Sobre o actual Pelourinho

Do primitivo pelourinho(s) não se conhecem muitos dados. É certo que o pelourinho (ou picota), a par do selo municipal, era uma das formas por que se revelava a personalidade jurídica do concelho, portanto o seu surgimento deverá estar intimamente associado à sua fundação.

Apesar de referida por alguns autores, a atribuição do primeiro foral à Vila de Sardoal em 1313, pela Rainha Santa Isabel, não se encontra documentada. O mesmo se aplica à datação do Pelourinho, que outros defendem ser da mesma altura. Sabe-se, contudo, que no dito ano o Sardoal já tinha Juízes e Procurador do Concelho. O Pelourinho tem inscrita a data de 1531, ano da elevação a Vila dada por D. João III.

Sobre o actual pelourinho, podemos referenciar a sessão ordinária da Câmara Municipal de Sardoal de 16 de Novembro de 1933 onde, além de ter sido discutida a construção a realizar do edifício escolar de Cabeça das Mós, entre outros assuntos de gestão corrente, foi também discutida a executação da reconstrução do Pelourinho. Pelo seu interesse, a acta dessa sessão transcreve-se parcialmente:

“Aos dezasseis dias do mês de Novembro de mil novecentos e trinta e três, nesta Vila do Sardoal e Sala dos Paços do Concelho, reuniu a Comissão Administrativa desta Câmara, sob a presidência do cidadão Lúcio Serras Pereira, estando presentes os vogais Silvério Falcão e Manuel Lobato Correia.
Abriu a sessão às doze meia horas, sendo lida e aprovada a acta da sessão anterior.
(…)
Pelourinho – Tendo sido demolido o Pelourinho que existia na Praça desta vila para terraplanagem e calcetamento da mesma praça, no tempo em que era Presidente desta Câmara o Exm.º Senhor Máximo Maria Serrão, pensou esta Câmara em reconstituí-lo com os elementos dispersos que do mesmo Pelourinho ainda existem e pela lembrança de pessoas que o viram erecto no seu lugar, já bastante desmantelado e para não perder um monumento histórico de valor, incumbiu o Chefe da Secretaria desta Câmara de esboçar um desenho que servisse de base à sua reconstrução. O Arquitecto Raul Lino aperfeiçoou este desenho nos seus detalhes artísticos, a fim de que o canteiro procedesse sem dificuldade à respectiva execução. Foi este desenho, presente à Câmara nesta sessão, que serviu de base à proposta datada de 12 de Outubro findo, apresentada pelo canteiro Delfim Pereira Cacho & Filhos do Rossio de Abrantes, que se propõe à execução do referido Pelourinho pela quantia de quatro mil e duzentos escudos, sendo a base de degraus em cantaria de Tomar e a coluna em mármore. Este preço inclui o trabalho de montagem e colocação no seu lugar, ficando a cargo da Câmara as fundações e madeira para os andaimes e as ferragens exteriores. A Comissão aceitou esta proposta e entregou ao proponente o encargo da construção e colocação do Pelourinho, que será executado conforme o desenho referido, sendo o prazo da conclusão até ao Domingo de Páscoa próximo.
(…)
E não havendo nada mais a tratar foi encerrada a sessão. E eu, Adelino Grácio, Chefe da Secretaria a subscrevi.

A actual Praça da República no fim de 1933 ou no início de 1934, já sem o fontanário e ainda sem o pelourinho

Desta acta pode inferir-se que o antigo Pelourinho foi demolido entre 1860 e 1881, período no qual o Sr. Máximo Maria Serrão foi Presidente da Câmara por algumas vezes. O fontanário que estava antes de 1934 muito próximo deste local tinha sido ali colocado em 1894, tendo depois sido deslocalizado para junto da Cadeia Velha, sendo por isso a fonte hoje designada como Fonte da Cadeia. A acta da reunião refere que o antigo Pelourinho já antes existia na Praça. É também provável que até ao início do século XVII o primitivo Pelourinho estivesse colocado onde hoje está a referida fonte, porque ali eram as antigas Casas da Câmara (Paços do Concelho), a Cadeia e os Açougues.

Projecto do pelourinho do Sardoal, com autoria do arquitecto Raul Lino, elaborado em 1933

O Estado Novo está associado à revalorização dos símbolos municipais como o Pelourinho, nomeadamente por causa do Decreto-Lei n.º 23.122, de 11 de Outubro de 1933. Por coincidência, é do dia seguinte a proposta do canteiro Delfim Pereira Cacho & Filhos, do Rossio de Abrantes, para a execução do novo Pelourinho do Sardoal. Refira-se que Raul Lino tinha estado no Sardoal já em Agosto do ano anterior, por iniciativa do ilustre sardoalense Dr. Manuel Serras Pereira, sendo Presidente da Câmara o seu irmão, Lúcio Serras Pereira.

Seja como for, pela relação com o tema, o decreto supracitado transcreve-se de seguida:

“Duas espécies de monumentos nos restam hoje atestando a nossa antiga e característica organização social: os paços do concelho e os pelourinhos. A utilização ininterrupta dos primeiros tem desnaturado ou transformado os poucos exemplares que deles ainda nos restam.
Os pelourinhos, que em Portugal são mais símbolos de autonomia regional do que locais de tortura, estão em regra menos deturpados, embora abandonados pelas municipalidades, e até pelo Estado, que apenas tem classificados 33 de entre os de mais valor artístico. Nunca se atendeu ao seu valor histórico, assim como nunca se procedeu ao seu inventário. Apenas alguns estudos particulares se podem considerar como elementos, aliás valiosos, para o seu estudo e catalogação.
Urgindo, pois, proceder-se à classificação de todos os pelourinhos existentes, bem como à sua inventariação;
Usando da faculdade conferida pela 2.ª parte do n.º 2.º do artigo 108.º da Constituição, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:
Art. 1.º – São classificados como imóveis de interesse público, nos termos do artigo 30.º do decreto n.º 20:985, de 7 de Março de 1932, todos os pelourinhos que não estejam já anteriormente classificados.
Art. 2.º – A Academia Nacional de Belas Artes procederá, de acordo com o Conselho Superior de Belas Artes, nos termos do n.º 5.º do artigo 22.º do referido decreto, à organização do seu inventário, para o que poderá solicitar às câmaras municipais e outras entidades oficias os elementos de que necessitar.
Art. 3.º – Os pelourinhos ficam na posse das municipalidades, que são responsáveis pela guarda e conservação dos que estiverem na sede do respectivo concelho. A guarda e conservação dos que não se encontrem nestas condições competirá à junta de freguesia respectiva.
Art. 4.º – Os pelourinhos que existem fora dos seus primitivos locais serão, quando possível, neles reintegrados, por conta das respectivas municipalidades.
Publique-se e cumpra-se como nele se contém.”

Sardoal e Portugal: Século XVI

Este documento apresenta um breve retrato da sociedade portuguesa da primeira metade do século XVI e acrescenta algumas notas sobre a história do Sardoal no mesmo período.

Advertência: Não há aqui muito de original nem pretende ser um trabalho académico, por falta de formação específica da minha parte. O objectivo é só, mais uma vez, ajudar a divulgar a história do Sardoal, neste caso dando-lhe algum contexto de época.

Reprodução do Foral de Sardoal (Chancelaria de D. João III, liv. 50, fls 109 v.), datado de 22 de Setembro de 1531

Entrevinhas – uma aldeia secular

Uma (muito) breve memória da história

Situada a pouco mais de 3 km a nascente da Vila de Sardoal, a aldeia de Entrevinhas é uma das povoações mais antigas do concelho de Sardoal, aparecendo referida em documentos existentes no Arquivo Municipal de Sardoal, a partir de meados do século XVI, sabendo-se que em princípios do século XVII integrava a vintena de Alcaravela de Baixo, sendo de Entrevinhas o respectivo Juiz de Vintena.

O Padroeiro da aldeia é Santo António, cuja capela foi construída em 1713 pelo povo da aldeia e às suas custas, conforme refere Jacinto Serrão da Mota no manuscrito “Memórias restauradas do antigo lugar e depois Vila de Sardoal”.

Planta e corte longitudinal da canalização da Fonte do Corrego, na aldeia de Entrevinhas, em Maio de 1908

Segundo testemunhos recolhidos há cerca de quarenta anos, junto das pessoas mais idosas que então habitavam na aldeia, o nome “ENTREVINHAS” teria resultado mesmo do facto de terem existido muitas vinhas ao seu redor, em tempos anteriores ao do povoamento pelo pinheiro-bravo que agora é dominante, que só aconteceu a partir do final do século XIX.

Segundo os mesmos testemunhos, antes da floresta pínea o povoamento vegetal dominante era constituído por sobreiros, castanheiros e oliveiras e, ainda hoje, é possível encontrar, nas encostas dos montes que existem entre Entrevinhas e a Serra de Alcaravela, muitos socalcos de menor ou maior dimensão, que indiciam outro tipo de ocupação agrícola e florestal, nomeadamente com olival.

A aldeia de Entrevinhas apresentou o seu maior efectivo populacional de sempre no Censo de 1940 (266 hab.) tendo vindo, sucessivamente, a diminuir até à actualidade, ainda que o maior decréscimo populacional tenha sido entre 1960 e 1970, quando a aldeia perdeu 101  habitantes (de 238 passou para 137), resultado da deslocação de muitos dos seus habitantes para a região de Lisboa, a maior parte, e para França.

Entre 1960 e 1980 a aldeia sofreu um forte declínio, com uma acentuada degradação de uma boa parte dos seus fogos habitacionais, situação que só viria a ser modificada a partir da sua electrificação, em 1976, da instalação do abastecimento de água ao domicílio, em 1981, e da remodelação e beneficiação dos acessos e dos arruamentos.

Uma visão poética da vida numa aldeia portuguesa no final do século XIX

“Ao Cair da Tarde

Em todo o céu se apagou a refulgência de oiro, o esplendor arrogante que se não deixa fitar e quase repele, agora apaziguado e tratável, ele derrama uma doçura, uma pacificação que penetra na alma, a torna também pacífica e doce e cria esse momento raro em que o céu e a alma fraternizam e se entendem.
Os arvoredos repousam, numa imobilidade de contemplação que é inteligente. No piar velado e curto dos pássaros há recolhimento e consciência do ninho feliz. Em fila, a boiada volta dos pastos cansada e farta, e vai beberar ao tanque, onde o gotejar da água sob a cruz é mais preguiçoso.
Toca o sino a avé-marias. Em todos os casais se está murmurando o nome de Nosso Senhor. Um carro retardado, pejado de mato, geme pela sombra da azinhaga.
É tudo tão calmo e simples e terno, que em qualquer banco de pedra em que me sente, fico enlevado, sentindo a penetrante bondade das coisas, e tão em harmonia com ela que não há nesta alma, tão incrustada das almas do mundo, pensamento que não pudesse contar a um santo.”

EÇA DE QUEIRÓS – Correspondência de Fradique Mendes

Este pequeno texto do grande vulto das Letras Portuguesas que foi Eça de Queirós retrata, com uma visão algo poética, um fim de tarde numa aldeia portuguesa, há cerca de 100 anos.

Podia ser em Entrevinhas…

Entretanto, os tempos mudaram muito e os usos, costumes e tradições foram-se adaptando aos avanços da civilização, modificando profundamente o modo de vida das populações rurais, quer nos seus hábitos e relações sociais, quer na angariação da subsistência do dia-a-dia que, durante séculos teve por base a agricultura e a pastorícia, para além de algumas actividades artesanais que lhe serviam de suporte e que em muitos casos funcionavam como actividades complementares do rendimento das famílias e que, normalmente, não dispensavam para os artesãos que as realizavam, o exercício da actividade agrícola como garantia de subsistência.

Nem tudo era bom na vida rural desses tempos remotos e muitos foram os trabalhos e sacrifícios dos nossos antepassados, para garantir a sobrevivência da família, com os precários meios de que dispunham, quer em termos económicos, quer em termos de educação, saúde, etc.

Sobre a Quinta dos Moinhos (um nome novo para um espaço antigo)

O edifício principal da que é, agora, designada por “Quinta dos Moinhos”, foi durante dezenas de anos conhecido como “Escola Velha”, porque ali funcionou nos anos 30 do século XX a Escola Primária de Entrevinhas, antes de na década de 40 ter sido construída a nova Escola que ocupou o edifício que é, actualmente, a sede da Associação de Melhoramentos dos Amigos de Entrevinhas.

O edifício principal e os anexos, bem como os terrenos envolventes, para poente, eram propriedade da família Dias Serras, de quem um dos últimos representantes foi o Sr. Francisco Dias Serras, um comerciante de solas e cabedais, na Vila de Sardoal, que teve durante muitos anos uma loja no local onde está instalada a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo.

Contava-se há muitos anos, em Entrevinhas, uma história de um acontecimento passado durante a 1.ª Invasão Francesa (1807/1808), em que as tropas de Junot estiveram no Sardoal e nas suas proximidades durante algum tempo, cometendo todo o tipo de violências sobre a população. Dizia essa história que um grupo de soldados franceses tentou entrar nessa casa que seria, nesse tempo, uma das mais importantes da aldeia, para o que tentaram arrombar uma porta lateral do 1.º andar, a que se tinha acesso através de uma escada, porta essa que abria para fora, circunstância de que os franceses não se aperceberam, pelo que não conseguiram arrombar a porta, nem entrar em casa.

Se esta história for verdadeira, o imóvel terá mais de duzentos anos, ainda que tenha sido sujeito a modificações posteriores.

Segundo a mesma tradição popular, naquela casa viveram, em meados do século XIX, duas irmãs, conhecidas como as “Irmãs Claras”, uma chamada Rita Clara e a outra Maria Clara, cujo nome aparece num processo judicial, existente no Arquivo Municipal de Sardoal, relacionado com uma demanda sobre direitos de águas da Fonte do Corgo (ou do Córrego). Essas irmãs seriam, nesse tempo, as pessoas mais abastadas da aldeia, o que parece poder ser verdade, tendo em atenção a dimensão das propriedades que se sabe terem pertencido à antiga família Serras, de Entrevinhas. Aliás, na listagem do pagamento da Côngrua dos anos de 1859/60, a Maria Clara aparece como o maior contribuinte líquido da aldeia de Entrevinhas.

A actual designação “Quinta dos Moinhos” resulta, naturalmente, da proximidade geográfica com os Moinhos de Vento de Entrevinhas, que constituem o maior núcleo de moinhos de vento do concelho de Sardoal e da região.

Sobre os moinhos e outros locais próximos de Entrevinhas, demos conta em texto autónomo.

Julho de 2003

Outra memória de Entrevinhas

Tive o privilégio de a D. Maria Manuel Serras Pereira (1917-2010) me ter oferecido uma parte das suas memórias. Tomo a liberdade de publicar aqui um pequeno texto escrito em 1980, cuja acção se passa em Entrevinhas, minha aldeia natal, e cujo personagem principal, o Sr. Eleutério, eu conheci muito bem.

Eleutério de nome, analfabeto por destino e bruxo de ofício.
Nunca gostei dele e nem o conhecia, mas ouvia contar.
Bruxo se fez, nem sei como, e fortuna arranjou a iludir papalvos. Vêm de longe em carros de luxo tratar-se de toda a espécie de moléstias: ervas, benzelhices e conversa para males de coração e guerras de família.
Senti sempre revolta quando me contavam as histórias. Como podia aquele pobre diabo que nem conhece as letras iludir gente endinheirada e bem-apessoada? Nunca me souberam explicar, mas a conta no banco e as propriedades compradas atestam a verdade do ofício e dos lucros que lhe dá.
Sempre gostei da aldeia onde vive por ficar mais perto da quinta e por serem sempre de lá os caseiros e sua família. Por lá íamos muita vez calcorreando os seus caminhos de cabras em sobe e desce, cheios de pedras roliças que embaraçavam os passos e faziam escorregar na descida. As casas, de reboco algumas, nem conheciam cal. Meia dúzia, para aí, e dos mais endinheirados.
Passaram anos e a aldeia foi evoluindo: caminhos alcatroados, casas todas caiadas, três ou quatro no “estilo maison” trazido por emigrantes, mas outras apenas alindadas pelo reboco, caiação e exuberância de flores em cima dos muros e nas frontarias rente às paredes.
Respira alegria no ar lavado com vista ao redor porque fica num alto. Está bonita a aldeinha. Sente-se que é amada pelos seus moradores.
E foi lá que alguém deu maçãs a um membro da família. Tinha ido buscar água da fonte – a da Vila não é apetecível com o lixo que traz e os desinfectantes malgostosos. Foi um delírio: o gosto da infância nas maçãs nunca mais comidas. Lariôa (?) é o seu nome e nunca mais foi saboreada desde que as macieiras da Quinta foram arrancadas por ordem de um engenheiro agrícola cheio de ciência e ausência de sensibilidade gustativa.
E quem deu? Dificuldade de procura numa aldeia com tão pouca gente. Pedia “garfos” para fazer enxertia em macieiras quase bravas, mas ninguém descortinava o proprietário de tais delícias.

