Francisco Augusto Simões foi um importante negociante e proprietário que teve um papel relevante no Sardoal na primeira década do século XX.
Nasceu em Lisboa, na freguesia de São Paulo, a 20 de Fevereiro de 1856, filho de António Esteves Simões e de Ana Maria de Oliveira Simões.
Casou no Sardoal, em 20 de Abril de 1882, com Maria da Luz Romão, que faleceu em 9 de Março de 1905. Teve um segundo casamento com Maria do Carmo Figueiredo Simões, natural de Viseu. Não teve filhos em nenhum dos casamentos.
Faleceu a 13 de Fevereiro de 1922, em Lisboa, na Rua de Arroios, n.º 174.
Através das notícias da imprensa regional da época, nomeadamente do “Echo do Tejo” e do “Jornal de Abrantes”, é possível ter uma ideia um pouco mais apurada do seu envolvimento e dinamismo na sociedade sardoalense da época.
Fundou a Sociedade Fraternidade Sardoalense em 1902, de que foi presidente, depois de em 1901 não ter chegado aos órgãos dirigentes da Sociedade Philarmónica Sardoalense por falta de acordo de alguns dos músicos. A Sociedade Fraternidade Sardoalense apresentou-se pela primeira vez, com uniforme à maruja, na Procissão dos Passos, em Março de 1902. Era também designada “Música Velha” e teve o seu ensaio na casa do próprio, na Rua do Paço (essa casa veio depois a ser do Dr. Ribeiro).
Há notícias da compra do terreno dessa casa em Junho de 1901, com intenções de incluir sala de ensaios e teatro. As demolições necessárias foram alvo de reparos públicas, como por exemplo no “Echo do Tejo” de 1 de Junho de 1902, onde um crítico sob o pseudónimo Thomé aventa que “‘o Simões há tempos fez uma demolição de alguns prédios, de modo que hoje há pobres que querem uma casa para habitarem e não a têm.”
Havia um clima de alguma hostilidade entre os apoiantes do Partido Progressista e do Partido Regenerador, que pode explicar essas correspondências mais acesas na imprensa e até a existência das duas bandas (a outra era a Sociedade Filarmónica Sardoalense e o presidente era Abílio da Fonseca Mattos Silva). Francisco Augusto Simões estava ligado ao partido progressista, tendo-se envolvido pelo menos nas eleições locais de 1904.
Teve uma empresa de viação, “A Sardoalense”, que vendeu em Março de 1905 a Máximo Serras, do Sardoal, incluindo os carros e o gado.
Foi irmão da Misericórdia.
Nota: Agradecemos a Joana Serrão a cedência da fotografia e de alguns elementos biográficos para a elaboração deste texto.
Selecção de notícias da época:
ECHO DO TEJO
2 de Junho de 1901
Na terça-feira, o nosso amigo Francisco Augusto Simões convidou alguns cavalheiros para irem ao seu chalet “Sete Estrellas”, descarregando-se na ocasião algumas metralhadoras.
ECHO DO TEJO
9 de Junho de 1901
O nosso amigo Francisco Augusto Simões, que actualmente aqui reside, acaba de comprar mais uma porção de terreno para maior aformoseamento do seu grande palácio em construção. Este nosso amigo que tanto tem beneficiado o Sardoal com algumas obras de valor e dignas de admiração de quantos o têm visitado, é digno de todo o elogio, pelo muito que tem feito em prol do Sardoal. Sentimos bastante que com a coragem do nosso amigo Simões, não haja no Sardoal meia dúzia de cavalheiros, porque com certeza, dia-a-dia, veríamos a nossa querida terra progredir! Segundo informação que colhemos o palácio que este nosso amigo anda construindo vai ser uma maravilha pois que ele não se poupa a trabalhos nem despesas. Bem haja quem tanto tem ajudado os pobres dando-lhes trabalho! Que veja coroados de bom êxito os seus trabalhos é o que lhe desejamos.
Consta que vai ser nomeada uma nova comissão para a direcção da Sociedade
Philarmónica desta Vila e que tomam parte os seguintes cavalheiros:
-Francisco Augusto Simões – Presidente
-Luís Conceição – Vice-Presidente
-Artur dos Santos – Tesoureiro
-Manuel Lopes – Secretário
O nosso amigo Simões vai brevemente construir uma casa por sua conta para ensaios da música e para teatro. A todos os Sardoalenses felicitamos pela iniciativa do nosso amigo porque é uma das coisas que Sardoal mais necessita.
JORNAL DE ABRANTES
3 de Novembro de 1901
Declaração
A nova direcção eleita pelos sócios da Sociedade Filarmónica Sardoalense em assembleia geral no dia 24 de Outubro findo vem agradecer a todos os seus amigos tal fineza e pede desculpa não aceitar tal cargo visto não poder chegar a acordo com parte dos músicos em reunião para que hoje foram convocados.
