquisar e a reunir muitos apontamentos sobre o nosso Concelho, que julgo terem motivos de interesse suficientes que justifiquem a sua divulgação junto dos Sardoalenses e do público em geral, que podem, na minha modesta opinião, complementar o pouco que ainda se conhece sobre a riquíssima história da nossa terra. Estou a reunir esses apontamentos num trabalho que pode resultar num volume editável, se V. Ex.ª e a Câmara Municipal entenderem que esse trabalho tem algum interesse que justifique a sua publicação. Estou na disposição de ceder esse trabalho sem outros encargos para o Município que não sejam, após a eventual publicação, que me sejam fornecidos, gratuitamente, alguns exemplares (20/25) para o meu espólio pessoal e familiar e para oferta a alguns amigos.

No caso de a minha proposta ser aceite por V. Exª. e pelo Executivo Municipal, deverá ser celebrado um protocolo que ressalve os interesses de ambas as partes, nomeadamente no que respeita a alguns aspectos técnicos e editoriais e bem assim os direitos de autor na hipótese de futuras edições, em moldes idênticos ao protocolo que foi celebrado entre mim e a Câmara Municipal de Sardoal, em 1991, quando da edição do meu trabalho “SARDOAL – Do Passado ao Presente – Alguns Subsídios Para a Sua Monografia”, ressalvando no entanto que não pretendo qualquer contrapartida de natureza financeira ou de outra espécie, que não seja a cedência dos exemplares que referi anteriormente.

Abílio Napier (Rei-Pan)

Uma figura, que veio a ter estatuto nacional, emergiu na cultura sardoalense entre a primeira e a segunda décadas do século XX: Abílio Napier.

Abílio Napier (Rei-Pan)

Nasceu em Lisboa em 1873, onde fez estudos de conservatório (música e teatro). Era multifacetado: músico, regente, cenógrafo, actor e artista completo. Usou como nome artístico “Rei-Pan”. Foi autor de récitas, algumas em parceria com a escritora e poetisa Lídia Serras Pereira.

Deve ter-se fixado no Sardoal por volta de 1907. A 10 de Fevereiro desse ano, o “Jornal de Abrantes” noticiava, sob o título “Teatro Sardoalense”, o seguinte:

“Alguns artistas da Companhia Lisbonense, projectam ir dar um espectáculo em terça-feira de Entrudo no Teatro Sardoalense, levando à cena, “O AGIOTA”, comédia em 3 actos, pelos actores Reijana, Herculano Monteiro, Carlos Ferreira, Carlos Silva, Rosa Monteiro, Albina Napier…
Preços e horas do costume.
Dirige o maestro Abílio Napier.”

Albina Napier, que fazia parte do grupo cénico anterior, era a sua mulher. Juntos, dinamizaram companhias como o “Grupo Dramático Almeida Garret” e a “Troupe Dramática Portuguesa Rei-Pan”.

Por notícias da imprensa regional, sabemos que em 13 de Abril de 1913 já era regente da Filarmónica União Sardoalense, mas desconhecemos desde que data. A FUS, com esta designação, existia desde 11 de Março de 1911.

No “Jornal de Abrantes” de 28 de Setembro de 1913 aparece uma curiosa declaração escrita por si, em que justifica a “incorrecção” de um concerto da FUS pela má intenção do Sr. Raul de Carvalho, requinta da filarmónica:

“Ao público e digna Comissão dos Artistas, promotora das festas realizadas nos pretéritos dias 21 e 22, declaro que a “incorreção” do concerto musical efectuado pela banda sardoalense, foi devida simplesmente a má intenção do Sr. Raul de Carvalho, requinta da mesma filarmónica, que por divergências e rixas vermelhas, com alguns músicos, premeditou aproveitar aquela oportunidade para vingar-se, estropeando todo o repertório propositadamente, dando azo que do seu procedimento resultasse a má reputação da banda que eu destarte, espinhosamente dirijo. “Frisou” ainda o referido músico, ao ser admoestado por mim, que efectivamente estava executando traiçoeiramente, motivo que me levaria a não consentir que essa figura continuasse a estropear o concerto, se ele não tem ainda assim o bom senso de se antecipar à expulsão.
Eis pois demonstrados estes factos, para que a crítica forasteira que certamente desconhece, não vá estabelecer sobre mim uma impressão hostil, pois eu, apesar de medíocre, não consentiria que o público fosse testemunha auditor de tão grandes abnegações musicais originados por vinganças mesquinhas, mas torpes, porque não tendo nada a compartilhar dessas rixas, só em mim veio a reflectir-se de momento toda a responsabilidade e o péssimo efeito de uma cilada, ainda que indirectamente, mas por isso mesmo me cumpre repeli-la na carta que me toca.
Com satisfação ao público e à critica
Sardoal, 24 de Setembro de 1913
Abílio Napier
Regente da Filarmónica União Sardoalense”

Cremos que esteve ligado à Associação dos Artistas que por esses anos existiu no Sardoal e que, entre outras coisas, teve como iniciativa a fundação de um centro republicano.

Em 30 de Novembro de 1913, o “Jornal de Abrantes”, com o título “Teatro Sardoalense”, dava conta dos ensaios da peça “Noite de Natal”:

“No Grupo Dramático Almeida Garret, do Sardoal, e de que fazem parte os artistas Abílio Napier e Albina Napier, activam-se os ensaios da peça dramática “Noite de Natal”, primoroso original do distinto quartanista da Faculdade de Direito Sr. David Serras Pereira, sobrinho do ilustre Dr. João Serras e Silva, Lente da Universidade de Coimbra.
A peça impõe-se pelo empolgante das suas situações dramáticas, e encerra um verdadeiro cunho de linguagem portuguesa, revelando bem as faculdades de inteligência do seu autor a quem certamente está reservado um lugar de destaque entre futuros escritores da nossa Pátria.
Há grande interesse pela primeira representação da peça, cuja mise-en-cene foi confiado pelo autor ao Sr. Abílio Napier, ensaiador do referido grupo dramático.”

Em 14 de Junho de 1914, de novo no “Jornal de Abrantes”, Napier faz uma louvor da música no Sardoal e dos esforços dos valorosos sardoalenses que contribuíram para reforçar a qualidade do corpo instrumental da FUS. Com o título “A Música no Sardoal”, escreveu o seguinte:

“Podem ufanar-se os Sardoalenses pelo considerável melhoramento que devido aos esforços e boas vontades dos Exmos. Srs. Dr. José Gonçalves Caroço, Abílio da Fonseca Matos e Silva e Máximo Martins Salgueiro, acaba de ser introduzido na sua terra natal.
É que está provado que ainda nos mais recônditos cantos da província, os povos trabalham com denotada ansiedade, pelo desenvolvimento das artes e pelo progresso da sua pátria, cujas evoluções nos últimos tempos, são sobeja garantia para enfileirarmos Portugal com as mais civilizadas nações da Europa.
E assim aqueles senhores, num rasgo de patriotismo e amor pelas artes, acabam de melhorar consideravelmente a conhecida Filarmónica União Sardoalense, restaurando todo o instrumental e fazendo aquisição de novos músicos e outros já experimentados e de segura competência, que com os seus colegas antigos, aprovaram e assinaram no Cartório do Exmo. Sr. João dos Santos Pereira um contrato por 3 anos, cujos artigos vão ser submetidos à aprovação do Governo.
E antes assim, porque sendo o Sardoal uma das terras da província que maiores provas de aptidão para a música tem demonstrado, era para lastimar que por simples indolência se votasse ao ostracismo, o amor pela mais sublime das Belas-Artes.
Por instância da ilustre comissão dirigente da filarmónica, também por desejo dos músicos e do povo, continuará regendo a banda o modesto artista que estas linhas escreve, e que apesar de não pertencer à plêiade dos “célebres” envidará todos os esforços para secundar a obra altruísta da comissão, em prol da arte e para a honra da classe, a que se orgulha de pertencer.
Avante, pois, e muitos parabéns ao povo do Sardoal, de quem se espera também todo o auxílio possível, visto que está sempre pronto a sacrificar-se pelo engrandecimento da sua terra.
Sardoal, Junho de 1914
Abílio Napier
(Rei-Pan)”

Fez parte também da tuna “Flor Mimosa Sardoalense”, cuja foto de 3 de Agosto de 1914 se publica aqui e onde aparece, ao centro, na fila superior.

Plano inferior, da esquerda para a direita: João Dias Milheiriço, Norberto Ricardo Navalho, João Florindo e Máximo Dionísio.
Plano superior, da esquerda para a direita: Lúcio Serras Pereira, António Bernardo, Abílio Napier, Francisco Bernardo e António Serras Pereira.

Em contraponto com a correspondência anterior, em 15 de Junho de 1915 pediu a demissão de regente da Filarmónica União Sardoalense, com efeitos a partir de Outubro desse ano. Jornal de Abrantes, de 27 de Junho:

“Abílio Napier – Ensaiador de Música

Participa que pedirá a demissão do seu lugar regente da Filarmónica Sardoalense, logo que se encontre desligado de todos os contratos firmados pela direcção da referida banda, e que terminam em Outubro próximo, ficando desde então ao dispor de quem pretenda utilizar-se dos seus modestos serviços musicais.
Sardoal, 15 de Junho de 1915”

A veia artística teve descendência familiar. O filho Fausto Napier nasceu no Sardoal em 3 de Abril de 1915 e com 18 anos mudou-se para Albufeira, onde foi primeiro fotógrafo local e o único durante décadas. Abílio e Albina tiveram também uma filha: Inácia Napier.

Fausto Napier

No fim de 1915 fixou-se no concelho de Cadaval, onde teve também um papel importante tanto na Filarmónica como no Teatro locais.