“É fulano…” e lá se buscava o fulano. “Que não senhor, não tinha sido ele, mas talvez beltrano…” E de horta em horta, de casa em casa, lá veio quase sussurrando a indicação: Foi o Eleutério, é ele que tem essas maças e contou-me o acontecido. Pois vamos ao Eleutério. “É o ervanário” – disse-me um pouco a medo o taxista. O Bruxo, ia finalmente travar-me de conversas com o Bruxo!
Parámos junto à casa; o taxista foi por ele que andava na horta. Casa corrida de rés-do-chão e varandim à frente a abarrotar de frézias de todas as cores e “alegrias da casa”, tão variadas de colorido como as frézias. Uma beleza! Dentro trabalhava um tear. Entrei. A mulher é surda, mas simpática, avezada às visitas do marido que deixam proveitos.
O Bruxo não vinha e fui-me até ele.
É um homem obeso de voz rouca e ofegante de asmático. Confirmou a história e disse ter dezenas de macieiras e que de todas me daria “garfos”. Insisti na Lariôa, expliquei detalhadamente que precisava, apenas, de “garfos” para meia dúzia de arvorezinhas nascidas da raiz da macieira cortada. Ele teimava, teimava, e eu cada vez mais espantada com a parvalheira dos seus pacientes que conseguiam tirar proveito de criatura tão pouco esperta. Depois em gesto largo mostrou os terrenos ao redor, todos seus, e mais além um que lhe andava no goto; queriam dois mil e embora os tivesse na banca, achava demasia para o tamanho. E depois de discussões que me iam pondo ao rubro, acabou por condescender mandar-me para a Vila “garfos” de três qualidades. Despedimo-nos e já dentro do carro, na descida, ouvimos a sua voz: “Minha senhora, minha senhora”. Mandei parar o carro e ele quase rebolava na ladeira e freneticamente tentava abrir a porta do carro: “Menina, ó menina, lembra-se dum garotinho que durante três anos esteve no hospital do Convento com uma perna que era uma lástima? A menina e os seus manos levavam-me pacotes de bolos, lembra-se? Eu lembrava-me lá, tantos foram os garotos que ao longo desta longa vida receberam guloseimas em camas de hospital, mas disse que sim, claro que disse que sim. Ele mais arfante a espelhar alegria na sua cara redonda, ia dizendo: “Eu sabia, eu sabia que a Menina não me tinha esquecido. O seu Pai até queria que a Misericórdia me adoptasse por filho, mas a minha mãe não quis. Eu sabia, eu bem sabia que a Menina se lembrava de mim.”
E de repente todo o desprezo que sentia pelo Bruxo se transformou numa ternura enorme por aquele rapazinho que durante três anos, dos sete aos dez, agonizou dores cruciais na sua perna com osteomielite que o deixou marcado, claudicando no andar. Aquele menino que não conheceu pai, que esteve três anos na enfermaria dum hospital junto de velhos gemebundos, assistindo a mortes e dores alheias, roidinho de sofrimento. A osteomielite era ao tempo doença terrível pelo sofrimento que causava e pela dificuldade da cura – aquele menino que não teve letras por ter passado num hospital o tempo escolar, estava ali à minha beira, radiante por ter sido lembrado e eu olhei-o com toda a minha ternura.
O Bruxo afinal é alguém que foi menino sofredor e não esqueceu nunca um gesto de carinho.

Dr. Raul Jorge Wheelhouse e o Sardoal

DADOS BIOGRÁFICOS:

Data de nascimento: 2 de Novembro de 1901
Filiação:
Pai: Jorge Wheelhouse
Mãe: Maria Vieira dos Santos

Naturalidade:
Freguesia de São João das Areias, Concelho de Santa Comba Dão, Distrito de Viseu

Fotografia retirada do livro  ”Uma História da Maçonaria” do Prof. António Ventura, via Cidadãos Por Abrantes

EXTRACTO DO SEU DIPLOMA:

FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
João Alberto Pereira d’Azevedo Neves, Director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa:
Faço saber que Raul Jorge Wheelhouse, abaixo assinado, natural de São João das Areias, concelho de Santa Comba Dão, distrito de Viseu, foi aprovado nos Exames de Estado do curso médico, nos dias abaixo designados, obtendo as seguintes classificações:
PRIMEIRO – Exame, em vinte e quatro e vinte e cinco de Outubro de mil novecentos e vinte e quatro: onze valores.
SEGUNDO – Exame em três e quatro de Novembro de mil novecentos e vinte e quatro: doze valores.
TERCEIRO – Exame, em treze e dezanove de Julho de mil novecentos e vinte e quatro: dezassete valores.
QUARTO – Exame, em vinte e seis, vinte e oito e vinte e nove de Julho de mil novecentos e vinte e quatro: doze valores.
Pelo que, em conformidade da Lei, lhe é passado o presente diploma, o qual, depois de nele se registar o seu doutoramento em Medicina e Cirurgia numa das três faculdades do País, habilita o impetrante a exercer Medicina e Cirurgia, em todo o território da República e a gozar de todas as prerrogativas e vantagens que legalmente lhe competem.
Dão a requerimento do impetrante, na Secretaria da Faculdade de Medicina de Lisboa, em 28 de Novembro de 1924.

Em quatro de Julho de 1925, concorreu para Facultativo da Câmara do Sardoal, juntando os documentos necessários, incluindo três declarações abonatórias que pela sua sua curiosidade se transcrevem, parcialmente:

1.ª – Manuel Diogo de Valadares, Médico do Hospital de S. José:
Atesto que o Senhor Doutor Raul Wheelhouse frequentou a minha Enfermaria de Santa Emília do Hospital de S. José durante um ano, tendo prestado excelentes serviços clínicos com a maior competência e zelo.

2.ª – José Antunes dos Santos Júnior, Médico dos Hospitais Civis de Lisboa, Assistente da Enfermaria de Santa Emília e da consulta de doenças do aparelho digestivo no Hospital de S. José, certifico que o Excelentíssimo Senhor Doutor Raul Jorge Wheelhouse fez serviço como externo voluntário na Enfermaria de Santa Emília e na consulta de doenças do aparelho digestivo durante os anos de mil novecentos e vinte e dois, mil novecentos e vinte e três e mil novecentos e vinte e quatro, sempre com assiduidade e inteligência, merecendo sempre toda a minha confiança.

3.ª – Manuel Maria Santos Paiva, Cirurgião, pela Faculdade de Medicina de Lisboa: Atesto, sob minha honra, que o Excelentíssimo Doutor Raul Wheelhouse, frequentou o serviço de urgência dos Hospitais Civis de Lisboa, quando aí fez serviço como cirurgião, tendo dado provas de excepcionais qualidades profissionais, tendo sido extremamente zeloso nos cuidados aos doentes e mostrando a maior boa vontade em aumentar os seus já grandes conhecimentos profissionais.

AUTO DE POSSE DO EXCELENTÍSSIMO SENHOR FACULTATIVO MUNICIPAL, DR. RAUL JORGE WHEELHOUSE:

Aos oito dias do mês de Agosto de mil novecentos e vinte e cinco, nesta Vila do Sardoal e Sala dos Paços do Concelho, estando presente o Exm.º Presidente da Comissão Executiva da Câmara deste Concelho, Vice-Presidente, o Sr. Francisco Dionísio e Vogal, Sr. Lúcio Serras Pereira e o Exm.º Sr. Dr. Raul Jorge Wheelhouse para tomar posse do 2.º partido médico para que foi nomeado em sessão de 6 de Agosto e cujo concurso foi anunciado nos Diários do Governo nº 128 e 129, III Série, respectivamente de 4 e 5 de Junho, próximo passado.
Foi-lhe conferida a posse, depois de cumpridas as formalidades legais, pelo Ex.mº Senhor Presidente, prestando o seu compromisso de honra de bem e fielmente cumprir as obrigações do seu cargo.
O nomeado tem direito aos honorários que a Lei lhe concede e emolumentos consignados na tabela camarária em vigor, cuja cópia lhe foi entregue no acto de posse.
E para constar se lavrou o presente auto que vai assinado pelo Presidente, agraciado e mais pessoas presentes a este acto. E eu, Adelino Grácio, Chefe da Secretaria, o subscrevi.

Da actividade clínica do Dr. Raul, forma simples e carinhosa com que sempre foi conhecido no Sardoal, não são conhecidos muitos registos escritos, ainda que muitas pessoas se recordem dele, tendo em atenção o facto de ter exercido a sua função de médico, no Sardoal, até há cerca de 25 anos.

Mesmo assim, vale a pena transcrever algumas notícias publicadas em 1929, num jornal regional, concretamente “O BALUARTE», de Abrantes:

Abrantes, 30 de Junho de 1929:

Dr. Raul Wheelhouse
O Sr. Dr. Raul Wheelhouse, ilustre médico cirurgião, que no Sardoal vem realizando uma obra notável, tem no prelo o seu primeiro trabalho científico, intitulado “OS ABCESSOS NO OVÁRIO”, trabalho realizado no serviço do Professor Doutor Cabeça, do Hospital Escolar.
O Sr. Dr. Raul Wheeloushe que unicamente se tem dedicado à cirurgia, publicará no final deste ano um outro trabalho “TRÊS ANOS DE CIRURGIA”, que contém a sua estatística particular e a narração da sua obra cirúrgica, naquele ponto do país (Sardoal).
De há muito sabíamos que este nosso amigo trazia qualquer coisa de trabalho científico entre mãos, mas a sua modéstia nunca nos permitiu dar-nos a conhece-lo.
O que ele é e o que vale cientificamente, falam mais alto as estatísticas do Hospital do Sardoal, do que nós, onde há 4 anos se operam os mais graves casos cirúrgicos e sempre com êxito, que para ele constitui a sua maior glória.
Não temos à mão essas estatísticas, mas tencionamos publicá-las e então se verá que o seu valor científico não se acomoda só dentro do concelho de Sardoal, pois o nosso concelho (Abrantes), Barquinha, Torres Novas, Tomar, Vila de Rei, Mação e Vila Nova de Ourém, ali ocorrem, dia a dia, a aproveitar o seu vasto valor, tanto no campo médico, como no campo cirúrgico.
O Sardoal, que sabe apreciar e estimar, pode orgulhar-se de possuir um excelente Hospital, que está compartilhando dos triunfos do seu cirurgião, podendo afoitamente dizer-se que é um dos melhores da província, não só pela sua situação, mas também pelo modernismo das suas instalações. C.

Abrantes, 4 de Agosto de 1929:

Sardoal – Operação
O nosso querido amigo Sr. Dr. Raul Wheelhouse que no Sardoal se está evidenciando como um hábil operador, fez há dias no hospital desta vila, com a assistência do médico do Souto (Dr. Raul Galiano) uma melindrosa operação, que a cirurgia denomina de “laparotimizada”, por esventração abdominal, a Nazaré de Jesus, casada, com dois filhos, moradora em Carvalhal, que já teve alta e se encontra completamente curada.
Quem ouvia os lamentos da infeliz Nazaré e a vê agora, admira-se da revolução que se operou naquele ser, que não se cansa de elogiar o seu médico, que realmente tanto merece.
Na verdade o Sr. Dr. Raul Wheelhouse, que é um médico novo, cheio de talento e é bem o discípulo querido do grande “mestre”, Dr. Cabeça, que o tem em elevado grau de merecimento, como se vê claramente no prefácio dos seus livros.
Ao nosso ilustre colaborador e médico-cirurgião, habilidíssimo, o presente “Baluarte”, deseja as maiores felicidades pelo êxito obtido, lembrando o povo do Sardoal que o renove porque é devido  a este clínico que o seu hospital chegou ao grau de prosperidade em que se encontra. C.

Abrantes, Novembro de 1929:

Saudação de Homenagem ao ínclito Médico-Cirurgião Dr. Raul Jorge Wheelhouse
Nímia tortura esta, dum néscio vate…
-Aliás «poetrastro»- pigmeu imbele, sem estro,
Pretender «cantar», em verso que arrebate,
Os feitos gloriosos dum cirurgião- dextro !
Mas se o «prosaísmo» é também meu sestro
Que fazer? Que a «sinese» intente o resgate.
Rendendo este «preito», leal, sem sequestro…
A um Herói da Vida, co’a Morte em combate!…
E nestas frases de saudação, sinceras,
P’las formosas «vinte e oito primaveras…»
Do sábio Raul Wheelhouse, ouso dizer:-
Que’stranho capricho… este, da Natura
«Formar», assim, tão «singular criatura»
Jovem na idade… e tão velha no Saber !…
Sardoal, 2-XI-1929
REI – PAN (a)

(a)- Este pseudónimo literário era de Abílio Napier.

Dr. Raul Wheelhouse
Honra-se o BALUARTE publicando hoje o retrato deste ilustre clínico do concelho de Sardoal, para comemorar o seu 28.º aniversário natalício que foi no dia 2 do corrente.
Data festiva para a sua família e tê-la-ia sido para os seus numerosos amigos, se ele não a tivesse ocultado. Mas, não pode o BALUARTE ao associar-se a esta comemoração, deixar de por em destaque os seus méritos, virtude e faculdades de inteligência. O que ele e vale como cirurgião abalizado, não somos nós que o dizemos: é a sua obra clínica de há mais de 4 anos no Sardoal; são os seus numerosos doentes não só daquele concelho, como também dos concelhos limítrofes, que ali vão pedir o seu valor científico e aceitar as suas indicações; é o Hospital daquela Vila, que dia a dia vê o movimento de doentes aumentar e cada vez mais prestigiado; são os colegas que com ele têm convivido cientificamente, que vêm nele uma inteligência grande e um colega sempre leal e correcto, incapaz da mais leve vaidade, que possa amesquinhar ou deprimir alguém.
Para ele que faz da clínica um sacerdócio, da sua profissão um dever, os doentes fazem parte integrante da sua família…
Mas a par disso, socialmente, não há iniciativa útil que ele não auxilie, não há boa vontade que ele não estimule.
Por isso, a redacção do BALUARTE lhe endereça as suas mais respeitosas saudações, fazendo sinceros votos para ter longos anos e o poder continuar a ter no rol dos seus melhores amigos.

HOSPITAL
Durante o mês de Outubro foram executadas, com brilhante êxito, no Hospital da Misericórdia desta Vila as seguintes operações:
– Uma hijaterectomia total, duas craneoctomias e uma extracção de adenoma de mama, além doutras pequenas operações, pelo hábil e distinto operador Dr. Raul Wheelhouse tendo como ajudante e anestesiador os Srs. Dr. Raul Galiano e o farmacêutico Rafael Alves Passarinho.
Os doentes já tiveram alta.

CORRESPONDÊNCIA – ALDEIA DO MATO
SUBSÍDIO MÉDICO

Fomos procurados por algumas das pessoas mais categorizadas das povoações de Carreira do Mato, Cabeça Gorda, Bairro e Medroa, que vieram junto de nós aplaudir a nossa ideia e confirmar os excelentes serviços prestados nos seus lugares à Humanidade e sofredora pelo nosso querido amigo Dr. Raul Wheelhouse, abalizado médico do Sardoal.
Raul Wheelhouse, não é só o médico competentíssimo que se impõe pelo seu vasto saber e que tem o raro condão de reanimar e elevar confiadamente o moral dos seus doentes.
É, também, o espírito agudo e penetrante que sabe evangelizar a sua nobre missão, aperfeiçoando-a com os seus encantadores modos e maneiras de médico consumado, perscrutando, saudando as misérias e grandezas que vão pelos lares onde, infelizmente, bate a terrível doença.
Pelo desenrolar do quadro – quase sempre negro e triste nesta emergência da vida, tanto para os ricos, como para os pobres, é que o Sr. Dr. Raul pauta os seus honorários, reduzindo-os ao estritamente indispensável, obedecendo metodicamente aos impulsos da sua alma generosa e do seu bondoso coração, sempre propenso para o bem e para a virtude.
Tem inimigos? E quem há que não os tenha? Mesmo aqui dentro uns quatro tartufos, que já lhe utilizaram, com êxito, os seus serviços, têm procurado, inutilmente, desviar-lhe a clínica, mas ainda assim contêm-se em respeito, não se atrevendo a abocanhar a sua dignidade profissional.
Do mal o menos. Porém, a parte sã e sensata da freguesia aprecia-o como realmente merece e aplaudirá a Câmara se souber fazer justiça ao seu esforço, à sua abnegação, pela miséria, pela doença, subsidiando-o condignamente. Faz-se assim no Souto, em Mouriscas e em Alferrarede. É justo que se faça o mesmo para a Aldeia do Mato.
Alguns deles lembram mesmo que este pedido devia partir da Junta de Freguesia, onde estão dois homens de bem, que em toda a parte se dizem nossos amigos, os srs. Damas e Pires.
Por isso é preciso que quem superintende nestas coisas ponha mãos à obra, obtendo para  a freguesia os benefícios a que incontestavelmente tem direito, granjeando para o nosso querido amigo sr. Dr. Raul a compensação a que tem jus pelo seu enorme sacrifício em se transportar para aqui à sua custa, em serviço da população, que sofre e se esvai à procura de um médico que a socorra (…)

Fotografia retirada do Boletim “O Sardoal”, n.º 15 – Março/Abril de 2002, com a seguinte legenda: “Foto tirada por volta de 1940, com as seguintes figuras promotoras de récitas no Cine-Teatro Gil Vicente: (na primeira fila em pé): Lúcio Grácio, António Santos, Senhorinha Grácio, Augusta (desconhece-se o apelido), Teresa Alves, António Carinhas e António Pinto (Actores). Sentados: Manuel Pires (ensaiador), Rafael Alves Passarinho (ponto) e Dr. Raúl Wheelhouse (ensaiador principal). Em baixo: Inocêncio Reis e Bento Lopes Rei (actores).”