Pela Direcção
Francisco Augusto Simões
ECHO DO TEJO
15 de Dezembro de 1901
Diz-se que a Música não acabará se o Sr. Simões a proteger. Oxalá assim suceda. Vai brevemente aparecer esta Philarmónica nesta Vila.
É divertir rapazes, tristezas não pagam dívidas.
JORNAL DE ABRANTES
9 de Março de 1902
Sardoal – Procissão dos Passos
No próximo dia 14 do corrente deve realizar-se nesta vila a procissão do Senhor dos Passos, que será feita com toda a pompa. São oradores ao Pretório, o reverendo Prior d’Alcaravela (em J. Abrantes informa 2-2-1902. Era padre em Alcaravela, reverendo Francisco Alves Ferreira, e também encarregado da Caixa-Postal. Ao encontro, o reverendo cura desta freguesia, e ao calvário o reverendo pároco do Tramagal.
Abrilhantará este acto solene a Filarmónica Fraternidade Sardoalense, que pela primeira vez se apresenta com o seu grande uniforme à maruja, devido à boa e enérgica iniciativa do Presidente Sr. Francisco Augusto Simões e demais membros da comissão, Srs. Manuel Lopes João dos Santos e Luiz da Silva Conceição. Se o tempo permitir deve ser grande a concorrência.
Com a pompa e cerimonial de mais anos, terão lugar as festividades da Semana Santa e Domingo de Páscoa, tomando parte em todos a mesma Filarmónica.
JORNAL DE ABRANTES
Sardoal,11 de Maio de 1902
Realiza-se nesta vila nos dias 15 a 20 do corrente, o grande bodo geral acompanhado da festa do Divino Espírito Santo levado a efeito, por uma comissão, que à última hora tomou conta desta festividade e boa vontade pelo progresso deste concelho se não tem poupado a esforços, a fim de proporcionar a todos nós, uma festa de tanta simpatia, parecendo impossível que três ou quatro homens em tão pouco tempo tenham desafrontado tal empresa.
Segundo o programa, vão ser vistosas e lindamente embandeiradas todas as ruas desta vila, brilhantismo que na maioria se deve ao incansável trabalhador e nosso amigo Francisco Augusto Simões, que está sendo a admiração do povo deste concelho, pela sua dedicação e energia, nunca se poupando a coadjuvar os que trabalham, e já pelos melhoramentos que tem feito nesta vila.
No dia 15 serão inspeccionadas a apresentadas ao povo 3 formosos bois, percorrendo as ruas da vila.
No dia 16, de madrugada se procederá à matança dos ditos bois, e em seguida à divisão das rações, havendo nesta ocasião um beberete a todos os convivas.
Em seguida um lindo grupo de raparigas vestidas a capricho e acompanhadas dos festeiros, procederá à condução de pão das rações para o local da distribuição e onde o reverendíssimo padre desta vila deitará a benção sobre o pão, carne e vinho, das rações, que começarão a ser distribuídas, por todos os mordomos que se dignaram a contribuir para esta festa.
No dia 17, finda a distribuição, haverá grande arraial, e à noite vistosa iluminação abrilhantando toda esta festa a Filarmónica da Vila, Sociedade Fraternidade, com o seu vasto repertório.
No dia 18, o grupo de vistosas raparigas procederá à condução do pão das diversas capelas da vila para a igreja do Espírito Santo, para ser distribuído no dia seguinte ao povo, realizando-se a procissão da imagem do Espírito Santo, da sua capela para a Igreja Matriz, arraial, outras distracções, iluminação e fogo.
No dia 19, de manhã o bodo geral aos pobres, festa da Igreja do Espírito Santo, regresso deste em procissão, iluminação e fogo.
No dia 19, de manhã o bodo geral dos pobres, festa da Igreja do Espírito Santo, regresso deste em procissão à sua capela, de tarde arraial, bailes e mais divertimentos, havendo à noite, também iluminação e terminando as festas, com um lindo e variado fogo de artifício.
ECHO DO TEJO
1 de Junho de 1902
SARDOAL – AO CORRESPONDENTE DE “O DIA”
São 10 da manhã. Temos na nossa mão a presença de “O DIA” de 14 do corrente que obsequiosamente nos foi fornecido por um amigo, no qual vem inserida uma correspondência desta Vila, que se refere a umas modestas correspondências daqui, que temos enviado ao ‘ECHO DO TEJO’, apreciando de modo pouco lisonjeiro.
Muito longe estávamos nós de pensar que as nossas correspondências escritas simplesmente no intuito de dar notícias do que se passa na terra podiam desagradar a quem quer que fosse e serem dignas da censura do correspondente de ‘O DIA’.
