Rascunho para uma marcha

Não há festa com procissão
Onde a FUS não vá tocar
Aumentando a devoção
Com que o povo vai lá rezar

A vila do Sardoal, na sua Igreja Matriz
Tem dois santos padroeiros
Que fazem o seu orago
E segundo o povo diz
S. Mateus foi o primeiro
E só depois S. Tiago

O mártir S. Sebastião
Passa o ano infeliz
À espera da procissão
Em que o levam à Matriz
No Adro faz-se o leilão
Das fogaças e andores
Bolos, enchidos e pão
E às vezes outros sabores

A seguir a Vera Cruz
Para cumprir as tradições
Faz os Passos de Jesus
Parando para os sermões
No do encontro, na Praça
Jesus Cristo encontra a Mãe
Que chorando a sua desgraça
Segue com Ele também
Até ao alto do Calvário
Onde no fim do sermão
Abrem as portas do armário
Onde Cristo crucificado
Passa o ano inteiro fechado

Vem depois a Semana Santa
Com a Procissão dos Fogaréus
Onde a emoção é tanta
Que por vontade de Deus
E do Senhor da Misericórdia
Na noite escura como breu
Reina a paz e a concórdia

No enterro do Senhor
Onde impera o sentimento
A Virgem, no seu andor
Com profundo sofrimento
Segue o seu filho a chorar
Sentindo o pressentimento
De que vai ressuscitar

No domingo da Ressurreição
Caem colchas das janelas
Voam flores para o chão
E os anjos são as estrelas

O Senhor da Boa Morte
Fica no alto do Monte
Dá costas ao vento norte
Com o sul por horizonte
Bom Jesus rogai por nós
Para termos saúde e paz
É na Cabeça das Mós
Que a sua festa se faz
Quando chega a Pascoela
Uma festa muito bela

No Bodo do Espírito Santo
(inacabado)

Fevereiro de 2015

Transcrição das “Memórias Restauradas do Antigo Lugar e Vila de Sardoal”

Com a devida vénia e por nunca ter sido publicado, apresentamos uma transcrição quase integral e em português actual das “Memórias Restauradas do Antigo Lugar e Vila do Sardoal”, escritas entre 1753 e 1775 pelo ilustre Sardoalense Jacinto Serrão da Mota:

Trata-se do trabalho mais importante e rigoroso que já vimos sobre a história do Sardoal antigo, escrito numa linguagem clara, mas ao mesmo tempo erudita, com alguns apontamentos que denotam uma sólida preparação literária e histórica. Conserva-se na forma de manuscrito no Arquivo Municipal.

Jacinto Serrão da Mota aparece indicado na “Biblioteca Lusitana” como Jacinto da Mota Serram. Nasceu no Sardoal a 28 de Março de 1705, onde faleceu em 1778. Militou alguns anos num Regimento de Cavalaria. No Sardoal, exerceu alguns cargos públicos entre os quais o de juiz ordinário. Foi avô de Máximo Maria Serrão, que foi Presidente da Câmara Municipal de Sardoal por diversas vezes entre 1860 e 1881. Era a sua morada nas casas contíguas à Capela de Santa Catarina, na actual Rua 5 de Outubro, antes Rua do Vale.

Também escreveu:

  • “Poesias sérias e jocosas”, que intitulou Delicta juventutis mea” – manuscrito;
  • “Destroços: Descrição poética de horrível tempestade, que em 15 de Outubro de 1773 experimentou o Reino de Portugal”;
  • “Filosofia Política, Moral e Economia”, explicada por Dietas e deduzida por Máximas, reduzidas a três formas: do respeito, do interesse e da hipocrisia. – É em prosa.

O custo de vida em 1939

Chegou-me recentemente às mãos uma agenda “GABINETE” do ano de 1939, que foi pertença do Dr. Anacleto Fernandes Agudo, onde o mesmo registou as “Despesas feitas na casa do Sardoal no ano de 1939 – Contas pagas”, a qual contém um conjunto de informações que podem ajudar a fazer uma análise comparativa sobre o custo de vida desse tempo.

O Dr. Anacleto Fernandes Agudo era natural do Mógão Fundeiro, na altura freguesia de Sardoal e hoje freguesia de Santiago de Montalegre, onde nasceu em 4 de Junho de 1877, tendo falecido em Lisboa em 15 de Dezembro de 1949. Era formado em Teologia pelo Seminário de Portalegre e tinha o Curso Superior de Letras, da Universidade de Lisboa. Foi professor de vários estabelecimentos de ensino particular, entre os quais a Escola Académica. A partir de 1917 exerceu o magistério como Director do Colégio Calipolense em Lisboa e foi vogal do Conselho Superior de Instrução Pública.

Publicou:

  • Noções de Estilística
  • Noções de História da Literatura Portuguesa (1925)
  • Apoteose a um Romancista – Eça de Queirós
  • Teófilo de Braga e a Alma Portuguesa
  • Esboço Histórico de Pombal
  • Um Crime Desvendado – romance
  • Portugal e a Crítica
  • Migalhas Históricas (1934) – Mensário histórico literário crítico e artístico – com a colaboração do Professor Doutor Agostinho Fontes (saíram 4 números)

Em 1939 era o proprietário do corpo central da “Casa Grande”, do Sarabando e outras importantes propriedades agrícolas da zona do Sardoal.

Pela sua curiosidade e interesse histórico, começo por transcrever uma nota que o Dr. Agudo deixou registada na página correspondente ao dia 3 de Setembro de 1939 – Domingo:

“A Inglaterra e a França, em virtude de a Alemanha ter invadido a Polónia, cuja independência tinha sido garantida por aquelas duas potências, declararam hoje, às 11 horas, guerra à Alemanha, ou antes, a Inglaterra declarou guerra às 11 horas e a França às 17 horas.”

Dos registos das despesas efectuadas ao longo do ano, colhem-se algumas conclusões interessantes:

Um mestre de pedreiro ganhava 11$00/dia, um oficial de pedreiro 9$00/dia, um trabalhador rural 7$00/dia, uma mulher ou um servente 3$50/dia. Um dia de carreiro custava 35$00. O ordenado do criado era de 100$00/mês e em Julho passou a 120$00/mês. O ordenado da cozinheira era de 100$00/mês e as criadas da casa ganhavam 85$00/mês.

No dia 29 de Janeiro há um curioso registo onde refere ter pago a José Pedro, por ter roçado 1055 paveias de mato, 80$50. No mesmo registo consta estarem roçadas e pagas 2285 paveias de mato, no Tojal.

Através de diversos registos pode concluir-se o preço de alguns géneros alimentícios. Por exemplo:

  • 1 sardinha: $10
  • 1 kg de lombo de porco: 8$00
  • 1 kg de fígado de porco: 5$00
  • 1 kg de pão: 1$90
  • 1 kg de carne de carneiro: 5$00
  • 1 morcela: $50
  • 1 pão de milho: 1$40
  • 1 litro de azeite: 6$00
  • 1 litro de feijão catarino: 1$50
  • 1 litro de vinho: $70 / em Julho passou a $90
  • 1 litro de aguardente: 3$00/ em Outubro passou a 3$60
  • 1 alqueire de milho: 10$00
  • 1 cento de couves para plantar: 5$00
  • 1 dúzia de ovos: 3$50
  • 1 cento de laranjas: 5$00
  • 1 cento de maçãs: 4$50

Outros Materiais e Serviços:

  • 1 carta até 20 gr. pagava de selo $40
  • Voltar um fato custou 55$00
  • 1 feixe de fetos : 2$00
  • 1 saco de superfosfato de cal a 16% (50 kg): 38$00
  • 1 saco de sulfato de amónio 20,6% (50 kg): 50$25
  • 1 cesto de estrume: $50
  • 1 carrada de pedra (carroça): 7$00
  • 1 carrada de saibro (carroça): 2$00
  • 1 saca de cabecinha: 58$00
  • 1 tijolo de 2 furos: $10
  • 1 saca de farelos: 22$00
  • 1 saco de cimento:15$00
  • 1 kg de cal: $50
  • 1 dúzia de ripas: 3$50
  • 1 kg de pregos: 3$20
  • O feitio de umas calças: 15$00
  • A limpeza de um fato: 6$50

Em 29 de Outubro de 1939, o Sr. Dr. Agudo registava a despesa da apanha da azeitona desse ano:

Homens407$50
Seguro destes homens11$90
Mulheres207$00
Seguro destas mulheres6$00
Total632$40

Em nota de rodapé o Dr. Agudo refere o seguinte:

“Tivemos 410 alqueires de azeitona que fundiu a 14 decilitros cada alqueire, com a graduação de 5 décimos.”

À margem dos registos do dia 7 de Fevereiro de 1939, consta o seguinte:

“Terminou hoje a sementeira do grão e batata em S. Francisco. Despesa feita com esta sementeira:

42 homens para cavar, covear e semear294$00
7 carradas de estrume144$00
1 dia e meio do carreiro52$50
Adubos205$90
Custo da batata200$00
Total896$50

Semearam-se 100 quilos de batata, 40 litros de grão e 5 litros de milho.”

Através da estiva camarária para 1938, fixada em reunião ordinária da Câmara Municipal de 10 de Março de 1938, pode obter-se uma visão ainda mais completa sobre o preço dos géneros de produção agrícola.

A fixação da estiva camarária foi, durante muitos anos e até meados dos anos 70 do século XX, uma competência das Câmaras Municipais. Consistia na fixação dos preços dos produtos originários da actividade agrícola, que tinha uma função reguladora do mercado e, ao mesmo tempo, servia de base para a determinação do Imposto Sobre a Indústria Agrícola.

Estiva camarária para o ano de 1938

GénerosUnidadePreçosGénerosUnidadePreços
Aguardentedecalitro40$00Lenha de pinhocarrada1$60
Ameixakg$30Linhokg7$00
Amêndoakg1$00Marrã de anocada70$00
Aveiadecalitro5$00Meldecalitro60$00
Azeitedecalitro52$00Milho amarelodecalitro8$00
Azeitonadecalitro5$00Milho brancodecalitro8$00
Batatakg$60Nozeskg2$00
Cabra de anocada30$00Ovelha de anocada40$00
Capãocada8$00Ovosdúzia3$50
Castanhakg1$00Palha de cevadaarroba2$00
Centeiodecalitro10$00Palha de cevadacarrada80$00
Cevadadecalitro7$00Palha de aveiaarroba2$00
Chibo de mamacada8$00Palha de aveiacarrada80$00
Chibo de 6 mesescada18$00Palha de milhofeixe3$00
Cortiçaarroba15$00Palha de trigoarroba2$50
Ervilhadecalitro10$00Passa de figokg$40
Favadecalitro8$00Passa de figoarroba10$00
Feijão amarelodecalitro14$00Patoscasal12$00
Feijão brancodecalitro13$00Peruscada50$00
Feijão Fradedecalitro8$00Pomboscasal7$00
Feijão catarinodecalitro15$00Porco (carne)arroba75$00
Feijão vermelhodecalitro15$00Porco para criarcada40$00
Frangoscada4$00Tremoçosdecalitro4$00
Galinhascada8$00Trigo galegodecalitro10$00
Galoscada8$00Trigo tremezdecalitro10$00
Grão de bicodecalitro14$50Vinagredecalitro15$00
arroba100$00Vinho brancodecalitro14$00
Lenha de pinheirometro1$60Vinho tintodecalitro14$00

Sardoal, 2003

Passeio Mistério – Festa da Flor 1995

Um “Passeio Mistério” não é, nem nunca pretendeu ser, uma competição. Tem um tempo limite, duas horas, por questões de organização. Tem prémios para valorizar a participação e a atenção que é preciso ter. E hoje, sendo o tema as flores e as plantas, pretendemos, apenas, que descubram alguns pormenores que não estão escondidos, mas que, às vezes, exigem um olhar diferente, com mais cuidado. Cada questão colocada é pontuada, sendo a resposta correcta com 10 pontos. Cada minuto de atraso, para além das duas horas, terá uma penalização de 5 pontos. De resto têm toda a liberdade de consulta: livros, pessoas, os elementos que entenderem por mais convenientes. O nosso objectivo é que descubram coisas novas na nossa terra, para a conhecer melhor. Porque, estamos certos, conhecendo-a melhor, gostarão mais dela. Só se ama verdadeiramente quando se conhece bem o objecto do nosso amor. E as flores mais bonitas do Sardoal são as pessoas, apesar de haver muitas flores de cores e perfumes diversificados. Também muito bonitas. Vamos descobri-las!