Na sequência de um processo disciplinar que lhe foi instaurado pela Câmara Municipal de Sardoal, a que não foram alheias, seguramente, razões políticas, o Dr. Raul Wheelhouse, foi demitido de médico do partido municipal, em 7 de Maio de 1931.

De facto, o Dr. Raul, um republicano convicto e profundo seguidor dos ideais socialistas, foi desde sempre um acérrimo opositor do regime político instalado após a Revolução de 28 de Maio de 1926. Essa sua posição, de que nunca abdicou, valeu-lhe uma continuada perseguição política, que o levou à prisão, nomeadamente ao Tarrafal (nota: de acordo com os Cidadãos por Abrantes, a deportação foi sim para Angra) e ao exílio. Impedido de praticar a Medicina nos Hospitais do Estado, exerceu clínica privada, com consultório na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Publicidade no Jornal de Abrantes (1 de Junho 1969)

Aos fins-de-semana e nas férias, manteve durante muitos anos consultório na sua casa do Sardoal, que só foi vendida depois da sua morte e onde hoje se encontra instalada uma clínica privada, sempre com um grande afluxo de doentes, mantendo durante largo período a prática da cirurgia no Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Sardoal, sendo ainda hoje recordada a sua grande competência, altruísmo e generosidade para com aqueles que não tinham capacidade económica para pagar os justos honorários que lhe cabiam, reduzindo-os ou abdicando deles totalmente.

Grande amigo do Dr. João Soares, pai do Dr. Mário Soares e de muitas figuras ilustres da oposição a Salazar, foi fundador e Secretário-Geral do MUD (Movimento de Unidade Democrática), participando activamente em campanhas cívicas que pugnavam pela instituição de um regime democrático em Portugal. Participou, igualmente, nas campanhas para as eleições presidenciais quando foram candidatos o General Norton de Matos e o General Humberto Delgado, tendo este último estado escondido na sua casa no Sardoal, quando era perseguido pela polícia política, antes do seu exílio no estrangeiro.

Uma consulta da sua ficha nos arquivos da PIDE/DGS poderia dar uma ideia rigorosa da actividade política desenvolvida pelo Dr. Raul, em prol da Liberdade e da Democracia, ideais que sempre o nortearam.

Só por volta de 1972 ou 1973, e mesmo assim com muitas reservas do regime, foi autorizado a exercer a Medicina em serviços públicos. Fê-lo na Casa do Povo do Sardoal, sendo Presidente da Direcção da mesma o Professor Fernando Constantino Moleirinho, quando as Caixas de Previdência davam os primeiros passos na prestação de assistência na doença aos trabalhadores rurais.

Por toda uma vida dedicada ao exercício da Medicina, na maior parte do tempo em condições políticas e sociais muito adversas, o Dr. Raul Wheelhouse merece que o seu nome seja perpetuado no Sardoal e na região, através da atribuição do seu nome ao novo Centro de Saúde de Sardoal, onde, se fosse vivo, teria, sem qualquer dúvida, muita honra e prazer em trabalhar.

Sardoal, 27 de Julho de 2000

II Rally Paper – 1997

Centro Social dos Funcionários do Município de Sardoal

Festas do Concelho de Sardoal – 1997

Os objectivos da organização deste Rally Paper são, apenas, a criação de uma oportunidade de convívio para os participantes e ao mesmo tempo divulgar a nossa Terra, nestas FESTAS DO CONCELHO/97, que terminam no dia em que se comemora o 466.º Aniversário da elevação do antigo lugar de Sardoal à categoria de Vila, determinada por carta de D. João III, dada em Évora. Qual é a data dessa carta? _______

Estabelecemos como tempo limite para a realização da prova 2 (duas) horas e 30 (trinta) minutos.

Pode fazer-se à estrada. Siga pela Avenida Luís de Camões e entre na Rua Bivar Salgado, em direcção às Olarias. Pelo caminho, até às Olarias, vai passar perto de três Capelas. Diga-nos quais são?
1. _______
2. _______
3. _______

Muito próximo da Ponte do Ramal encontra uma placa de sinalização turística de um local de referência do Sardoal, em relação ao qual se diz que quem beber água da bica do meio, sendo solteiro, casará no Sardoal. Nessa placa falta um número. Qual é esse número?_______

Continuem a estrada até ao cruzamento da Variante à E.N. 2 com a E.M. 555. Pelo caminho procurem descobrir o que podemos fazer juntos. O que é? _______

Sigam pela Variante até ao cruzamento seguinte, desviando aí para a antiga E.N. 244-3. Não vão ao Centro de Inspecções. Vão em direcção ao limite do Concelho, mas antes e porque estamos na altura da confecção da marmelada, tragam-nos para entregar no final da prova, um fruto dos que são usados para o seu fabrico.

Não entrem no Concelho de Abrantes. Sigam pelo Caminho dos Tojais, até voltarem a encontrar asfalto. Num pequeno monte próximo, quase na direcção da Central do Pego vê-se uma construção em ruínas. O que era? _______

Já na E.M. 555, sigam à esquerda até encontrarem uma construção que é propriedade de uma Cooperativa. Qual é a principal actividade dessa Cooperativa? _______

Continuem pela Rua das Flores, até chegarem à Igreja Paroquial de Valhascos. Qual é a Padroeira dessa Igreja?_______

O que é que os Josés ofereceram a essa Igreja? _______

Vão depois pela Rua da Fonte Nova até à Rua da Fonte de S. João. Observem a Fonte de S. João e tendo em atenção a sua arquitectura e designação toponímica, o que é que vos parece que ali falta? _______

Continuem até ao fim da Rua de S. João e voltem à esquerda. Até encontrarem a estrada que vai para o Cemitério de Cabeça das Mós, aproveitem para observar o panorama deslumbrante e muito bonito, em especial a sul e a poente. Porque em Valhascos a produção de figos teve bastante expressão, colha um figo para nos entregar no final da prova.

A freguesia de Valhascos, fundada em 15 de Setembro de 1949, é conhecida, pode dizer-se, a nível nacional, por outra produção agrícola. Qual é esse produto agrícola?_______

Podem começar a andar um pouco mais depressa. A estrada está em mau estado, mas vai entrar em obras de beneficiação dentro de poucos dias. Parem apenas no Largo do Comércio, em Cabeça das Mós e descrevam-nos o símbolo da Comissão de Melhoramentos de Cabeça das Mós: _______

Depois procurem e sigam a Rua do Colmeal. No número 21 dessa Rua encontram um portão muito curioso. Que figuras o decoram? _______

No fim da Rua do Colmeal voltem à esquerda até à antiga E.N. 358-3 (Sardoal/Estação de Mouriscas), seguindo o seu sentido descendente e procurem descobrir em que ano e por quem foi construída a Ponte:_______

Um pouco à frente encontra-se a entrada para a única unidade de turismo rural do Concelho de Sardoal e para a Casa do Pastor. Que marca de café se bebe na Casa do Pastor?_______

Agora e durante alguns quilómetros podem continuar com boa velocidade. Entrem no Concelho de Abrantes e vão para o Concelho de Mação, sem passar por Mouriscas. Na povoação do Concelho de Abrantes que vão atravessar, vão passar próximo de um café, cujo nome se pode associar à apicultura. A que café nos referimos? _______

Subam até uma curva muito acentuada, de onde podem ver uma pequena aldeia, logo em baixo à vossa direita, também pertencente ao Concelho de Abrantes. Qual é essa aldeia? _______

Não sigam nenhuma das placas indicativas da freguesia de Alcaravela. Queremos que passem por uma aldeia do Concelho de Mação. Logo à entrada dessa aldeia vão encontrar algumas placas indicativas de direcção. Sigam as que referem a Queixoperra e a Saramaga, até voltarem a entrar no Concelho de Sardoal, num local próximo da aldeia da Saramaga.

A que se destina a primeira edificação que encontram ao vosso lado direito, logo a seguir à ponte?_______

Apesar de a estrada ser estreita, dentro da Saramaga, o piso é bom e apenas é preciso ter algum cuidado na condução.  O local é, em nossa opinião, muito bonito e merece ser apreciado. Numa das últimas casas da Saramaga encontra-se um painel de azulejos, que reproduz uma imagem que já não é, por enquanto, possível apreciar no Concelho de Sardoal. Descrevam esse painel:_______

Continuem até à Amieira Cova, subindo a estrada de melhor piso até encontrarem uma placa indicativa da entrada em Casos Novos. Sigam essa direcção até ao centro da aldeia e parem junto da fonte antiga da aldeia. Tem, também, um pequeno painel de azulejos com uma invocação à Virgem Maria. Não queremos que a descrevam mas, apenas, que nos indiquem os anos prováveis da sua colocação: _______

Em frente à fonte sigam o caminho da direita e como julgamos não precisarem de mármores, sigam à esquerda, em direcção a Casal Pedro da Maia até avistarem um depósito de água elevado. Continuem à esquerda para Fontelas e no Café Pita, descubram e indiquem-nos o primeiro nome do seu proprietário e peçam-lhe que vos venda ou ofereça um pacote de açúcar (dos pequenos), para nos entregarem no Sardoal._______

Daí à Presa é um pulo. Sigam a estrada que tem marcas de sinalização rodoviária horizontal e vertical e, na Presa, procurem saber e indiquem-nos qual é a Padroeira da sua Igreja que, tanto quanto sabemos, é a segunda mais antiga da freguesia de Alcaravela: _______

Sigam para Santa Clara e contornem a fonte, para descobrirem e indicarem o ano da morte do Professor Doutor João Serras e Silva e a área científica em que se doutorou: _______

Logo a seguir, fronteiro ao edifício onde funcionou a antiga Escola Primária, encontra um oratório muito interessante. Sob as letras F.R., encontram-se inscritos dois anos. Indique-nos o que pertence ao século XIX:_______

A Cooperativa ARTELINHO é, com todo o mérito, a embaixatriz do Artesanato do Concelho de Sardoal. Merece uma visita atenta e demorada que não cabe no âmbito de uma prova deste tipo. Recomendamos essa visita, mas hoje apenas vos pedimos que nos descrevam o painel de azulejos que se encontra sobre a porta principal do edifício onde funciona a ARTELINHO: _______

Sigam para o Tojalinho e atravessem a E.N. 244-3 em direcção a Panascos. Procurem a sua antiga fonte principal e descubram em que data foi inaugurada e sob a égide de quem? _______

Porque fica perto descubram quem é o Padroeiro da Capela de Panascos: ______

Podem perguntar no estabelecimento do Senhor António Gaspar e porque já trazem um pacote de açúcar, juntem-lhe uma embalagem individual de adoçante para nos entregarem no Sardoal, pois pode fazer falta para pessoas com preocupações dietéticas. Procurem o caminho para a Fonte dos Carrascais e chegados lá procurem descobrir qual é a palavra que falta na frase pintada a azul que ali se encontra escrita. Qual é? _______

Um pouco adiante, encontram à direita um arruamento recente que dá acesso aos Brejos. Sigam esse arruamento até à Estrada que liga S. Domingos a Monte Cimeiro e descubram qual foi a comparticipação comunitária (PORLVT/SUBPROGRAMA A), no projecto de beneficiação dos arruamentos dos Brejos, Casal Velho, Cimo dos Ribeiros e Brejos. Para pouparem tinta escrevam-na em contos:_______

Na estrada para S. Domingos sigam para poente. Deixem para trás o cruzamento para a Tojeira e Casal Velho e no primeiro cruzamento a seguir, sigam à direita, por dentro da Venda, para descobrirem e nos indicarem em que ano foi inaugurada a Escola Primária da Venda: _______

De seguida retomem a Estrada para S. Domingos, em direcção à Variante à E.N. 2, que vão cruzar pela segunda vez, continuando para poente. O vosso próximo objectivo dista alguns quilómetros. Antes dele avistarão a Igreja Paroquial da Freguesia de Santiago de Montalegre, depois de passarem à Escola de Montalegre. Sigam pelo caminho que sobe, a partir do cruzamento à direita, antes da referida Igreja. É um caminho sem regresso para alguns. Normalmente para uma só pessoa. Outras vezes, felizmente poucas, já o tem sido para mais do que uma pessoa. Aconteceu em finais de Agosto de 1995, quando durante os pavorosos incêndios florestais que devastaram o nosso Concelho, aconteceu a morte trágica de três Cidadãos Sardoalenses. No cimo do monte e antes ou depois de prestarem a vossa homenagem aos Mortos, observem o magnífico e ao mesmo tempo, nalguns casos, aterrador panorama que dali se desfruta, quase em todas as direcções.

Nas paredes da Igreja adjacente ao Cemitério existem várias placas em pedra mármore, com algumas mensagens para os vivos. Transcrevam a que se encontra mais próxima do Cemitério, tal qual se encontra escrita, podendo, se quiserem, cumprir o apelo que ela contém: _______

Sigam pelo caminho de terra batida, a poente. Com algum cuidado, porque o piso não é dos melhores. Depressa voltarão a encontrar asfalto, quando chegarem às primeiras casas de S. Domingos. Retomem, pela última vez a E.M. 548 (S. Domingos/Monte Cimeiro), até encontrarem a antiga E.N. 2, pela qual devem seguir, abandonando outra vez o Concelho de Sardoal, pela estrada municipal de Abrantes que vai para o Carvalhal.

Ainda em S. Domingos, numa das últimas casas, do lado direito, encontra-se um painel de azulejos que referencia a existência, ali, de um Centro de Formação.

Qual é a designação desse Centro de Formação? _______

Indiquem-nos, também, o significado da sigla C.N.E. que se encontra no citado painel de azulejos? _______

Durante alguns quilómetros vão circular pelo Concelho de Abrantes e desse percurso apenas vos pedimos que respondam a uma questão muito simples.

Passem sobre a E.N. 358, que liga Martinchel à Quinta das Gaias, mas sem lhe tocar. Para o efeito encontram, pouco depois de Carvalhal, um viaduto. À saída desse viaduto encontra-se um oratório, com uma inscrição. Transcrevam-na:_______

A estrada em que seguem e que vos podia levar às Sentieiras ou à Chainça, faz, em alguns troços, a fronteira entre o Concelho de Sardoal e o de Abrantes.

Voltem a entrar no Concelho de Sardoal, para não voltar a sair dele nesta prova, quando encontrarem a estrada para S. Simão, que está a ser submetida a obras de beneficiação. Desçam para a Aldeia e parem junto da Capela de S. Simão, apenas para nos indicarem quantos arcos tem a sua galilé, mas contem, também, com o da porta da Capela. _______

S. Simão é, por tradição, uma terra de bom vinho e de bom azeite. Como ainda é cedo para provar o vinho novo, apenas vos pedimos que nos tragam tantos bagos de azeitona, quantos os arcos que contaram na pergunta anterior.

Continuem a descer pela estrada em obras. Depois da ponte, cortem à esquerda para o Vale da Amarela. Pouco depois encontram uma fonte. A sua água é muito fresca e apesar do aviso que se encontra escrito, não costuma ter problemas de qualidade. A leitura desse aviso pode, no entanto, ajudar a responder a uma questão que vos foi colocada há alguns quilómetros atrás. Voltem à E.N. 358, até ao primeiro cruzamento para Andreus. Entrem na Aldeia, até ao Largo onde se encontram marcados alguns espaços de estacionamento. Para responder às duas próximas questões não é preciso estacionar. Basta observar.

Qual é o nome desse Largo?_______

Na parede da casa que foi do saudoso Sr. Abel Martinho está, há muitos anos, escrita uma frase de grande profundidade filosófica, mas que muitas vezes não corresponde à realidade. Transcrevam essa frase:_______

Sigam a Avenida Associação de Moradores de Andreus, até encontrarem de novo a E.N. 358. Sigam a placa que indica o caminho para Chão de Codes, voltando a cruzar e ainda não pela última vez, a Variante à E.N. 2, seguindo a placa indicativa de Alcaravela. Quantas gaias ou gaios se encontram pintados no painel de azulejos que identifica a quinta à direita?_______

Sigam até ao Valongo e entrem na E.N. 244-3, seguindo a indicação Abrantes.

Próximo do Largo das Festas de Venda Nova, encontram, à esquerda, um pequeno arruamento, pavimentado há pouco. Sigam-no. Quando terminar continuem em terra batida, que pouco depois vão encontrar remexida. Pode fazer algum pó, mas de resto o piso não oferece grandes problemas. Quando chegarem ao primeiro cruzamento com quatro caminhos, sigam pelo da direita. Algum tempo depois voltam a encontrar outro cruzamento com quatro caminhos. Aí sigam em frente.

Subidos alguns metros encontrarão as ruínas dos Moinhos de Vento de Entrevinhas.  Pedimos para passarem por aqui por ser um local muito bonito e de onde se vê uma parte da Vila de Sardoal. No moinho mais a poente procurem descobrir o ano em que terá sido construído ou reconstruído. Qual foi?_______

Desçam para Entrevinhas, até ao Largo da Festa. Passem junto à Capela e procurem saber qual é o seu Padroeiro. _______

Se não souberem a resposta, podem vir a encontrá-la quando tentarem responder à próxima questão. Para isso desçam até à fonte e indiquem-nos o ano em que ali foi colocado o painel de azulejos alusivo a um milagre atribuído a um Santo português, que os italianos de Pádua, querem que seja seu. Em Portugal chamou-se Fernando Bulhões._______

Depois sigam pelo caminho da esquerda e pela Rua das Casas, descendo a Rua da Ladeira em direcção à Palhota.