Enganámo-nos. Mas que culpa temos nós que haja no mundo invejosos?… Não o prolóquio que é infinito o mundo da… seja inveja?
No Sardoal também os há. E foi isso que levou o tal senhor correspondente, por si ou levado por outrem a embirrar com as correspondências do ECHO, por nelas se fazer justiça ao nosso amigo F.A. Simões, residente nesta Vila, dizendo-se que ele tem prestado à Vila bastantes melhoramentos e que é digno das simpatias dos povos do Concelho etc… Diz o articulista ‘que não conhece o Sr. Simões. Talvez tenha razão, pois provavelmente traz os pés na terra e a cabeça na lua e por isso não pode prestar atenção a tudo que os restantes homens conhecem e sabem, porque vêem.
‘Cônscios do que escrevemos, vamos verberar legitimamente que são desconhecidos os melhoramentos por este Sr. Simões prestados ao Sardoal.”
Cônscios do que escrevemos; já o mel anda por bocas por onde nunca devia ter entrado.
São desconhecidos os melhoramentos, etc. Bateu certo…
Há certos homens para quem não existe a diferença entre o dia risonho de Primavera ou um triste dia de Inverno. O seu espírito não se extasia as maravilhas da natureza na bela das estações, por não saber reflectir ou não apreciar uma terra civilizada com as suas fontes, seus jardins, suas ruas alinhadas, seus prédios de cores esbranquiçadas onde se revela a mão de artistas, do que uma aldeia sertaneja onde medram os sargaços e as casas se cobrem de colmo.
Contudo haja pão. Tudo o mais para ele está bem.
Tirada a prova, o resto está bem, não há dúvida.
‘O Simões há tempos fez uma demolição de alguns prédios, de modo que hoje há pobres que querem uma casa para habitarem e não a têm.’
Aqui há uma intenção malévola. Mas o articulista terá de ferrar os dentes na calúnia. O Sr. Simões se demoliu os prédios, eram seus. Comprou-os com o seu dinheiro, pagou-os pelo triplo ou o quádruplo, talvez, do que eles valiam, beneficiou os antigos possuidores dos mesmos prédios.
Honra lhe seja feita, porque assim é um benemérito que emprega o seu dinheiro embelezando a Vila e dá que fazer aos operários.
Não temos procuração do Sr. Simões, nem pretendemos lisonjeá-lo. O que escrevemos é, simplesmente, por respeitar a justiça, se bem que a correspondência a que nos referimos é daquelas que não ofendem ninguém.
Passamos à segunda parte, que diz respeito à Música:
Tem o Sardoal uma Música e uma Filarmónica, diz o correspondente: ’A Música é dirigida pelo Sr. Simões; a Filarmónica é dirigida por alguns rapazes nossos patrícios.’.
Sabeis leitores que filarmónica quer dizer harmonia?’
Não sabíamos, não senhor, nem ficamos sabendo, nem podemos saber como é que a palavra filarmónica se compõe de duas palavras e língua diversa que lhe deu tal significação.
Aqui há ignorância…
Mas ainda que a palavra tivesse tal significado era-lhe mal aplicado no caso presente. A filarmónica ou por outra, a nova música, filha da harmonia? Ela que se formou pela desarmonia!!…
Para o que havia de dar ao diabo do correspondente de ‘O DIA’…
Aqui andou iludido ao certo, mas não leve a mal. Todos os homens se iludem.
Agora fique sabendo que o Thomé não é pirrónico: o que escreve é o que sabe ser o sentir da parte sã das cabeças pensantes do Sardoal. (…)
Sardoal, 28 de Maio de 1902
THOMÉ
JORNAL DE ABRANTES
27 de Julho de 1902
Agradecimento
Abílio Oliveira Carvalho, António Oliveira Carvalho, suas irmãs, Antónia do Carmo e Maria da Conceição, profundamente reconhecidos, agradecem a todas as pessoas que se dignaram acompanhar à sua última morada sua extremosíssima mãe, Ana de Jesus. Igualmente mostram reconhecidos a todos que se interessaram pelas suas melhoras durante a sua dolorosa enfermidade e que lhes endereçaram as condolências. Não podem deixar de fazer especial menção do distintíssimo médico, Victor Ayres Sequeira Mora, pelo zelo e dedicação com que tratou a doente, empregando todos os seus vastos recursos científicos para debelar a terrível doença. Ao Exm.º Sr. Francisco Augusto Simões, igualmente testemunham os seus agradecimentos, pelas deferências que lhes dispensou, acompanhando o enterro com a banda da distinta Sociedade Fraternidade Sardoalense, de que Sua Exª é mui digno director.
Finalmente não desejam também olvidar o nome do Exm.º Sr. Francisco Afonso Bernardes pelos relevantes serviços que lhes prestou, encarregando-se da direcção do funeral.