Estamos na Praça Nova, havendo, também, quem lhe chame Praça das Tílias. Estas são fáceis de contar, por isso diga-nos quantas são: ________

Nos muros que a envolvem existem azulejos que representam figuras típicas do Ribatejo. Quantas figuras diferentes estão representadas? ________

Como se chama a Rua que contorna a Praça? ________

Na entrada dessa Rua, pelo lado da Tapada do Américo, encontram-se duas placas toponímicas, uma em cada lado da rua. Quais são? ________

Volte para trás e diga-nos: quantos anos tem a Taberna do Rei? ________

Há alguns meses faleceu um comerciante que esteve estabelecido nesta Rua durante dezenas de anos. Chamava-se Joaquim Dias Serras, mas era popularmente conhecido por outro nome. Qual? ________

Do lado contrário da rua encontra-se uma taberna, onde pontifica um dos últimos taberneiros do Sardoal. “Jarego” e “Mula Branca”, são apelidos pelo qual é conhecido o seu proprietário. Qual é o seu verdadeiro nome? ________

No mesmo lado da rua, antes da caixa do correio, uma placa esmaltada anuncia a venda de estampilhas e mais fórmulas de franquia postal. Durante muitas dezenas de anos funcionou nesse prédio um estabelecimento comercial, cujo proprietário foi o pai do Presidente da Câmara que sucedeu ao Sr. Lúcio Serras Pereira. Procure saber junto de pessoas mais velhas quem era o proprietário desse estabelecimento: ________.

Do lado contrário da Rua encontrará novamente a placa toponímica desta rua. Qual era a profissão do ilustre sardoalense que lhe dá o nome? ________

Junto à Fonte da Preta, compare o brasão do Sardoal que ali existe com o actual e diga-nos qual é o elemento diferente que o mesmo contém em relação ao actual? ________

Esta fonte, que no ano passado comemorou o seu 1º centenário, tem no Sardoal uma outra que lhe é contemporânea. Qual? ________

Dirija-se, agora, para a Praça da República. Ainda na Rua Bivar Salgado vai encontrar, desenhadas na calçada, as oito primeiras letras do alfabeto. Procure saber qual era a função dessas marcas. Tinha a ver com feiras e mercados. Qual era? ________

Os mastros da Câmara Municipal não têm bandeiras hasteadas. Mas imagine que estavam e diga-nos quantas estrelas deveria conter a bandeira azul da UE? ________

Seguindo a Rua que tem o nome do autor que se pretende recordar e homenagear com o painel que se encontra na parede da Igreja do Espírito Santo, suba a Travessa do Senhor dos Aflitos. Entretanto conte quantas hortênsias encontra até ao Senhor dos Aflitos. Quantas são? ________ E sardinheiras (malvas)? ________

Quantos rostos conta no Senhor dos Aflitos? ________

Vá subindo a Rua Mestre do Sardoal. Logo depois de encontrar um painel cerâmico com a imagem de S. Pedro, volte as costas à Rua Dr. Giraldo Costa e diga-nos qual a invocação da Capela que daí consegue ver parcialmente: ________

Dirija-se, agora, ao Adro da Igreja Matriz. Como já está cansado(a), sente-se no centro do último degrau da porta principal da Matriz. Quantos candeeiros verdes consegue contar no Adro, à esquerda do plátano? ________

Do mesmo local e olhando na direcção da casa da Quinta do Coro, encontra-se um elemento arquitectónico estranho à nossa região. Qual é? ________

Por essa porta já entraram e saíram muitas noivas. Tradicionalmente o ramo que transportavam era constituído por flores de citrinos. Deste local quantas árvores consegue ver que possam dar essas flores? ________

Próxima da Igreja Matriz fica a Casa do Adro. Procure a placa que a identifica e diga-nos de que cor são as letras. ________

Desça as escadas. Do seu lado esquerdo encontra um muro com muitas flores e plantas ornamentais. Diga-nos como se chama a planta que dá as flores da cor do manto do Senhor dos Passos. ________. Seguindo em direcção ao Largo da Escola, mas ainda com o portão que tem inseridas as letras MS nas suas costas, avistará à sua esquerda um outro painel cerâmico. Qual é a sua invocação? ________

Descendo para o Largo da Escola, contornando o muro dos jardins da Casa do Adro, encontra-se, logo a seguir à árvore de maior porte, uma pequena construção que tem inscrita a data de 1954. Falta-lhe um elemento essencial para que possa cumprir as funções para que foi ali colocada. Qual é? ________

Hoje não falaremos da Escola que aqui funcionou até 1935 (+/-). Nem da Casa do Ensaio. Nem da Filarmónica União Sardoalense. Nem de outros valores simbólicos que este largo pode encerrar. Vamos descer em direcção à Igreja da Misericórdia, mas antes vamos olhar com atenção o pequeno jardim do Sr. Fernando Rosa, muitas vezes premiado noutros Concursos da Festa da Flor. São muitas e bonitas as flores e plantas que contém. Mas uma planta, pelas suas características exóticas, chama a atenção. Qual lhe parece que seja (basta indicar a sua designação popular)? ________. Logo abaixo, a porta lateral da Igreja da Misericórdia, num estilo que podemos chamar “Manuelino”, chama a nossa atenção, até por alguns sinais de degradação que já ostenta. Quantos lóbulos acirelados apresenta intactos? ________

Apesar da placa que nos indica a Cadeia Velha, vamos seguir em sentido contrário, pela Rua da Amargura. Antes, porém, o Portal da Misericórdia, cuja autoria é atribuída ao Mestre Nicolau de Chanterenne, merece um olhar atento. A conservação do Património Cultural deve merecer a nossa atenção constante e este portal, pela sua qualidade, exige intervenção urgente. Fica a chamada de atenção. Por sobre o arco, amparado por dois anjos, encontra-se o painel da Misericórdia. Quantas figuras o compõem? ________

Vamos seguir a Rua da Amargura, apenas para comprovar, mais uma vez, o carinho que as flores continuam a merecer a muitos sardoalenses. Dali ao Bugalhinho é um passo. E as flores continuam numa girândola de cor e beleza. O vosso destino imediato é o largo que tem o nome da árvore cujas folhas alimentam os bichos-da-seda, em busca da memória de um ferreiro. Como se chamava? ________

Na varanda alguns vasos estão seguros com cimento. Quantos? ________ O nº 13, para quem seja supersticioso, pode impressionar. Aqui é apenas um número de polícia. Era ali a forja. Quantos alcatruzes de nora se encontram pendurados? ________

Sigam pela Rua da Amoreira. Quando encontrarem uma videira com um tronco muito comprido, para que não possam facilmente colher-lhe as uvas, reparem que as suas parras protegem um vaso de cravos. De que cor? ________

Antes de encontrar a hortênsia que pende do muro, como que a proteger uma malva, virem à esquerda e antes de encontrarem a Sagrada Família (outra vez o nº 13!), procurem uma quadra de natureza popular. Transcrevam-na: ________

Logo a seguir, na rua, encontram uma árvore de fruto. Qual? ________

No Quintal do Sr. António Martins, depois do nº 11, quantas oliveiras existem? ________

Sigam como quem vai para o Chafariz Três Bicas. Quando encontrarem dois painéis cerâmicos de inspiração religiosa voltem para trás. No entanto digam-nos quais são as invocações desses painéis? ________

Retomem a Rua do Paço. No recanto onde fica a casa do Sr. Manuel Agudo, procurem o nº 4 que ali se evidencia. Qual é a designação popular da primeira flor que está plantada no alegrete, mais próxima desse nº 4? ________

Sigam pela Praça da Palha, olhando com atenção o alegrete do lado esquerdo. Quantos pessegueiros se encontram aí plantados? ________ E videiras? ________ (Devem seguir o alegrete até ao fim). Depois vamos até ao Paço. Apenas até ao portão. Sem contar o n.º 11, quantas letras e números consegue contar no portão? ________

(Cuidado que existem letras e números muito pequenos que as mãos quase tocam, quando se abre e fecha o portão…). Continuem o percurso seguindo pela travessa que fica à direita de quem toca a campainha. Um pouco adiante, do lado direito, hão-de encontrar uma pintura azul que faz lembrar um moinho de papel. Quantos anos tem essa pintura? ________ Continuem pela travessa até encontrarem de novo a Rua do Paço, seguindo então para a esquerda, para entrar na Rua Velha. Deixando a Rua Velha, sigam pela Travessa da Amoreira. Contem nessa travessa as argolas que serviam para prender os burros, mulas e outras bestas de carga. Quantas são? ________

Antes de chegar à Rua da Amoreira, quase escondida pelas rosas, encontra-se outra árvore de fruto. Se já desse frutos, frutificava nesta altura. A que árvore nos referimos? ________

Estamos no coração da Vila Jardim, numa das suas ruas mais bonitas. Olhando para outro painel cerâmico que invoca S. João, sigam para a esquerda. Daí até à Rua Velha, depois das flores, vão encontrar duas inscrições publicitárias iguais. Transcrevam-nas: ________

Logo a seguir, já na Rua do Poço dos Açougues, encontrarão uma casa forrada a azulejos. Gostos, que não se podem discutir. De que século são esses azulejos? ________

Continuando pela Rua do Poço dos Açougues, voltamos a encontrar argolas para prender animais de carga. Quantas se encontram até à Rua do Paço? ________

Estão de novo na Rua do Paço. Desta rua, olhando para a Rua da Espinhaça, com os pés assentes na tampa de esgoto que está no meio da rua, quantas chaminés conseguem contar? ________

Continuem como quem vai para o Sarabando. Na casa do Sr. António Madeira Rosa é visível uma marca na parede que evidencia a falta de uma placa toponímica. Se essa placa lá estivesse, o que teria escrito? ________

No cruzamento sigam pela rua mais íngreme, até encontrarem o Poço da Ratinha. Procurem a data de 1858 e, com ela pelas costas, indiquem quantas videiras avistam desse local? ________. Continuem a subir a Rua do Poço da Ratinha.

Perto do nº 7, encontrarão um poema inscrito num azulejo. Transcrevam-no: ________

Sigam agora pela Rua António Duarte Pires, até encontrarem a entrada da Rua da Espinhaça/Travessa da Cocheira. A partir daí e até à Igreja do Espírito Santo, quantos lagartos conseguem encontrar, sem contar os que se encontram nas placas toponímicas? ________

Seguindo pela Avenida Luís de Camões e entre esta e a Rua 5 de Outubro, encontra-se uma capela. Qual é a sua padroeira? ________

Sigam pela Rua 5 de Outubro, contem quantas árvores se encontram até à Capela de Santa Catarina? ________ E quantos toldos? ________. Como sabem, as árvores costumam merecer uma atenção especial da parte dos “fiéis amigos” que são os cães. Para justificar a existência de tanta árvore talvez valha a pena procurar os cães. Para isso entrem no “CAFÉ DIAS” e contem quantas imagens de cães, estilizadas ou não, aí se podem encontrar: ________

E porque pelo caminho encontraram alguns exemplares notáveis de videiras, cujo fruto permite a produção de vinho, ainda no Café procurem uma frase alusiva ao vinho, inscrita numa peça de olaria que, pelo seu estilo, deve ter sido fabricada em S. Pedro de Corval, entre Reguengos e Monsaraz. Transcrevam-na: ________

Decerto já se encontram cansados. Também já falta pouco para o final do Passeio.

Apenas mais um esforço. O que vos pedimos é que vão ao Largo do Convento de Santa Maria da Caridade. Aí chegados procurem saber qual a data da inauguração oficial do Lar/Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia? ________

E por quem foi inaugurado? ________

Como ainda não foi há muito tempo e podem conhecer as respostas de memória e porque nós queremos ter a certeza que lá foram, no final da prova terão que nos entregar uma folha (uma só!) que possa servir de alimento aos bichos-da-seda. (A não entrega desta folha implica uma penalização de 50 pontos). ________

Podem regressar à Praça Nova. O caminho de regresso fica ao vosso critério. Quando lá chegarem apenas terão que responder a mais uma questão, que é a de saber quantos candeeiros completos se encontram colocados à volta da Praça Nova.

E pronto! Terminou mais um “Passeio Mistério”, que se calhar teve muito pouco de misterioso. Lá para a tarde, depois das 17 horas saberão os resultados.

Obrigado pela participação!

27 de Maio de 1995

Bombeiros Municipais de Sardoal

O estandarte dos Bombeiros Municipais de Sardoal (BMS), tem inscrita a data de 1 de Outubro de 1953, que tem sido adoptada como a data da fundação deste Corpo de Bombeiros.

Após apuradas pesquisas no Arquivo Municipal de Sardoal, nomeadamente nos livros de actas da Câmara Municipal dos anos 40/50 do século passado, o registo mais antigo que foi possível localizar em que se referem os Bombeiros Municipais de Sardoal consta de uma acta da reunião ordinária da Câmara Municipal realizada em 1 de Outubro de 1953, sendo o seu teor o seguinte:

“Voto de Louvor: Tendo o Senhor Presidente informado que a Excelentíssima Senhora Dona Laura da Silva Rosa tinha resolvido ceder gratuitamente e sem qualquer encargo para quartel dos Bombeiros Municipais do concelho, o prédio de que aquela Senhora é usufrutuária e sito na Rua Avelar Machado, desta Vila, a Câmara deliberou que se expresse o seu melhor agradecimento àquela Senhora e se exare um voto de louvor pelo seu gesto cheio de significado e que contribui para a realização de um grande benefício para o Concelho.”