Como é que se chama a segunda casa da Palhota? _______

No Largo Tiago dos Santos Batista, sigam a Rua da Lapa para mais um pequeno percurso em terra batida que vos leva até ao espelho de água da Lapa.

Deixem o carro e visitem a Capela e a Gruta. Perto das bicas de água, na parede está escrita uma palavra respeitante a um líquido em que, seguramente, a água nunca se transforma. Qual é essa palavra? _______

Na parte exterior da Capela, é visível a falta de um objecto. Qual vos parece que seja esse objecto? _______

Quantas janelas e/ou óculos de iluminação tem a Capela da Senhora da Lapa? _______

Voltem para trás e abandonem a terra batida, subindo pelo asfalto. Depois de passarem próximo de uma das ETARs que servem a Cabeça das Mós, contem quantas noras encontram, até chegarem novamente à E.N. 358. Quantas são?_______

Durante algumas centenas de metros, sigam, em sentido contrário, uma parte do percurso que que fizeram na parte inicial deste Rally Paper. Logo a seguir ao local que é a morada perpétua de muitos habitantes das aldeias de Cabeça das Mós, Entrevinhas e Palhota, não vão nem para Entrevinhas, através do Caminho dos Mortos, nem para Valhascos. Depois, tomando as devidas precauções no cruzamento do Pisco, percorram a Variante à E.N. 2, em sentido contrário àquele em que a percorreram, noutro local, há muitos quilómetros atrás, até encontrarem a indicação CARVALHAL – ANDREUS. Por poucos metros percorram outra vez a E.N. 358, deixando-a para passar ao lado de um local onde (H)AVIA, mas agora não há e indiquem-nos um produto líquido e com chumbo que agora não há: _______

Continuem em direcção à Vila Jardim, passando entre a Baía e a Ribeira Acima, até encontrarem a placa indicativa do início do espaço urbano da Vila de Sardoal.

Circulem com precaução para evitar danos na vossa viatura, provocados pelas bandas sonoras. Um pouco à frente vão passar junto de uma das árvores monumentais e classificadas do nosso Concelho. Procurem saber o nome científico daquela espécie e a data provável da sua plantação e indiquem-nos:_______

Porque estamos na VILA JARDIM, queremos que no final nos tragam uma (só uma) flor. Mas não queremos uma flor qualquer. Preferimos uma flor de petúnia que podem encontrar no Jardim da Tapada da Torre ou próximo da Rotunda da Taberna Seca.

Desçam a Rua 5 de Outubro. No Jardim que se encontra nessa rua está colocado um fontenário, que tem inscrito o ano da sua construção. Qual é esse ano?_______

Quem era nesse ano o Presidente da Câmara Municipal de Sardoal? Para os mais novos deixamos uma pista. Esse nome encontra-se em duas placas toponímicas, uma colocada na casa do actual Presidente da Câmara e outra no edifício adjacente ao local onde está a esplanada da Tasquinha da Organização deste Rally. _______

Dirijam-se ao local de partida e entreguem a vossa prova.

Esperamos que tenham gostado. Obrigado pela vossa participação!

20 de Setembro de 1997

Algumas notas sobre os Senhores do Sardoal

Para mais informações sobre os registos das cartas de confirmação, consultar o Sardoal Com Memória.

Antes de ser vila, é da Rainha Santa Isabel o primeiro senhorio do Sardoal que se conhece. Sabe-se igualmente que o Senhorio do Sardoal pertenceu a um antepassado de Luís de Camões, Vasco Peres de Camões, por carta de mercê dada em 2 de Setembro de 1373.

Do período que medeia entre esta data e 1531 não conseguimos referências das cartas de mercê, sendo quase certo que os Condes de Abrantes devem ter tido esse privilégio, desde o reinado de D. Afonso V, monarca que criou a favor de D. Lopo de Almeida o Condado de Abrantes.

Depois de ser vila, portanto, a partir de D. António de Almeida, a sequência é a seguinte:

1. – D. António de Almeida: Tomou posse a 22 de Setembro de 1531.
2. – D. João de Almeida: Tomou posse a 22 de Agosto de 1559.
3. – D. António de Almeida: Tomou posse a 10 de Novembo de 1595.
4. – D. Afonso de Lencastre: Desconhece-se a data de doação, revogada circa 1640.
5. – D. Miguel de Almeida: Teve o título desde 23 de Novembro de 1645 até falecer em 1650.
6. – D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Meneses: Desde 1677 (então com 1 ano) até falecer em 30 de Outubro de 1733.
7. – D. Joaquim Francisco de Sá Almeida e Meneses: De 13 de Novembro de 1733 até falecer em 15 de Junho de 1756.
8. – D. Ana Maria Catarina Henriqueta de Lorena: Desde 29 de Agosto de 1756 até falecer em 1 de Julho de 1761.

1.º – D. ANTÓNIO DE ALMEIDA

Casou com D. Joana de Meneses (2.º casamento), filha de D. Guiomar da Cunha e de D. Henrique de Meneses, que foi Governador da Índia.

Carta de doação a D. António de Almeida do Padroado das Igrejas do Sardoal e seu termo (22 de Setembro de 1531)

No mesmo dia em que elevou o então lugar do Sardoal à categoria de Vila, por carta dada em Évora, em 22 de Setembro de 1531, D. João III fez doação da mesma a D. António de Almeida, através de uma carta de doação cujo traslado é o seguinte:

DOM JOÃO, etc. A quantos esta minha carta virem faço saber que resguardando eu a linhagem de que descende Dom António de Almeida, Fidalgo da Minha Casa, filho de Dom Lopo de Almeida que foi Conde de Abrantes que Deus perdoe e aos muitos serviços que os Reis meus antecessores e meus Reinos sempre receberam dos seus Avós e do dito Conde, seu Pai, assim nestes Reinos como fora deles e em muitas partes onde sempre grande e lealmente o serviram, pelo que com razão foram por eles todos galardoados com honra e mercê e acrescentamento como é causa justa que os Reis e Príncipes façam àqueles que bem e lealmente os servem e havendo a isso mesmo respeito aos serviços que me tem feito o dito Dom António de Almeida e por esperar dele que adiante me servirá assim bem que tenha de seus serviços muito contentamento e por isso lhe faço pura e irrevogável doação e mercê entre vivos valendo para todos os dias da sua vida, da minha Vila do Sardoal que ora novamente fiz Vila e desmembrei da jurisdição e termo da Vila de Abrantes, como é contido na carta que lhe mandei passar com todo o termo que à dita Vila do Sardoal ordenei e com toda a jurisdição Cível e Crime, mero e misto império, ressalvando para mim somente a Correição e Alçada e lha outorgo e me praz que ele seja Ouvidor na dita Vila, como geralmente se costuma ser nestes Reinos por aquelas que Vilas a jurisdição têm e assim mesmo lhe outorgo se possa chamar e chame Senhor da Vila do Sardoal e que os Oficiais e Tabeliães dela de seu termo reclamem por ele e que possa tirar os ditos Tabeliães e pôr outros e dá-los de em diante quando quer que vagarem por suas cartas. E assim me praz lhe fazer mercê e doação em sua vida da apresentação dos Padroados das Igrejas da dita Vila do Sardoal e seu termo dela, por uma vez somente de cada uma, na primeira vaga e mais não e daí em diante ficará em mim para apresentar quem me aprouver, tirando porém aquelas que são anexadas à Ordem do Venerado Nosso Senhor Jesus Cristo para em Comendas da dita Ordem, porque nela não haverá. Outrossim me praz e outorgo que ele possa dar e dê aos Tabeliães da dita Vila do Sardoal e seu termo, o regimento de seus ofícios por ele assinados e que não sejam obrigados de os vir tirar à minha Chancelaria, nem incorrerem por isso em penas algumas, somente se regerem pelos que o dito Dom António assim lhe der, sendo porém tais regimentos conformes às minhas Ordenações e ao Regimento da minha Chancelaria, sem pedirem nenhuma coisa dela, nem acrescentar e sendo achado a cada um dos Tabeliães regimento que não seja conforme ao da minha Chancelaria perderá o seu ofício e pagará dez mesadas e sendo por culpa do dito Dom António os ditos Regimentos acrescentados ou minguados, hei por bem e mando que ele não possa dar por aquela vez o Tabeliado que se perder por cada um dos casos e o dado deles será do meu Chanceler – Mor, outrossim lhe encargo e me praz que ele por si com seu Ouvidor possa conhecer dos agravos que pedirem os Juizes da dita Vila do Sardoal, assim e naquela própria forma e maneira que o pode e deve fazer o meu Corregedor da Comarca, a que por ordem do seu ofício pertence conhecer dos ditos agravos e isto enquanto ele dito Dom António estiver na dita Vila, porque estando fora dela não conhecerá os ditos agravos, nem o dito seu Ouvidor o poderá fazer salvo com ele, estando ele na dita Vila e isto se entenderá querendo as partes antes ir a ele Dom António com os ditos agravos, porque não querendo a ele irão ao meu Corregedor da Comarca, onde estiver. Outrossim me praz e lhe outorgo que depois de feita a eleição dos Juizes na dita Vila do Sardoal, pelos Juizes e Oficiais, segundo seu costume e limpas por ele as pautas, aqueles Juizes que pelas ditas eleições saírem, ele dito Dom António os possa confirmar e conforme assim como se fazia pelo meu Corregedor da Comarca e sem serem por ele confirmados não sirvam seus ofícios. Também lhe outorgo, assim mesmo, que ele possa propor e ponha Meirinho na dita Vila e seu termo que dirija as coisas da Justiça, o qual seja homem casado na terra e abonado e tal que para isso seja apto e pertencente e que o faça assim bem como cumpre a bem da Justiça e meu Serviço e sendo cargo ao qual seja dado juramento dos Santos Evangelhos por ele, dito Dom António de Almeida, que sirva o dito ofício de Meirinho, assim como deve, guardando meu Serviço e inteiramente Justiça e porém mando ao meu Corregedor da Comarca, Juizes e Justiças e Oficiais e pessoas a que esta minha Carta for mostrada e conhecimento dela pertencer que metam logo o dito Dom António em posse da dita Vila do Sardoal, com todo o seu termo, que lhe dêem por minha Carta Jurisdição do Cível e do Crime, Tabeliães e todas aquelas coisas aqui declaradas e como nelas se contém e de tudo o deixarem usar e possuir como nesta Carta é contido e melhor se ele das ditas coisas e de cada uma delas, com direito melhor puder usar, porquanto eu lhe faço assim devolução e mercê em sua vida como dito é, sem dúvida nem embargo algum que lhe a ele seja feito porque assim é minha mercê e mando aos Fidalgos, Cavaleiros, Escudeiros e Homens Bons e Povo da dita Vila do Sardoal que hajam ao dito Dom António de Almeida por Senhor dela e como tal lhe obedeçam e acatem. Dada em a Cidade de Évora aos 22 de Setembro. Pedro de Alcáçova Carneiro a fez. Ano de mil quinhentos e trinta e um anos.

2.º – D. JOÃO DE ALMEIDA

Era filho do anterior. Casou com Dona Leonor de Mendonça, filha de Simão Gonçalves da Câmara, 1.º Conde da Calheta.

A sua árvore genealógica, incluindo a do seu pai D. António de Almeida, 1.º Senhor do Sardoal, encontra-se abaixo:

“Costados de Juan de Almeida y González da Cámara, señor de Sardoal, alcaide mayor de Abrantes.”
Com a devida vénia à Real Academia de la Historia de Espanha.

Foi nomeado Senhor do Sardoal por Carta de Mercê de 22 de Agosto de 1559:

“(…) E visto seu requerimento com os ditos Alvarás e Carta que acima se contém e por o dito Dom João de Almeida assi, ser o filho mais velho que ficou de entre os ditos Dom António de Almeida e Dona Joana de Meneses, o que virtude dos ditos Alvarás passem a dita Vila do Sardoal e por folgar de lhe fazer mercê, tenho por bem e lhe faço pura e irrevogável doação e mercê em dias de sua vida da dita Vila do Sardoal e seu termo, com toda a jurisdição do Cível e Crime, mero e misto império, ressalvando somente para mim a Correição e Alçada e com todos os privilégios, liberdades e coisas que se contêm na dita Carta de Doação, acima trasladada, que dela tinha o dito Dom António de Almeida, seu Pai, e naquela forma, modos e maneira que na dita Carta é contido e declarado porque assim lhe outorgo e concedo por virtude dos ditos Alvarás de El-Rei, meu Senhor e Avô, e hei por bem que use da dita Carta e se lhe cumpra e guarde inteiramente e todas as coisas e cada uma delas na dita Carta contidas e declaradas ao dito Dom António, seu Pai e portanto mando ao Corregedor da Comarca e Correição da Vila de Tomar e aos Juízes, Justiças e aos Oficiais a que esta Carta for mostrada e o conhecimento dela pertencer, que metam logo ao dito Dom João de Almeida em posse da dita Vila do Sardoal, em todo o seu termo, jurisdição e todas as outras coisas na dita Carta declaradas e como nela se contém e lhe deixem tudo ter e lograr e possuir e disso usar conforme a dita Carta e segundo forma dela e melhor use ele das ditas coisas e de cada uma delas com direito melhor puder usar, porquanto faço assim de tudo doação e mercê em sua vida como dito é. E mando aos Fidalgos, Cavaleiros, Escudeiros e Homens Bons e Povo da Vila do Sardoal que hajam ao dito D. João por Senhor dela e como tal lhe obedeçam e acatem em tudo e lhe assim outorgo e ele o deve ficar sem dúvida nem impedimento algum que a ele ponham porque assim é minha mercê e por firmeza disso lhe mandei dar esta Carta por mim assinada e selada de meu selo pendente, a qual mando que se registe no Livro da Chancelaria da dita Correição de Tomar pelo Escrivão da dita Chancelaria e assim no Livro da dita Vila, pelo Escrivão dela, para se pelos ditos registos ver como lhe tenho feito mercê na maneira sobredita e de como assim foi registada nos ditos livros passarão os ditos Escrivães suas Certidões nas costas desta Carta, com as quais poderá o dito Dom António usar do nela contido e em outra maneira não e os Alvarás acima trasladados se….. ao aplicar desta Carta e de outras Cartas que lhe vão dadas das mais coisas nela contidas. Dada em Lisboa a 7 de Dezembro – Jorge da Costa a fez – ano de 1557- Manuel da Costa a fez escrever – APOSTILHA: E na parte que diz nesta doação que Dom João de Almeida possa tirar os Tabeliães e pôr outros, os tirar se entenderá quando eles perderem por erros conforme a Ordenação e em tal caso os proverá também. Pedro Fernandes a fez em Lisboa, a 22 de Agosto de 1559.

3.º – D. ANTÓNIO DE ALMEIDA

Era filho do anterior. Morreu sem descendência.

Foi nomeado Senhor do Sardoal por Carta de Mercê de 10 de Novembro de 1595:

(…) Pedindo-me o dito Dom António de Almeida que porquanto Dom João de Almeida, seu Pai, era falecido e ele era o filho mais velho, Varão lídimo que de entre ele e Dona Leonor de Mendonça, sua mulher, ficava, como constava de uma Certidão de Justificação que apresentava do Doutor António Dinis, do Conselho da minha Fazenda e Juiz das Justificações dela e por bem do Alvará nesta trasladado lhe pertencia a Vila do Sardoal com suas jurisdições e mais coisas constantes da Carta nesta enumerada como o tinha o dito Dom João, seu Pai, houve-se por bem de lhe mandar passar delas outra tal Carta em seu nome e visto seu requerimento e o dito Alvará e Certidão de Justificação e por folgar de fazer mercê ao dito Dom António de Almeida, tenho por bem e lhe faço doação e mercê em dias de sua vida da Vila do Sardoal e seu termo, com jurisdição cível e crime, a misto e mero império, ressalvando para mim Correição e Alçada e com todos os privilégios, liberdades e coisas que se contém na dita Carta e naquela forma, moda e maneira que nela é declarado, porque de todo hei por bem que ele Dom António use e se lhe cumpra e guarde inteiramente, assim da maneira que foram concedidas e outorgadas ao dito Dom João, seu Pai, pelo que mando ao Corregedor da Comarca e Correição de Tomar e aos Juízes e Justiças, Oficiais e Pessoas a que esta minha for mostrada e o conhecimento dela pertencer que metam em posse ao dito Dom António de Almeida da dita Vila do Sardoal, com todo o seu termo, jurisdição e todas as mais coisas na dita carta declaradas como se nela contém e lhe deixem tudo ter e possuir e dela usar conforme a dita Carta, segundo a forma dela e melhor use ele das ditas coisas e de cada uma delas com direito de melhor poder usar porquanto de tudo o sobredito lhe faço doação e mercê em sua vida como dito é e mando aos Fidalgos, Cavaleiros, Escudeiros e Homens Bons e Povo da dita Vila do Sardoal que hajam o dito Dom António por Senhor dela e como tal lhe obedeçam e acatem em tudo o que por esta Carta lhe outorgo e eles devem fazer sem dúvida nem impedimento algum que a ele ponham porque assim é minha mercê e esta Carta se registará no Livro da Chancelaria da dita Correição de Tomar pelo Escrivão da dita Chancelaria e assim no Livro da Câmara da dita Vila pelo Escrivão dela para se saber em como tendo feito esta mercê ao dito Dom António e de como se registar passarão os ditos Escrivães suas certidões nas costas desta Carta, com as quais poderá o dito Dom António usar do contido nela e de outra maneira não e o Alvará e Carta nesta trasladados e Certidão de Justificação foi tudo posto ao assinar dela, a qual por firmeza de tudo lhe mandei dar esta por mim assinada e selada com o meu selo pendente. Dada na Cidade de Lisboa aos dez dias do mês de Novembro. Duarte Caldeira a fez. Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1595. Rui dias de Lencastre a fez escrever.