A todos repetem os seus agradecimentos pedindo desculpa de qualquer falta absolutamente involuntária
JORNAL DE ABRANTES
17 de Agosto de 1902
Sardoal-Abrantes
A direcção da Sociedade Fraternidade Sardoalense, e os seus sócios executantes da mesma sociedade, agradecem altamente reconhecidos aos seus colegas do Grémio Instrução Musical, as inequívocas provas de sincera estima que lhes tem dispensado, e muito principalmente pela gentileza da visita com que os honraram no dia 3 do corrente.
Acções destas, deixam no coração de todos inolvidáveis recordações de efectuosa amizade e leal camaradagem.
Ao Exm.º Sr. Miguel Serrão Burguete, desta vila, cavalheiro venerando e um extremo obsequiador, agradecem a forma cativante e bizarra como cedeu a sua agradável e pitoresca Quinta das Gaias a fim que ali se reunissem as duas sociedades em alegre convívio e fraternal colectividade.
A todas as pessoas que espontaneamente auxiliaram e concorreram para o luzimento da festa tão íntima e tão sincera, testemunham a sua gratidão.
À redacção deste jornal, cumpre-nos o dever de agradecer tudo quanto o seu numero de 10 do corrente se dignou publicar em prol nosso, e desta terra, cujas referencias, exprimem com entusiasmo, a forma precisa da ideia que não nos abandona.
Pela direcção, e pelos sócios da Sociedade Fraternidade Sardoalense
Sardoal, 12 de Agosto de 1902
O Presidente
Francisco Augusto Simões
Esclarecendo
Com esclarecimento à notícia publicada no nosso número de domingo, com respeito ao jantar oferecido à banda do Grémio na quinta do Sr. Miguel Serrão, pede-nos o nosso amigo Sr. Simões para esclarecermos que o aludido jantar não foi oferecido por ele, mas sim também por todos os sócios da Filarmónica da Fraternidade.
A Cezar…
ECHO DO TEJO
17 de Agosto de 1902
SARDOAL – Correspondência
Foi ontem, nesta Vila, dia de festa. No dia 27 de Julho a nossa popular filarmónica Sociedade Fraternidade Sardoalense, dirigida pelo Sr. F.A. Simões, foi generosamente a Abrantes, tocar na kermesse que nesta Vila se realizou em benefício do Grémio Instrução Musical.
À entrada de Abrantes, a nossa filarmónica que estreava um elegante fardamento oferecido pelo Sr. Simões, era esperada pela direcção do Grémio de Abrantes e foi cavalheirescamente recebida pela filarmónica dessa Vila e muito elogiada por todos, tocando as duas filarmónicas alternadamente.
O Grémio Instrução Musical com a sua direcção à frente, movido de nobres sentimentos que a todos animam, querendo dar um público testemunho do apreço em que tinha a nossa filarmónica, veio ontem ao Sardoal cumprimentar esta e pagar a visita que lhe tinha sido feita na ocasião da festa.
Ao entrar nesta Vila, foram aí, amavelmente, recebidos, como é próprio de pessoas de bem para com os seus hóspedes. Depois seguiram para a Quinta das Gaias, onde houve um lauto jantar a que assistiram as duas filarmónicas e respectivas direcções, sempre muito animadas em presença de muito povo de muitas aldeias que ali se juntaram. Depois do jantar tocaram as duas filarmónicas, alternadamente, as bem escolhidas peças do seu reportório, havendo um arraial, muito animado. Foi um dia alegre para todos, como ainda não houve aqui.
O nosso amigo ilustre Sr. F.A. Simões, é que foi a alma de todo este entusiasmo.
A nossa filarmónica Sociedade Fraternidade Sardoalense, à cuja frente está, para animar, já muito tem prosperado como auxílio que S. Exª lhe tem dispensado apesar das invejas das abelhas zangãos. O Sr. Simões a nada se poupa para fazer dela uma filarmónica digna da confiança que de toda a parte lhe dispensam. São os povos deste Concelho, mais ainda das freguesias mais distantes. Bem haja, ele!
A outra música (a da garrilha) também foi tocar para a Taberna Seca, o que foi muito notado. Disseram que foi para afastar a concorrência da Quinta das Gaias.
Quando lá passámos estavam a tocar e pouco mais do que pardais a ouvir.
Sardoal: 04-08-1902
THOMÉ
JORNAL DE ABRANTES
De 10 de Agosto de 1902
Abrantes – Sardoal
Conforme noticiámos realizou-se em domingo passado a visita de agradecimentos da direcção e banda do grémio Instrução Musical da vila de (Abrantes) aos seus colegas e camaradas da Fraternidade Sardoalense. Dissemos então e repetimos mais uma vez, que estas visitas tão louváveis, simpáticas, muito contribuem para estreitar relações, sobre tudo entre dois povos que, hoje como sempre se irmanam e se auxiliam.