Manteve uma ligação ao Sardoal, sendo que nos periódicos regionais da época publicou alguns poemas satíricos. Destaque em 1929 para a saudação ao Dr. Raul Wheelhouse (ler aqui). Justo da Paixão também lhe dedicou um poema no mesmo ano (ler aqui).

O seu maior êxito a nível nacional terá sido uma Marcha Popular designada de “Serra da Neve”, em 1932.

Regressou a Lisboa em 1940 e faleceu em 1949.

A Sagração de D. António Alves Ferreira

No Sardoal com Memória existe uma pequena resenha biográfica de D. António Alves Ferreira, natural de Valhascos.

Aqui repescam-se notícias publicadas no “Jornal de Abrantes”, respeitantes à sua sagração, no Sardoal, como Bispo de Martinopolis (Viseu), que ocorreu no dia 26 de Janeiro de 1908.

Deixamos também as fotografias desse dia, da autoria de Francisco Dionísio, publicadas na “Ilustração Portuguesa”, n.º 103, de 10 de Fevereiro de 1908.

“Antes da sagração: o cortejo a caminho da egreja”

Sagração de um Bispo no Sardoal
18 de Janeiro de 1908

Realiza-se no próximo dia 26 do corrente, na Igreja Matriz desta vila a sagração do bispo Rev. António Alves Ferreira, filho desta vila… À cerimónia assistirão como é da praxe, mais três bispos, que consta serem o Bispo Barroso do Porto, Bispo de Lamego, Arcebispo-Bispo da Guarda. Também assistiram ao acto os Srs. Ministro da Justiça, Lente Dr. Serras e Silva, e muitas outras pessoas importantes. Haverá jantar de gala que consta de ser acerca de 200 talheres.
Reina grande entusiasmo e ansiedade por este dia que deve ser uma concorrência extraordinária, pois que é uma cerimónia que nunca aqui se fez nem nos concelhos vizinhos consta que se tenha feito.
O jantar realizou-se no salão nobre da casa grande, e já se está dispondo as coisas para esse fim, e sob a direcção da Exm.ª Sr.ª D. Prudência Serras e Silva.

“Depois da sagração: regresso da egreja”

A Sagração de D. António Alves Ferreira
Bispo de Matrinopolis (Viseu)
2 de Fevereiro de 1908

Como tínhamos noticiado realizou-se no dia 26 do mês findo na vila de Sardoal, a Sagração de D. António Alves Ferreira, natural da aldeia de Valhascos, deste concelho de Sardoal, e ultimamente levado à dignidade de Bispo de Matrinopolis. A Igreja onde teve lugar aquela imponente e majestosa cerimónia achava-se rica e vistosamente ornamentada.
Muito antes da hora indicada para a cerimónia, já o majestoso templo se encontrava repleto de fiéis. As 11 horas e 25 minutos sob a presidência do Bispo de Lamego, deu-se o princípio ao acto religioso empunhando o Báculo o Reverendo Cónego Alexandrino Nunes.
A orquestra habilmente regida pelo digno mestre Sr. Ligner, tocou admiravelmente. Do seu conjunto faziam parte, entre outros, 2 violas e 2 vozes de Santarém. O orago está confiado ao padre Sabino. Em seguida a esta cerimónia teve lugar um solene Te-Deum que terminou por volta das 3,5 horas da tarde, beijando-se os Bispos entre si.
Depois organizou-se o cortejo que acompanhou o Rev. Bispo à residência do Sr. Tenente Tavares, onde se achavam hospedados, assim como o Sr. Ministro da Justiça. Atrás seguia a filarmónica, tocando o hino nacional, demorando ali algum tempo.

O Jantar

O jantar começou às 9,5 horas da noite, e terminou cerca das 3 horas da madrugada, correndo sempre no meio de um indescritível entusiasmo.
O salão onde foi servido, achava-se ricamente ornamentado com vistosas colchas de seda e damasco, verdura e grande profusão de flores, e lindamente iluminado com 7 lustres de cristal, a velas, sendo uma ao centro e as demais dispostas sobre a mesa.
À entrada dos convidados no salão, a velha filarmónica Sardoalense executava num vistoso coreto que se erguia em frente ao salão do palácio dos antigos fidalgos Mouras e Mendonças, o hino da carta, tocando também várias peças de música até à meia noite, hora a que foi dispensada.
A mesa percorria toda a volta do salão e comportava 61 convidados.
À cabeceira estava o novo Bispo, D. António Alves Ferreira, e ao seu lado direito os Srs. Ministro da Justiça, D. Francisco José, Bispo de Lamego, Dr. Serras e Silva e a família do novo Bispo, e ao lado esquerdo, D. António Barroso e D. Mateus de Oliveira Xavier.
Numa sala contígua ao salão achava-se numa outra mesa igualmente bem disposta para 20 pessoas.

O jantar foi variadíssimo, sendo o menu, o seguinte:
Consommé à la tête de veau: petits pâtés à la Reine.
Poisson à l’Hollandaise, sauce de huîtres aux câpres.
Génisse à la financière: Perdreaux   aux champignons,
Gélatine de poulpes truffées, a l’aspic : Saumon à L’italienne : Dindon truffées au cresson : Asperges sauce à la l’anglaise : celée de fruits : charlottes rousse : Pundings à la brésilienne, œufs a la portugaise, pundings à la diplomate, vin du Porto, Madeira, Colares, etc.

Discursaram no fim do jantar, D. António Alves Ferreira, Bispo de Viseu (novo) D. António Barroso, Bispo do Porto, D. Francisco José, Bispo de Lamego, Dr. Teixeira de Abreu, Dr. Serras e Silva, Cónego Mora, Dr. Manuel Pinto Montenegro, Padre António Basso, Padre Francisco Correia Ventura, Germano Silva Jornalista, José Alexandre, Júlio Bivar Salgado, Dr. Avelino Figueiredo, Dr. Anacleto da Fonseca Matos Silva, Dr. Miguel Ferreira de Almeida, Dr. José Frutuoso da Costa, e António Dias Conde. Salientaram-se nos seus discursos os Bispos, Ministros da Justiça e Dr. Serras e Silva.

Ao terminar, D. António Alves Ferreira, agradeceu a todos pelo ter acompanhado neste dia tão solene, e as provas de consideração e estima que lhe acabam de tributar.

Não damos nomes de todas as pessoas que tomaram parte em visita da falta de espaço com que lutamos.
No rápido de Madrid, de segunda-feira retiraram-se os Bispos do Porto, Lamego e Coxim, e o Ministro da Justiça. Também retiraram nesse mesmo dia o Sr. Dr. Serras e Silva, Cónego Mora e João Coimbra e família.
Na terça-feira foi o Bispo D. António Alves Ferreira, visitar a aldeia de Valhascos, sua terra natal, onde tem ainda muita família, sendo ali recebido no meio de uma grandiosa manifestação de alegria, com vivas ao novo Bispo, deitando-lhe muitas flores e queimando grande quantidade de foguetes. O Reverendo Bispo dirigiu-se à capela, onde deu o anel a beijar. Depois regressou ao Sardoal onde ainda se demorou alguns dias, sendo, no seu regresso novamente cumprimentado pela filarmónica Sardoalense, a quem ofereceu um jantar.

Mattos e Silva – Sardoalenses Ilustres

Anacleto da Fonseca de Mattos e Silva
Magistrado. Nasceu no Sardoal em 18 de Novembro de 1877. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 8 de Junho de 1899. Desemprenhou funções de Procurador Régio em Mação, Caminha, Santiago do Cacém, Mafra, Golegã, Torres Vedras e Santarém. Foi curador geral dos órfãos em Lisboa e Procurador da República, na Relação de Lisboa, situação em que atingiu limite da idade e foi aposentado em 1957.
Durante muitos anos fez parte dos júris para exame de habilitação para cargos dependentes do Ministério da Justiça, onde exerceu diversas vezes o cargo de Chefe de Gabinete do titular da pasta.
Foi colaborador da Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira.
Faleceu em Lisboa, em 17 de Novembro de 1958.

Abílio da Fonseca de Mattos e Silva
Irmão do supracitado.
Nasceu em Vila Franca de Xira em 22 de Setembro de 1881. Foi um republicano convicto. Teve uma importante acção em termos concelhios, que injustamente é pouco recordada. Como Provedor da Misericórdia, além de outros benefícios, foi sob a sua gerência que foi construído o Cine-Teatro Gil Vicente, inaugurado em 1927.

Abílio da Fonseca de Mattos e Silva

Esteve ligado à Sociedade Fraternidade Sardoalense, ou Música Nova, despendendo para ela a maior parte dos fundos necessários. Essa filarmónica era oposta à do sr. Francisco Augusto Simões, a Sociedade Filarmónica Sardoalense, ou Música Velha. Desempenhou depois um papel preponderante na fusão de ambas, de onde resultou a actual Filarmónica União Sardoal, em 1911. Sobre a história dessa fusão, já se deu conta no Sardoal com Memória.
A sua fase principal de actividade ocorreu entre 1900 e 1925, quando para além de ser Provedor da Santa Casa da Misericórdia, foi também Presidente da Câmara (01/11/1911 a 19/07/1913) e Administrador do Concelho.
Faleceu em Óbidos em 27 de Dezembro de 1941. Em 13 de Novembro de 1971, a urna com os seus restos mortais foi transladada para o Sardoal, onde no Cemitério Municipal ficaram junto dos da sua esposa, D. Maria Judith Leal de Gouvea Pinto e Cerqueira de Mattos e Silva.