4.º – D. AFONSO DE LENCASTRE

De Azeitão, nasceu em 1597 e faleceu em 1654 (ver Wikipédia).

Marquês de Porto Seguro, a quem D. Filipe IV fez Marquês do Sardoal (desconhece-se a data da Carta de Doação), título que não veio a ser reconhecido após a Restauração da Independência em 1640. Apesar da contestação que a mercê possa ter merecido, podemos considerar que, com legitimidade, ele foi efectivamente o 4.º Senhor do Sardoal.

Por lealdade aos Habsgurgos, em 23 de Março de 1642 recebeu o título espanhol de Marquês do Sardoal (e Duque de Abrantes), sem efeito em Portugal e cuja sucessão prosseguiu até aos dias de hoje.

“Costados de Alfonso de Alencáster y Alencáster, Coutiño y Téllez Girón, I duque de Abrantes, marqués de Puerto Seguro y de Sardoal.”
Com a devida vénia à Real Academia de la Historia de Espanha.

5.º – D. MIGUEL DE ALMEIDA

Nasceu em 1560 e faleceu em 1650 (ver Wikipédia).

Era irmão de D. António de Almeida, 3.º Senhor do Sardoal, um dos conjurados da Aclamação ao Rei D. João IV, por mercê do qual, em Alvará de 23 de Novembro de 1645, lhe foi dado o Senhorio da Vila do Sardoal, em administração enquanto não terminasse a causa entre ele e o Marquês de Porto Seguro, que foi determinada a seu favor.

Morreu sem filhos e por sua morte tomou posse do Senhorio desta Vila, por Carta da Coroa, o Corregedor de Tomar Diogo Marchão Temudo, que veio a ter o Senhorio do Sardoal menos de dois anos.

Falecidos sem sucessão D. António de Almeida e seu Irmão D. Miguel de Almeida, casou a sua irmã a Senhora D. Isabel de Mendonça, com D. João Rodrigues de Sá, 1.º Conde de Penaguião e Camareiro – Mor de D. Filipe IV, de quem nasceu D. Francisco de Sá e Meneses, 2.º Conde de Penaguião. Deste nasce D. João Rodrigues de Sá e Meneses, 3.º Conde de Penaguião e Embaixador em Inglaterra e Camareiro – Mor de D. João IV. Deste nasceu D. Francisco de Sá e Meneses, 4.º Conde de Penaguião, 1.º Marquês de Fontes, Camareiro – Mor de D. Afonso VI e do Infante D. Pedro, de que nenhuns dos quais achámos qualquer referência de que lhes fora feita a mercê do Senhorio do Sardoal. Sucedeu-lhe seu irmão D. João Rodrigues de Sá e Meneses, 5.º Conde de Penaguião, Camareiro – Mor de D. Afonso VI e dos Conselhos de Estado que obteve a seguinte mercê: “Eu, El – Rei, faço saber aos que este Alvará virem, que tendo respeito aos merecimentos e serviços do Conde de Penaguião, meu Camareiro – Mor, do meu Conselho de Guerra e a que por eles, por quem ele é e pela boa vontade que lhe tenho e pela renda da minha Coroa, merece guardar e conservar em seus filhos a memória da Casa de Abrantes que foi dos seus Avós, hei por bem em lhe dar o que vagou daquela Casa por falecimento de D. António de Almeida que foi último Donatário dela depois de D. Miguel de Almeida, não deixando filhos legítimos, sucede o filho segundo do dito Conde com a obrigação de se chamar Almeida, sem nenhum outro apelido e não tendo filho segundo sucederá naquela Casa seu filho único com a mesma obrigação de se chamar Almeida, porém ele poderá chamar-se de Sá antes ou depois de Almeida e este despacho ordenei se ficasse em segredo até ao falecimento do dito D. Miguel e nesta forma ficará registado no Livro da Secretaria de Estado em que se lavram semelhantes lembranças para se dar despacho a quem tocar, chegado o tempo referido e porquanto por Decreto de 30 de Novembro do ano passado de seiscentos e cinquenta e seis ordenei que se visse no Desembargo do Paço de El – Rei Meu Senhor e Pai que Deus tem, porque fez mercê ao Conde meu Camareiro – Mor dos bens que vagaram por D. António de Almeida depois dos do Conde de Abrantes que ora faleceu e que na forma do dito Decreto se lhe passassem os despachos necessários pelo que mando aos meus Desembargadores do Paço façam passar as Cartas e Despachos necessários ao dito Conde e cumpram e guardem integralmente este Alvará e os mais Ministros a que pertencem como nele se contém, sem dúvida nem contradição alguma. Manuel do Couto a fez em Lisboa a 28 de Maio de 1657. Jacinto Fagundes Bezerra a fez escrever. Rainha.

6.º – D. RODRIGO ANES DE SÁ ALMEIDA E MENESES

Nasceu em Abrantes em 19 de Outubro de 1676 e aí faleceu em 30 de Outubro de 1733 (ver Wikipédia).

Era sobrinho do anterior, pela via explicada acima. Era filho de D. João Rodrigo de Sá e Meneses.

Foi o 7.º Conde de Penaguião, 3.º Marquês de Fontes, Alcaide – Mor do Porto, Gentil Homem da Câmara do Rei D. Afonso V, embaixador nas Cortes de Roma e Madrid e 1.º Marquês de Abrantes, Senhor da mesma Vila, Comendador de S. Pedro de Cavaleiros e de Santa Maria de Mascarenhas, na Ordem de Cristo e a quem foi feita a mercê do Senhorio do Sardoal, depois de D. Miguel de Almeida.

“Pedindo-me por mercê a dita Marquesa de Fontes Dona Joana de Alencastre como tutora de seu filho menor Dom Rodrigo de Almeida que porquanto eu, pelo Alvará nesta trasladado houvera por bem de fazer mercê ao dito filho da Casa de Abrantes, assim e da maneira que a teve sue Tio Dom Miguel de Almeida, uma das quais coisas de que o dito Dom Miguel estivera em posse e por seu falecimento vagara era a Vila do Sardoal e seu termo com toda a jurisdição Cível e Crime, mero e misto império, reservando para mim Correição e Alçada e de todos os privilégios e liberdades declarados na Carta que disso se vê; e visto por mim seu requerimento e o dito Alvará e resposta que sobre tudo deu o Doutor Luís de Oliveira da Costa que serve de Procurador da Coroa que não teve dúvida que se passe Carta por mercê nova a Dom Rodrigo de Almeida com as declarações contidas no Alvará na forma que a tinha Dom Miguel de Almeida, seu Tio, reservando para mim Correição e Alçada e considerando nela os serviços que me fez o Marquês de Fontes, seu Pai e por folgar de fazer mercê ao dito Dom Rodrigo, filho segundo do dito Marquês de Fontes, desejando conservar nele a memória da Casa de Abrantes, hei por bem e me praz de lhe fazer doação por mercê nova em dias da sua vida da Vila do Sardoal e seu termo e seu termo com toda a sua jurisdição Cível e Crime, mero e misto império, reservando a Correição e Alçada e de todos os privilégios e liberdades declaradas na Carta neste trasladada, passada a seu tio Dom António de Almeida, porque de tudo hei por bem que ele Dom Rodrigo de Almeida use e se lhe cumpra e guarde inteiramente assim e da maneira que foram concedidas a outorgadas ao dito Dom Miguel de Almeida com declaração que mercê se incluem os serviços que me fez o dito Marquês de Fontes e de satisfazer as obrigações declaradas no Alvará nela incorporado e nesta forma hei por bem que o dito Dom Rodrigo de Almeida use e se lhe cumpra e guarde inteiramente assim e da maneira que foram outorgadas ao dito Dom Miguel de Almeida pelo que mando ao Corregedor da Comarca da Vila de Tomar e aos Juízes e Justiças, Oficiais e pessoas a que esta minha Carta for mostrada e o conhecimento dela pertencer que metam de posse ao dito D. Rodrigo de Almeida, da dita Vila do Sardoal, com todo o seu termo e jurisdição e todas as mais coisas na dita Carta de Dom Miguel de Almeida declaradas como se nela contém e lhe deixem tudo ter, lograr e possuir e dela usar conforme a dita carta e segundo forma dela e melhor use ele das ditas coisas e de cada uma delas com direito melhor puder usar porquanto de tudo o sobredito lhe faço doação e mercê em sua vida como dito é e mando aos Fidalgos, Cavaleiros, Escudeiros, Homens Bons e Povo da dita Vila do Sardoal que hajam o dito Dom Rodrigo de Almeida por Senhor dela e como tal lhe obedeçam e o tratem em tudo o que assim lhe outorgo e eles devem fazer sem dúvida, nem impedimento algum que a ele ponham, porque assim é minha mercê e esta carta se registará nos Livros da Chancelaria da dita Correição de Tomar pelo Escrivão dela e assim na Câmara da dita Vila pelo seu Escrivão para se saber como tendo feito esta mercê ao dito Dom Rodrigo e de como se registar passarão os ditos Escrivães suas Certidões nas costas desta Carta com as quais poderá o dito Dom Rodrigo usar do contido nela e de outra maneira não, a qual por firmeza de tudo lha mandei passar por mim assinada e selada com o meu selo de chumbo pendente. Dada na Cidade de Lisboa aos vinte dias do mês de Dezembro. Luís Godinho… a fez. Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1677 e pagará novo direito na forma de minha Ordenação. José Fagundes Bezerra a fez escrever. Príncipe.

7.º – D. JOAQUIM FRANCISCO DE SÁ ALMEIDA E MENEZES

Nasceu em 8 de Janeiro de 1695 e era filho do anterior. Foi o 2.º Marquês de Abrantes, 8.º Conde de Penaguião e gentil homem da Câmara do Rei D. João V e do Rei D. José.

Faleceu sem filhos, em 15 de Junho de 1756 em Lisboa.

Início do registo da carta de confirmação de Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes (13 de Nov. 1733)

“(…) Pedindo-me o dito Marquês de Abrantes Dom Joaquim Francisco de Sá e Almeida Meneses que na conformidade do Alvará no princípio desta trasladado houve por bem lhe mandar passar Carta de Confirmação do Senhorio da Vila do Sardoal com todas as suas jurisdições, em que sucede ao Marquês seu Pai, de que dando-se desta ao meu Procurador da Coroa, não se vê nisso dúvida e visto o seu requerimento, Alvará referido e Carta nele incorporada e a Carta do dito meu Procurador da Coroa e por fazer graça e mercê do dito Marquês de Abrantes Dom Joaquim Francisco de Sá e Almeida Meneses, hei por bem por esta de lhe confirmar por sucessão como por esta confirmo e hei por confirmada a dita doação da Vila do Sardoal e seu termo com todas as suas jurisdições para que a tenha e possua na mesma forma que foi concedida ao Marquês seu Pai pela Carta nesta incorporada e dentro da conformidade do Alvará no princípio desta trasladado, pelo que mando ao Corregedor da Comarca de Tomar e a todas as mais Justiças, Oficiais e pessoas a que esta minha carta for apresentada e o conhecimento dela pertencer que metam de posse do dito Marquês de Abrantes Dom Joaquim Francisco de Sá Almeida e Meneses da dita Vila do Sardoal com todo o seu termo e mais coisas contidas e declaradas na dita Carta e lhe deixem ter, lograr e possuir e usar das jurisdições que lhe são concedidas conforme a dita Carta e lhe cumpram e guardem e façam inteiramente cumprir e guardar, assim e da maneira que nela se contém e aos Oficiais, Nobreza e Povo da dita Vila do Sardoal que o hajam e conheçam por Senhor dela e como tal lhe obedeçam e o tratem em tudo o que assim lhe é outorgado sem a isso lhe ser posta dúvida nem embargo algum porque assim é a minha mercê e por firmeza de tudo lhe mandei passar esta carta, por mim assinada e selada com o meu selo de chumbo pendente, a qual se assentará nos livros das mercês que faço e se registará nos livros da Câmara da dita Vila do Sardoal e nos da Correição da Comarca de Tomar e nas mais partes a que dever, de que os Oficiais a que pertencer passarão certidões nas costas desta Carta e do conteúdo dela se farão averbar nos Registos do Alvará no princípio dela incorporado e pagou de novos direitos 17280 réis que foram carregados ao Tesoureiro deles no Livro 51º de sua receita a folhas 219 verso como se vê pelo conhecimento feito pelo Escrivão de seu cargo e assinada por ambos que foi registado no Livro 18º do Registo Geral dos mesmo Direitos a folhas 145 verso. Dada na Cidade de Lisboa Ocidental aos 12 dias de Março. Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1734. = El-Rey. // Carta de Confirmação ao Marquês e Abrantes Dom Joaquim Francisco de Sá Almeida e Meneses, porque Sua Majestade hei por bem fazer-lhe mercê de lhe confirmar a doação da Vila do Sardoal e seu termo com toda a jurisdição Cível e Crime, para que a tenha e possua na mesma forma em que foi concedida ao Marquês seu Pai, a quem sucede tudo na maneira que no Alvará e Carta nesta incorporados se declara. Para Vossa Majestade vem por despacho do Desembargador do Paço de 13 de Novembro de 1733. Gregório Pereira, Fidalgo de Sua Mesa. António Teixeira Alves, Gaspar Galvão Castelo Branco a fez escrever. Francisco Pedro da Silva a fez.”

8.º – D. ANA MARIA CATARINA HENRIQUETA DE LORENA

Nasceu em 1691 (ver Wikipédia). Em 1753, El Rei D. José I fez dela duquesa de Abrantes, uma vez que fora nomeada camareira-mor da rainha Mariana Victoria.

Era irmã de D. Joaquim Francisco Rodrigues de Sá e Meneses (o anterior). Após a sua morte em 15 de Junho de 1756, El – Rei D. José fez mercê a D. Ana de Lorena dos seus estados, rendas e senhorios, por alvará de 29 de Agosto de 1756. Tornou-se por essa forma 3.ª Marquesa de Abrantes e 9.ª Condessa de Penaguião e tomou posse da Vila de Sardoal.

Faleceu a 1 de Julho de 1761, tendo El – Rei feito mercê a sua filha, a Sra. Duquesa de Abrantes, de todas as suas terras e domínios, tendo esta nomeado o seu marido, o Príncipe D. João, filho do Infante D. Francisco, administrador da Casa de Abrantes, que tomaria também posse do Senhorio da Vila de Sardoal.

A Duquesa de Abrantes faleceu em 1764. Em 1772, ainda não tinha sido dado o Senhorio da Vila de Sardoal.

F.U.S. – Memórias da Filarmónica

Em 1987, aquando da comemoração do 125.º aniversário da Filarmónica União Sardoalense, a Câmara Municipal de Sardoal editou uma brochura com algumas das suas memórias.

Esta versão que se apresenta é tão fiel quanto possível à versão impressa, com a excepção das fotografias que ficaram de fora mas que estão aqui disponíveis nesta página.

Além de alguns apontamentos sobre a História da FUS, o interesse está sobretudo na transcrição do primeiro registo de autos referentes à administração da então Sociedade Filarmónica Sardoalense, que teve o seu princípio em 3 de Agosto de 1862, e que inclui a acta de eleição da comissão administrativa, a acta da eleição do primeiro corpo dirigente e os primeiros estatutos.