A Filarmónica do Grémio acompanhada da sua digna direcção partiu de Abrantes em direcção ao Sardoal, pelas duas horas da tarde, chegando ali às três.
Eram aguardados á entrada da vila por toda a direcção da Fraternidade Sardoalense e centenas de pessoas.
Imediatamente se organizou um cortejo que seguiu até à residência do Sr. Administrador do Concelho, velho amigo Batista Saldanha, onde a direcção, apresentou cumprimentos, sendo amavelmente recebidos por aquele ilustre magistrado.
Seguiram depois até à sede da Associação, do que o incansável protector Francisco Augusto Simões, um dos poucos que no Sardoal, promove por meios ao seu alcance, o engrandecimento da terra.
Durante o trajecto queimaram-se imensos foguetes, e chegando à sede da Associação ali se achava a excelente Filarmónica Sardoalense, trocando com a nossa os devidos cumprimentos, em seguida o nosso amigo Patronilho, em nome dos sócios executantes do Grémio, apresentou os seus agradecimentos pela deferência havida com eles por ocasião da quermesse.
Respondendo o Sr. Simões que a sua Filarmónica cumprira meramente um dever de boa camaradagem, e que então em qualquer outra ocasião estava ao serviço de todas as causas abrantinas justa e benemerente, folgando em ter ensejo em afirmar que não faz uma afirmação gratuita mas sincera.
Depois de um mimoso copo de água oferecido pela direcção dos representantes do Grémio, de novo se formou um cortejo, então com muito maior número de pessoas até à magnifica Quinta do nosso velho e respeitável amigo Senhor Miguel Serrão, onde, grupos de belas moças, espalhavam flores sobre os nossos Filarmónicos, e sobre a direcção do Grémio, ouvindo-se frenéticas vivas a Abrantes e Sardoal, aos protestos sinceros das duas povoações, etc… etc…
A nossa Filarmónica, fez então ouvir a Guerra de África, primorosamente executada, e que lhe valeu prolongada ovação.
Podemos calcular que se encontravam ali duas mil pessoas, de todas as condições sociais.
Pouco depois serviu-se um opíparo jantar, de 70 talheres ao ar livre, oferecido pelo benemérito Sr. F. Augusto Simões.
Os brindes sucediam-se com entusiasmo, um delírio!…
Apareceu por esta ocasião o Sr. Miguel Serrão, sendo recebido com brilhante demonstração de júbilo.
Findo o jantar, as duas Filarmónicas tocaram alternadamente num largo, na mesma quinta, até às 9 horas, vendo-se muitos bailes reinando sempre muita ordem e grande contentamento.
O Sr. Miguel Serrão convidou então as direcções e vários cavalheiros das suas relações a servirem-se de um delicado copo de água, erguendo recíprocos brindes na extraordinária alegria.
Às 10 horas as duas Filarmónicas reunidas, executando o hino real e centenas de pessoas seguiram para o Sardoal, trocando-se as despedidas.
O povo Sardoalense, teve todas as atenções possíveis para os nossos patrícios o que agradecemos, em nome desta terra (Abrantes), onde infelizmente abundam críticos, e onde predomina o egoísmo, precisamente o contrário que vemos no Sardoal, e mesmo na maioria das freguesias rurais. O nosso grémio, não pode, como muito desejava cumprimentar outras entidades do Sardoal o que aliás não envolve qualquer desconsideração, atendendo ao pouco tempo de que se dispunha e principalmente ao fim especial da sua visita.
É a informação, que temos e que reputamos verdadeira.
ECHO DO TEJO
24 de Agosto de 1902
Acabam de nos afirmar que esta Vila vai em breve ser dotada de um teatro, que será feito a expensas do Sr. F.A. Simões. Oxalá que semelhante boato se confirme e que aquele benemérito não desista de tão louvável propósito. THOMÉ
JORNAL DE ABRANTES
6 de Setembro de 1903
Sardoal
Pendência de Honra
Meu Amigo Manuel de Oliveira Neto
Digno Redactor Do Jornal de Abrantes
Permita-me que, pela primeira vez, venha rogar-te a fineza de dignares a conceder-me a publicação de umas linhas no teu jornal de Abrantes, necessárias agora com a aclaração a uma carta publicada no teu jornal do dia 30 de Agosto último e também no n.º 134 do Echo do Tejo, assinada pelo Exmº Sr. Francisco Augusto Simões.
Agradeço-te com apreço a solicitada fineza e consideração me assino teu amigo At.º e Obgº.