Artigo do Jornal de Abrantes de 1971 (via Cidadãos por Abrantes)

Abílio de Mattos e Silva

Filho de Abílio da Fonseca de Mattos e Silva.
Nasceu no Sardoal em 1 de Abril de 1908. Por ter sido funcionário público no Ministério da Economia, acabou por ir trabalhar na Nazaré, em 1931, e depois em Óbidos.
Foi artista plástico, coreógrafo e figurinista, tendo exercido funções de Director de Cena do Teatro Nacional de São Carlos.
Faleceu em Lisboa, em 29 de Maio de 1985.
Desde Junho de 2008, existe o Museu Abílio de Mattos e Silva, em Óbidos.

Abílio de Mattos e Silva

Augusto Leal de Mattos e Silva

Filho de Abílio da Fonseca de Mattos e Silva.
Nasceu no Sardoal em 26 de Fevereiro de 1905.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi Chefe de posto administrativo em Laga, Timor, tendo sido barbaramente morto em Maio de 1944, em Díli.
Desde 1946, uma lápide colocada na varanda do edifício dos do Paços do Concelho perpetua a homenagem do Município a este Sardoalense.

Placa nos Paços do Concelho

O “Diário de Notícias” de 15 de Setembro de 1946 publicou a notícia seguinte com o título “Sardoal consagrou o sacrifício heróico de Matos e Silva, um dos bravos defensores de Timor”, de onde também se extraiu a respectiva foto.

Augusto Matos e Silva

“SARDOAL, 14. – Este concelho prestou homenagem póstuma a um dos seus filhos mais gloriosos – Augusto Leal de Matos e Silva – consagrando o seu nome para que o exemplo do seu patriotismo permaneça entre as gerações vindouras.
Descendente de família muito considerada na região, Augusto Leal de Matos e Silva era filho de Abílio da Fonseca de Matos e Silva, falecido há poucos anos e de D. Maria Judite Leal de Gouveia e Cerqueira de Matos e Silva; sobrinho do dr. Anacleto da Fonseca de Matos e Silva, procurador da República junto da Relação de Lisboa e do eng. José Maria de Matos e Silva, administrador adjunto dos C.T.T.; e irmão do artista Abílio Leal de Matos e Silva. Foi companheiro, na colónia de Timor, na luta contra o invasor nipónico, do tenente de infantaria Manuel José Pires, natural do Porto; de José Tinoco, nascido na Guiné, e outros, continentais e nativos cuja odisseia em prol do prestígio de Portugal lhes custou, depois de pesadíssimas privações, a própria vida, caídos ante a arremetida feroz e criminosa do despotismo nipão.
Augusto Leal de Matos e Silva partira para Timor em 1935, já experimentado na vida colonial por ter passado anos antes tempo apreciável em terras de África. Era chefe de posto administrativo; e o seu espírito inquieto, sedento, empreendedor, activo e moço rapidamente o elevou a uma posição de merecido destaque naquela possessão. De uma personalidade atraente e forte, dotado de invulgar sensibilidade artística, imediatamente a todos se impôs, quer a metropolitanos, quer a colonialistas e nativos, como figura digna de admiração e do maior respeito e consideração pessoal e hierárquica.
Durante a ocupação japonesa foi um dos componentes do grupo de portugueses que, embrenhados pelas montanhas e florestas timorenses, sob o comando do tenente Manuel de Jesus Pires, administrador de circunscrição, manteve um valioso serviço de informações, por T.S.F., com a Austrália, proporcionando o embarque, (a que, porém, se furtou) para aquele domínio britânico de muitas pessoas, especialmente mulheres e crianças, que assim foram poupados à fúria do agressor. Embora com o apoio de alguns indígenas, que, conforme podiam, procuravam servi-los de mantimentos e levar-lhes notícias, a resistência desses bravos soldados de Portugal foi certamente abatida principalmente pelo definhamento físico.
Matos e Silva deve ter sido dos últimos a extinguir-se, perdendo a vida numa prisão, em Dili, para onde foi conduzido pelos nipónicos depois de se entregar, vencido pelo esgotamento, ainda num derradeiro acto de heroicidade, por haver chegado ao seu conhecimento que da sua não apresentação até certo prazo adviria o massacre de todas as pessoas de família de um regulo, cuja filha fora sua dedicada companheira.
A homenagem consistiu no descerramento, às 11.30, na parte exterior dos Paços do Concelho, de uma lápida com o nome do herói e a exaltação dos seus feitos. Procedeu ao acto o sr. dr. Matos e Silva, tio do falecido, em presença de todas as autoridades, da Filarmónica Sardoalense e de muito povo. O presidente do Município, sr. dr. José Lúcio Serras Pereira, fez em comovidos termos, o elogio do esforçado defensor da soberania portuguesa em Timor e justificou a homenagem.”

Edifício dos Paços do Concelho – as origens

Edifício dos Paços do Concelho, em dia de festa

Desconhecemos a data exacta em que os Paços do Concelho, antes também chamados de Casa da Câmara, ficaram instalados no local onde hoje estão. Somos, no entanto, levados a concluir, por alguns documentos que vimos, que isso aconteceu nos princípios do século XVII, em especial por uma carta de D. Filipe II, dada em Lisboa em 12 de Janeiro de 1603.

Pelo interesse de que se reveste, transcrevemos a referida carta:

“D. Filipe, etc. faço saber a todos os corregedores, ouvidores, juízes e justiças oficias e pessoas dos meus reinos e senhorios a quem esta minha carta for apresentada e o conhecimento dela com direito pertencer, que nesta minha Corte e Casa da Suplicação, perante mim e o Juízo dos Feitos e Causas da minha Chancelaria, se trataram e sentenciaram finalmente uns autos de embargo que por despacho do meu Desembargo do Paço vieram remetidos a este Juízo, em que os quais serão embargantes os Vereadores e Procurador do Concelho da Vila de Sardoal e embargados os oficiais da Câmara da Vila de Tomar, sobre certa finta os quais autos e embargos vieram remetidos ao dito meu Desembargo do Paço, ante o Doutor António de Figueiredo, Juiz de Fora da Vila de Tomar, que nela e na sua comarca serve de Corregedor, pelos quais autos constava entre outras coisas, hei por bem passar uma provisão cujo teor segue: Eu El Rei faço saber aos que este meu alvará virem que havendo respeito a informação que enviou o Corregedor estavam as Casas da Câmara, audiência, cadeia e açougue da dita vila de que agora usa é em lugar muito indecente, para os oficias da Justiça e povo, como para os presos por serem enfim muito velhas e estarem a cair e como na Praça Nova, estão umas casas de um Afonso Ferreira, que está concertado com os oficias da Câmara da dita vila, para lhes vender por preço acomodado, que mudar-se para elas poderiam custar até cento e cinquenta mil réis, hei por bem e me praz que por ordem do dito Corregedor se vendam as casas velhas de que agora se usa e do preço delas se comprem as ditas casas de Afonso Ferreira para a elas se passar a dita Câmara, audiência, cadeia e açougues e para isso se lance também finta, em tempo de três anos ou quatro, pelos moradores da dita vila e seu termo da metade daquela quantia que as ditas casas custarem e da despesa que se houver de fazer no conserto e ordem que nela se há-de dar, para ficarem servindo e a outra metade do preço que custarem e a obra que se há-de fazer, se fará dos sobejos da renda do concelho, não entrando nisso a minha terça. E mando ao dito Corregedor que cumpra e faça cumprir este alvará como nele se contém e ao Provedor da mesma Comarca que tome conta do dinheiro que se tirar da dita finta e saiba se se despendeu no para o que se lançou, eleve em despesa aos oficias da Câmara da dita vila o que das rendas do concelho dela gastarem na dita obra e este me praz que valha e tenha força e vigor posto que o efeito dela de durar mais de um ano, sem embargo de ordenação em contrário.

António de Morais a fez a 12 de Janeiro de 1603 e fará o dito Provedor fazer uma arca de três fechaduras com guardas diferentes e uma chave terá o vereador mais velho, a outra a pessoa que pela mesma ordem servir de escrivão e a outra a pessoa que servir de Tesoureiro, por ordem do dito Provedor, para na diarca se meter o dinheiro das rendas do concelho e o da dita finta para a dita obra de onde se tirará para o que for necessário para ela. João Costa o fez escrever. (Rei)”

Transcrevemos igualmente parte de um outro alvará régio relacionado com o mesmo assunto, dado em Lisboa, em 21 de Junho de 1610:

“…que a dita vila do Sardoal, era da Correição da Comarca de Abrantes e sempre o fora e não era nem fora nunca da Ouvidoria de Tomar e que a dita vila do Sardoal era de D. António de Almeida, cuja era a dita Vila a Alcaide-Mor de Abrantes e fora de seus antecessores, o qual tinha nela Ouvidor e o tivera sempre e o tiveram outrossim nela seus antecessores e era auditoria de per si e assim se não devia entender a provisão embargada à dita vila do Sardoal, nem havia razão porque a dita vila devesse ser fintada para a dita vila de Tomar (…) não lhe merecia caber cinquenta mil réis que lhe tinham fintado, por ser vila muito pequena e não tinha mais do que uma freguesia na vila e outra nos montes e por muito grandes que fossem as fintas, nunca se lançava mais de 20000 réis para fora. E que eu tinha mandado passar provisão para fazerem de novo a cadeia e Câmara dela e açougues da dita vila do Sardoal para a dita vila ser fintada para as ditas obras como melhor constava de uma certidão junta, nas quais obras bem se gastaram um conto de réis ou três mil cruzados e isto se havia de fintar na dita vila do Sardoal em quatro anos conforme a dita provisão e havia grande desigualdade em muita anexação da dita vila do Sardoal, ser fintada para a cadeia de Tomar, tendo as ditas obras para fazer.”