As fotos que se encontram na edição física são as seguintes:

Tuna “Flor Mimosa Sardoalense” – 3/8/1914
Plano inferior, da esquerda para a direita: João Dias Milheiriço, Norberto Ricardo Navalho, João Florindo e Máximo Dionísio.
Plano superior, da esquerda para a direita: Lúcio Serras Pereira, António Bernardo, Abílio Napier, Francisco Bernardo e António Serras Pereira.
1.º Plano, da esquerda para a direita: Domingos Ambrósio, Miguel Nunes, João Florindo, Manuel Bernardo, Francisco Grácio e Joaquim Nunes.
2.° Plano, da esquerda para a direita: Augusto Bernardo, António Ventura, Manuel Agudo, João Bernardo, António Moleirinho, Alfredo Navalho, António Sequeira e João Ventura.
3.° Plano, da esquerda para a direita: Gregório Alves, Florindo Bernardo, José Paulino e Ricardo Navalho.
4.° Plano da esquerda para a direita: Acácio Dezoito, David Bernardo, Sebastião Estrela, António Agudo, Diamantino Serras, Joaquim dos Santos e Acácio dos Santos.
1.° Plano, da esquerda para a direita: Júlio Graça (direcção), João Ventura, Augusto Bernardo, Joaquim Nunes, João Florindo (maestro), Domingos Ambrósio, Francisco Grácio, Joaquim Freirinho e Ramiro dos Santos (direcção).
2.° Plano, da esquerda para a direita: Acácio dos Santos, Joaquim dos Santos, António Ventura, Manuel Bernardo, Ricardo Navalho, João Bernardo, Sebastião Estrela, Francisco Parente, Gregório Alves, Diamantino Serras, António Estrela e João Curado.
3.° Plano, da esquerda para a direita: David Bernardo, Acácio Dezoito, Alfredo Navalho, António Moleirinho e Florindo Bernardo.
1950, da esquerda para a direita:
1.ª De pé, em cima: Francisco Grácio, Arlindo Mendes, Albino Lopes, Baltasar Ribeiro, António Mendes, José Bernardo e Álvaro Lamarosa;
2.ª Fila – De pé: Diamantino Serras, Francisco Mendes (“Parente”), Joaquim Ribeiro, Acácio dos Santos, David Grácio, Augusto Lopes (conhecido pelo “Capitão”) e Francelino Lopes Pereira (Maestro).
3.ª Fila – Sentados: Gregório Alves, António Sequeira Estrela, (passa para o homem de óculos escuros) Guilhermino Esperto, José Pereira e Joaquim Fernandes.
4.ª Fila – De cócoras: António Moleirinho Júnior, António Ventura, Isidro Grácio, José da Silva Rosa (atrás do bombo, a tocar sax), Manuel Serras e Joaquim Grácio dos Santos.
1 de Dezembro de 1969, da esquerda para a direita:
1.ª Fila (sentados): Baltasar dos Santos, Miguel Lopes Simples, Diamantino Dias da Costa, António Nuno da Costa, Francelino Lopes Pereira (Maestro), Joaquim Simples, Luís Fernando Pereira, João Manuel Serras, António Pires;
2.ª Fila: António Alves Ventura, Gregório Alves Ventura, Augusto Pires, David Grácio, Alberto Silva Pereira, Joaquim Silva Pereira, Manuel Serras, Augusto Marques, Diamantino Serras, Joaquim Lopes, António Alves Ventura, Joaquim Grácio dos Santos;
3.ª Fila: José da Costa, António Agudo.

O Sardoal Com Memória tem mais elementos sobre a história da F.U.S.:

Memória da(s) Filarmónica(s)

FUS – Apontamentos (I)

Ruas: algumas evoluções toponímicas

Nota: Esta lista não é de todo exaustiva. Foi compilada por curiosidade a partir do que fomos vendo em publicações diversas do autor das linhas deste site.

Praça da República: é assim designada desde uma deliberação por unanimidade, na reunião da Câmara de 17 de Novembro de 1910 (de outra deliberação do mesmo dia resulta o dia 22 de Setembro como feriado municipal, por razões evidentes). Em 1603 aparece como Praça Nova num alvará régio, no tempo em que os Paços do Concelho para aqui foram transferidos, na sequência da expansão da Vila para norte. No final do século XIX era designada por Praça do Comércio, ainda que a designação oficial fosse, nos últimos anos da Monarquia, Praça Conselheiro João Franco.

A Praça por volta de 1908, quando era do Conselheiro João Franco (fotografia de Francisco Dionísio)

Rua Mestre do Sardoal: Foi Rua Avelar Machado e antes disso Rua dos Cónegos (ou Clérigos). José Alves Pimenta de Avelar Machado nasceu em Abrantes em 8 de Novembro de 1847. Foi militar e político ilustre, tendo sido deputado pelo círculo de Abrantes.

Avenida Luís de Camões: Desde os finais do século XIX era Rua Serpa Pinto. Desde 1933 designou-se Avenida Salazar, deliberação tomada no mesmo dia em que Oliveira Salazar foi nomeado cidadão honorário da vila de Sardoal, e assim ficou até 1974. Antes e desde tempos imemoriais chamou-se Rua do Vale, designação que ainda perdura em relação à actual Rua 5 de Outubro.

Também por volta de 1908: Rua Serpa Pinto (fotografia de Francisco Dionísio)

Rua Gil Vicente é assim designada desde os anos 80 do século XX. Foi antes Rua Simões Baião e ainda antes Rua Direita e Rua do Comércio – era o núcleo comercial da Vila. Em 1905 já tinha a designação de Rua Simões Baião, pelo que presumimos que esta designação fosse uma homenagem a Simões Baião como Governador Civil de Santarém, cargo que exerceu em 1900 e 1901. Foi um escritor e erudito investigador, que nasceu em 1878 no concelho de Ferreira do Zêzere.

Anos 1950, quando era Rua Simões Baião

No local da Fonte da Preta houve antes o Chafariz da Murteira. Como reconhecimento do grande trabalho desenvolvido pelo Presidente da Câmara Sr. Máximo Maria Serrão, no princípio do século XX ou ainda nos finais do século XIX foi atribuída a designação toponímica “Praça Máximo Serrão” ao largo fronteiro a esta fonte.

A Fonte da Preta fica na confluência da Rua Bivar Salgado com a Rua Dr. David Serras Pereira, que é a antiga Rua do Chafariz da Murteira. Também era popularmente conhecida por Rua da Sardinha. Aos domingos vendiam-se sardinhas em grande quantidade no local onde hoje é a Praça Nova, e mesmo com esta já construída, dizendo-se até que uma das tílias secou nessa altura, por efeito do sal que sobrava dos caixotes. Esta rua chamou-se por pouco tempo Rua Mestre do Sardoal, o que acabou por ser rectificado em 1987 para manter na toponímia sardoalense, com toda a justiça, o nome do Dr. David Serras Pereira, na rua onde nasceu. O Dr. David, como era conhecido na região, foi um dos principais obreiros da reconstrução do Pelourinho, da colocação do painel de azulejos que se encontra na parede da capela do Espírito Santo, da reconstrução da Igreja da Misericórdia em 1931, e da divulgação dos quadros do Mestre do Sardoal. Foi também, cremos bem, um dos principais mentores do Movimento Pró-Sardoal, tendente ao alargamento do concelho, também em 1930/31.

Anos 1920: rua do Chafariz da Murteira, actual Rua Dr. David Serras Pereira

Uma outra parte da Rua do Chafariz da Murteira foi nomeada Rua Bivar Salgado, sendo que em 1904 já tinha essa designação. Júlio Bivar Xavier de Azevedo Salgado era natural de Abrantes (São João), onde nasceu a 10 de Novembro de 1841. Era filho de José Nicolau de Azevedo Salgado, natural de Torres Novas, e de Maria Teresa Garcia Bivar Salgado, natural de Lisboa. Segundo o livro “Istoria do cativeiro dos prezos d’estado na Torre de S. Julião da Barra de Lisboa durante a dezastroza epoca da uzurpasão do Legitimo Governo Constitucional deste Reino de Portugal“, de João Batista da Silva Lopes (1833), o seu pai teve um percurso atribulado, sendo “empregado no Comisariado, natural de Torres Novas, preso no Porto a 18 de Julho de 1828, deu entrada na Torre a 11 de Agosto de 1830: Condenado por toda a vida para Pedras Negras. Rem. para a cadeia de Belém a 2 de Junho de 1833; reclamado como filho de Francês.”
No Sardoal, Júlio Bivar Salgado teve um importante papel político. Foi Administrador do Concelho e depois Presidente da Câmara em 1890, 1899 e 1900, sendo também vice-presidente noutros períodos.
Foi casado com Maria Engrácia Xavier de Azevedo Salgado, natural da vila do Sardoal. O filho Augusto Bivar Xavier de Azevedo Salgado nasceu no Sardoal em 1881 e foi coronel no Regimento de Infantaria 2 de Abrantes, tendo falecido também no Sardoal em 1950.

Anos 1950, Rua Bivar Salgado

Rua do Paço: Mantém-se na toponímia local, junto a um espaço amuralhado, ainda hoje conhecido por Paço, que esteve no domínio público até ao princípio do século XX, altura em que foi vendido, sendo tradição que era ali a residência dos Reis de Portugal quando se deslocavam ao Sardoal.

A Rua do Poço da Ratinha, na zona histórica da Vila, tem o seu nome relacionado com um poço que aí existia e que em 1536 aparece referido por via de uma queixa que os moradores da zona fizeram a El-Rei D. João III, contra o facto de a Câmara ter vendido o terreno onde estava o dito poço. Refira-se que o Dr. Francisco Tavares, Corregedor com alçada na Comarca da Estremadura, na sentença que o caso lhe mereceu, deu a venda como sem efeito, alegando os prejuízos que daí advinham para os moradores daquela artéria.

A Rua António Duarte Pires, antes de ter esta designação, era chamada Rua Manuel Pires Coelho. António Duarte Pires era natural de Sardoal e aqui ocupou posições de relevo, tendo sido Provedor da Misericórdia e Presidente da Câmara Municipal, em 1852-59 e 1872-73. Foi um dos fundadores da Sociedade Filarmónica Sardoalense, em 3 de Agosto de 1862, tendo sido Presidente da mesma.

A rotunda fronteira ao edifício do antigo Externato Rainha Santa Isabel tem a curiosa designação de Taberna Seca, e que antigamente se chamava também de Largo da Fadina. A Fadina explou a taberna que aí existiu e que ao que consta era escassa de bebidas para vender.

A Rua Cónego Silva Martins foi antes designada Rua de Santa Catarina e popularmente também foi designada de Rua da Camareira, em virtude de uma taberna/estalagem que ali existiu. Quanto a António Joaquim Silva Martins, era natural de Entrevinhas e foi pároco de Sardoal durante muitos anos. Foi igualmente presidente da Junta da Paróquia e Presidente da Câmara Municipal.

Rua Dr. Giraldo Costa: Chamou-se antes Avenida, ou Rua da Avenida. Giraldo Joaquim Maria da Costa era natural da Sertã, onde nasceu em 1821. A partir de 1851 foi médico do Partido Municipal nesta Vila. Interessado pela história do Sardoal, escreveu um interessante “Esboço Corográfico da Vila de Sardoal“.

Rua Dr. Giraldo Costa em 1987 (fotografia de Maurício Abreu)

Promover a ruralidade: alguns projectos

Este texto é uma pequena parte de um documento elaborado para a Tagus em 2001 com o título “Combater a Interioridade – Promover a ruralidade”:

O GRANDE OBJECTIVO: Afirmar a competitividade territorial do Sardoal, num quadro de sustentabilidade e inovação, promovendo a cidadania e o bem-estar, o robustecimento da base económica, a valorização e coesão territoriais, a atracção de investimento e uma governância do território moderna, eficiente e participada.

O Concelho do Sardoal é um território multifacetado, resultante de um longo processo de maturação histórica, política, económica, social e cultural, e um espaço de múltiplas vocações dado os recursos e potencialidades que apresenta e o espectro de oportunidades que se lhe deparam.

Do ponto de vista patrimonial, seja em termos naturais e paisagísticos, seja monumentais e culturais, apresenta um espectro de recursos, rico e diversificado, que não pode deixar de ser considerado no almejado processo de desenvolvimento local e regional.

Refere-se, também, a importância da componente agro-florestal e florestal, a qual além de marcar de forma indelével a paisagem, representa uma apetência do território do concelho de Sardoal que também deverá ser aproveitada e potenciada.

PONTOS FORTES:

  • Potencialidades endógenas associadas ao sector agro-florestal;
  • Consolidação de um eixo com a cidade de Abrantes;
  • Potencial de articulação com o Pinhal Interior;
  • Património e riqueza natural e paisagística que possibilitam o desenvolvimento do turismo e lazeres;
  • Bons níveis de acessibilidades exterior (ao IP6 e ao caminho de ferro e interior (rede de estradas locais)
  • Bom nível de cobertura em infra-estruturas básicas;
  • Carácter específico do Sardoal, enquanto Vila da área do Pinhal, onde se conservam valores de património edificado e etnológico regionalmente expressivos. A imagem do SARDOAL – VILA JARDIM, tem sido frisada na promoção turística dos anos recentes, dando-lhe um carácter de tipicidade simultaneamente urbana e rural que importa destacar;
  • A existência do Aterro Sanitário Intermunicipal em Abrantes permitindo tratar os resíduos sólidos produzidos no concelho;
  • Possibilidade de criação de um Museu Municipal e de três espaços museológicos sobre a temática rural.

PONTOS FRACOS:

  • Diminuição demográfica acentuada;
  • Reduzida dimensão e dispersão do povoamento;
  • Envelhecimento acentuado da população;
  • Posição periférica da Lezíria e Médio Tejo (interioridade);
  • Falta de mão-de-obra qualificada;
  • Carência de estruturas de ensino e formação profissional;
  • Pulverização do tecido empresarial;
  • Dificuldades na gestão da floresta;
  • Ligações deficientes aos principais pólos económicos da região;
  • Índice de recursos humanos na área da saúde que não garante eficiência às instalações existentes.

IMAGENS FORÇA: Centros urbanos de pequena dimensão; pequeno pólo de prestação de comércio e serviços; espaço de ruralidade e floresta.

ORIENTAÇÕES ESTRATÉGICAS:

  • Melhorar as acessibilidades internas e externas da Vila e do concelho, bem como a valorização e consolidação das estruturas viárias urbanas. De importância estratégica são os troços concelhios da EN 244-3 e da EN 358;
  • Superar algumas carências verificadas no domínio do saneamento básico;
  • Consolidar a amarração da vila ao pólo urbano de Abrantes, mas evitando situações de sub-urbanização e ao mesmo tempo valorizando-a como local privilegiado de residência de quadros médios e superiores que trabalham na região. Para tal, exige-se um particular cuidado no planeamento das áreas de crescimento urbano, bem como um melhor apetrechamento da Vila em termos de equipamentos colectivos, mormente culturais e desportivos;
  • Recuperar e valorizar o património natural, paisagístico, construído e cultural, por forma a dinamizar o desenvolvimento das actividades turísticas. De importância estratégica são, designadamente, a reabilitação dos monumentos religiosos da Vila, o aproveitamento e valorização das margens da barragem/albufeira da Lapa e das ribeiras do Codes e do Sardoal, bem como a recuperação das azenhas do Vale do Cabril e do Porto de Mação;
  • Reforçar as condições de acolhimento de investimentos industriais e turísticos;
  • Promover o desenvolvimento do artesanato, como estratégia de promoção concelhia e de sustentação de rendimentos familiares;
  • Valorização ambiental e económica dos recursos florestais e preservação do papel da agricultura como factor paisagístico e de flexibilidade do mercado de trabalho. Importantes são: o apoio à expansão e a melhoria do ordenamento e gestão das áreas florestais; a criação de incentivos para uma adequada renovação e reestruturação dos sistemas de produção olivícola existentes, e o apoio à diversificação das actividades agrícolas e não agrícolas cujos sistemas e/ou estruturas de produção não terão condições de virem a ser futuramente competitivas.

QUATRO PROJECTOS POSSÍVEIS PARA O CONCELHO DE SARDOAL

  1. “ROTA DO PÃO E DO VINHO” – ALBUFEIRA DA BARRAGEM DA LAPA
  2. CAÇA, LAGARES, SÍTIOS, COUVES E FIGOS
  3. VINHO, QUINTAS E LUGARES
  4. REVITALIZAÇÃO DE UMA ALDEIA ABANDONADA (MALHADAL) E DE OUTRAS TRÊS EM VIAS DE ABANDONO

1. “ROTA DO PÃO E DO LINHO” – ALBUFEIRA DA BARRAGEM DA LAPA

ZONA DE INTERVENÇÃO: A Zona de Intervenção para este projecto deverá integrar toda a freguesia de Alcaravela e as aldeias de Entrevinhas, Palhota e Venda Nova, na freguesia de Sardoal.

NÚCLEOS POLARIZADORES:

  • Moinhos de Vento de Entrevinhas
  • Azenhas do Vale do Cabril e do Porto de Mação
  • Albufeira da Barragem da Lapa
  • Espelho de água e zona de lazer da Rosa Mana
  • Espelho de água e Zona de Lazer da Lapa
  • Espelho de água e zona de lazer da Saramaga
  • Cooperativa ARTELINHO – Alcaravela
  • Largo para Festas, Feiras e Mercados de Santa Clara
  • Novo Posto Médico de Alcaravela – Santa Clara
  • Artesanato – Fernanda Leitão – Presa

INVESTIMENTOS A RENTABILIZAR:

  • Barragem da Lapa
  • Recuperação dos Moinhos de Vento de Entrevinhas
  • Restaurante “CASA GARCIA” – Entrevinhas
  • Quinta das Freiras – Agroturismo
  • “CASA DO PASTOR”/Quinta de Arecez – Restaurante e Turismo em Espaço Rural (TER)
  • Quinta dos Moinhos – Entrevinhas TER (em fase de projecto)
  • Largo para Festas, Feiras e Mercados – Santa Clara – Alcaravela – Centro Rural “ABRANTES NORTE”
  • Novo Posto Médico de Alcaravela – Santa Clara – Centro Rural “ABRANTES NORTE”
  • Remodelação da Rede Viária do Concelho de Sardoal
  • Abastecimento de Água e Saneamento Básico

PRINCIPAIS ACÇÕES A DESENVOLVER:

  • Plano de Ordenamento das Margens da Barragem da Lapa, da competência da DRAOTLVT
  • Beneficiação do Caminho Rural Entrevinhas/Presa (a)
  • Requalificação de espaços públicos em Entrevinhas
  • Beneficiação das duas ligações Venda Nova / Entrevinhas, pela Quinta das Freiras (a) e pelos Moinhos de Vento (b)
  • Beneficiação da ligação Palhota / Lapa (a)
  • Beneficiação da Zona de Lazer da Lapa
  • Beneficiação dos acessos à Albufeira da Barragem da Lapa : Cabril/Vale de Oliveira/Carrascosa/Azenha Nova/Vale Formoso (b) e Palhota/Porto de Mação/Vale de Oliveira/Pisão Cimeiro (b) e acessos e arruamentos de Pisão Cimeiro (a)
  • Beneficiação e electrificação da Zona de Lazer da Rosa Mana
  • Recuperação do edifício da Casa do Povo de Alcaravela – Casa – Museu Rural e sede do Rancho Folclórico “Os Resineiros” de Alcaravela
  • Beneficiação da ligação Moinhos de Vento de Entrevinhas /Vale do Cabril (b)
  • Beneficiação da ligação Vale das Onegas / Saramaga (b)
  • Beneficiação da ligação Vale das Onegas / Serra do Mação (a)
  • Largo para Festas, Feiras e Mercados de Alcaravela – 2ª Fase (palco e ringue polidesportivo)
  • Conclusão do Centro de Dia da Associação para a Assistência Domiciliária de Alcaravela (arranjos exteriores)
  • Construção do Centro de Convívio de Vale das Onegas
  • Aquisição de terrenos e azenhas
  • Recuperação do olival tradicional
  • Apoio a projectos na área da Apicultura, Artesanato, produção de queijos e enchidos por processos tradicionais, etc.
  • Sinalização turística, roteiros e divulgação, etc.