Sardoal, 2 de Setembro de 1903
a) José D. P. Serrão
Por declaração do Sr. Francisco Augusto Simões, e que estão expressas na carta a que me refiro, sei que Sua Ex. me procuraria em minha casa às 12 horas do dia 11 de Agosto último, mas é certo que só me encontrou acidentalmente no edifício dos paços do município às duas horas da tarde, e foi então que me comunicou a razão porque me procurava.
Ouvindo-a, ponderei-lhe que não podia atendê-lo em tal assunto, porque, à uma hora da tarde daquele dia, havendo decorrido 48 horas precisas, após a entrevista que o Sr. Dr. Eusébio Tamagnini Barbosa e eu tivemos em casa do Exmº Sr. Dr. Victor Mora com este Sr. à uma hora da tarde do dia 9 de Agosto, sem que fossemos procurados por V.Ex.ª para se entenderem connosco acerca do assunto que determinara aquela entrevista, havíamos declinado, como nos cumpria, o mandato que nos fora conferido pelo Sr. Júlio Bivar Xavier Salgado, e que desta resolução déramos conhecimento ao mesmo senhor, à uma hora da tarde.
Perguntou-me ainda o Exm.º Sr. Francisco Augusto Simões, se havia estabelecido prazo para se reunirem e conferenciarem os comissionados do Exm.º Sr. Júlio B. X. Salgado e as pessoas que o Exm.º Sr. Dr. Mora nos prometera mandar, ao que respondi que, precisamente pelos factos tal prazo não haver sido determinado, nos competia acatar e respeitar o de uso e costume em casos desta ordem.
Assim terminou o motivo especial da nossa entrevista, seguindo-lhe, porém, considerações de carácter particular, que o Exm.º Sr. Francisco A. Simões e eu trocámos. Estas, pela sua natureza, não são nem podem ser assunto de referências noutro campo, como também entendo que conhecida a minha intervenção, me não assiste o direito de apreciar e comentar o que as ocorrências anormais que originam resoluções anormais também. Refiro-me a razões que determinam a Pendência de Honra.
Como os poderes do mandato especial, de que estava incumbido, para mim cessaram com a desistência do Exm.º Sr. Dr. Eusébio T. Barbosa e eu fizemos desistência que julgue ser devida e honrosa.
Julgue as considerações que deixo escritas, quem tiver competência e autoridade para o fazer com mais acerto.
Por mim, não voltarei mais a ocupar-me do assunto.
a) José Alexandre David Pinto Serrão
JORNAL DE ABRANTES
20 de Setembro de 1903
Sardoal-Pendência de Honra
Sr. Redactor
Heis-me de novo a importunar V.Ex.ª, pedindo-lhe a fineza da publicação do seguinte:
No vosso “Jornal de Abrantes” de 6 do corrente mês vejo uma carta do Exm.º Sr. José Alexandre David Pinto Serrão, que pela delicadeza com que este cavalheiro sempre trata de todos os assuntos, eu não deveria responder, dando por terminado o assunto, como Sua Ex.ª o faz. Como a verdade é simplesmente sem má intenção o que a minha carta de 30 de Agosto findo escrevi, reitero todo o seu conteúdo, sem confusão e emprego a retórica, predicados que não possuo. Na parte que diz respeito o ter procurado sua Ex.ª, ás 12 horas da manhã não pode haver contestação, sendo de facto que decorreu algum tempo em o encontrar não podendo precisar a hora por não conferenciar o relógio, o que teria feito, se tinha declinado o seu mandato.
Se Sua Ex.ª, quer interpretar como conversa particular o resto do que se passou, pode-o fazer, porque da mesma forma interpretarei o resto da vossa contestação.
Quanto a parte que me diz respeito na carta do Exm.º Sr. Dr. Eusébio Tamagnini Barbosa publicou no mesmo dia 6 do corrente no vosso jornal, cumpre-me só dizer a este cavalheiro, que é de facto não ter competência para apreciar prazo em ponto de honra desta natureza, pois que a minha vida de artista nunca me deixou tempo para tais elucidações, só apenas e a muito custo me deixou na folga do trabalho, tempo para apreciar os raros talentos e merecimento com sua Ex.ª.
A minha redondamente falsa declaração como diz Sua Ex.ª, é na verdade sem dotes literários, sem hipocrisia, sem maquiavelismo, é, repito, a expressão clara de quem diz a verdade sem intenção de ofender, sem preâmbulos, nem dotes universitários.
Termino finalmente, e publicamente a sua Ex.ª. que se entretanto chamado á teia da discussão quem lhe igual em talento, porque só de viva voz lhe responderei, quando pessoalmente me queira procurar.
Pela publicação destas linhas Sr. Redactor, muito grato lhe fica quem é com todo o respeito, e consideração.
Sardoal, 12-9-1903
De V.