Nesta altura era Presidente da Câmara o Senhor Lúcio Serras Pereira e Vereadores o Reverendo Padre Eduardo Dias Afonso e o Senhor António Miguel.

Na acta da reunião ordinária da C.M. Sardoal, realizada em 1 de Junho de 1954, sendo Presidente o Senhor Lúcio Serras Pereira, Vice-Presidente o Senhor Dr. José Fernandes Agudo e Vereadores o Reverendo Padre Eduardo Dias Afonso e o Senhor António Miguel, consta a seguinte deliberação:

“Requerimentos:

De Júlio Grácio dos Santos, residente nesta Vila, solicitando a sua admissão como bombeiro na corporação municipal – deferido;
De Armando Navalho, idem, idem – deferido;
De José Moleirinho, idem, idem – deferido;
De Joaquim Grácio dos Santos, idem, idem – deferido;
De João Augusto Bernardo, idem, idem – deferido;
De Manuel dos Santos, idem, idem, – deferido;
De Guilherme António, idem, idem – deferido;
De Joaquim Chambel Dionísio, idem, idem – deferido.

Na acta da reunião ordinária da C.M. de Sardoal, realizada em 16 de Agosto de 1954, consta a seguinte deliberação:

“Serviço de Incêndios: A Câmara Municipal deliberou, em face da proposta do Senhor Presidente, nomear Comandante dos Bombeiros Municipais, o Senhor Joaquim Chambel Dionísio, residente nesta Vila.”

Deverão ter ocorrido alguns problemas burocráticos ou legais com as duas últimas deliberações atrás referidas, uma vez que na acta da reunião ordinária da C.M. de Sardoal, realizada no dia 16 de Outubro de 1954, surge sem outras explicações a seguinte deliberação:

Corporação de Bombeiros: A Câmara Municipal deliberou dar como inexistente a sua deliberação tomada em reunião ordinária de um de Junho do corrente ano, na parte respeitante ao deferimento dos pedidos para admissão na corporação dos bombeiros municipais, dos indivíduos constantes da acta de tal reunião e deliberou perante os respectivos processos e nos termos do artigo 349 do Código Administrativo, nomear e admitir na Corporação dos Bombeiros Municipais desta Vila, os seguintes indivíduos:

Emídio António Aires, casado, funcionário administrativo, residente em Sardoal – Comandante;

Álvaro Andrade e Silva Passarinho, casado, farmacêutico, residente nesta Vila – Adjunto de Comando;

Joaquim Chambel Dionísio, casado, carpinteiro, residente nesta Vila – Chefe

Guilherme António, casado, serralheiro, residente nesta Vila – Bombeiro de 1ª Classe;

Armando Navalho, casado, alfaiate, residente nesta Vila – Bombeiro de 2ª Classe;

Júlio Grácio dos Santos, casado, negociante, residente nesta Vila – Bombeiro de 2ª Classe:

Joaquim Grácio dos Santos, casado, maleiro; António Grácio Salgueiro, casado, cobrador da Câmara Municipal; João Augusto Bernardo, casado, maleiro; José Chambel Dionísio, solteiro, carpinteiro; Manuel dos Santos, casado, servente; António Carvalho, solteiro, maleiro; Manuel Moleirinho, casado, pedreiro; José Moleirinho, casado, maleiro; Joaquim Grácio, casado, motorista, todos residentes nesta Vila – Bombeiros de 3ª Classe.

Depois desta data encontram-se várias referências aos BMS nas actas das reuniões da Câmara Municipal, em que se referem factos pouco relevantes para a sua história, como a construção de um reboque para transportar a moto-bomba, que foi adjudicada ao Sr. Manuel Lobato Correia (Badico), ou a necessidade de aquisição de uma viatura para transporte do pessoal e para rebocar a moto-bomba, mas não foi possível encontrar outra justificação para a data de fundação (1 de Outubro de 1953) que não seja a de ser a referência documental mais antiga que se conhece aos BMS.

Por ser muito curiosa, transcreve-se uma intervenção do Dr. Manuel Rodrigues Ribeiro, feita numa reunião ordinária do Conselho Municipal realizada em 15 de Setembro de 1961:

“Intervenção do Dr. Manuel Rodrigues Ribeiro: Referiu-se depois o Senhor Dr. Ribeiro às precárias circunstâncias de material em que vive a corporação de Bombeiros. Quem mesmo superficialmente examinar o modo como decorre essa vida, só poderá encontrar a abnegação da respectiva corporação, no que se refere ao pessoal. Quanto aos meios de que dispõem se não são nulos, são improdutivos e como inexistentes. Que se perdem o sacrifício e vitalidade dos Bombeiros da corporação, contando apenas com os machados e as mangueiras para a sua missão. A aquisição de transporte deverá ser encarada urgentemente, sob pena de se verificar, ou melhor, continuar a verificar-se a ineficácia dos esforços dos bombeiros.”

Ao longo dos seus 50 anos de vida, os BMS tiveram diversos comandantes.

1954Joaquim Chambel Dionísio – nomeado em 16/08/54 até 16/10/54;
1954 – Emídio António Aires – nomeado em 16/10/54 até 16/09/70;
1970 – Joaquim Chambel Grácio – nomeado em 16/09/70 até 02/02/77
1977 – Manuel dos Santos – nomeado em 02/02/77 até 03/05/78
1978Vítor Manuel Pereira Águas – nomeado em 03/05/70 até 20/03/79
1979Domingos Machado Rodrigues – nomeado em 20/03/79, tendo pedido a demissão em 17/10/79
1980 – Júlio Martins (comandante interino) – nomeado em 10/12/80 até 26/08/81
1981 – Vítor Lopes Pires – nomeado em 26/08/81 até 24/06/85
1985 – Joaquim António dos Santos Chambel (comandante interino) – nomeado em 24/06/85 até 24/01/86
1986 – Joaquim António dos Santos Chambel – nomeado em 24/01/86 até 94
1994 – José Rosa Reis Curado – nomeado em 94 até à actualidade

Na segunda metade do século XX ocorreu, de forma vertiginosa, uma revolução no modo de vida das populações rurais e da sociedade em geral. A evolução da actividade dos Bombeiros foi fortemente influenciada pelas mudanças que entretanto ocorreram e pelos reflexos que estas tiveram nos sistemas de Protecção Civil.

Em 1953, o concelho de Sardoal era um concelho em que predominava a actividade agrícola e florestal e em que não havia um recanto de terra arável que não estivesse cultivado ou um pedaço de floresta que não fosse tratado.

A Vila do Sardoal tinha ainda uma intensa actividade comercial e na parte industrial predominavam a fabricação de malas, a serração de madeiras e a serralharia civil.

Os incêndios florestais eram raros e de pequena dimensão, uma vez que a floresta andava permanentemente limpa, os fogos urbanos poucas vezes atingiram uma expressão significativa, a sinistralidade rodoviária era quase inexistente e o transporte de doentes era feito com o meio de transporte que estivesse à mão, porque não existia qualquer ambulância no concelho de Sardoal.

Tanto quanto se recorda o Sr. Júlio Grácio dos Santos, um dos três elementos que integraram o primeiro quadro dos BMS, que felizmente ainda se encontram entre nós (os outros dois são o Dr. Álvaro Passarinho e o Sr. António Carvalho), a fundação dos BMS ficou a dever-se a um imperativo legal que impunha a presença de bombeiros nas sessões de cinema do velho Cine-Teatro Gil Vicente. Disse, também, que o Sr. Emídio António Aires (Mora), apenas foi comandante no papel, uma vez que o comandante até 1970, na prática, foi o Sr. Joaquim Chambel Grácio. No início tiveram instrução dada por um indivíduo de Abrantes, de apelido Sobral. As aulas eram dadas no pátio do Sr. Joaquim Grácio, até ser adaptado a quartel de bombeiros, o edifício cujo usufruto tinha sido doado pela Senhora D. Laura da Silva Rosa, cuja nua propriedade ou raiz, pertencia à Santa Casa da Misericórdia de Sardoal, por doação do saudoso Senhor Pedro Barneto Nogueira.

Durante anos, quase vinte, os BMS apenas dispuseram de uma moto – bomba, de algumas mangueiras, dos machados e algum equipamento rudimentar para sapadores florestais. Sabe-se que tiveram duas viaturas com muito uso, quase sempre avariadas, que serviam para o transporte do pessoal e para rebocar a moto – bomba. O primeiro carro de combate a incêndios só foi adquirido por volta de 1970 e a primeira ambulância para os BMS só foi adquirida depois de 1977. Entre 1970 e 1977/78, apenas existia uma ambulância no concelho de Sardoal que foi oferecida pela Fundação Calouste Gulbenkian à Santa Casa da Misericórdia de Sardoal.

Sardoal, Outubro de 2003

Apontamentos sobre a história da Instrução Primária no concelho de Sardoal

Breve Enquadramento Nacional

O primeiro Regulamento Geral de Instrução Primária surgiu em 1835, na sequência do regime político instaurado após as Lutas Liberais. Em 1836, promovido pelo governo de Passos Manuel, foi aprovado o Plano de Instrução Primária com a inclusão da Gramática Portuguesa, da História, da Geografia e do ensino da Constituição, do Desenho Linear e dos Exercícios Ginásticos no currículo da Escola Elementar, para além dos tradicionais ler, escrever e contar. Neste Plano era afirmada a obrigatoriedade escolar, embora a divisão do território em círculos de instrução primária estipulasse um mínimo de 60 alunos como critério para a abertura de uma escola. Seguiu-se um período conturbado na vida política portuguesa que motivou o aparecimento de sucessivas reformas, com destaque para as seguintes:

Reforma do ensino primário de 22 de Dezembro de 1894

  • 1.º grau do Ensino Primário Elementar, obrigatório para todas as crianças dos seis aos doze anos.

Matérias a ensinar: Língua Portuguesa, Cronologia, Geografia e História Pátria, Aritmética e Geometria, Moral e Desenho Linear.

  • 2.º grau do Ensino Primário Elementar, obrigatório para a admissão ao ensino secundário.

Matéria a ensinar: entre outras: Direitos e Deveres dos Cidadãos, Noções de Economia, Contabilidade e Escrituração, Noções de Física, de Química e de História Natural aplicáveis à Agricultura, à Indústria e à Higiene, Ginástica, Música e “Natação quando seja possível”.

  • Ensino Primário Complementar.

Matérias a ensinar: as mesmas que no 2.º grau.

Reforma do ensino primário de 24 de Dezembro de 1901 (Hintze Ribeiro)

  • 1.º grau do ensino primário elementar, obrigatório (três anos).
  • 2.º grau do ensino primário elementar, obrigatório para a admissão ao ensino liceal (1 ano).

Reforma de 29 de Março de 1911 (1.ª Reforma da I República)

Características:

  • Ensino infantil facultativo
  • Ensino Primário Elementar, obrigatório dos 7 aos 9 anos (3 anos).
  • Só no final dos três anos e após um exame, poderia o aluno enveredar pelo ensino secundário ou pelo primário complementar.
  • Ensino Primário Complementar dos 10 aos 12 anos (2 anos).
  • Ensino Primário Superior: dos 12 aos 14 anos (2 anos).

Reforma do ensino primário de 1919 (Leonardo Coimbra)

Publicada em 10 de Maio de 1919 (última reforma da I República)

Características:

  • Ensino infantil facultativo dos 4 aos 7 anos (apenas intenções).
  • Ensino Primário Geral, obrigatório dos 7 aos 12 anos, cinco classes resultado da fusão do Ensino Primário Elementar e do Ensino Primário Complementar da anterior reforma. Este ciclo tinha o objectivo de “fornecer à criança instrumentos fundamentais de todo o saber e as bases de uma cultura geral, preparando-a para a vida social”.
  • Ensino Primário Superior, dos 12 aos 15 anos, formado por três classes
  • Criadas as Escolas Normais Superiores de Lisboa, Porto e Coimbra, cujo currículo abrangia dezanove áreas disciplinares. Para o acesso a estas escolas eram exigidos os oito anos de ensino primário.

Reforma do Ensino Primário de 1927 (Alfredo de Magalhães)

Publicada em 17 de Maio de 1927 sofreu vária alterações durante a primeira metade dos anos 30.

Características:

  • Redução de um ano na escolaridade obrigatória em 1927 e depois de mais outro ano em 1929.
  • Ensino infantil facultativo dos 4 aos 7 anos (apenas intenções).
  • Embora de início as quatro classes constituíssem o ensino obrigatório, em 22 de Março de 1929 o ensino primário é dividido em dois graus, o primeiro com as três primeiras classes com um exame final que conclui o ensino obrigatório nas quais se ministrava “a verdadeira base do ensino primário”, isto é, ler escrever e contar correctamente. O segundo é constituído apenas pela quarta classe também com um exame final.
  • A coexistência de meninos e meninas na mesma sala de aula do Ensino Primário Elementar em todos os centros populacionais com mais de 9500 habitantes foi abolida pelo regime que tomou posse do país em 28 de Maio de 1926, logo em 8 de Junho do mesmo ano, onze dias após o levantamento militar.
  • Criação dos postos de ensino em 30 de Novembro de 1931. Os “mestres” destes postos designavam-se “regentes escolares” e eram escolhidos pelo ministro da Instrução Pública entre pessoas a quem não se exigiria qualquer habilitação, mas apenas a comprovação de possuírem “a necessária idoneidade moral e intelectual”. Perante os abusos, por decreto de 28 de Agosto de 1935, passou a exigir-se um exame de aptidão muito simples.