(a) C/ pavimentação
(b) Regularização do pavimento em terra batida, abertura de valetas, colocação de aquedutos, etc.

PARCEIROS:

  • Câmara Municipal de Sardoal
  • Junta de Freguesia de Alcaravela
  • Junta de Freguesia de Sardoal
  • TAGUS – RIBATEJO INTERIOR
  • Paróquia de Alcaravela
  • Paróquia de Sardoal
  • Cooperativa ARTELINHO
  • Casa do Povo de Alcaravela
  • Associação para a Assistência Domiciliária de Alcaravela
  • Rancho Folclórico “Os Resineiros” de Alcaravela
  • Grupo Desportivo de Alcaravela
  • Associação Recreativa de Presa
  • Associação Cultural e Recreativa de Panascos
  • Associação de Criatividade Social de Monte Cimeiro
  • Associação de Naturais e Amigos do Pisão
  • Associação de Melhoramentos dos Amigos de Entrevinhas
  • Associação para o Desenvolvimento do Lugar de Venda Nova
  • Privados

2. CAÇA, LAGARES, SÍTIOS, COUVES E FIGOS

ZONA DE INTERVENÇÃO: A Zona de Intervenção deste projecto deverá integrar toda a freguesia de Valhascos e a aldeia de Cabeça das Mós, da freguesia de Sardoal. De referir que a freguesia de Valhascos tem grande tradição na área da Agricultura (horticultura, produção de figos e azeite), sendo conhecida a nível nacional a famosa “Couve dos Valhascos”, que ainda hoje constitui uma significativa fonte de receita, especialmente ao nível da produção de sementes.

INVESTIMENTOS A RENTABILIZAR:

  • Barragem da Lapa
  • Zona Industrial de Sardoal
  • Remodelação e beneficiação da Rede Viária do Concelho de Sardoal
  • Remodelação das estruturas viárias urbanas de Cabeça das Mós e Valhascos
  • Abastecimento de água e saneamento básico nas referidas localidades
  • Beneficiação da EN 358

NÚCLEOS POLARIZADORES:

  • Ribeira de Arecez /Caldeiras
  • Núcleo Arquelógico dos Castelos
  • A área agrícola e florestal de Valhascos e Cabeça das Mós
  • As aldeias de Cabeça das Mós e Valhascos
  • A Capela de S. Bartolomeu
  • As instalações da Associação Cultural e Desportiva de Valhascos e da Comissão de Melhoramentos de Cabeça das Mós
  • A Quinta de Arecez / CASA DO PASTOR (TER e restaurante)
  • A Barragem da Lapa
  • A Zona de Lazer e Espelho de Água da Lapa

PRINCIPAIS ACÇÕES A DESENVOLVER:

  • Requalificação de espaços públicos: Largo Central de Cabeça das Mós e reconversão das instalações da Comissão de Melhoramentos de Cabeça das Mós
  • Requalificação de espaços públicos: Recuperação do edifício da antiga Casa do Povo de Valhascos para fins sócio-culturais e arranjo paisagístico do pequeno largo anexo para fins lúdicos
  • Conclusão das instalações da Associação Cultural e Desportiva de Valhascos
  • Beneficiação de caminhos agrícolas e rurais, com incidência na zona dos Tojais, S. Bartolomeu, Ribeiro Mourisco, Casal da Graça, Ribeiro Travesso, Caldeiras, Pisão do Bruxo, Castelos, Cabeça das Mós /Campo de Futebol de Valhascos/Pombais/Alto da Ramalha, etc.
  • Beneficiação do Campo de Futebol de Valhascos
  • Criação de espaços museológicos de temática rural em Cabeça das Mós e Valhascos
  • Recuperação do olival tradicional
  • Apoio a projectos na área da Apicultura e do Artesanato (ferro forjado), da produção de queijos e enchidos por processos tradicionais e da Doçaria e Gastronomia tradicionais
  • Valorização da Reserva de Caça Associativa de Cabeça das Mós e Valhascos
  • Aquisição de terrenos e de imóveis degradados
  • Sinalização turística, roteiros, divulgação, etc.

PARCEIROS:

  • Câmara Municipal de Sardoal
  • Junta de Freguesia de Sardoal
  • Junta de Freguesia de Valhascos
  • TAGUS – RIBATEJO INTERIOR
  • Paróquia de Sardoal
  • Paróquia de Valhascos
  • Comissão de Melhoramentos de Cabeça das Mós
  • Clube de Caçadores de Cabeça das Mós e Valhascos
  • COOPVAL – Cooperativa de Olivicultores de Valhascos
  • Privados

3. VINHO, QUINTAS E LUGARES

ZONA DE INTERVENÇÃO: Arredores da Vila de Sardoal: Castiço, Vale do Paço, Vale da Gala, Telheiro, Quinta das Madalenas, Almagil, Quinta do Coro, Vale da Carreira, Quinta do Vale da Lousa ou do Constâncio, margens da Ribeira de Alferrarede até ao Salgueiral, S. Simão, Vale de Encimão, Chão das Maias, Vale do Mú, Poço Redondo, Tapada das Touces, Fonte da Estrada, Vale da Velha, Quinta das Gaias, Juncosa, Andreus, Cerro e Vale Penedo. Apesar desta descrição detalhada, nesta zona de intervenção apenas se integram duas aldeias: Andreus e S. Simão.

NÚCLEOS POLARIZADORES:

  • Património Cultural da Vila de Sardoal
  • Árvores monumentais classificadas (Palmeira da Casa Grande, Eucalipto Grosso, Pinheira do Castiço e Sobreiro )
  • Quinta do Coro e Quinta do Vale da Lousa ou do Constâncio
  • Património natural (fauna e flora) das margens da Ribeira de Alferrarede
  • As aldeias de Andreus e S. Simão
  • As Fontes Antigas
  • As paisagens
  • As ruínas da antiquíssima Igreja de S. Miguel de Alferrarede, as Capelas de S. Simão e S. Guilherme e Nossa Senhora da Saúde (Barbilongos)

INVESTIMENTOS A RENTABILIZAR:

  • Reabilitação urbana do Centro Histórico da Vila de Sardoal
  • Núcleo de restauração e hotelaria da Vila do Sardoal
  • Comércio tradicional
  • Quinta do Coro: Sala de Prova de Vinhos, TER, produção de marmeladas, compotas, geleias, etc.
  • Quinta do Vale da Lousa: produção de vinhos
  • Equipamentos colectivos da Vila de Sardoal
  • Beneficiação e remodelação da rede viária municipal
  • Abastecimento de água e saneamento básico

PRINCIPAIS ACÇÕES A DESENVOLVER:

  • Recuperação da Casa do Adro em Andreus, sede da Associação de Moradores de Andreus, para fins sócio-culturais
  • Urbanização de um terreno municipal em Andreus, para construção de habitações
  • Beneficiação de caminhos agrícolas, rurais e florestais em toda a zona de intervenção
  • Beneficiação do pavimento no caminho municipal Sardoal/Sentieiras
  • Construção de lagoas de evaporação no local denominado Eira de João Afonso para tratamento das águas ruças dos lagares do concelho de Sardoal e beneficiação dos acessos ao local
  • Requalificação de espaços públicos na aldeia de S.Simão
  • Recuperação do olival tradicional
  • Instalação de um espaço museológico dedicado à temática do azeite, no antigo Lagar dos Paulinos, propriedade da Câmara Municipal de Sardoal
  • Apoio a projectos na área da Apicultura, do Artesanato, da produção de queijos e enchidos por processos tradicionais e da Gastronomia e Doçaria tradicionais
  • Valorização e defesa dos recursos cinegéticos
  • Recuperação da Capela de S. Miguel de Alferrarede
  • Aquisição de terrenos e imóveis degradados
  • Sinalização turística, roteiros, divulgação, etc.

PARCEIROS

  • Câmara Municipal de Sardoal
  • Junta de Freguesia de Sardoal
  • TAGUS – RIBATEJO INTERIOR
  • Santa Casa da Misericórdia de Sardoal
  • Paróquia de Sardoal
  • Associação de Moradores de Andreus
  • Associação de Melhoramentos de S. Simão
  • COPOLAN – Cooperativa de Olivicultores de Andreus
  • Particulares

4. REVITALIZAÇÃO DE UMA ALDEIA ABANDONADA (MALHADAL) E DE OUTRAS TRÊS QUASE ABANDONADAS (AMIEIRA, CODES E SALGUEIRA).

ZONA DE INTERVENÇÃO: Toda a freguesia de Santiago de Montalegre e em especial as aldeias referidas em título.

NÚCLEOS POLARIZADORES:

  • Praia Fluvial da Ribeira do Codes
  • Zona de Lazer do Penedo Furado (na confluência dos Concelhos de Abrantes, Sardoal e Vila de Rei)
  • Miradouro do Cristo Rei da Matagosa (na confluência dos concelhos de Abrantes e Sardoal)
  • Miradouro do Alto de Santiago de Montalegre
  • Igreja Paroquial de Santiago de Montalegre

PRINCIPAIS ACÇÕES A DESENVOLVER:

  • Adaptação da antiga Escola Primária do Codes a Centro de Férias Juvenil
  • Arranjo da área envolvente da Igreja Paroquial de Santiago de Montalegre
  • Concluir a electrificação da aldeia do Malhadal, suspensa há 20 anos, quando apenas faltava instalar o posto de transformação e já se encontrava realizada a rede de distribuição em baixa tensão.
  • Construir um sistema de abastecimento de água no Malhadal
  • Promover a recuperação de habitações degradadas no Malhadal, Amieira, Codes e Salgueira, para eventuais alojamentos de turismo rural
  • Arruamentos e abastecimento de água à aldeia da Salgueira
  • Beneficiação dos acessos ao Codes Fundeiro e ao Casalinho
  • Construção dos acessos à Praia Fluvial da Ribeira do Codes
  • Abertura e pavimentação da ligação Codes / Malhadal / Amieira
  • Beneficiação dos acessos ao Cemitério de Santiago de Montalegre, a partir de Mógão Cimeiro e do Malhadal
  • Beneficiação do caminho municipal Valongo / Mógão Fundeiro
  • Aquisição de terrenos e imóveis degradados
  • Apoio a projectos na área da Apicultura, Artesanato (leques de palhinhas) e à produção de queijos e enchidos por processos tradicionais e da Gastronomia e Doçaria tradicionais
  • Recuperação do olival tradicional
  • Sinalização turística, roteiros e divulgação, etc.

PARCEIROS:

  • Câmara Municipal de Sardoal
  • Junta de Freguesia de Santiago de Montalegre
  • TAGUS – RIBATEJO INTERIOR
  • Paróquia de Santiago de Montalegre
  • Associação dos Amigos de Santiago de Montalegre
  • Cooperativa de Olivicultores de Santiago de Montalegre
  • Privados

Monografia: Festividades Religiosas do Concelho de Sardoal

Esta monografia tem edição da Câmara Municipal de Sardoal do ano 2000, com fotografias de Paulo Jorge de Sousa e de António Manuel Conde Falcão.

Capa do Livro, Edição Câmara Municipal de Sardoal

A edição em livro é naturalmente a que se recomenda, mas deixamos aqui uma versão mais curta em formato digital.

Este livro foi apresentado na Escola de Sardoal no dia 29 de Junho de 2000, com o texto que se segue:

Através de um amável convite da Coordenação Concelhia do Ensino Recorrente de Sardoal, foi-me solicitada uma intervenção nesta jornada de encerramento das actividades do ano lectivo, para falar especialmente sobre o meu último livro, que tem por título “Festividades Religiosas do Concelho de Sardoal”. A edição é da Câmara Municipal de Sardoal e a apresentação pública ocorreu no passado dia 20 de Abril, Quinta-Feira Santa, escolhido para o efeito por se tratar, em minha opinião, de um dos dias mais marcantes do calendário das festas religiosas da nossa terra, até por algumas características únicas que nesse dia se conjugam, e que fazem da Procissão do Senhor da Misericórdia um momento especial, mesmo para aqueles que não mantêm uma prática religiosa regular ou que tenham para com a Religião uma atitude de maior afastamento.

É meu hábito nestas circunstâncias deixar uma advertência prévia a quem me ouve, ou lê aquilo que eu escrevo, que é a seguinte: não me considero um escritor, nem tão pouco um historiador ou cronista do Sardoal. Para isso não tenho nem vocação, nem preparação académica. Quero apenas ajudar a registar as memórias da minha terra, através de um trabalho de investigação que já dura há pelo menos 20 anos e que possa ajudar a divulgar aspectos pouco conhecidos da nossa história, das nossas raízes culturais. No fundo, para tentar perceber, através de um acto de reflexão colectiva, quem somos e porque somos.

Devo dizer que sempre fiz e continuarei a fazer este trabalho sem qualquer interesse de ordem material, sendo que a melhor recompensa que sempre recebi, se é que de recompensa se pode falar, foi o prazer que senti em muitas pessoas por conhecerem aspectos não divulgados do nosso passado colectivo que, a pouco e pouco, nos ajudam a perceber o presente e a projectar o futuro.

Chamo-me Luís Manuel Gonçalves, tenho 47 anos, casado, pai de três filhos, dois dos quais gémeos. Sou natural de Entrevinhas e resido há quase 24 anos na Vila de Sardoal, agora na Tapada da Torre, a poucos metros do local onde nos encontramos.

Fui professor de Matemática e de Ciências Físico-Químicas durante alguns anos, e pode parecer estranho como é que um professor da área das ciências exactas se dedicou a áreas tão diferentes como a História, a Sociologia e a Antropologia. Para tentar explicar esta aparente divergência, refiro, em primeiro lugar, o facto de enquanto estudante ter sido um bom aluno a Matemática (perdoem-me a imodéstia), mas também o ter sido a Português e a História. Quando fiz o 5º ano dos Liceus, as condições económicas da minha família não me permitiram assumir outra alternativa que não fosse a frequência do Colégio Infante de Sagres, em Mouriscas, onde as hipóteses de escolha não eram muitas, para além das alíneas f) e g) do antigo 7º ano dos Liceus. Optei pela alínea f) que dava acesso às Engenharias, às Medicinas e à maior parte dos cursos na área das ciências exactas. Quando concluí o 7º Ano dos Liceus ainda cheguei a pôr a hipótese de me matricular em Medicina, mas o custo dos manuais de Anatomia, e diga-se que também um reduzido grau de atracção pelo exercício da Medicina, levaram-me a inscrever no curso de Engenharia Electrotécnica, do qual fiz os dois anos dos Preparatórios na Faculdade de Ciências de Lisboa, transitando depois para o Instituto Superior Técnico, onde ainda frequentei o último ano do curso, na especialidade,então denominada das Correntes Fracas, sem que no entanto o viesse a concluir, por razões de natureza pessoal, que não devo nem quero enumerar neste momento. Em Janeiro de 1973 fui cumprir o Serviço Militar. Primeiro em Mafra e logo a seguir em Angola, onde integrei, com a especialidade de “Comando”, o corpo de tropas especiais do Exército Português. Em 1974, pouco depois do 25 de Abril, fui para Moçambique, de onde regressei pouco tempo antes da Independência daquele novo País, cujo 25º aniversário se comemorou no passado dia 25.

Em Outubro de 1975 comecei a ser professor de Matemática no antigo Externato Rainha Santa Isabel de Sardoal, onde me mantive até 1980. Depois fui funcionário da Câmara Municipal de Sardoal, até finais de 1982, de onde saí para ingressar na carreira tributária da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos, a cujo quadro ainda pertenço, colocado na 1ª Repartição de Finanças de Abrantes, ainda que desde 3 de Janeiro de 1994 me encontre em comissão extraordinária de serviço, por ter passado a ser Vereador a Tempo Inteiro da Câmara Municipal de Sardoal, onde ainda me encontro, sendo desde Outubro de 1999 Vice-Presidente da Câmara Municipal de Sardoal, quando o cargo foi criado.