Francisco Augusto Simões
JORNAL DE ABRANTES
13 de Novembro de 1904
A Eleição no Sardoal
Não foi só em Abrantes que a eleição tomou um caracter pessoal, tornando-se uma luta violenta entre os contentores.
Em Sardoal aconteceu outro tanto. Aqui, porém, sem programa prévio, sem promessas de escola secundária, de luz eléctrica, de reformas de calçada, que bem precisas seriam, e até sem reforma do talho que, afinal, está a pedir asseio, etc.
Portanto as baterias assentaram contra este cavalheiro.
Isto, de dizer que venceram os progressistas, é história. Eles sabem lá o que sejam pirolistas ou regeneradores. O que querem é pagar menos; isto a maioria, a minoria o que pretende é ver-se livre do grupo Salgado, conjugados e aproveitadinhos estes desejos, não foi difícil a vitória, conquanto exigisse muita propaganda.
Vamos, portanto, contar o que se passou.
O digno Juiz da comarca nomeou em substituição do presidente da assembleia que foi eleito, e que se escusou o Sr. Saldanha, nomeação que não agradou aos progressistas, berrada, o caso levado ao conhecimento do governo e do governador civil, e daí o aparecimento do padre Mora, como delegado especial para presidir à assembleia.
Às 8 e meia de domingo passado, notava-se já um movimento desusado de galopins dos dois grupos. Uns que vinham, outros que iam, um perfeito giro de alcatruzes na nora eleitoral. Pouco depois, aí vemos a seguir, sorrateiro, rua acima, o vice-presidente, sorteado da assembleia, progressista de gema, fanático por José Luciano, até à medula do osso. Referimos ao Sr. Francisco da Silva, um excelente cavalheiro e nosso amigo.
Uma vez na igreja, e logo que as 9 badaladas, repercutem pelos vales, hei-lo que toma a presidência, achando-se já presente a autoridade administrativa, propõe escrutinados, secretários e suplentes e começou assim os trabalhos. Eis se não quando chega o Sr. Saldanha, nomeado em substituição do Sr. Miguel Serrão, e tenta presidir à assembleia, apresentando o competente ofício de nomeação. A autoridade não lhe reconhece legitimidade, Saldanha insiste em ocupar a presidência e quer expulsar o vice-presidente.
Zaragata, alteração, uma vozearia dos demónios no templo de Deus.
Vai então, surge o padre Dr. Mora, delegado especial do governo. Justifica-se a sua qualidade, afasta os polemistas, toma o seu lugar e assume a presidência. Oh, céus, que trovoada! A polícia prepara-se e a força militar, posta de prevenção, dispõe-se à primeira voz. Não foi necessária. A tempestade desencadeara um copo de água , Saldanha entrega-lhe a papelada, em seguida o Dr. Mora convida Silva a tomar a presidência, o que se cumpre.
Constitui-se depois regularmente e legalmente a mesa com o Sr. Padre Silva Martins, Padre Alves Ferreira, Francisco Simões, Virgílio, Serafim Freitas e Blandino.
Prosseguem os trabalhos serenamente, de vez em quando lá vem um protesto, a seguir um contra protesto, lá fazem entrar Salgado na ordem, e ainda um cabo de polícia que se recusava a fazer serviço.
Às 3 e meia contavam-se as listas, que, pelo adiantado da hora, ficam guardados e selados com sentinela à vista.
Na segunda-feira continuam os trabalhos, que ainda não acabam nesse dia, concluído afinal na terça-feira com uma maioria de 159 votos em favor dos oposicionistas. Safa! Que íamos vendo jeitos de não acabar o escrutínio. À noite, houve música, foguetes, vivório, vinho, demónio!
Saudou-se o partido progressista, deram-se vivas ao José Luciano, que quase ninguém conhece, e poucos sabem que existe, e foi uma vez o partido regenerador, no dizer das pessoas ilustres…
Esperem agora pelo baque, que há-de ser de arromba.
Rira bien qui rira le dernier
10-11-1904
ECHO DO TEJO
12 de Março de 1905
Faleceu na sexta-feira última, no Sardoal a esposa do Sr. Francisco Augusto Simões. O seu funeral foi muito concorrido, incorporando-se nele a filarmónica “Sociedade Fraternidade Sardoalense”, da qual o Sr. Simões tem sido um desvalado protector.
O caixão do corpo da falecida, foi conduzido na carreta funerária do Sr. André Ribas da vila de Abrantes.
Ao nosso amigo Sr. Simões apresentamos as nossas condolências.
WW
JORNAL DE ABRANTES
26 de Março de 1905
“A Sardoalense”
Empresa de Viação
Máximo Serras, do Sardoal havendo adquirido os carros de viação e transporte e o gado, que pertenciam ao Sr. Francisco Augusto Simões, oferece aos seus estimáveis fregueses e público os serviços da empresa, por preços convidativos, aos comboios correios da estação de Alferrarede e vice-versa.