Reforma do ensino primário de 1936 (Carneiro Pacheco)

Características:

  • Novo currículo para o ensino primário obrigatório publicado em 24 de Novembro de 1936 reduzido ao mínimo: “Língua Portuguesa (leitura, redacção e feitos pátrios), Aritmética e Sistema Métrico, Moral, Educação Física e Canto Coral”.
  • Em 1951 o ensino primário é composto por um Ciclo Elementar inicial de 3 anos, no fim dos quais existe um exame. Segue-se um Ciclo Complementar de dois anos.

Reforma do ensino primário de 1956 (Leite Pinto)

Características:

  • Aumento da escolaridade obrigatória para 4 anos (só para rapazes) (D.L. 40 964 de 31/12/1956). As raparigas foram incluídas em 28 de Maio de 1960 (D.L. 42 994)

Reforma do ensino primário de 9 de Julho de 1964 (Galvão Teles)

  • Aumento da escolaridade obrigatória para 6 anos.
  • O ensino primário possui dois ciclos: um ciclo elementar de 4 classes, outro ciclo complementar, a 5.ª e a 6.ª classe. Este último começa a funcionar com carácter compulsivo a partir do ano lectivo de 1964/65.
  • O ciclo complementar vai funcionar em paralelo com a Telescola e com o Ciclo Preparatório. Os alunos que frequentassem este ciclo e quisessem prosseguir estudos no ensino secundário deveriam preparar-se a Francês pelos seus próprios meios.

Reforma do ensino de 25 de Julho de 1973 (Veiga Simão)

  • O ensino básico obrigatório compreende o ensino primário e o preparatório (quatro anos cada).

Reforma do ensino primário de 1974

Pelo Decreto 24A/74, de 2 de Setembro, aproxima-se o programa do ciclo complementar do ensino primário do do ciclo preparatório.

Deste resumo das diversas reformas do ensino primário que ocorreram entre 1835 e 1974 pode concluir-se que apesar das boas intenções manifestadas em todas as reformas que ocorreram o ensino primário só se tornou, de facto, obrigatório e universal, a partir de 1956, para as crianças do sexo masculino e de 1960 para as crianças do sexo feminino.

Enquadramento Local

Freguesia de Sardoal

Em relação à Vila de Sardoal e sede do Concelho, sabe-se que antes de 1848 houve um professor do ensino primário no Sardoal, chamado José Rodrigues Baptista dos Santos. O 1.º lugar docente foi criado em 22 de Dezembro de 1866, desconhecendo-se onde funcionava a escola primária. Em 1871 o professor de ensino primário era Joaquim Augusto Faria do Carmo (natural de Carvalhal – Torres Novas). Entre 1892 e 1935 a escola primária de Sardoal funcionou junto à Igreja da Misericórdia, no edifício em que durante muitos anos esteve instalada a Casa do Ensaio da Música e onde, actualmente, funciona um centro de convívio para os idosos do Centro Histórico da Vila de Sardoal, onde se encontra afixada uma placa de mármore indicando que funcionou a escola primária da vila de Sardoal no período atrás indicado.

Em 1915 o corpo docente do ensino primário na Vila de Sardoal era constituído pelo Professor Armando Dias Correia Louro, pelo Professor Manuel Pires e pela Professora D. Clotilde da Costa Marçal.

Em 1924 era delegado escolar o Professor Manuel Pires, estando a Escola Masculina de Sardoal a cargo da Professora D. Amélia Dias Garção e a Escola Feminina de Sardoal a cargo da Professora D. Bonifácia Pereira.

Edifício Escolar Feminino – Anos 20 do séc. XX (fotografia de P. B. Nogueira)

Sabe-se que uma das escolas do Alto do Mercado, onde actualmente funciona o Jardim de Infância de Sardoal, foi construída e paga por um Sardoalense, construtor civil, que a ofereceu ao Estado, com a condição de ali ser colocada, como professora oficial, a sua filha, D. Alzira Trindade Reis, que durante muitos anos foi professora primária na Vila de Sardoal, com a Professora D. Amélia Dias Garção Pires, esposa do Professor Manuel Pires, que até meados dos anos 50 do século passado ocupou o lugar de Delegado Escolar de Sardoal.

Em 21 de Setembro de 1956 foi colocado no Sardoal o Professor Eleutério Macedo Sousa, conhecido entre os alunos como o “Barbaças”, que foi professor e Delegado Escolar de Sardoal até 21 de Outubro de 1967, altura em que foi transferido para Abrantes. Em 22 de Março de 1958 foi aqui colocada como professora a esposa do Professor Eleutério, D. Joaquina Dias Macedo Sousa, que aqui exerceu até 4 de Julho de 1970.

Um dos muitos trabalhos do Prof. Eleutério de Sousa impressos pela Gráfica Sardoalense

Até à extinção do lugar de Delegado Escolar desempenharam ainda essas funções os Professores José de Matos Afonso, Américo Corda Falcão e Fernando Bia Esperto. Ainda nos anos 60 ou logo no início dos anos 70, a esposa do Professor Afonso, D. Maria Duarte Afonso, começou também a exercer funções como professora primária na Vila de Sardoal, que continuou a exercer até à sua aposentação. Entre 1970 e 1973, a Professora D. Maria Alexandrina B. Ribeiro Godinho também exerceu no Sardoal.

Entre 1935 e 1981/82 a escola primária de Sardoal funcionou nos edifícios do Alto do Mercado, sendo depois transferida para as instalações do antigo Externato Rainha Santa Isabel, onde funcionou até 1994, ano em que foi transferida para as actuais instalações, integradas na E.B. 2, 3/S Dra. Maria Judite Serrão de Andrade.

Nota: Com a extinção da Delegação Escolar de Sardoal, o seu arquivo foi transferido para a Escola E.B. 2, 3/S Dra. Maria Judite Serrão de Andrade, de Sardoal. Julgamos que aí se possam encontrar elementos mais detalhados para fazer a história do ensino primário no concelho de Sardoal nas últimas décadas.

Na aldeia de Andreus, em 1914, 1915 e 1925 funcionava uma escola em que era professora D. Júlia Ascensão Brito. Antes dessa escola aparecem referidas duas escolas particulares, uma na última metade do século XIX, a cargo do Padre António Falcão e outra a cargo do Professor José R. Baptista, sobre as quais não dispomos de elementos precisos.

Sabe-se que nos anos 30 foi ali professora D. Judite Correia (Carpinteiro) que depois foi, durante muitos anos, professora em Valhascos. O primeiro lugar docente da Escola Primária de Andreus foi criado em Diário do Governo de 19 de Agosto de 1942. No posto escolar foi professora, de 20 de Novembro de 1942 a 30 de Junho de 1951, D. Berta Rosa dos Santos. De 8 de Março de 1960 a 19 de Maio de 1967 foi professora a D. Maria Lúcia Grácio. Depois, a docência dessa escola coube a D. Maria Jesuvina Gaspar Alves Paulino e após a sua aposentação foi ali professora D. Beatriz Falcão.

Sobre Cabeça das Mós, cuja escola e jardim de infância já não funcionaram no corrente ano lectivo, também não dispomos de muitos elementos sobre a história do ensino primário naquela localidade. O edifício escolar foi construído nos anos 40 do século passado. Foram ali professoras D. Maria Mercês Camacho aposentada em 1951, D. Maria do Carmo Costa Leitão (entre 1928 e 1970), D. Clotilde Conceição Lobato Leitão (entre 1971 e 1975), D. Teresinha Bia Esperto e o Professor Américo Corda Falcão, entre outros. Em Cabeça das Mós funcionou um posto escolar de que foi regente, entre 1955 e 1977, a Sra. D. Irene Costa Leitão.

Em Entrevinhas, por volta de 1940 funcionou um posto escolar que teve como regente o Sr. Francisco Pimenta, de Santa Clara – Alcaravela. Este posto escolar estava instalado na que é, hoje, chamada a “Quinta dos Moinhos”. Este posto escolar teve, também, como regente D. Lucília Grácio, de Sardoal. Nos anos 40 ou já no princípio dos anos 50 foi construído pela população da aldeia, com o apoio da Câmara Municipal de Sardoal, um novo edifício escolar, onde funcionou a escola mista. O 1.º lugar docente dessa escola foi criado em 2 de Novembro de 1957, onde foi regente a Sra. D. Lucília Grácio, até ao ano lectivo 1958/59. No ano lectivo 1959/60 foi ali colocada a primeira professora oficial que se chamava Maria do Rosário, que era de Mação. No ano lectivo 1961/62 foi ali colocada a professora D. Isabel Ruivo Soares, de Abrantes que ali exerceu até ao ano lectivo 1968/69. No ano lectivo seguinte foi ali colocada a professora D. Natércia Serras. Seguiu-se a professora D. Berta Rosa dos Santos, nomeada em 8 de Abril de 1970 e exonerada em 3 de Março de 1977, seguindo-se a professora D. Beatriz Falcão e o professor José Lopes Farinha. Por falta de alunos a escola foi suspensa em 28 de Agosto de 1987. No antigo edifício escolar funciona actualmente a sede da Associação de Melhoramentos dos Amigos de Entrevinhas.

Na aldeia de S. Simão funcionou um posto escolar onde foram regentes D. Berta Rosa dos Santos entre 20 de Novembro de 1942 e 30 de Junho de 1951 e D. Maria Lucília Grácio entre 8 de Março de 1960 e 19 de Maio de 1967. Este posto escolar funcionou numa casa particular, onde também funcionou uma escola mista, que teve como professora, em 1974, a Sra. D. Maria Luís Medroa Viseu. Desconhecemos outros dados sobre o funcionamento da instrução primária em S. Simão

Freguesia de Alcaravela

Através da análise das actas da Junta de Freguesia de Alcaravela de meados do século XIX, constata-se que uma das grandes ambições da freguesia era a construção de uma escola na sede da freguesia. Sabe-se que no último quartel do século XIX funcionou uma escola na aldeia da Presa, que julgamos particular, a cargo do professor Francisco Martins Pimenta, onde fizeram a instrução primária os Padres António Joaquim da Silva Martins e Luís Andrade e Silva, ambos naturais de Entrevinhas e pensamos que também o Professor Doutor João Serras e Silva, entre outros. Em 1914 era professor em Alcaravela o Sr. Adelino Dias Casola.

O 1.º lugar docente foi criado em Santa Clara em 16 de Junho de 1932, onde durante muitos anos funcionou a única escola primária da freguesia de Alcaravela, no edifício onde hoje funciona o Posto Médico. Era um edifício de 1.º andar com duas salas de aula do primeiro piso e com a residência dos professores no rés-do-chão. Foi nesta escola que iniciou a sua actividade, como docente do ensino básico no concelho de Sardoal, o professor Fernando Constantino Moleirinho, actual Presidente da Câmara Municipal de Sardoal. Não dispomos de mais elementos sobre o corpo docente que exerceu naquela escola.

Foi depois construída a escola de Casos Novos, onde já deveria existir um posto escolar onde exerceu como regente escolar D. Maria Deolinda, com o 1.º lugar docente criado em 23 de Setembro de 1955, onde exerceram as professora Amália de Jesus Cardoso Mateus (entre 1958 e 1960), Maria Conceição Jesus Mateus (entre 1961 e 1968), Maria José Jesus Serras e Elvira Fernanda Figueira Carreiro, entre outros.

Em Casal Velho/Venda funcionou um posto escolar que teve como regente escolar, até 1958, D. Narcisa Rosa, tendo sido construída uma nova escola. Desconhecemos outros elementos sobre o corpo docente desta escola.

Em Vale das Onegas existiu um posto escolar onde exerceu, até 1952, D. Maria Delfina. Mais tarde foi ali criada uma escola primária que funcionava numa casa particular que teve o 1.º lugar docente criado em Janeiro de 1974. Nos finais dos anos 70 foi construída a escola primária de Monte Cimeiro/Vale das Onegas, encerrada há cerca de 10 anos.

A escola primária de Panascos foi construída já na década de 80, integrando também um jardim de infância, tendo também sido construído um jardim de infância na aldeia da Presa.

Freguesia de Santiago de Montalegre

A freguesia de Santiago de Montalegre foi criada em 1928 e o seu território integrava a freguesia de Sardoal. Sabe-se que nos primeiros anos do século XX existia uma escola no Mógão, desconhecendo-se se no Mógão Cimeiro se no Mógão Fundeiro.