Passeio Mistério – Festa da Flor 1992

Nota prévia: Sempre que foi possível encontrar, colocámos aqui as fotos com boa resolução. Em alguns casos apenas conseguimos digitalizar directamente da fotocópia deste Passeio Mistério de 1992. Isso explica a pouca qualidade de algumas das imagens.

Primeira página do Passeio Mistério de 1992

Olhem com atenção as três fotografias que se seguem e procurem localizar o local onde foram tiradas. Entretanto, respondam às perguntas que se seguem:

A fotografia representa uma visita régia, ocorrida no dia 22 de Junho de 1907. Que Rei visitou, então, o Sardoal?

  1. D. Luís
  2. D. Carlos
  3. D. Manuel II

Esta fotografia representa o cortejo que antecedeu a Sagração de um Bispo, ocorrida na Matriz de Sardoal, em 22 de Janeiro de 1908. Qual foi a diocese de que esse Bispo foi titular?

  1. Castelo Branco
  2. Portalegre e Castelo Branco
  3. Viseu

Qual o nome desse Prelado?

  1. Gaspar Barata de Mendonça
  2. António Alves Ferreira
  3. António Joaquim Silva Martins

Representado na foto anterior vemos cortejo da festa de maiores tradições que se realizava no Sardoal e que deixou de efectuar-se há cerca de 60 anos. Referimo-nos à Festa do Bodo. Quem era o seu Padroeiro?

  1. O Espírito Santo
  2. O Corpo de Deus
  3. Santa Maria da Caridade

Enquanto se dirigem para o local onde o fotógrafo (que com alguma probabilidade foi o Sr. Dionísio, farmacêutico, com estabelecimento onde antes esteve uma relojoaria e onde actualmente está uma pastelaria), passarão pelo local reproduzido na próxima fotografia.

Têm assim uma pálida imagem da exposição de vasos da Festa da Flor de 1971. Quem era o Presidente da Câmara Municipal de Sardoal nesse ano?

  1. Lúcio Serras Pereira
  2. Dr. Álvaro Andrade e Silva Passarinho
  3. Francelina dos Santos Chambel

Esta fotografia deve ter sido tirada em 1921. Representa um cortejo alegórico efectuado no âmbito das Festas do Concelho desse ano. Entre a realidade desse tempo (foto anterior) e a actual, existem algumas diferenças significativas. Indique-nos três dessas diferenças.

De um outro ângulo, mas no mesmo local, foi tirada esta fotografia, por volta de 1940, e representa os Paços do Concelho como eram então. Como podem verificar, existem diferenças visíveis, mas também outras que não se conseguem detectar. Destas últimas podemos referir que, então, apenas exista na parede do 1.º andar (sobre a varanda) uma placa de homenagem aos Sardoalenses que morreram na Grande Guerra (1914-1918), ali colocada no dia 22 de Setembro de 1921. Actualmente existe uma outra placa, homenageando um sardoalense morto pelos japoneses, num território português de que muito se tem falado nos últimos tempos.

A que território nos referimos?

  1. Estado Português da Índia
  2. Macau
  3. Timor

Quem era esse sardoalense?

  1. Augusto Leal de Mattos e Silva
  2. José Alexandre David Pinto
  3. Júlio Bivar Salgado

Talvez não seja necessário subir a Rua Mestre do Sardoal para responder à pergunta que se segue, relacionada com estas duas fotografias.

N.º 33 da Rua Mestre do Sardoal

Sob o n.º 33 dessa Rua, está uma grade onde são visíveis as letras PBN, que são as iniciais do indivíduo retratado, natural da Vidigueira. De quem se trata?

A construção da foto anterior foi inaugurada no dia 20 de Dezembro do ano em que se comemorou o 4.º Centenário da elevação do lugar de Sardoal a Vila, pelo então Presidente do Ministério, General Domingos de Oliveira. O Sardoal conhecia a partir daí os benefícios da energia eléctrica. Onde se situava e qual o ano em que foi inaugurada?

Abandonem a Praça da República e procurem a bonita sacada representada na fotografia. Qual é a data inscrita?

  1. 1838
  2. 1858
  3. 1888

Confirmada a data, procurem identificar a fonte retratada na próxima fotografia.

Encontrem a Rua com o nome da Fonte. Como se chama esta fonte?

  1. Fonte Nova
  2. Fonte da Penha ou da Pena
  3. Fonte Velha

Muito próximo desta fonte, à esquerda, como quem vai para o Sobreiro da Dona Maria, situa-se a fonte (privada) que se vê na fotografia seguinte.

Apesar do seu estado de abandono, é muito bonita. O painel de azulejos sobre o arco representa uma Santa, que foi Rainha de Portugal, a qual dá o nome à fonte. Como se chama, então, a fonte?

Tenham ido ou não à fonte, sigam agora pela Rua do Paço, mas abandonem-na, quando encontrarem uma palavra que é sinónimo de “talho”, em busca do coração do Sardoal antigo.

Situem-se no local onde foi tirada esta fotografia e indiquem apenas a data de construção do edifício que fica do outro lado da Rua do Paço, que ostenta as iniciais do seu primeiro proprietário, Francisco Augusto Simões.

  1. 1905
  2. 1907
  3. 1915

Continuem em direcção ao fontanário representado na próxima fotografia.

Este fontanário esteve colocado noutro local, como se vê, ainda que mal, numa outra fotografia antecedente. Qual é esse local?

A rua representada na próxima fotografia, antes de ter a designação actual, chamava-se Avenida ou Rua da Avenida.

A sua actual designação é uma homenagem a um indivíduo que desempenhou no Sardoal e durante muitos anos, uma profissão de relevante interesse social. Qual era essa profissão?

Subam esta Rua e procurem o caminho mais curto para a Igreja Matriz, cuja fotografia tirada por volta de 1949 aqui se reproduz. Olhando essa fotografia com atenção, detectam algumas diferenças com a actualidade. Indiquem-nas.

Quem é/são o(s) padroeiro(s) da Paróquia de Sardoal?

A próxima fotografia representa um pormenor da Capela onde se encontram os quadros do Mestre do Sardoal, que se encontram na Matriz.

Qual é a designação desta Capela?

  1. Capela do Santíssimo
  2. Capela de Nossa Senhora da Conceição
  3. Capela de Nossa Senhora da Piedade

Quantos são os quadros do Mestre aí existentes?

  1. Sete
  2. Seis
  3. Cinco

Qual é o estilo artístico do Altar-Mor da Igreja Matriz?

  1. Renascença
  2. Gótico
  3. Barroco

Sigam agora em direcção ao Largo da Escola, onde encontrarão a sede da Filarmónica União Sardoalense. Esta resultou da fusão de duas bandas existentes no Sardoal (a do “Carapau” e a dos “Ciganos”), ocorrida em Março de um ano próximo ao da Implantação da República. A que ano nos referimos?

Desçam agora para a Igreja da Misericórdia, cujo portal principal se retrata nesta fotografia do início do século XX.

Em que século foi construído?

  1. Século XV
  2. Século XVI
  3. Século XVII

Qual é o estilo arquitectónico desse portal?

  1. Romântico
  2. Gótico
  3. Renascentista

Situem-se agora no local onde foi tirada esta fotografia.

As alternativas para o percurso são várias, mas a mais fácil é a mais amargurada, com duas opções de viragem à direita. Chegados aí, digam-nos, em primeiro lugar: qual o nome popular do local que fica nas vossas costas?

Tudo indica, em face das designações toponímicas próximas, que por aqui tenha existido um exemplar notável de uma árvore de cujas folhas se costumam alimentar os bichos da seda. Siga a rua com o nome dessa árvore e procure uma invocação de Nossa Senhora de Fátima, próxima do n.º 17. Está perto da casa de um velho filarmónico, que durante dezenas de anos se dedicou de alma e coração à Banda. Digam-nos de quem se trata.

Continuando na mesma rua encontrarão, próxima, a residência de um casal de artistas. Ele a trabalhar o barro. Ela no Teatro Amador e nas Canções, tendo participado, com assinalável êxito, no espectáculo “Recordando o Passado”, produção do GETAS. Qual o nome desses artistas?

Diz o povo que todos os caminhos vão dar a Roma. Não podemos, no entanto, afirmar que aqui todos os caminhos vão dar ao local representado nesta fotografia, tirada há mais de 60 anos. Procure esse local.

As águas férreas correm aqui há muitos anos. Reza a tradição que a nascente surgiu acima da Ponte do Ramal, aquando do terramoto de 1755, tendo sido canalizada para este local cerca de 20 anos depois. Com estas informações podem dizer-nos em que século foi construído o chafariz.

  1. Século XVII
  2. Século XVIII
  3. Século XIX

Nas traseiras do chafariz vêem-se hoje umas ruínas e muitas silvas. Na fotografia é visível, no entanto, uma construção com telhado. Qual era a sua função?

  1. Azenha
  2. Serração de madeiras
  3. Lagar de azeite

Analisando a fotografia com atenção, são visíveis duas mulheres sobre a ponte. Como se chama essa ponte?

  1. Ponte do Ramal
  2. Ponte de S. Francisco
  3. Ponte de S. Sebastião

Dirijam-se, agora, ao local representado na fotografia (tirada por volta de 1938).

Como era conhecida a última (?) habitante da casa?

Estão na Estrada Municipal, mas se subissem as escadas iriam ter à Rua da Portela. Como se chama o local mesmo ao cimo das escadas?

  1. Passeio
  2. Portela do Vale da Mata
  3. Miradouro da Fonte Férrea

Quer tenham sede ou não, vão até à Fonte Férrea e procurem descobrir a data da construção do depósito que fica do outro lado da Ribeira. Qual é?