Há carreira.
Alugam-se carros especiais.
JORNAL DE ABRANTES
26 de Março de 1905
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Declaração
Declaro para todos os efeitos que cedi ao Sr. Máximo Maria Serras, desta vila o material e solípedes, da minha empresa de viação nesta vila, cujo contrato de cedência, foi feito pelo notário desta vila no dia 16 do corrente.
Sardoal, 23 de Março de 1905
Francisco Augusto Simões
JORNAL DE ABRANTES
15 de Novembro de 1905
Agradecimento
Francisco Augusto Simões, vem por este meio agradecer aos seus amigos e mais pessoas que se dignaram assistir à missa e trasladação da sua finada esposa, no cemitério desta vila, no dia 15 do corrente mês.
A todos agradece sinceramente reconhecido, não olvidando já mais esta prova de verdadeira estima, e pede desculpa de o não fazer pessoalmente, porque o seu estado de consternação no acto, não lhe permitiu relacionar as suas moradas.
Sardoal – Eleição da Misericórdia
No dia 10 do passado mês, eliminaram-se perante os restantes membros da mesa da misericórdia, desta vila, três membros, a fim de não serem reeleitos.
Não havia motivo para tal escusa se explicasse, embora aquelas apresentadas pelos demissionários, fossem atendidas.
Os restantes membros, vendo a atitude tomada pelos seus três colegas retraíram-se em instarem com eles para continuarem pois que, um alegava ter afazeres e já por ali estar há 3 anos, e assim queria descansar e outra qualquer ocasião mais tarde que se oferecesse entraria novamente. Outro, por ter emprego público e não ter vida para isso, e outro porque no p. p. ano foi eleito sem que com ele tivesse falas por parte da mesa, mas sim o foi por votação de irmãos, e, vendo isso também se despedia.
O Sr. Provedor pondera ainda aos necessários demissionários algumas razões no sentido de os demover da sua atitude, ao que retorquiram com o que haviam dito, e lembrando ao mesmo tempo alguns irmãos para a sua substituição, tais como: Abílio Fonseca, João de Matos, Francisco Simões, António Ferreira, António Marçal, etc. à vista disto, deliberou-se de comum acordo uma reunião no dia 15, sexta-feira, à noite, e em casa do Sr. Provedor, a fim de se assentar na lista definitiva a formar. No dito dia e à hora precisa, só apareceu um dos mesários em vista do que nada se pode resolver.
No domingo seguinte, realizava-se a eleição, e até ali nunca houve nada digno de nota e por onde se concluísse que eles, mesários demissionários se não interessavam pelo bom andamento das causas desse estabelecimento de caridade.
Continuarei…
Imparcial
JORNAL DE ABRANTES
8 de Março de 1908
Ditos e Boatos
Dizem-nos ter estado concorridíssimos os animados bailes realizados nas noites de domingo, segunda e terça-feira de entrudo, no vasto salão do teatro que o nosso amigo Francisco Augusto Simões ali mandou construir.
O aspecto de 2ª feira tanto no interior como no exterior, será de um efeito deslumbrante. Em qualquer das noites dançou-se animadamente até depois das 3 horas da madrugada.
Na terça-feira, conta-nos ter o nosso amigo Simões preparado uma bonita mas que a chuva não deixou que fosse apreciada. Não é possível descrever a alegria e satisfação, que nos disseram ter reinado numa festa em que todos deixou gratas recordações e onde dançaram animadamente sempre cerca de 40 a 50 pares.
Dizem-nos esperar-se pela nomeação do Sr. Dr. Victor Mora para administrador do concelho. Não felicitamos os sardoalenses por isso…
JORNAL DE ABRANTES
3 de Agosto de 1919
Declaração
Eu abaixo assinado Francisco Augusto Simões, casado, proprietário, morador em Sardoal, venho declarar, para todos os efeitos legais o seguinte:
1.º Que é redondamente falso que eu tenha qualquer filho natural.
2.º Que nunca tive na vila de Sardoal quaisquer amantes a quem mantivesse ou sustentasse, e se alguns devaneios tive na minha mocidade foram eles com mulheres da vida e costumes fáceis, pelas relações carnais que mantinham ao mesmo tempo com outros homens, jamais poderão saber qual o verdadeiro pai dos seus filhos.
3.º Que nunca tratei ou reputei qualquer pessoa por ou como meu filho, por o não ser.
Finalmente faço esta declaração para que ninguém depois da minha morte, e com mira apenas dos meus bens, se julgue com direito a habilitar-se como seu herdeiro.
Sardoal, 30 de Julho de 1919
Francisco Augusto Simões