A escola de Montalegre foi construída nos anos 30, tendo ali leccionado o Professor Pires Valente. Sabe-se que em 1954 foi exonerada a Professora D. Maria Teresa Oliveira. O 1.º lugar docente foi criado em 9 de Setembro de 1969. Funcionou também como posto escolar tendo como regente entre 8 de Fevereiro de 1961 e 13 de Dezembro de 1976 D. Maria Luísa Conceição Dias, que entretanto completou o curso de professora primária e ali exerceu até à sua aposentação. Entre 23 de Setembro de 1950 e 23 de Julho de 1960, esteve ali colocada a professora D. Maria Conceição Baptista Pinto. A escola de Montalegre deixou de funcionar no presente ano lectivo.

Na aldeia de Codes funcionou um posto escolar em que foram regentes D. Maria Lucília Grácio e D. Maria Natividade e Silva. Por volta de 1970 foi construída a escola primária de Codes cujo 1.º lugar docente foi criado em 27 de Abril de 1973, sendo suspenso em 28 de Agosto de 1987. No Codes leccionou D. Maria de Jesus Conde Falcão.

Desconhecemos outros elementos sobre o corpo docente da escola primária de Codes.

Freguesia de Valhascos

A freguesia de Valhascos foi criada em 1949 e o seu território integrava, antes, a freguesia de Sardoal.

Em 1914 funcionava ali uma escola, onde leccionava o Professor Alfredo Macedo.

A actual escola primária foi construída nos anos 30 do século passado e o seu 1.º lugar docente foi criado em 2 de Outubro de 1952, estando ali colocada até 11 de Maio de 1954 a professora D. Maria Teresa Oliveira.

Em Valhascos funcionou um posto escolar que teve como regente, entre 1955 e 1973, D. Maria Deolinda.

Durante muitos anos foi professora em Valhascos D. Judite Correia (Carpinteiro) e mais tarde D. Maria da Graça Salgueiro.

Desconhecemos outros elementos sobro o corpo docente da escola primária de Valhascos.

Actualidade

Actualmente encontram-se em funcionamento na freguesia de Sardoal, as escolas primárias de Andreus e Sardoal e os Jardins de Infância de Andreus e Sardoal. Na freguesia de Alcaravela funcionam as escolas primárias de Casos Novos e Panascos e os jardins de infância de Panascos e Presa. Na freguesia de Santiago de Montalegre já não funciona nenhuma escola primária, nem nenhum jardim de infância. Na freguesia de Valhascos funciona a escola primária e o jardim de infância.

A Carta Educativa do Município de Sardoal prevê a criação de dois Centros Educativos, um em Sardoal e o outro em Santa Clara – Alcaravela, onde funcionarão o ensino pré-escolar e o 1.º Ciclo do Ensino Básico para os alunos de todo o Concelho.

Algumas Notícias da Imprensa Regional

São muito poucas as notícias sobre o funcionamento do ensino primário no concelho de Sardoal que se encontram na imprensa regional ao longo do século XX. Após uma pesquisa exaustiva apenas foi possível localizar três notícias publicadas no “Jornal de Abrantes”, relacionadas com os exames do 1.º e do 2.º grau dos anos de 1914, 1915 e 1924. Apesar de tudo as referidas notícias que a seguir se transcrevem permitem retirar algumas conclusões interessantes.

“Jornal de Abrantes” – 16 de Agosto de 1914

Exames do 2.º grau

Foram aprovados nos exames do 2.º grau os seguintes alunos:
Alberto Matias, Augusto Serras Pereira, Luís Baptista, João Dias Alfaiate e António Martinho.
Também fez exame do 2.º grau a menina Benedita Maria de Sousa, que foi aprovada.

Alunos dos Valhascos
Aprovados: Bento Esteves, Boaventura Lopes Paulo e Leal Lourenço Galinha.

“Jornal de Abrantes” – 1 de Agosto de 1915

Exames do 1.º grau no Sardoal

Começaram no passado dia 1 do corrente (Julho) os exames do 1.º grau neste concelho, sob a presidência do Exm.º Senhor Inspector José da Piedade Correia, cujos resultados foram os seguintes:

Alunos apresentados pelo Professor Armando Dias Correia Louro:
Óptimos: Alberto Andrade e Silva, Alberto Luz, António Ferreira Campos, António Nunes, Hermínio Mendonça, Joaquim Maria Serras e Manuel Alves Vilelas.
Bons: António Marques Ferreira, João Ramos, João dos Santos, Manuel Milho, Máximo Ribeiro Dionísio, Vítor Constantino e Severino Alpalhão.

Alunos de Valhascos apresentados pelo Professor Alfredo Macedo:
Óptimo: Francisco Clemente
Bons: André Vicente, António Garcia, João Boaventura de Matos, José Guilherme, Nicolau Morgado e Serafim Sebastião.

No dia 16 de Julho:

A Professora D. Clotilde da Costa Marçal apresentou os seguintes alunos:
Bons: Augusta da Conceição Napier, Eugénia Conceição Marçal e Inocência da Conceição Alves Reis
Óptimos: Maria da Conceição Pombo e Maria da Conceição Salgueiro.

Da Professora D. Júlia Ascensão Brito Ribeiro, de Andreus:
Óptimos: Maria Natividade Salgueiro, Alfredo Jorge, António Rodrigues Falcão, Francisco Martins Cascalheira e Manuel Pires Lobato Correia.
Bons: Beatriz Lobato Correia, Maria Conceição Passarinho e Belmiro Alves Vilelas.

Do Professor Adelino Dias Casola, de Alcaravela:
Óptimo: Augusto Serras.
Bons: António Lopes, , Francisco dos Santos Serras e Manuel Lopes.

Ensino doméstico:
Óptimo: Adelina Conceição Grácio
Suficientes: Manuel Jorge e José Alves

“Jornal de Abrantes5 de Setembro de 1915

Exames do 2.º grau
Realizaram-se na penúltima semana no concelho de Sardoal, presididos pelo digno Inspector José Piedade Correia.

Alunos do Professor Armando Dias Correia Louro
Aprovados:
Carlos Nunes Oliveira, Dionísio Milheiriço, Felicíssimo Mendonça, Francisco da Silva, Joaquim Salgueiro, Primo Miguel do Nascimento, Sabino Baptista Raposo, António Alves Reis e António Milho.

Do Professor oficial Sr. Manuel Pires:
Zeferino António.

Da Professora oficial Sra. D. Clotilde da Costa Marçal:
Dalila da Silva Moleirinho, Isilda da Silva, Maria do Carmo Nascimento Falcão, Maria José Marques e Adelina da Conceição Grácio.

Andreus, da Professora oficial D. Júlia de Brito Ribeiro:
Aprovado: Francisco Martins Cascalheira

Valhascos, do Professor oficial Alfredo Macedo:
Aprovados: Francisco Lopes da Neta, José de Oliveira Esperto, Manuel Henriques, Manuel Morgado e Miguel da Silva Amaro.

“Jornal de Abrantes” – 27 de Julho de 1924

Exames – Sardoal
Presididos pelo Professor desta Vila, Sr. Manuel Pires, realizaram-se neste concelho, durante a última semana, os exames da 4.ª Classe (antigo 2.º grau), cujos resultados foram os seguintes:
Escola Masculina de Sardoal – Professora D. Amélia Dias Garção:

Armando Rodrigues Garcia17 valores
Atílio Ribeiro Dionísio17 valores
Joaquim Silva Apolinário18 valores
José Lourenço Bandeira15 valores
Luís Alves Reis16 valores
Luís Salgueiro18 valores
Miguel Antunes15 valores
Valentim Freitas Mora17 valores

Escola Feminina – Professora Bonifácia Pereira:

Delmira Pombo Nunes de Oliveira18 valores

Escola de Andreus – Professora D. Júlia Ascensão Ribeiro:

António Matias16 valores
José Soares Silva15 valores
António Gomes18 valores

Ensino Misto – Mógãos:

António Lourenço Martins18 valores
José Dias Conde17 valores
Francisco António14 valores

Sardoal, Maio de 2007

25 de Abril de 1974 – Ecos no Sardoal

Em 25 de Abril de 1974, estava eu em Angola a cumprir uma Comissão de Serviço, no Exército Português, razão pela qual não vivi pessoalmente os acontecimentos relacionados com a Revolução dos Cravos que terão ocorrido no Sardoal, vividos pelos Sardoalenses com maior ou menor intensidade e paixão.

Apenas regressei do Ultramar em 3 de Abril de 1975.

Talvez, por isso, tenha sentido sempre muita curiosidade de saber como foram vividos, na minha Terra, aqueles meses conturbados que em muitos outros sítios deixaram sequelas que ainda hoje, trinta anos depois, se fazem sentir.

Na tentativa de satisfazer a minha curiosidade consultei as fontes documentais possíveis, nomeadamente a imprensa regional da época, as actas da Câmara Municipal, a correspondência recebida e expedida e auscultei muitas pessoas que aqui viviam e vivem e, estranhamente para mim, não encontrei muitas referências, nem senti que as pessoas guardassem memórias especiais daquele tempo.

Em 29 de Abril de 1974, a Câmara Municipal de Sardoal reuniu extraordinariamente, convocada pelo seu Presidente, Dr. Álvaro Andrade e Silva Passarinho, com a presença dos Vereadores de então, Senhores Arnaldo da Silva Cardoso e Armando Navalho e aprovou, por unanimidade a seguinte proposta do Senhor Presidente:

“Sendo um facto que todo o território nacional se encontra sob autoridade da Junta de Salvação Nacional e que na sua proclamação ao País por ela foram dadas garantias pautadas, na sua acção e propósitos, de manutenção do direito, justiça e normas internacionalmente aceites, é dever desta Câmara, em salvaguarda da ordem, tranquilidade e bem estar dos seus munícipes, garantir à Junta, que reconhece como Governo legítimo do País, a sua leal e sincera colaboração para prosseguimento dos desígnios proclamados.
Mais deliberou endereçar à Junta de Salvação Nacional telegrama dando-lhe notícia desta deliberação que constitui o único motivo da presente reunião, telegrama que terá o texto seguinte:
Câmara Municipal Sardoal reunida extraordinariamente deliberou saudar em Vossa Excelência a Junta de Salvação Nacional, oferecendo todo o seu apoio e leal colaboração para bem de Portugal.
O telegrama será dirigido a: Presidente da Junta de Salvação Nacional – Palácio Cova da Moura – Lisboa.

Em 16 de Maio de 1974, realizou-se uma reunião ordinária da Câmara Municipal, sob a presidência do Dr. Álvaro Andrade e Silva Passarinho, estando presentes o Vice – Presidente, Sr. Francisco Alves Paulino e os Vereadores Srs. Arnaldo da Silva Cardoso e Armando Navalho, em que foi discutido o seguinte ponto:

Situação da edilidade frente ao Movimento do 25 de Abril.

O Senhor Vice – Presidente dirigindo-se ao Senhor Presidente disse ser seu desejo insistir no sentido de esclarecer a situação , por lhe parecer oportuno e acertado colocar, por si, nas mãos da Junta de Salvação Nacional, o mandato que lhe foi conferido pelo Governo deposto, embora a cinquenta e cinco dias do termo do seu mandato.
Que a esta reunião se deslocou, pela primeira vez desde há alguns anos, para esclarecer a sua situação de solidariedade com a Junta de Salvação Nacional, não lhe parecendo aceitável que tendo sido designado para o lugar pelo Governo deposto, continuar a ocupar um cargo que, só com muito sacrifício e esforço, aceitou.
Por isso, afirmou desejar transmitir superiormente o seu ponto de vista, considerando seu dever informar a Câmara, desta sua decisão.
O Senhor Presidente afirmou então que, como já havia dito ao Senhor Vice – Presidente, além da sua opinião pessoal, constitui o entendimento imediato por parte das edilidades do País, o exercício das funções que lhe incumbem sem o que, inevitavelmente constituiria prejuízo e perturbação na administração pública – haverá que tomar em consideração que, como lhe foi afirmado por colegas seus, em opinião de que já partilhava poder um pedido colectivo de demissão ser interpretado com razão, pela Junta, como atitude de propositado intuito desagregador e perturbador.
Por isso não havia solicitado a sua exoneração embora, repetindo, esteja em pleno acordo com o Programa da Junta de Salvação Nacional.
O senhor Vereador Cardoso, secundado pelo seu colega Navalho, considerou que seria sensato por à disposição da Junta de Salvação Nacional como se reafirmam plenamente identificados, na sã política proclamada, o mandato da edilidade já que em última análise, todos comungam dos ideais proclamados pela Junta, apenas pretendem servir o seu País na promissora harmonia nacional, livre e ordeiramente conquistada.
O Senhor Presidente propôs então que desta deliberação fosse dado conhecimento à Junta de Salvação Nacional, para os efeitos que, em seu alto critério, mais tivesse por conveniente.