  1. 1619
  2. 1710
  3. 1770

Regressem à estrada e sigam na direcção das Olarias. Podem apreciar a “grandiosidade” da Escadaria da Rua da Ladeira e o “grande movimento” de visitantes que hoje, dia de festa, se verifica no Centro/Posto de Turismo e/ou Artesanato. Perdoem-nos a ironia e continuem pelo asfalto, até chegarem à Agência Funerária. Aí chegados, procurem saber quais as artes/ofícios tradicionais que eram exercidos nas construções que foram demolidas para alargamento da entrada do Largo do Mercado.

  1. Ferrador e malaria
  2. Alfaiate e ferrador
  3. Malaria e latoaria

Entrem agora na nova avenida e procurem descobrir a sua designação oficial.

  1. Av. 1.º de Maio
  2. Av. 25 de Abril
  3. Av. Heróis do Ultramar

Pelo caminho e quase ao cimo do Largo do Mercado, encontram um edifício em ruínas. Que indústria tradicional do Sardoal era aí praticada há cerca de 30 anos?

  1. Malaria
  2. Serração de Madeiras
  3. Serralharia

Um pouco acima das ruínas, hão-de encontrar uma placa em azulejos com a inscrição “Quinta de S. Miguel – de Abílio de Oliveira Pita”. No entanto, o local onde foi aberta a nova via é mais conhecido por outra designação. Qual é?

  1. Tapada do Roldão
  2. Tapada do Pita
  3. Tapada do Américo

Percorram a Avenida até chegarem à rotunda e aí analisem as duas fotografias que se seguem.

Ainda que não pareça, existe uma profunda relação entre elas. Porquê?

Como se chamava o estabelecimento de ensino que funcionou no edifício da segunda foto, antes de ser Escola Preparatória e Escola Primária?

Com recurso à memória, podem verificar que desapareceram (não sabemos se provisoriamente) duas pequenas construções, a pequena distância uma da outra, uma relacionada com Fé, a outra com água. A que construções nos referimos?

A próxima fotografia é de 1911/12 e representa o início da Escadaria do Convento.

Apontem duas diferenças entre a fotografia e a actualidade.

Subam a escadaria e confrontem a próxima fotografia (de início do século XX) com a realidade actual e indiquem as principais diferenças.

Na Capela-Mor da Igreja encontra-se um mausoléu. Quem está aí sepultado?

Como se chama esta Igreja?

Desçam para a Rua 5 de Outubro, até encontrarem a placa “Avenida Luís de Camões”. Pelo caminho puderam verificar, pelas capelas que encontraram, a religiosidade dos Sardoalenses. Para terminar indiquem apenas quais os padroeiros das capelas por que passaram.

Regressem ao local de partida e entreguem a vossa prova. Esperamos que tenham gostado!

Dr. Giraldo Costa e o seu “Esboço Chorographico do Sardoal”

Giraldo Joaquim Maria da Costa nasceu em 1821 na Sertã, filho de Francisco José da Costa.
Formou-se em Medicina e Cirurgia na Universidade de Coimbra, em 15 de Novembro de 1844. Antes de vir para o Sardoal, exerceu medicina no Concelho de Figueiró dos Vinhos. A partir de 1851 foi médico do Partido Municipal nesta Vila.
Em 1862 fez parte dos órgãos fundadores da Sociedade Filarmónica Sardoalense. O seu nome persiste ainda na toponímia sardoalense, com a Rua Dr. Giraldo Costa.

Interessou-se pela história do Sardoal e escreveu um esboço corográfico do Sardoal em 1882, que foi publicado no Dicionário Popular e que veio a servir de base à maioria das referências que sobre o Sardoal aparecem em diversos dicionários corográficos publicados em finais do século XIX.

Pinho Leal, na sua obra “Portugal Antigo e Moderno”, vol. 9, publicado em 1880, agradece-lhe nos seguintes termos: “Cumpre-me aqui agradecer cordialmente ao exmo. sr. doutor Geraldo Joaquim Maria da Costa, médico do partido da câmara do Sardoal, os valiosíssimos apontamentos que teve a benevolência de me dar, com respeito a esta vila, e que tanto concorreram para que o artigo saísse o mais completo possível. (…) Honra pois ao sr. dr. Costa, que soube compreender isto, e que tanto concorreu para tornar a sua terra devidamente conhecida e apreciada.”

Há muitos anos, quando procurei conhecer a História do Sardoal, deparei-me com uma confrangedora ausência de informação publicada. Além de algumas notas desgarradas na Imprensa Regional e Nacional, de pequenas entradas em enciclopédias e dicionários corográficos, apenas consegui localizar, na altura, este interessante opúsculo com pouco mais de meia dúzia de páginas. Desde 1882 até cerca de 100 anos depois, parece que muito pouco se publicou sobre a História do Sardoal.

“Esboço Chorographico do Sardoal”, coordenado por Giraldo Joaquim Maria da Costa, Typographia da Viuva Sousa Neves, 1882

Pelo seu interesse historiográfico e por ser difícil de encontrar, aqui o deixamos.

Esboço Chorographico do Sardoal

Coordenado por Giraldo Joaquim Maria da Costa

Vila na Extremadura, cabeça de Concelho e de Julgado, aquele composto das freguesias do Sardoal e Alcaravela, pertencentes ao Distrito Administrativo de Santarém, este das mesmas e das do Souto e Mouriscas do Concelho de Abrantes e Dependente da Comarca de Abrantes, situada ao Norte do Tejo, 11 km de Abrantes, 135 da Guarda e 120 ao SE. De Lisboa.

Orago da freguesia, S. Tiago e S. Mateus Evangelista.

Foi Bispado de Castelo Branco, donde distava cerca de 70 km e pela recente circunscrição Diocesana ficou pertencendo ao Bispado de Portalegre, donde dista 60 km.

O nome desta Vila é derivado de Sardão (Lacerta viridis), réptil que se encontra frequentemente em todo o Concelho de Sardoal.

Conta a Vila 342 fogos e 1297 almas e o Concelho 1295 fogos e 4939 almas; sua existência como povoação, perde-se na antiguidade, presumindo-se que pela bondade do sítio, qualidade do clima, pureza do ar, a elegeram os primeiros habitadores para sua vivenda, no tempo em que seria casal ou limitada aldeia e vendo a sua condição de salubridade e outras propriedades conducentes para o trato da vida se iriam congregando em vizinhança de moradores atraídos pela utilidade que suas culturas experimentariam. É, porém, verdade constante de documentos existentes no importante Arquivo Municipal que a povoação do Sardoal, estando a 11 km da notável Vila de Abrantes (e sua actual estação de via férrea), ou por foral do seu primeiro princípio ou por ter crescido em população e opulência, já no século XIII, quando a monarquia apenas teria 200 anos, havia sido enobrecida e continuou subsequentemente a ser considerada por muitas, diversas e especificais munificências régias, e que se achava constituída em julgado e Concelho, antes mesmo de ser elevada à categoria de Vila, o que teve lugar por moto próprio, espontânea e a mas honrosa carta de mercê d’El-Rei o Senhor D. João III, passada em Évora a 10 de Agosto de 1532, não sendo esta a última a que seus moradores, tanto colectiva como individualmente foi concedida. Pelo seu termo passam as ribeiras do Cadafaz ao Sul da Vila, e a de Acez ao Nascente e a de Alferrarede ao poente do Concelho. Tem importantíssimos mercados todos os segundos domingos de cada mês, sendo o mais concorrido o de Janeiro e ainda o de Fevereiro e a feira anual a 28 de Outubro.

O Correio é delegação de Abrantes, que desde Janeiro do corrente (1882) não pode proceder ao seguro de correspondência postal e expedição de vales, tendo-se também uma estação inaugurado.

Tem hospital administrado pela Santa Casa da Misericórdia, a instituição da qual data de fins do Século XIV ou princípio do imediato, confirmada em 1554 por bula do Santíssimo Padre Inocêncio VI, com a primitiva denominação de Confrades de Santa Maria do Hospital, e tal começou a ser zelo e dedicação de suas administrações, que se do na primitiva custeava suas despesas com esmolas que os confrades eram encarregados de obter, actualmente tem um bom rendimento próprio, proveniente de legados que se hão deixado por diversas disposições testamentárias.

O movimento anual dos enfermos passa de cem, chegando alguns anos a duzentos, além dos socorros domiciliários a outros enfermos e necessitados, que atingem aquele número.

Até à extinção das ordens religiosas, a Misericórdia, a sua casa e decente Igreja, como o Hospital era próximo à Matriz da freguesia, um dos melhores templos circunvizinhos e ainda de bispado, depois transferiu-se com o seu Hospital (conservando porém sua primordial casa e templo) para o convento da Nossa Senhora da Caridade, sito no alto do monte sobranceiro à Vila e que havia sido dos frades menores da província da Soledade, posição saudável, mui aprazível e mais adequada pelas suas condições para sede do Hospital e estabelecimento de idêntica natureza.

O Exmo. Senhor Francisco Manuel de Mendonça, da ilustre casa dos Mouras Mendonças, desta Vila, cónego da Sé Patriarcal, sendo provedor da Misericórdia, quando esta com seu Hospital foi transferida para o Convento, comprou a cerca a ela contígua, fez logo dela doação à Santa Casa, da qual foi um incessante protector, fazendo a expensas suas obras indispensáveis para adaptar o edifício ao fim destinado. Faleceu tão benemérito e incansável patrono a 16 de Agosto de 1862. Teve em sua nobre família, além de Monsenhores, abades e religiosos no mosteiro de Lorvão, o Exmo. Senhor D. Gaspar Barata Mendonça, o qual nascido a 3 de Agosto de 1627, e falecido em 1686, era filho do Exmo. Senhor Pedro Lopes Barata, o qual ocupou diversos cargos na magistratura e era natural do Sardoal.