Nesta sessão foi tomada uma importante deliberação que nada tinha a ver com o 25 de Abril, relacionada com a SARDAN, cujo teor é o seguinte:

Presente a comunicação da SARDAN – Iniciativas do Sardoal – Indústria e Turismo, SARL, de quatro do corrente, na qual se pretende informação sobre se a Câmara concorda com a construção da fábrica, com vista à preparação do terreno com inevitável corte de árvores e sobreiros.
Deliberou a Câmara não só concordar com a instalação da SARDAN, na Tapada do Costa .- Fonte da Estrada, como também apoiar, como sempre tem feito, o que possa significar interesse para a SARDAN, o que equivale à defesa dos interesses do Concelho.
A Câmara reconheceu absoluta necessidade no abate dos sobreiros ali existentes, pois só assim as construções poderiam ser fei

Na acta da reunião ordinária de 5 de Junho de 1974, consta o seguinte registo:

Exoneração do Senhor Presidente: O Senhor Presidente informou que, por força do Decreto – Lei número 235/74, de três do corrente, não deverá estar em exercício na próxima reunião ordinária da Câmara, pelo que faz exarar a seguinte saudação: “Cessando as minhas funções de Presidente da Câmara Municipal , no próximo dia 18, desejo testemunhar a todos os que comigo colaboraram com dedicação e sinceridade na resolução dos magnos problemas do nosso querido concelho, os meus agradecimentos.
Não posso esquecer, neste momento, também o bom povo de todo o concelho, pedindo-lhes em primeiro lugar, que perdoe insuficiências e erros, tão fáceis de cometer numa missão espinhosa e complexa como é a de Presidente de uma Câmara Municipal. Em segundo lugar, pedir a todos que aceitem uma respeitosa saudação de amizade, fazendo votos de um intenso progresso e realização de tudo o que o concelho aspira.”

Na acta da reunião ordinária de 19 de Junho de 1974, consta, ainda, o seguinte registo:

Ex – Presidente: O Senhor Ex – Presidente da Câmara, finda a leitura da acta e depois de por ao corrente de pormenores sobre diversos assuntos os Senhores Vereadores, pediu licença para se retirar e para agradecer às pessoas presentes que consigo trabalharam a bem do progresso do concelho e de quem sempre recebeu a mais ampla, construtiva e sincera colaboração.

Não deixou de, dirigindo-se ao Chefe da Secretaria, pedindo-lhe que transmitisse, mais uma vez, aos funcionários a sua estima e o seu agradecimento pela lealdade com que com ele sempre serviram.
Que de todos leva a maior saudade e a todos desejou as maiores venturas pondo à disposição dos Senhores Vereadores, o produto da sua experiência e conhecimento dos problemas do concelho que considera ficarem em mãos honradas e competentes.”

Até 11 de Outubro de 1974, a gestão da Câmara Municipal ficou a cargos dos Senhores Vereadores Arnaldo da Silva Cardoso e Armando Navalho, tendo nesta data tomado posse a Comissão Administrativa presidida pelo Senhor António Pombo, com os vogais Senhores Constâncio Ambrósio e Fernando da Silva Rosa.

Só em Novembro foi eleita, num plenário de moradores, uma Comissão Administrativa para a Junta de Freguesia de Sardoal. Tinha como Presidente o Sr. António Rodrigues Garcia, de Entrevinhas, como Secretário o Sr. Silvino Mestre Ascenso, de Andreus e como Tesoureiro o Sr. Júlio Nunes Grácio, da Vila de Sardoal.

Em 25 de Abril de 1974 eram os seguintes os titulares dos principais cargos públicos do Concelho de Sardoal:

Delegado Escolar: José de Matos Afonso
Provedor da S. C. Misericórdia: Joaquim Mendonça
Presidente da Casa do Povo de Sardoal: Fernando Constantino Moleirinho
Presidente da Direcção da F.U.S.: João Carvalho Grácio
Pároco de Sardoal: Padre Manuel Ribeiro Farinha
Pároco de Alcaravela e Valhascos: Padre Manuel Lopes Nunes
Pároco de Santiago de Montalegre: Padre Manuel Matias

Sardoal, Abril de 2004

Galeria dos presidentes

Portugal é talvez o país onde a ideia da codificação administrativa tem sido mais realizada, embora tenha havido grandes tendências para não respeitar o codificado.

Com a designação de Código Administrativo, vários têm sido os diplomas publicados entre nós. Depois de algumas leis e decretos sobre organização administrativa, designadamente o dec. nº 23, de 16-V-1832, a lei de 15-IV-1835, o dec. de 18 de Julho de 1835 e o dec. de 6-XI-1836, foi publicado por Passos Manuel o primeiro Código Administrativo, com data de 31-XII-1836, que dividiu o território em distritos, concelhos e freguesias, estabelecendo no distrito um governador civil e uma Junta Geral; no concelho, um administrador e uma Câmara Municipal; e, na freguesia um regedor e uma Junta de Paróquia.

Depois deste Código, veio o de 1842, chamado de Costa Cabral, pelo qual as Juntas de Paróquia deixaram de fazer parte da organização administrativa, ficando as suas atribuições limitadas à administração da fábrica da Igreja, administração dos bens da paróquia e desempenho de actos de beneficência. No distrito havia um governador civil, um Tribunal Administrativo, com a designação de Conselho de Distrito e, no concelho, uma Câmara Municipal, de eleição directa e um administrador do concelho de nomeação régia. Seguiu-se o Código de 1870, que fixou a divisão territorial em distritos, concelhos e freguesias. Veio depois o Código de 1878, publicado por Rodrigues Sampaio, que dividiu o território em distritos, concelhos e paróquias. Quanto a corpos administrativos, estabeleceu a Junta Geral, para o distrito; a Câmara Municipal, para o concelho; e a Junta de Paróquia para a freguesia. Os magistrados eram, no distrito, o governador civil; no concelho, o administrador do concelho; e, na freguesia, o regedor. Os tribunais administrativos eram os conselhos de distrito, na capital de cada distrito. Este Código tem sido objecto de viva discussão, pois era largamente descentralizador, dando às Câmaras grandes atribuições fiscais e concedendo-lhes o direito de contraírem empréstimos. É um monumento interessante da nossa história administrativa.

Em 17-VI-1886 foi aprovado um novo Código Administrativo, que manteve a divisão territorial do anterior mas restringiu as largas concessões feitas pelo de 78. Seguem-se as reformas de 1892, conhecidas pelo nome de Reformas de Dias Ferreira, que extinguiram as juntas gerais e os tribunais distritais, apertando ainda mais a tutela do governo sobre as câmaras. Por dec. de 2-III-1895 foi aprovado um novo Código, que depois de várias alterações foi transformado no de 4-V-1896, estando no governo João Franco, que estabeleceu a mesma divisão territorial que os antecedentes. Pela sua acção centralizadora, o Código de 96 foi muito combatido e, assim, logo que que se implantou a República, o Governo Provisório, por dec. de 13-X-1910, afirmando os seus propósitos de descentralizar a administração, mandou pôr em vigor, com alterações, o Código de Rodrigues Sampaio, de 1878, que era muito querido das Câmaras, pelas liberdades que lhes dava em matéria financeira.

Dos códigos administrativos publicados entre nós, os principais, além dos Códigos de 1936 e de 1940, foram: o Código de 1842, que vigorou durante 36 anos, o Código de 1878, que esteve em vigor durante oito anos e ainda em segunda vida, embora só nalgumas das suas disposições, de 1910 até à publicação do Código de 1936 e o Código de 1896 que durou 14 anos. Com a Revolução do 25 de Abril de 1974 foi instituído um novo regime para o poder local, cujo suporte legal está definido no Dec-Lei nº 100/84, com as alterações que lhe foram introduzidas posteriormente.

Creio que o cargo de Presidente da Câmara aparece com o Código Administrativo de 1836, já que as referências anteriores que conheço são as de Vereador Mais Velho e de Juiz-Presidente.

A primeira acta em que aparece a referência ao Presidente da Câmara está datada de 11 de Março de 1837 e o Presidente da Câmara Municipal de Sardoal era então António Simplício Delgado Xavier, que deveria ser o Vereador Mais Velho da Vereação de 1836, sendo Vereadores Bento de Moura e Mendonça, Francisco Ferreira de Figueiredo, Francisco Pereira de Matos e António Baptista.
Em 25 de Abril de 1837 tomou posse uma nova Câmara, presidida por António Metelo de Vila Lobos Vasconcelos, sendo Vereadores Jacinto António Mendes, Francisco Lopes Martins, Francisco Pires Coelho e Manuel Dias Baptista.
Em de 1 de Janeiro de 1838 toma posse como Presidente Silvério da Silva de Mendonça e Moura e como Vereadores António da Fonseca Mota, João Paulo dos Santos Rebelo, Francisco Ferreira de Figueiredo, José Joaquim da Silva, Francisco Pereira de Mato e António Dias Henriques, como Vereador substituto.
Em 1 de Janeiro de 1839, toma posse como Presidente Bento de Moura e Mendonça e como Vereadores Jacinto Serrão Burguete Soares de Albergaria e Galhardo, Jacinto António Mendes, Luís Cordeiro Delgado Xavier, António Baptista, Manuel José Mouquinha e Francisco Pires Coelho, dos Valhascos.
Em 1 de Janeiro de 1840 toma posse como Presidente Bento de Moura e Mendonça e como Vereadores Jacinto Serrão Burguete Soares de Albergaria e Galhardo, Jacinto António Mendes, João Paulo dos Santos Rebelo, António Simplício Delgado Xavier, Francisco Pereira de Matos e António Dias Henriques.

Não foi possível ainda localizar os livros de actas que cobrem o período de Agosto de 1840 a 1849.

A lista que se segue começa em 11 de Março de 1837, data da primeira acta em que aparece a referência ao Presidente da Câmara, que era António Simplício Delgado Xavier
A sequência no cargo é, a partir daquela data e com indicação do dia de início de funções, a seguinte:

11/03/1837 – António Simplício Delgado Xavier
25/04/1837 – António Metelo de Vila Lobos Vasconcelos
01/01/1838 – Silvério da Silva de Mendonça e Moura
01/01/1839 – Bento de Moura e Mendonça
01/01/1840 – Bento de Moura e Mendonça

1840 a 1849 – Por identificar
10/10/1849 – Emídio António Mora (data da primeira acta em que é referido)
21/01/1852 – António Duarte Pires
02/01/1860 – Máximo Maria Serrão
02/01/1864 – José de Albuquerque do Amaral Cardoso
02/01/1870 – Máximo Maria Serrão
02/01/1872 – António Duarte Pires
02/01/1874 – Agostinho Francisco Moreira Cardoso
02/01/1876 – Máximo Maria Serrão
02/01/1882 – José Alexandre David Pinto Serrão
02/01/1886 – António Joaquim Pinto Cerqueira
02/01/1890 – Júlio Bivar d’Azevedo Salgado
02/01/1891 – Miguel Serrão Burguete
02/01/1899 – Júlio Bivar d’Azevedo Salgado
02/01/1901 – José Alexandre David Pinto Serrão
02/01/1902 – João Baptista de Saldanha Fonseca Serra
02/01/1905 – Padre António Joaquim da Silva Martins
23/11/1908 – António Carvalho Tramela
12/10/1910 – Pedro Barneto Nogueira
01/11/1911 – Abílio da Fonseca Mattos e Silva
19/07/1913 – António Carvalho Tramela
05/02/1918 – Padre António Joaquim da Silva Martins
15/04/1919 – António Carvalho Tramela
20/11/1919 – Francisco Dionísio
20/01/1921 – Padre António Joaquim da Silva Martins
13/09/1926 – José Paulino de Oliveira
01/11/1926 – António Lopes Inez
01/03/1928 – Lúcio Serras Pereira
02/05/1959 – Dr. Júlio Rodrigues Garcia
04/04/1969 – Dr. Álvaro Andrade e Silva Passarinho
16/10/1974 – António Pombo a)
03/01/1977 – Maria Francelina dos Santos Chambel
03/01/1994 – Fernando Constantino Moleirinho
09/10/2013 – António Miguel Borges

a) O Sr. Dr. Álvaro Andrade e Silva Passarinho exerceu funções até 3 de Junho de 1974. Dessa data até a posse da Comissão Administrativa presidida pelo Sr. António Pombo, em 16 de Outubro de 1974, a gestão municipal foi assegurada pelos Vereadores Sr. Arnaldo da Silva Cardoso e Sr. Armando Navalho.

Esta listagem é apenas um ponto de partida para um trabalho que pode ser muito mais desenvolvido, quer na expectativa de se virem a localizar os livros de actas do período de 1840 a 1849, quer ainda através da elaboração da constituição das diversas Câmaras Municipais que ao longo dos últimos 150 anos serviram o Concelho de Sardoal, da identificação dos diversos Administradores do Concelho e dos Chefes de Secretaria da Câmara Municipal, pela importância que as suas funções tinha na administração municipal. Importa, também, estudar com mais profundidade o período da 1ª República, principalmente o período que medeia entre 1914 e 1919, uma vez que foi um período de grande agitação política, com sucessivos golpes militares e governos, o que implicava alterações no sistema administrativo e na composição das Câmaras Municipais e nos restantes órgãos autárquicos.

O facto de em 1997 se comemorar o 20º aniversário do Poder Local Democrático emergente da Constituição da República Portuguesa de 1976, pode constituir uma excelente oportunidade para desenvolver e publicar um trabalho deste tipo, homenageando todos aqueles que ao longo dos anos se dedicaram à causa pública, como autarcas e/ou agentes administrativos.

Sardoal, 5 de Fevereiro de 1996
(Actualizado com uma adenda de 2002 após a descoberta do Livro de Actas da Câmara que contempla o período de 11 de Março de 1837 a 12 de Agosto de 1840).

Rei D. Carlos volta ao Sardoal – 92 anos depois

A História – O Assassinato do Rei

«Isto acaba, logicamente, no atentado pessoal» dizia toda a gente em Lisboa, no dia 28 de Janeiro de 1908. No sábado, dia 1 de Fevereiro, uma tarde morna, o rei e a família real regressaram a Lisboa, vindos de Vila Viçosa. O comboio chegou atrasado, por causa de um pequeno descarrilamento em Casa Branca. O vapor D. Luís, vindo do Barreiro, atracou às cinco da tarde em Lisboa. No Terreiro do Paço, a esperar D. Carlos, não estava muita gente. Só o governo e a corte. Da janela do Ministério do Reino, que dava para a Praça, Teixeira de Sousa avistou em baixo dois tipos suspeitos, que lhe pareceram anarquistas. João Franco passara por debaixo das arcadas em direcção ao rio. No cais, o infante D. Manuel esperava a Rainha D. Amélia, o rei e D. Luís Filipe. Depois de rápidas conversas e cumprimentos, a família real entrou na carruagem do costume. Atrás dela, noutra carruagem, seguiam os condes de Figueiró. No terceiro veículo ia o marquês de Alvito. João Franco vinha num coupé, em quarto lugar. O rei acabara de o convidar para ir ao Paço. Quando a carruagem, um pouco adiantada em relação às outras, chegou a meio do Terreiro do Paço, fazendo menção de voltar para a Rua do Arsenal, um homem saltou para o estribo e disparou dois tiros de revólver nas costas do rei. O príncipe real D. Luís Filipe, levantou-se, empunhando a sua arma, no momento em que debaixo da arcada saía um homem de capote escuro, que lhe desfechou um tiro de carabina. O homem que disparara sobre o rei e já ferira o infante D. Manuel ainda continuou por instantes dependurado da carruagem, enquanto a rainha lhe batia com um ramo de flores. A polícia, que não era muita, desatou aos tiros. O homem da carabina foi atacado à espada por um oficial e outro caçado a tiro. A carruagem real, à desfilada, entrou no Arsenal da Marinha. Eram cinco e vinte da tarde. O rei estava morto. O príncipe real agonizava. Fora também atingido por duas balas, uma no peito e outra que lhe atravessara a face, saindo pela nuca. Morria pouco depois, já dentro do Arsenal. O infante D. Manuel havia sido ferido no braço. Saltando da carruagem, João Franco veio a correr pelo Terreiro do Paço em direcção à Rua do Arsenal, onde desaparecera a carruagem real. De caminho, alguém lhe disse que o rei estava morto. Pouco depois, Júlio Vilhena, avisado, chegou também ao Arsenal. Ficou espantado por estar lá tão pouca gente. «Quem foi?», perguntou: «Rapazes do comércio», respondeu-lhe João Franco. Vilhena notou que ninguém chorava. No Paço das Necessidades, às 9 horas, o mesmo abandono e frieza se depararam a Teixeira de Sousa. Ninguém aparecia, ninguém parecia especialmente comovido. Os fidalgos, os pares do reino, os conselheiros, estavam todos enfiados em casa, a tremer de medo. A revolução parecia iminente. As lojas fecharam.

No átrio da câmara municipal havia outros três mortos: Manuel Buiça, Alfredo Costa e João Sabino. O último viera apenas deitar uma carta no correio e apanhara, por acaso, um tiro na cabeça. Os dois primeiros, eram conhecidos militantes republicanos. Buiça era o homem da carabina e Costa o assassino que se agarrara à carruagem real. Costa recebera várias cutiladas na cabeça, um tiro no braço e outro no peito. Buiça fora atingido a tiro no tórax e tinha uma ferida de sabre nas costas.

Sobre o regicídio escreveu-se muita coisa e concluiu-se pouca. Ainda hoje é moda dizer nos manuais de história que as circunstâncias da morte do rei são misteriosas.(…) Duas coisas são certas: em primeiro lugar, entre a oposição dissidente e republicana discutia-se e esperava-se a morte de D. Carlos; em segundo lugar, o assassinato do rei e do príncipe real não foi cometido por dois anarquistas isolados e mais ou menos loucos, mas por dois notórios membros de uma loja maçónica (talvez não regularizada no Grande Oriente Lusitano), envolvidos na conspiração de 28 de Janeiro e em contacto com os chefe republicanos. (…) Consideradas todas estas informações, podemos afastar piedosas mentiras e considerar que o atentado contra a família real não foi um acidente. Os assassinos cumpriram exactamente a missão de matar quem interessava matar. Franco não podia fazer outro D. Carlos, mas D. Carlos podia fazer outro João Franco.

História de Portugal – Direcção de José Matoso – Sexto Volume: A Segunda Fundação (1890 – 1926) – Autor: Dr. Rui Ramos – Edição Círculo de Leitores.

Fotografia de Jayme Landal da visita de 1907

A Ficcção – 92 anos depois, D. Carlos volta ao Sardoal…

Ao contrário do que se pensou ao longo de dezenas de anos, o Rei D. Carlos não morreu no atentado de que foi vítima no dia 1 de Fevereiro de 1908. Os graves ferimentos que sofreu levaram-no a um coma profundo e portanto a gravidade da situação política recomendava que fosse declarada a sua morte e feitas solenes exéquias. Acontece que uma sociedade secreta de inspiração monárquica, que integrava alguns dos melhores cientistas portugueses da altura, tomou conta do seu corpo. Por processos ainda hoje desconhecidos conseguiu mantê-lo vivo ou, pelo menos, em condições de ser reanimado quando o avanço da ciência o permitisse e soprassem ventos mais favoráveis à restauração da Monarquia em Portugal.

Em 28 de Janeiro de 1999, um golpe militar derrubou a República e restaurou a Monarquia. O Presidente da República partiu para o exílio, em Inglaterra, sendo dissolvida a Assembleia da República e demitido o Governo. Em 31 de Janeiro tomou posse o Governo Provisório, sendo nomeado Presidente do Conselho de Ministros, D. Duarte, Duque de Bragança, que foi encarregado pelo Directório do Golpe Militar para preparar eleições gerais para uma Assembleia Constituinte, desde logo marcadas para o dia 1 de Dezembro, um dia de profundo significado para a Causa Monárquica, com vista à elaboração de uma nova Constituição para o Reino de Portugal.

A grande surpresa para o Povo Português ocorreu no dia 1 de Fevereiro quando D. Duarte, Duque de Bragança, surgiu na televisão a anunciar que o Rei D. Carlos estava vivo e no pleno uso das suas faculdades físicas e intelectuais, depois de ter sido reanimado por uma equipa médica ligada à Universidade de Coimbra, após a longa «hibernação» a que tinha estado sujeito durante 92 anos.

Esta notícia causou grande júbilo popular e D. Carlos voltou ao Palácio de Belém, assumindo, novamente, o seu papel de Rei de Portugal. Os factos subsequentes em termos de política nacional são do domínio público, pelo que não se justifica descrevê-los aqui.

Depois de durante algum tempo ter tentado tomar contacto com a nova realidade portuguesa, bem diferente da que conhecia em 1908, o Rei começou a percorrer o País de lés-a-lés, visitando os Concelhos que tinha visitado em 1907 e em 1908, até ao Regicídio, tendo a preocupação de os visitar nos mesmos dias em que o tinha feito há 92 anos.

Assim e porque tinha visitado o Sardoal no dia 22 de Junho de 1907, resolveu repetir essa visita no mesmo dia, em 1999, fazendo-o, mais uma vez, sem aviso prévio, porque apenas no fim da tarde do dia 21 foi recebido um fax, na Câmara Municipal, anunciando a Real presença de Sua Majestade, no dia seguinte, com chegada prevista para as 10 horas.

A primeira grande diferença em relação à visita de 1907, começa logo nos meios de transporte utilizados. Em 1907, Sua Majestade viajou de comboio até Abrantes, vindo para o Sardoal num automóvel que deve ter sido um dos primeiros veículos daquele tipo a circular na Vila de Sardoal.

Em 1999, o Rei D. Carlos viajou de Lisboa num helicóptero da Força Aérea Portuguesa, que aterrou no Heliporto do Quartel dos Bombeiros Municipais de Sardoal.

Em 1907 a guarda de honra foi prestada de forma simbólica pelas crianças das escolas primárias, vestidas com as suas batas brancas, e com as duas Filarmónicas então existentes na Vila, que tocaram o Hino da Carta. Subiu no ar, logo que entrou no Concelho pelo Marco, uma girândola de foguetes e morteiros, que se repetiu à sua entrada na Vila, confeccionada pelos afamados pirotécnicos de Valhascos, Galinha e Ameixoiera. Em 1999 foi recebido com uma guarda de honra prestada pelos Bombeiros Municipais, com o seu estandarte e fanfarra e pela Filarmónica União Sadoalense que tocou o Hino Nacional “A Portuguesa”, que o Rei só conheceu na sua segunda encarnação, não havendo girândolas de foguetes, porque as normas de segurança não recomendam a utilização de material de pirotecnia.

Em 1907, foi cumprimentado à chegada pelo Presidente da Câmara Municipal, na altura o Padre Silva Martins. Em 1999 coube-me a mim, Vereador Substituto do Presidente da Câmara, a honra de o receber e cumprimentar, uma vez que o Presidente da Câmara Fernando Moleirinho se encontrava em França, a acompanhar uma viagem de estudo de estudantes do Concelho, não sendo possível o seu regresso em tempo oportuno. Refiro a curiosidade de o Padre Silva Martins e eu próprio sermos naturais de Entrevinhas, uma das mais antigas aldeias do Concelho de Sardoal.

O Chefe da Casa Civil de Sua Majestade, Dr. Sousa Lara, tinha chegado ao Sardoal no dia anterior para preparar dos aspectos protocolares da visita e tinha-me prevenido sobre um problema peculiar que afectava D. Carlos e para o qual era preciso ter algum tacto e diplomacia. El-Rei, às vezes, não tinha a percepção do tempo em que vivia, comportando-se como se ainda vivesse no princípio do século, o que às vezes provocava algumas situações embaraçosas, quer para ele próprio, quer para quem o recebia. Disse-me, também, que o Rei mantinha os mesmos gostos que tinha antes do Regicídio, nomeadamente a caça, a investigação hidrográfica, a pintura e (pasme-se!) uma grande atracção por mulheres bonitas, que tantos problemas lhe causara na sua relação conjugal com a Rainha D. Amélia. Mantinha também uma invejável memória sobre os lugares em que tinha estado na outra fase da sua vida, continuando a ser um incorrigível fumador, especialmente de charutos.

Este tipo de problemas foi-me logo confirmado à sua chegada, quando me apresentou os cumprimentos de D. Amélia e do Príncipe D. Luís Filipe, cuja morte ocorrera há várias dezenas de anos, e quando me perguntou pelo Padre Silva Martins (falecido em 1943), cujos dotes oratórios elogiou, pelo Visconde do Sardoal, José de Figueiredo Pimenta de Avelar Frazão, pelo Conde de Alferrarede e pelo Sr. Abílio da Fonseca Matos e Silva, entre outras pessoas que participaram na recepção que lhe tinha sido feita em 22 de Junho de 1907.