Seu filho foi Juiz de Fora em Tomar e passando ao estado eclesiástico, tomou posse das abadias de S. João de Gestaco do padreado de Unhão, e pela renúncia d’esta abadia, prior de Santa Engrácia em Lisboa, onde também serviu de desembargador da Relação e Juiz dos casamentos, sendo por último o primeiro arcebispo da Baía.

O convento de N. S. da Caridade, foi edificado em 1570, sendo provincial da ordem Frei Manso, natural da cidade de Elvas, no local onde existia uma ermida de N. S. da Caridade, d’onde lhe vai o nome, concorrendo as instâncias e expensas do povo da Vila para a fábrica d’esta obra e devendo-se as maiores ao Exmo. Senhor D. Duarte de Almeida, filho do Sr. D. Lopo de Almeida, 3.º Conde de Abrantes, o qual por viver no Sardoal e ser muito afeiçoado aos religiosas e obras de caridade, por sua conta correu a maior parte da obra do convento, sendo por sua disposição testamentária sepultado junto aos degraus do altar-mor.

O cavaleiro Francisco Lobato, membro de uma das principais famílias dessa Vila, também deu grandes esmolas para esta fundação conforme consta da inscrição gravada na sua sepultura que ainda hoje se vê na casa que foi do capítulo.

Segundo consta de uma lápide embutida na parede do lado do Evangelho na capela-mor, foi este convento reedificado em 1676, lançando a primeira pedra, com a assistência do providencial da Ordem, e já referido Exmo. Senhor arcebispo da Baía, D. Gaspar Barata de Mendonça, a quem por contrato celebrado em 1 de Abril de 1678, foi dado o seu padroado, havendo dado mil cruzados para  reconstrução e obrigando-se à ordinária de 30$000 réis anuais para o lado da epístola. Sob o pavimento da mesma capela-mor há um vasto carneiro onde eram sepultados os membros da ilustre e nobre família Moura Mendonça, a qual além dos já mencionados e outros oficiais, tanto do exército de mar, como da terra, teve o Exmo. Sr. Pedro de Mendonça e Moura, nascido a 1 de Junho de 1742 e falecido a 25 de Abril de 1821, condecorado na Ordem de Malta com o Baliado de Leça, em marinha com o posto de Almirante e conselheiro do almirantado e que gozava o privilégio de ter encimados em seu palácio, as armas reais, circundadas dos diferentes troféus militares, e de ter o Santíssimo Sacramento permanente em sua capela, sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo,  ainda hoje tratada pelos seus herdeiros, com quanto deixem de pertencer a sua família, com o máximo lustre e esmero.

O primeiro herdeiro, fora da família, rev.º Sr. Padre Gregório Pereira Tavares, falecido em 12 de Outubro de 1867, só ficou senhor por disposição testamentária dos bens livres, pois outros mais havia vinculados, os quais passaram a quem de direito pertenceram, e também herdou os sentimentos, que já lhe eram naturais e estavam inoculados, de zelo e dedicação, pela Santa Casa da Misericórdia e da caridade evangélica com os pobres, satisfazendo valiosos legados.

Uma outra família, também distinta entroncada por vínculos matrimoniais com a dos Srs. Mouras de Mendonça, aqui houve com propriedade nesta vila, mas residente cerca de 9 km dela, no sítio denominado o Pochão, da ilustra e nobre casa dos Exmos. Srs. Cordes, da qual o seu último descendente, neste termo jaz sepultado no seu jazigo em a capela da Nossa Senhora da Graça, da aldeia dos Valhascos.

Possui esta vila um dos mais abundantes, em volume e princípios mineralizadores, mananciais conhecidos de águas calibeadas (férreas) tidas como digestivas, desobstruentes e litotrípticas.

A sua importância agrícola é bastante considerável e extensa, porquanto ainda que sua principal produção, constituída de sua primeira fonte de riqueza, seja a proveniente da cultura da oliveira, a qual em tempos remotos parece ter sido espontânea pelas aparências ainda hoje notadas e a que o terreno de tal modo se presta, que quasi se pode dizer não há metro de terra, vale ou outeiro que a ela não esteja aplicado, pela sua feracidade, mesmo por entre o arvoredo se cultiva as diversas espécies de cereais, tais como trigo, cevada, milho, etc.

Além disto a laranjeira adquire grande desenvolvimento e do excelente, como precioso fruto, a sobreira prospera imenso e atenua os sacrifícios do lavrador proprietário do restante da arboricultura, se encontra espécies de formoso e saboroso fruto pela sua escolhida qualidade; bem assim no que toca a horticultura. As calamidades destes últimos tempos hão afectado imenso a agricultura destruindo as laranjeiras e matando a produção dos olivais e vinhedos, no entanto os proprietários embora com sacrifício não desistem de conservar a sua antiga e grande escala de plantação e até mesmo têm ampliado.

Sardoal tem tido em todos os tempos pessoas de grandes haveres e de muita reputação, tem dado varões eminentes e beneméritos da Pátria que logo e mui longo seria d’enumerar todos, pelos relevantes serviços que lhe prestaram no exército e na armada e ainda pelos seus talentos e altas dignidades que ocuparam e se pode ver pelos epitáfios de suas sepulturas na igreja matriz, na do convento, hoje misericórdia, como também na profanada igreja de Santa Maria do Castelo de Abrantes.

Até 1860 havia nesta vila um bodo em Domingo de Espírito Santo, dado por mordomos e outras pessoas que por devoção contribuíam para ele e para a respectiva festividade, uma das mas solenes e de longa distância concorridas ao qual deixou de dar-se pelo seu grande dispêndio; há poucos anos porém muito mais limitado se iniciou dar naquele mesmo dia um bodo aos inocentes, fazendo-se também festividade.

A instituição deste bodo é tão antiga que se ignora quando e por que motivo teve seu princípio. Os que concorriam com os seus donativos para esta solenidade tinham uma porção de carne de vaca e pão cozido proporcional à esmola e cada um deles armavam na véspera em sua casa uma espécie de altar, que à porfia todos ornavam do melhor modo e segundo as suas posses, pois que à noite, grande parte das famílias da vila com seus hóspedes e convidados, tinham por costume ir visitar os denominados altares. No Domingo eram o pão e a carne conduzidos à capela do Espírito Santo, no centro da vila e aí repartidos também pelos pobres no que intervinham as bênçãos da igreja.

Ainda hoje se faz o bodo em igual festividade do Espírito Santo, menos aparatoso, porém, na capela de S. Tiago pertencente ao grupo de povoações denominado Mogãos e componente da freguesia.

Em 1879 a Câmara Municipal deste Concelho sendo presidente o Sr. Máximo Maria Serrão, oriundo duma das principais famílias da vila, em extremo dedicado ao desemprenho das funções públicas, sob sua direcção, dotou esta Vila com um há muito reclamado melhoramento, o qual foi a aquisição de um abundante manancial de água potável que lhe ficava a cinco quilómetros de distância, no sítio do Valongo e geralmente conhecido pelo nome de Fonte frei Álvaro, canalisado quasi até à vila na intenção de se vir introduzir nela, por meio de manilhas de ferro soterradas, a expensas do município, contraindo para este fim um empréstimo com o Crédito Predial de 2.700$00, a 2 de Abril de 1878.

Teve a Câmara a ideia, e para complemento dela chegou a levar aos poderes públicos uma representação, pedindo autorização para desviar uma parte da receita destinada à viação municipal, aplicando-a à conclusão de tão vital quanto interessante obra até hoje (1882) porém cousa alguma pôde conseguir.

Há nesta Vila as capelas do Espírito Santo, de Nossa Senhora do Carmo, já indicadas a da Santa Catarina, de Santa Ana e S. Sebastião e nos subúrbios as de S. Francisco e S. Domingos e Santa Maria Madalena, mas das duas últimas apenas existem as paredes, da primeira nem vestígios, e bem assim, da de S. Sebastião, que tradicionalmente se diz ser a primordial Matriz.

Em seu termo todas as aldeias da freguesia têm a sua capela tendo a dos Valhascos duas, a primeira e principal Nossa Senhora da Graça, onde além de outras se celebra a 8 de Setembro a festa da padroeira e a de S. Bartolomeu, a aldeia da Cabeça da Mós, a sua sob a invocação do Senhor Jesus da Boa Morte, a de Entrevinhas tendo por patrono Santo António e entre estas duas aldeias a capela da Nossa Senhora da Lapa, junto à Quinta da Arcez, que foi do Exmo. Senhor 1.º Arcebispo da Baía, e hoje dos herdeiros de Vicente José da MAata, de Vila de Rei, por compra que este dela havia feito.

Em a aldeia dos Andreus, uma com a invocação de S. Guilherme, as festas porém principais são nesta aldeia a de Nossa Senhora da Conceição na 1.ª oitava da Páscoa e a de Nossa Senhora da Saúde no dia de S. João, que fora da aldeia tinha capela própria, mas tão deterioridade que a sua imagem foi trazida para a da aldeia e está em altar privativo.

Na aldeia de S. Simão também há capela com a invocação do seu nome onde ainda se vê uma pia batismal, ignorando ao certo por que motivo ali se encontra, e teve aquém da ribeira a de S. Miguel em completa ruína.

Nas aldeias dos Mógãos há a de S. Tiago de que já se falou.

Há neste concelho grande número de nascentes de águas minerais, as mais importantes, porém, pela sua abundância e mineralização, conforme já disse são próximas e ao fundo da Vila, das quais e doutras fontes Francisco da Fonseca Henriques, médico de Mirandela, em seu “Aquilégio” tratou com a denominação de públicas neste concelho.