E a sua grande memória foi-me confirmada, quando logo à sua chegada me falou da surpresa que tinha tido ao perceber, ainda do céu, o grande crescimento que a Vila tinha sofrido e as muitas estradas que saiam do Sardoal em todas as direcções. Depois, olhando à sua volta, disse-me:

Meu caro Vereador, uma vez vim ao Sardoal, para participar numa caçada organizada pelo Visconde do Sardoal. Cacei aqui por esta zona, onde havia muitos coelhos e perdizes. Onde hoje estão estes Bairros, o campo de foot-ball, a fábrica, a Escola e o Quartel de Bombeiros, apenas existiam duas ou três casas, o resto eram sobreiros, castanheiros, oliveiras e algumas terras de lavoura. Aquele eucalipto grande que ali está já existia, com um porte considerável, apesar de bem mais pequeno que hoje. A única estrada, creio que ainda em terra batida, era a estrada para Vila de Rei, que atravessava uma aldeia, ali à frente, cujo nome já não me recordo (Andreus). Lembro-me, até, de ter entrado numa taberna, ali em baixo, para merendar. Chamavam-lhe a Taberna Seca e a dona era uma «cachopa» muito simpática e atrevida, chamada Fadina! Bons tempos!…

Depois de ter acompanhado D. Carlos numa visita ao Quartel dos Bombeiros, onde se surpreendeu com a qualidade e quantidade das viaturas e do material existente, e de uma breve passagem pelo novo Quartel da GNR (vícios de linguagem, porque a nova designação desta força de segurança era, agora, apenas Guarda Nacional), convidei Sua Majestade para me acompanhar até aos Paços do Concelho, onde iria decorrer a Sessão Solene de Boas-Vindas, que estava marcada para o meio-dia. Apesar de lhe ter colocado à disposição o carro da Presidência da Autarquia, D. Carlos, com o argumento de ter estado tantos anos imobilizado e ter necessidade de manter uma boa forma física, sugeriu-me uma deslocação a pé, que iniciámos rodeados por centenas de pessoas, autoridades civis, militares e religiosas e muitos populares que não se cansavam de aclamar o Rei, como se a República não tivesse caído há poucos meses, depois de ter vigorado durante 89 anos. El-Rei observava tudo o que o rodeava com muita atenção, como se quisesse, em poucos minutos, perceber as mudanças entre o que tinha visto em 1907 e a realidade com que se deparava 92 anos depois. As casas, a sede da Junta de Freguesia, designação que surpreendeu o Rei, porque ainda julgava existir a Junta de Paróquia, o Centro de Saúde, em relação ao qual lhe referi estar já em construção uma nova unidade para a prestação de cuidados de saúde, perto das antigas Escolas Primárias, que mesmo assim ainda não existiam em 1907, uma vez que o único edifico escolar que então existia se situava perto da Igreja da Misericórdia, na que hoje é conhecida como a Casa do Ensaio, que deixou de ser Escola em 1935.

Um pouco depois, quando passámos junto do antigo Externato Rainha Santa Isabel, El-Rei perguntou-me se ainda era ali o depósito de água que abastecia a Vila, porque ainda se recordava de ser a única construção que existia naquele local, o que me levou a explicar-lhe que de facto esse depósito ainda existia, já com pouca utilização, referindo-lhe, também, que naquele conjunto de edifícios funcionava a Biblioteca Municipal e um Núcleo Associativo, onde se sediavam a Filarmónica União Sardoalense e o Grupo Desportivo e Recreativo de Sardoal “OS LAGARTOS”. Um pouco adiante, no início da Rua 5 de Outubro, mostrei-lhe os terrenos para onde está prevista a construção do Centro Cultural de Sardoal. Como se voltasse a 1907, D. Carlos perguntou-me se não podíamos ir ao Hospital da Misericórdia, porque gostaria muito de cumprimentar os dois Facultativos, o Dr. Victor Mora e o Dr. Felicíssimo. Expliquei-lhe que o Hospital tinha deixado de funcionar em 1979, mas perante a vontade de Sua Majestade em venerar Nossa Senhora da Caridade, subimos a Escadaria do Convento, por entre os freixos seculares. Voltei a ter a confirmação da sua grande memória, quando me referiu as diferenças entre o espaço actual e o que conhecera em 1907, especialmente surpreendido com o Lar/Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia, por onde efectuámos uma rápida passagem e onde tive o privilégio de apresentar a El-Rei o Sr. Joaquim Alpalhão, uma das poucas pessoas vivas que, ainda criança, participou na recepção de há 92 anos.

Descemos a Rua 5 de Outubro, que em 1907 ainda não tinha esta designação (chamava-se então uma parte Rua do Vale e outra Rua Serpa Pinto, e era senão na totalidade pelo menos parcialmente em terra batida). D. Carlos voltou a referir o crescimento da Vila, uma vez que na anterior visita apenas existiam duas ou três casas até à Capela de Santa Catarina. A surpresa maior que me manifestou foi o desaparecimento do Solar do Visconde do Sardoal, tendo-lhe eu explicado que tinha sido demolido, por volta de 1960, para serem construídas as instalações da União Panificadora Sardoalense. Outras diferenças menos visíveis, mas importantes, que El-Rei não me referiu, poderiam ser detectadas ao nível da iluminação pública, das habitações e do abastecimento de água. Em 1907 a iluminação pública era reduzida, assegurada durante um período da noite por gasómetros que queimavam acetileno. As residências privadas eram iluminadas com candeeiros a petróleo e cadeias de azeite (a electricidade só chegou à Vila de Sardoal em Setembro de 1931, sendo inaugurada pelo Presidente do Conselho General Domingos Oliveira). Em 1907 apenas meia dúzia de casas tinha água ao domicílio, abastecidas a partir do depósito da Taberna Seca, sendo a generalidade dos habitantes abastecidos a partir do Chafariz da Murteira, da Fonte da Preta e da Fonte da Praça e das fontes situadas nos arredores: Fonte da Pena, Fonte Férrea, Chafariz das Três Bicas, da Fonte Velha e da Fonte Nova. O abastecimento de água ao domicílio só se generalizou, no Sardoal, em 1954, com a construção do depósito da Cerca do Convento, abastecido a partir da captação do Vale Braçal. Outra diferença substancial, igualmente pouco visível, é o sistema de comunicações com o exterior. Em 1907 apenas o telégrafo permitia uma relativamente rápida transmissão e recepção de notícias, sendo que para além de dois ou três jornais regionais, apenas aqui chegavam o “Século” e o “Diário de Notícias”, mesmo assim com dois ou três dias de atraso, não existindo nem rádio, nem televisão, nem outros formas modernas de comunicação. Quando passámos junto ao que é hoje o Café Avenida, D. Carlos perguntou-me pelo sr. Bivar Salgado, ficando eu sem saber se pelo pai ou pelo filho, cuja casa era naquele local e tinham sido figuras importantes da política local no princípio do século. Expliquei-lhe que aquela família tinha saído do Sardoal há largas dezenas de anos, não sabendo eu se tinham descendentes e onde se encontravam. Falou-me depois da Farmácia Mora (no rés-do-chão da Casa dos Arcos) e da Farmácia do Dionísio (onde é hoje a Pastelaria, na Rua Luís de Camões) e perguntou-me pelo Sr. António Tramela, que tinha o maior estabelecimento comercial do Sardoal, onde mais tarde funcionou a Casa Pombo, e pelo estabelecimento do Milheiriço, outro estabelecimento importante que funcionou no espaço adjacente às antigas bombas de gasolina.

Mas foi na ainda chamada Praça da República que o Rei manifestou a maior surpresa pela diferença que encontrava em relação a 1907. O Pelourinho foi o primeiro elemento que lhe chamou a atenção:

— Em 1907 estava aqui uma fonte e não havia, aqui, o Pelourinho! Aquela fonte que ali está junto à Capela não existia, nem aquele painel de azulejos. Pois não?

Respondi-lhe que o Pelourinho, o fontanário e o painel de azulejos alusivo a Gil Vicente, da autoria de Gabriel Constant, são todos contemporâneos, tendo sido ali colocados em 1934, quando era Presidente da Câmara o Sr. Lúcio Serras Pereira, sendo o principal impulsionador o seu irmão Dr. David Serras Pereira, que eram filhos do Sr. João dos Santos Pereira, mais conhecido pelo Sr. João d’Alvega, que em 1907 era notário no Sardoal. Disse-lhe, também, que o fontanário que estava quase no local do Pelourinho, se encontrava, agora, junto à Cadeia Velha. Quando Sua Majestade reparou na placa toponímica “Praça da República”, surpreendeu-se por não ver ali a placa que ali estava em 1907, “Praça Conselheiro João Franco”, que tinha sido seu Primeiro-Ministro durante alguns anos.

Como ainda faltava algum tempo para a Sessão Solene de Boas Vindas, D. Carlos manifestou vontade em visitar a Igreja Matriz do Sardoal. Subimos a Rua Mestre do Sardoal e logo à entrada estranhou ao ver a actual designação toponímica, porque se recordava de, em 1907, aquela ser a Rua Avelar Machado, seu amigo pessoal, e causou-lhe estranheza a designação Mestre do Sardoal, por nunca ter ouvido falar nele. Já na Matriz expliquei-lhe a alteração toponímica, perante os sete quadros do Mestre do Sardoal, identificados em 1938 pelo Dr. João Couto e a sua importância artística no contexto nacional.

À saída da Matriz, D. Carlos recordou-se ainda da farmácia de Pedro Barneto Nogueira, fronteira à sua porta lateral e surpreendeu-se, no Adro da Igreja, com a paisagem envolvente, que em 1907 era, essencialmente, constituída por oliveiras, castanheiros e sobreiros e agora predominantemente constituída por eucaliptos, surpreendendo-o, igualmente, a visão das chaminés da Central do Pego, que deste ponto de observação parecem muito próximas.

Aproximavam-se as 12 horas, a hora marcada para a Sessão Solene de Boas Vindas, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, pelo que a comitiva se encaminhou para a Câmara Municipal.

Não deixo qualquer nota desta cerimónia porque a mesma teve uma ampla cobertura pela Comunicação Social, terminando este exercício de ficção, referindo que o almoço que se seguiu foi servido por um dos restaurantes da Vila, no espaço polivalente da Escola E.B. 2, 3 de Sardoal, enquanto que em 1907 tinha sido servido um lauto “copo de água” nos salões da Casa Grande.

Sua Majestade regressou à tarde a Lisboa, num carro da Casa Real, seguindo pela Variante à E.N.2 e entrando no IP6, no nó do Olho de Boi, excepcionalmente aberto para dar passagem à Comitiva Real.

Sardoal, 22 de Junho de 1999

Pode ler mais sobre a visita de 1907 em Sardoal com Memória.

Algumas notas sobre a Quinta de S. Bruno

A Quinta de S. Bruno foi uma importante propriedade rural, situada a norte da Vila de Sardoal, contígua ao Convento de Santa Maria da Caridade, hoje parcialmente abandonada, depois de dividida pelos herdeiros do Coronel Ernesto Carvalho Durão.

O solar e as edificações anexas, que não visito há alguns anos, aparentam algum estado de abandono.

Não sei em que estado se encontra a capela do solar, que visitei há muitos anos, da qual recordo um brasão ou um elemento similar pintado no tecto, com as letras JRXB, tanto quanto me recordo, que julgo corresponderem a D. Joana Rita Xavier de Bourbon.

A Quinta de S. Bruno pertenceu à família Moura e Mendonça até à morte de D. Francisco Manoel de Moura e Mendonça, que instituiu como herdeiro o Padre Gregório Pereira Tavares, cujos herdeiros a venderam a Manuel da Silva, casado com Joaquina Martins Teixeira de Andrade e Silva e pai, entre outros, do General Alberto de Andrade e Silva (ministro do Exército do Governo do Professor Marcelo Caetano) e sogro do Coronel Ernesto Carvalho Durão, pai da D. Luciana Durão. Após a morte do senhor Manuel da Silva, a Quinta passou para a posse do Coronel Durão, sendo, por morte deste, divida em três partes, uma delas já vendida.

Foi da Quinta de S. Bruno que foi desanexada uma parcela de terreno doada pelo Reverendo Cónego D. Francisco Manuel de Moura e Mendonça para ampliar a cerca do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Sardoal, instalado no Convento de Santa Maria da Caridade, após a extinção deste em 1834.

Desconheço onde se encontra sepultada D. Joana Rita de Bourbon, sendo que no Convento apenas conheço as pedras tumulares de D. Bento de Moura e Mendonça e do Padre Gregório Pereira Tavares, directa ou indirectamente relacionadas com os Moura e Mendonça, para além do túmulo de D. Gaspar Barata de Mendonça.

D. Francisco Xavier de Mendonça e Brito, Fidalgo da Casa Real e Capitão-Mor da Vila de Sardoal (alcançou senhorio para si e seus filhos pelos serviços do seu irmão Pedro), casou com D. Joana Rita Xavier de Bourbon, natural de Alcobaça, filha de Manuel Pedro da Silva Fonseca e de D. Antónia Rita de Bourbon. É esta D. Joana Rita a primeira que encontro ligada aos Moura e Mendonça.

No testamento de D. Francisco Manuel de Moura Mendonça consta o seguinte:

«Deixo em legado a minha prima a Excelentíssima Dona Joana Rita Pereira da Silva, residente nesta Vila, uma tapada, denominada Fonte, no limite dos Valhascos, deste Concelho.

No testamento do Padre Gregório Pereira Tavares surge a seguinte referência:

«Dos Excelentíssimos Senhores Dom Joaquim José de Miranda Coutinho, Bispo que foi desta Diocese – Francisco Manuel de Moura e Mendonça e sua irmã Dona Joana Rita Xavier de Bourbon, todos os três meus benfeitores, por cada um cem.»

Sardoal – 2012