A mais antiga destas nascentes, que no frontispício tem a data de 1710 em letra romana, rebenta de uma chocha granítica, um pouco abaixo da capela de S. Sebastião, na margem esquerda da ribeira, conhecida pela Fonte do Ferro, produzindo nove centímetros cúbicos de água por segundo, temperatura 60º F.

É transparente, inodora e com o sabor ordinário das águas da sua natureza, e se lhe atribuem qualidades desobstruentes e litotrípticas.

A outra nascente, mais abundante, corre cem metros abaixo desta deixando por onde passa, um sedimento avermelhado próprio, com o sabor mais pronunciado que a primeira e na mesma margem esquerda da ribeira.

Segundo a tradição apareceu pela primeira vez no dia do terramoto de 1755 em resultado de um abalo de terra que abriu um rochedo e pela fenda começou a correr. Em 1791 à custa do povo da Vila foi passada através da ribeira, convenientemente canalisada de modo a não se comunicar com as águas dela, até um chafariz a uns cem metros de distância na margem direita. Produz em cada segundo três decímetros cúbicos de água, repartidos por 3 bicas e a sua temperatura e qualidade terapêuticas são idênticas às da Fonte Férrea, e é conhecida pelo Chafariz das Três Bicas.

Cai sobre uma pequena bacia de pedra da qual passa por baixo dum pavimento quadrilongo, lajeado e engradado e vai cair da altura de 3,25m em tanque reservatório, sempre ocupado com 10,5m de comprimento e 1.4m de largura e 0.72m de altura, grande recurso para os habitantes nos usos domésticos, para os animais e fertilização das terras inferiores.

Para melhor se avaliar à primeira vista sua capacidade constante de Verão e de Inverno, basta dizer que estando aqui de passagem para o campo de manobras do regimento de cavalaria n.º 8 os cavalos, em consequência da permanente renovação de águas pelas bicas não chegavam a esgotá-lo nem a fazer sensível diminuição.

Há também nesta vila minas de chumbo e ferro, das quais se têm feito algumas explorações sem resultado, umas pelos vestígios de gemearias de antigas explorações, outras por se não haver ainda encontrado o seu verdadeiro jazigo.

Aquela que pareceu dar produto, próximo da aldeia da Cabeça das Mós, no sítio denominado Castelo, está desde há muitos anos abandonada, não se sabe bem porque motivo e passada ao domínio do Estado pela falta de renovação dos manifestos.

Os principais documentos existentes no arquivo Municipal da Câmara do Sardoal, concernentes às munificentes régias com que a Vila do Sardoal em várias épocas foi considerada, são:

  • Carta da Rainha Santa Isabel, passada em 11 de Janeiro de 1351.
  • Idem a 20 de Setembro de 1356, dada aos moradores do Sardoal para conservarem a antiga posse de ter Alcaide natural do mesmo lugar.
  • Carta de El-Rei D. Pedro I, concedendo e confirmando jurisdição aos Juízes do Sardoal, de 26 de Janeiro de 1402, referindo-se a uma outra passada em 1364.
  • Carta de desagravo judicial do mesmo Augusto Senhor de 2 de Outubro de 1403.
  • Carta de desagravo de jurisdição ainda do mesmo Senhor, de 19 de Junho de 1404.
  • Carta de Sentença dada por El-Rei D. João I em 11 de Fevereiro de 1426, em benefício dos moradores do Sardoal.
  • Ordenação do mesmo Augusto Senhor, em 6 de Março de 1426, em favor dos mesmos.
  • Carta do mesmo Augusto Senhor, de 25 de Novembro de 1436 em favor das suas jurisdições, regalias e isenções, passada o arraial de Campo Maior.
  • Carta do mesmo Augusto Senhor, de 23 de Outubro de 1431, em favor dos mesmos moradores do Sardoal.
  • Carta de mercê de El-Rei D. João II, em 30 de Março de 1441 com respeito à alçada de jurisdição pela qual se mostra datar esta de mui remota e antiga Era.
  • Carta de desagravo de El-Rei D. Afonso V, em 28 de Julho de 1447, com respeito à construção da estrada.
  • Carta autên das Cortes convocada por El-Rei D. Afonso V, providenciando o bom regímen e governo do reino.
  • Carta de confirmação dada aos moradores de Sardoal por El-Rei D. Afonso V das liberdades, privilégios e franquias concedidas por seus predecessores em 16 de Janeiro de 1471.
  • Carta de confirmação de El-Rei D. João III, do alvará passado por El-Rei D. Manuel em 5 de Novembro de 1523 relativo aos tabeliões que celebraram actos públicos.
  • Carta original de El-Rei D. João III, de 9 de Novembro de 1528, confirmando as mercês concedidas aos moradores do Sardoal, por seu avô D. João e seu pai D. Manuel, com respeito aos efeitos civis de almotaçaria.
  • Carta do mesmo soberano de 9 de Novembro de 1528, com respeito à relação da jurisdição criminal.
  • Carta original do mesmo soberano El-Rei D. João III, fazendo mercê ao lugar de Sardoal de elevar à categoria de Vila, descrevendo e demarcando seu termo. Este documento é dos mais importantes pela sua espontânea e honra dada à nova Vila. Além dos descritos há outros documentos de mercê particular e com diversas datas, um porém de interesse geral, concedendo um porto no Tejo, denominado da Junceira, aos moradores do Sardoal.

Entre os naturais da Vila do Sardoal citaremos o deputado João A. Dos Santos Silva, cuja biografia em breve aparecerá nas colunas deste dicionário e João Monteiro Pinto da Fonseca Vaz, distinto oficial da nossa Marinha de Guerra e actualmente adido militar na legação portuguesa de Londres.

Também era natural desta Vila, Frei Quintino do Sardoal, professor no Convento Cisterciense de Alcobaça, e escreveu em latim a “Vida e Martiryo de S. Tomaz Becket, arcebispo de Canterbury”, que ficou manuscrita.

Eleições autárquicas no Sardoal – em 1904 como agora

A saudosa Doutora Maria Judite Celeste Serrão de Oliveira Andrade, Directora do antigo Externato Rainha Santa Isabel, de Sardoal e minha Professora de História e de outras disciplinas durante cinco anos, quando se lhe pedia uma definição de “História”, costumava usar uma expressão engraçada e curiosa que ainda recordo passados quase quarenta anos, e que era a seguinte: “A História é uma sucessão sucessiva de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar”.

Há também quem diga que a História não se repete, o que não invalida que seja verdade que da História se podem colher lições importantes para que determinados acontecimentos não se repitam ou que, pelo menos, não se cometam os mesmos erros.

Vem isto a propósito do período pré-eleitoral que vivemos, na preparação das Eleições Autárquicas que se vão realizar no próximo dia 16 de Dezembro, mas o que vou transcrever é uma correspondência emanada do Sardoal e publicada no “JORNAL DE ABRANTES”, em 23 de Outubro de 1904, com o título “O Sardoal navega às cegas”, onde se definia um conjunto de regras que ao seu autor, que escrevia sob o pseudónimo “Um Sardoalense”, deviam definir as condições para a escolha dos homens públicos.

Para mim, noventa e sete anos depois, aquela correspondência está perfeitamente actual e deve ser objecto de reflexão por parte de todos os que se interessam pelos problemas da sua terra, nomeadamente no que respeita à escolha de individualidades para o desempenho de cargos públicos, sejam eles de natureza autárquica, associativa ou outra.

Então, escrevia assim o referido Sardoalense:

“A mais nobre regalia de um homem de bem-sustento dos povos e das nações, é a fidelidade ao dever. E quando se está revestido de autoridade, corromper ou sofismar os nossos deveres é uma profanação, é um sacrilégio. Há momentos em que o dever parece confundir-se com o interesse. Mas essa ideia é sobremaneira grosseira e não pode basear-se em actos dignos. Daqui resulta:

1.º – Devem estar à testa dos negócios públicos cidadãos de reconhecida dignidade e moralidade;
2.º – Os lugares de eleição não são hereditários, nem se conquistam por assalto;
3.º – Devem expulsar-se dos lugares públicos os enfatuados, que à força de se engrandecerem, caem no ridículo;
4.º – Aceitar a camaradagem de pedantes ou imbecis, cooperar com eles, é pertencer ao seu número;
5.º – Os favores recebidos não podem abafar a voz do dever, o grito da consciência, base do bem-estar social;
6.º – O bem de um povo não pode depender de caprichos e inconstâncias daqueles que o dirigem.

Um Sardoalense”

No primeiro domingo de Novembro de 1904 realizavam-se eleições para a Câmara e os reflexos do acto eleitoral aparecem no “JORNAL DE ABRANTES” de 13 do mesmo mês, que se refere às eleições no Sardoal, com um excelente e curioso naco de prosa, de que, por ser bastante extenso, apenas transcrevo um pequeno extracto [nota: ver este texto completo e mais informação sobre as eleições de 1904 em Sardoal com Memória]:

“Não foi só em Abrantes que a eleição tomou um carácter pessoal, tornando-se luta violenta entre os contendores. Em Sardoal aconteceu outro tanto. Aqui, porém, sem programa próprio, sem promessas de escola secundária, de luz eléctrica, de reformas de calçada que bem precisas seriam e até sem reforma do talho, que, afinal, está a pedir asseio, etc. etc. Portanto as baterias assentaram contra este cavalheiro.

Isto de dizer que venceram os progressistas, é história. Eles sabem lá o que sejam progressistas ou regeneradores! O que querem é pagar menos. Isto a maioria. A minoria, o que pretende é ver-se livre do grupo Salgado. Conjugados e aproveitadinhos estes desejos, não foi difícil a vitória, conquanto exigisse muita propaganda. (…)”

Nesse tempo pontificavam na política nacional homens como João Franco e Hintze Ribeiro e, em termos locais, Bivar Salgado, Dr. Víctor Mora, João Saldanha, Padre Silva Martins, Francisco Augusto Simões, entre outros. Para além do Partido Progressista e do Partido Regenerador, começava a ganhar força o Partido Republicano, que chegou a ganhar eleições no Sardoal, antes da implantação da República, em 1910.

Sardoal, 26 de Outubro de 2001

A poesia de Justo da Paixão sobre figuras sardoalenses

Justo Dias Rosa da Paixão nasceu no concelho de Abrantes em 1861. Destacado político republicano, foi Presidente da Câmara de Abrantes.

Justo da Paixão – fotografia do Álbum Republicano (1908)

Publicou sonetos sob o pseudónimo SADI-AZOR, nos jornais «O Povo de Abrantes», «A Foice», «O Baluarte», e «Baluarte» da cidade de Abrantes, e n’«A Nabância» de Tomar. Uma colectânea desses poemas, do período entre 8 de Agosto de 1915 e 17 de Novembro de 1929, foi publicado em 1932 no livro “Perfis: sonetos despretensiosos e humorísticos, retratando diversas pessoas de destaque do Concelho de Abrantes e doutros limítrofes” (Tipografia Couto). Desses, seleccionámos os sonetos que retratam pessoas que à época estavam mais ligadas ao Sardoal.

Ao senhor Dr. Raul Wheelhouse
Médico
Sardoal

Vou hoje d’abalada ao Sardoal,
Terra de gente amável e bemquista,
Velha ou antiga vila que s’avista
Da vetusta Tubuci medieval…

E vou lá, como é muito natural,
No modesto mister de retratista,
P’ra obter um cliché à simples vista
D’um ilustre ornamento medical…

Pois, muito habil e dextro em operar,
Tem provado saber de cirurgia,
Predicado que devo aqui frisar.

E além de tal sciência, ainda alia
O dom de defender e propalar,
A pura e liberal democracia!

Baluarte, 21-IV-1929

Ao senhor Rafael Alves Passarinho
Farmacêutico e Proprietário
Sardoal

Ainda em Sardoal deambulando,
Aproveitei o léo, a ocasião,
De retratar um outro cidadão
Que desde há tempo venho projectando.

Na farmácia ou botica acionando,
A vida gosa em f’liz disposição,
Sem recorrer ao jogo do gamão
Qu’o Tolentino em verso foi cantando.

Prégar a Democracia, é seu prazer,
E n’essa propaganda faz apêlo
À Verdade, à Razão, ao seu saber.

Demonstrando, portanto, n’um tal zelo
Ser firme, democrático, a valer,
Desde os pés à raiz do seu cabelo!

Baluarte, 28-IV-1929

Ao senhor Dr. David Serras Pereira
Advogado

Eis um doutor em leis d’aspectos vários;
Ora ameno ao falar c’os seus clientes,
Ora brusco a meter unhas e dentes
Nas contas dos seus pingues honorários.

Comtudo os consulentes tributários,
Reconhecem de resto convincentes,
Que na Arte e serviços concernentes,
S’estabelecem os preços arbitrários.

Além que, nas funções ou exercício
Da palavra e na sua escrivaninha,
Ele atesta finura e artifício…

Eu não faço alusão, algo escarninha,
Porqu’enfim, cada qual no seu ofício
Chega a brasa ou tição à su’sardinha!

Baluarte, 23-VI-1929


Ao senhor Abílio Napier (Rei Pan)
Poeta e Publicista
Lisboa/Sardoal

Eis-me ainda outra vez no Sardoal,
Onde vim p’ra saudar, com certo afan
Um vate distintíssimo: o Rei Pan,
A quem me liga um elo fraternal;

Porqu’às Musas afecto, é natural,
Irmãos sermos na Rima folgazã,
Na Bucólica ou Lírica aldeã,
Ou no Épico verso e Madrigal.

Mas, não é de ninguém irmão em Cristo,
Pois qu’adorando a Luz co’a alma acesa,
Condena a Treva, o Vago, o Imprevisto…

Um só culto professa, com firmeza,
Ao qual a Consciência imprime o visto
O Livre-Pensamento… a Natureza!

Baluarte, 29-IX-1929

Nota biográfica da Dr.ª M.ª Judite Serrão Andrade

De seu nome completo, Maria Judite Celeste Serrão de Oliveira Andrade, nasceu na Vila, Freguesia e Concelho de Sardoal, em 16 de Junho de 1920. Faleceu na Nazaré, onde habitualmente gozava férias, em 16 de Agosto de 1994.

Licenciou-se na Universidade de Coimbra, em Ciências Históricas e Filosóficas, em 1947.

Fundou o Externato Rainha Santa Isabel, em Sardoal, em 1949.

Foi autorizada para o exercício de Directora e Professora pelo diploma n.º 16 278 – Livro n.º 32, datado de 8 de Setembro de 1952, emitido pela Inspecção Superior do Ensino Particular, exercendo a sua actividade de serviço docente desde 1 de Outubro de 1952.

Em 1953 construiu o edifício do Externato Rainha Santa Isabel, ainda hoje um edifício emblemático da Vila de Sardoal, que actualmente é propriedade da Câmara Municipal de Sardoal, onde funciona a Biblioteca Municipal Calouste Gulbenkian de Sardoal e onde se encontram, também, instalados os serviços administrativos e a Escola de Música da Filarmónica União Sardoalense e, em espaço anexo, a sede do Grupo Desportivo e Recreativo de Sardoal “Os Lagartos”.

Até ao final do ano lectivo 1979/80 foi Directora do Externato Rainha Santa Isabel, passando, depois, a leccionar as cadeiras de Português e História, na Escola C+S de Sardoal, até atingir a situação de reforma.

Até à entrada em funcionamento do Externato Rainha Santa Isabel, as oportunidades de frequência do Ensino Secundário no concelho de Sardoal eram praticamente inexistentes. Os poucos jovens que o frequentaram, na maior parte do sexo masculino, fizeram-no através dos Seminários Diocesanos e alguns, muito poucos, nos Liceus nacionais, nomeadamente no de Santarém e na Escola Industrial e Comercial de Abrantes.

Com o Externo em funcionamento, o panorama estudantil no concelho de Sardoal modificou-se radicalmente, não havendo conhecimento de um só pretendente que quisesse estudar, rico ou pobre, que o Externato não recebesse, sendo, também, frequente receber alunos de concelhos vizinhos (Abrantes, Mação e Vila de Rei).

Sem qualquer subsídio oficial até 1974/75, aquele estabelecimento de ensino recebia quem podia e quem não podia pagar. Inclusivamente, fornecia, emprestava ou comparticipava na compra de livros e de outro material didático para os mais desfavorecidos. Em alguns casos, a somar às condições antecedentes, fornecia alimentação, sem outra compensação do que a de aproveitar valores que, sem esta atitude, se perderiam.

Em 1973, entendido pelo Ministério da Educação Nacional que lhe era conveniente ocupar aquele estabelecimento de ensino particular para ali ser ministrado, em regime oficial, o Ciclo Preparatório, foi pressionada a ceder ao Estado o seu Externato. Já a funcionar no ano lectivo decorrente, procurou as instalações provisórias possíveis (rés-do-chão da antiga Casa do Povo) dando, de imediato, início à construção de novas instalações, mesmo apenas para os antigos 3.º, 4.º e 5.º anos do Curso Geral do Liceus, em que passaram a funcionar até ao seu encerramento em 1980.

No ano lectivo 1980/81, passou a funcionar naquelas instalações a Escola C+S de Sardoal, então criada, até à conclusão da nova Escola C+S de Sardoal.

Por proposta da Câmara Municipal, em reunião ordinária da Assembleia Municipal de Sardoal, realizada em 26 de Abril de 1991, foi deliberado atribuir à Dra. Maria Judite Celeste Serrão de Oliveira Andrade, a Medalha de Mérito Municipal em Prata Dourada, o mais alto galardão municipal atribuído a pessoas singulares, que lhe foi entregue em cerimónia pública efectuada no Salão Nobre dos Paços do Concelho a 18 de Maio de 1991.

Em reunião ordinária da Câmara Municipal de Sardoal realizada em 24 de Abril de 2001, foi aprovada, por unanimidade, uma proposta apresentada pelo Presidente da Câmara Municipal, com o seguinte teor.

  • “Considerando a importância que teve para a formação e desenvolvimento do Concelho de Sardoal e de toda a região, o trabalho desenvolvido pela Senhora Dra. Maria Judite Celeste Serrão de Oliveira Andrade, com a criação e acompanhamento do Externato Rainha Santa Isabel, de que sempre foi Directora;
  • Considerando que toda a sua vida, inteiramente dedicada ao Ensino, se pautou pela expressão do seu profundo amor à sua Terra, com evidentes benefícios para todo o Concelho e, muito em especial, para a população jovem para quem foi criado o Externato;
  • Considerando que a nossa Escola E.B. 2, 3/S, continua sem designação própria;
  • PROPONHO, com a convicção de exprimir o sentimento da grande maioria da população do Concelho, que se envidem esforços junto do Ministério da Educação para que à Escola E.B. 2,3/S de Sardoal seja dada a designação de ESCOLA MARIA JUDITE CELESTE SERRÃO DE OLIVEIRA ANDRADE.”

Decorrida a tramitação legal foi aprovada esta proposta de designação, sendo acordado também com familiares da saudosa Dra. M,ª Judite, que a designação fosse abreviada para “Escola M.ª Judite Serrão Andrade”.

Sardoal, 20 de Fevereiro de 2002