Se vos maço com a apresentação desta síntese biográfica, faço-o com dois grandes objectivos. O primeiro, para me apresentar e para vos dizer que o percurso académico de cada um de nós pode não ser determinante para o exercício da nossa actividade profissional ou lúdica. Esta também pode ser determinada por uma questão de vocação, de paixão e de oportunidade que nos motive a sermos autodidactas, estudando diariamente as matérias que mais nos interessam. A título de curiosidade e para ilustrar o que digo, refiro que um dos meus ídolos em termos literários é Oliveira Martins, um dos grandes vultos da cultura portuguesa, também ele autodidacta, que deixou uma obra marcante em termos de História de Portugal, e que influenciou, de forma determinante, o pensamento português dos finais do século dezanove. Outra figura ímpar da Literatura Portuguesa, também referencial das minhas preferências literárias, é o grande escritor Miguel Torga, pseudónimo literário do Dr. Adolfo Rocha, médico, falecido há poucos anos. Falando ainda das minhas preferências, refiro também o grande poeta António Gedeão, pseudónimo literário do Professor Rómulo de Carvalho, professor de Físico-Químicas e também com vasta obra na área pedagógica, cujo poema mais conhecido é a “Pedra Filosofal”, musicada no princípio dos anos 70 pelo Manuel Freire, ainda hoje uma canção emblemática da resistência à ditadura do Estado Novo e cujas primeiras estrofes que quase todos conhecem, cito de memória:

“Eles não sabem nem sonham/ Que o sonho comanda a Vida/ E sempre que um homem sonha/ O Mundo pula e avança/ Como bola colorida/ Entre as mãos de uma criança”.

O segundo, para referir circunstâncias acidentais que podem ser determinantes. Enquanto professor tentei, sempre, manter um bom relacionamento com os meus alunos e manifestei-lhes, regularmente, a minha disponibilidade para os ajudar a estudar, facultando-lhes elementos de consulta que muitas vezes me eram pedidos, até para disciplinas que eu não leccionava, na linha de um provérbio chinês muito conhecido: “Se vires um pobre à beira de um rio, não lhe dês um peixe. Ensina-o a pescar.” Foi nesse âmbito que aconteceu o “acidente” de me serem pedidos elementos sobre a história do Sardoal que, após algumas buscas, concluí serem então muito poucos e muitas vezes pouco rigorosos. Foi assim que lancei a mim mesmo o desafio de suprir esta lacuna e que passados quase vinte e cinco anos ainda persiste, porque há muito trabalho para fazer. Apesar de tudo, já estão disponíveis diversos trabalhos com linhas de orientação para a investigação e que, com algum orgulho da minha parte, já permitem suprir algumas das lacunas que identifiquei em 1975.

Era suposto que eu falasse, nesta intervenção, do meu último livro. Apesar de não ter muito para vos dizer, não quero defraudar as vossas expectativas.

Como todos sabem, o concelho de Sardoal está imbuído de uma profunda tradição religiosa, sendo muitas as festividades dessa índole que aqui ocorrem ao longo do ano, com maior ou menor tradição popular. Basta referir a Festa de S. Sebastião, a Procissão dos Passos do Senhor, a Semana Santa, a Festa do Senhor Jesus da Boa Morte, a Festa do Senhor dos Remédios, a Festa do Corpo de Deus, as Festas de Santa Clara, Santiago, Senhora da Saúde, Nossa Senhora das Necessidades e da Luz, Nossa Senhora da Graça, a Festa da Imaculada Conceição, as Romarias da Senhora da Lapa e da Senhora dos Barbilongos, entre outras, que mobilizam, no seu conjunto, muitos milhares de pessoas e que são motivo de união e reunião, até pela afectividade que encerram e que as liga a cada um de nós. Esta circunstância associada ao riquíssimo património artístico de inspiração religiosa de que o Sardoal é detentor, do qual uma pequena parte já pudemos apreciar hoje, tende a transformar o Sardoal num importante pólo de turismo religioso, motivando a presença de muitos Sardoalenses, mas também de muitos visitantes nacionais e estrangeiros, que partem surpreendidos pelo manancial artístico do nosso concelho, pela sua riqueza arquitectónica, pela sua beleza paisagística e, principalmente, pela hospitalidade dos Sardoalenses, o que dá razão e fundamento a slogan de divulgação turística que criei há algum tempo que diz o seguinte: NO SARDOAL NINGUÉM É DE FORA!

Devo dizer que o meu último livro não traz nada de especialmente novo e é, em grande parte, valorizado pelas fotografias do Coronel Conde Falcão e do Paulo Sousa, que o ilustram. Para além disso, o mérito que pode ter, se é que o tem, é o de reunir e sistematizar um conjunto de informações dispersas, que permitirá a um leitor atento e interessado ter a percepção da dimensão da tradição religiosa do concelho de Sardoal, cujas origens se perdem no limiar da nossa História e nas brumas do tempo. Para fundamentar esta antiguidade, deixo-vos, a título de curiosidades, alguns apontamentos históricos:

  • Por volta de 1370, a Rainha D. Leonor Teles e o Rei D. Fernando, estiveram no Sardoal. Segundo uns, fugindo da peste que grassava em Lisboa; segundo outros, fugindo da revolta popular por causa do seu casamento. Fundaram uma capela no Sardoal, no local onde, no século XVI, foi construída a Igreja da Misericórdia, fronteira à primitiva Matriz, com a invocação de S. Mateus, de que hoje já não existem vestígios;
  • Alguns anos depois, D. João I dispensava os moradores do Sardoal de assistirem à Festa do Corpo de Deus em Abrantes, por a celebrarem com grande pompa e dignidade no Sardoal;
  • Por volta de 1470, D. Afonso V, através de uma carta que está transcrita num livro da sua Chancelaria que se guarda na Torre do Tombo, regimentava a realização da Festa do Espírito Santo, dando aos Mordomos da Festa regalias e poderes especiais. Terá sido no reinado de D. Afonso V que foi criada a freguesia de S. Tiago e S. Mateus do Sardoal e construída uma nova Igreja Matriz, no local onde hoje se encontra.
  • Falando de outras religiões que não a Cristã, direi que é muito provável que o Sardoal tenha tido uma sinagoga, uma vez que existem referências históricas indiscutíveis sobre a existência de uma importante Judiaria no Sardoal na Idade Média. Sobre a sua localização exacta só posso tecer algumas conjecturas, uma vez que dela não existem, hoje, quaisquer vestígios. Inclino-me para que se situasse no espaço que se situa entre a Ribeira, a Rua do Paço e o próprio Paço, onde se localiza a casa conhecida por Casa do Dr. Ribeiro, que foi construída em 1905 pelo Sr. Francisco Augusto Simões, significado da sigla FAS, várias vezes inscrita no imóvel e em espaços adjacentes. Esta suposição fundamenta-se nalgumas notícias que encontrei na Imprensa Regional do princípio do século, dando conta da demolição de diversas pequenas casas naquela zona para ser construída a casa do Sr. Francisco Augusto Simões e da revolta popular que aquela demolição causou. Olhando a estrutura urbana do Sardoal medieval, não consigo vislumbrar outro espaço para a Judiaria, que tinha, sempre, associada uma sinagoga e pelo menos um rabi.

Quando acompanho grupos de turistas em visitas guiadas à Vila do Sardoal, e faço-o com frequência, uma das questões que mais vezes me é colocada assenta no número de igrejas e capelas que existem na Vila. Se repararem, para além da Igreja Matriz, da Igreja da Misericórdia, da Igreja do Convento de Santa Maria da Caridade, existem na Vila as Capelas de S. Sebastião, Espírito Santo, Nossa Senhora do Carmo, Santa Catarina, Sant’Ana e do Senhor dos Remédios, para além de algumas capelas particulares na vila e seus arrabaldes, existindo vestígios ou apenas memórias de outras três capelas na periferia da Vila: a Capela de S. Francisco, a Capela de Santa Maria Madalena e a Capela de S. Domingos. Há ainda as ruínas de uma outra, um pouco mais afastada, entre S. Simão e as Sentieiras, ainda no concelho de Sardoal, a Capela de S. Miguel de Alferrarede. O topónimo Alferrarede pode causar alguma perplexidade, para quem não saiba que a aldeia de S. Simão até meados do século XVIII e durante vários séculos era a aldeia de Alferrarede, topónimo de origem árabe que indicia a existência e exploração de minérios ferrosos. Sem qualquer dúvida, era esta a designação que tinha em 1532, como consta na Carta de Demarcação do Termo da Vila de Sardoal, dada em Lisboa, por D. João III, em 10 de Agosto daquele ano, como também já constava, no Contamento (Censo) de 1527, em que aparece a vintena de Alferrarede, referenciada com 65 moradores. Muito curiosa é, também, a referência que é feita ao Sardoal, neste Censo Geral do Reino de 1527, o primeiro que foi realizado: “O Sardoal que é deste condado de Abrantes, tem 500 vizinhos e 4 no limite, sendo destes 3 cavaleiros, 21 escudeiros, 135 viúvas, sendo o mais povo. Que houve do Sardoal de termo 800 vizinhos e dizem que dos do Sardoal quebraram 200 na peste, de maneira que o Sardoal e seu termo fica agora de 600 vizinhos…”.

Mas falava eu, e depois perdi-me em algumas deambulações de outra natureza, da estranheza que causa a muitos visitantes, a existência de tão grande número de Igrejas e Capelas. É verdade que alguma integravam solares da fidalguia sardoalense, talvez mais por ostentação da sua riqueza do que por questões de fé. É o caso da Capela de Nossa Senhora do Carmo, da Casa Grande da família Moura e Mendonça, de Santa Catarina, da família Serrão da Mota, e da Capela de Sant’Ana, provavelmente ligada à Casa dos Viscondes do Sardoal. Mas mesmo assim o número de locais de culto existentes na Vila do Sardoal não deixa de ser impressionante, se o compararmos com outras localidades com a mesma antiguidade e dimensão geográfica.

É verdade que nos tempos actuais a verdadeira fé, o verdadeiro encontro do homem com Deus, é feito a sós. É um diálogo solitário e não um exibicionismo público de virtudes cristãs apregoadas para fora e esquecidas para dentro. Para falar com Deus, para cumprir as suas leis, não são necessárias excursões a Fátima, nem bênçãos papais, nem igrejas, nem mesquitas. A verdadeira Fé é, sim, o oposto da manipulação de massas e de sentimentos. No entanto, não é menos verdade que noutros contextos sociais e históricos, especialmente enquanto durou a influência da Santa Inquisição, que de Santa só teria o nome, introduzida em Portugal em 1531, no mesmo ano em que D. João III elevou o lugar do Sardoal à categoria de Vila, era preciso manifestar publicamente, com muita regularidade, a Fé e as piedosas intenções, jurar cumprir as regras dos Evangelhos e, mesmo com hipocrisia, integrar o rebanho dos fiéis.

Repare-se que nesses tempos a Paróquia do Sardoal chegou a ter ao seu serviço cerca de dez sacerdotes. Curioso é, também, o facto de a actual Rua Mestre do Sardoal, que antes se chamou Rua Avelar Machado, ter sido antes, durante muitos anos, chamada a Rua dos Clérigos. Ou a existência dos Livros das Pessoas de Confissão e de Comunhão, onde era feita a desobriga pascal, que ainda hoje se guardam nos arquivos paroquiais e municipais do Sardoal. Ou as côngruas e o pé-de-altar, praticamente uma forma de imposto ou tributo. E se nos lembrarmos da definição de «Imposto» que o Professor Teixeira Ribeiro dava nas suas aulas de Finanças Públicas, na Universidade de Coimbra, definindo «Imposto» como uma prestação coactiva e unilateral, fixada por lei, cujo destino é garantir as despesas públicas, perceberemos que as côngruas ou pés-de-altar se enquadrariam apenas na vertente coactiva e unilateral, mas esses são terrenos que não devo desbravar nesta circunstância…

Repare-se, igualmente, na estreita ligação que existe entre muitas festividades religiosas e os ciclos naturais que se podem sintetizar em quatro grandes períodos do ano solar e que correspondem, no essencial, às quatro grandes estações: na Primavera, com o crescimento dos dias e o gradual aumento da temperatura, tudo desponta e floresce; no Verão, o sol aquece mais e amadurecem os frutos e as espigas; no Outono, com a chegada das chuvas e das ventanias, as árvores despem-se de folhas; no Inverno, os dias são mais pequenos, o sol esconde-se, o frio aumenta e a natureza quase adormece.

Com base nestas quatro fases, a nossa civilização fixou outros tantos conjuntos de festividades, que ainda hoje se mantêm.
O primeiro é o ciclo do Carnaval e da Quaresma, que termina na Páscoa, no limiar da Primavera. É um tempo de passagem, marcado pela inversão de valores durante os «dias gordos» e depois por quarenta dias de abstinência que preparam a Páscoa.
O segundo é o ciclo de Maio, mês das flores. É o mês de maior fulgor da Natureza, em que se realizam diversas festividades a ela associadas, com destaque para a Quinta-Feira da Ascensão, o Dia da Espiga.
Segue-se, em Junho, o ciclo dos Santos Populares, herança de antigos ritos purificadores e de culto ao fogo, próprios do tempo de Verão.
Por fim, no fim do Outono e princípio do Inverno, desenvolve-se o ciclo dos Mortos que integra, entre outras manifestações, o Dia de Finados.

A Páscoa cristã, como já acontecia com a Páscoa judaica é, sem qualquer dúvida, a festa mais importante do calendário litúrgico, cuja data determina a de todas as outras festas móveis. Para o cristianismo, mais importante do que o nascimento de Cristo, celebrado pelo Natal, é a sua ressurreição, a vitória da Vida sobre a Morte e a Salvação da Humanidade.

A data para a celebração da Páscoa cristã, depois de um período inicial de alguma confusão, foi fixada definitivamente pelo primeiro Concílio de Niceia, que se realizou entre 20 de Maio e 25 de Julho do ano de 325, no século IV. Estabeleceu-se então, e ainda hoje se cumpre, que a Páscoa é no Domingo que se segue à primeira lua cheia depois do equinócio da Primavera. Significa isto que a Páscoa pode calhar entre 22 de Março e 25 de Abril.

Já no Neolítico, há uns 10 000 anos, o Homem com a sedentarização da sua forma de vida, começou a estabelecer uma relação mais estreita com a Natureza e em especial com a terra e com o que ela produzia, surgindo, então, a associação da terra à mulher. É então em torno de novas imagens, sempre femininas, que se desenvolvem formas de culto, sacralizando o dom da fertilidade e o milagre da reprodução da vida, que se opera no ventre da mulher e no ventre da terra.

Na Antiguidade, acentuaram-se, especialmente entre os Gregos e os Romanos, um conjunto de manifestações com carácter religioso e festivo que celebravam a fertilidade da terra e os ciclos da Natureza. É nessa visão greco-romana, aproveitada pela tradição judaico-cristã, que radicam quase todas as formas de culto à Natureza e as principais festas do nosso calendário religioso e profano actual.

Note-se, também, que as festas religiosas mais importantes eram acontecimentos regionais de vulto e uma das raras ocasiões de encontro de gentes do seu território de influência, que ali acorriam para se mostrar e reavivar ou renovar conhecimentos, saber notícias de fora, entabular relações e negócios, estreitando os laços que faziam a sua unidade, e também para luzir e se divertir, na variedade dos seus fatos, numa exibição que era ainda apenas o fluir do seu sentido natural na sua pura espontânea razão de ser.

As romarias são fundamentalmente celebrações religiosas em honra de qualquer santo ou invocação divina, patronos de uma localidade ou de um santuário, compreendendo missa de festa com sermão e prática e, a maioria das vezes, procissão, que tem lugar no seu dia e nesse santuário, duplicadas de uma festa profana característica, em que coexistem elementos de todas as espécies, religiosos e profanos, cristãos e mágicos, cerimoniais e festivos, num caleidoscópio variado e complexo.

A festa faz parte integrante da vida dos homens. Por isso, as pessoas sentem necessidade da festa e a ela dedicam muito das suas energias: reúnem-se, programam, servem gratuitamente para que a alegria se manifeste, a partilha fortaleça os laços de amizade e o convívio dê novo alento à caminhada.

Neste meu livro pretendi estabelecer um roteiro, tão exaustivo, quanto os meus conhecimentos e as próprias fontes de consulta permitiram e, ao mesmo tempo, fundamentar algumas origens, quer em termos religiosos, quer em termos históricos.

A História da Igreja em Portugal está em grande parte por fazer e muitas das suas fontes documentais encontram-se dispersa, sendo, por isso, de difícil consulta. Para além dos trabalhos de Fortunato de Almeida, do Padre Miguel de Oliveira e de Monsenhor Moreira das Neves, não existem muitas obras organizadas e sistematizadas. Está agora em lançamento, pelo Círculo de Leitores, uma História da Igreja em Portugal que ainda não conheço, mas que me dizem ser uma obra de grande qualidade intelectual e que pode ajudar a fazer luz sobre muitos aspectos ainda obscuros e pouco divulgados.

Não se surpreendam, especialmente quem conhece melhor os rituais da liturgia católica actual, se alguns dos ritos que descrevo, vos possam parecer diferentes dos que agora se praticam. Tal circunstância resulta de muitos dos documentos que consultei para fazer este trabalho serem anteriores ao Concílio Vaticano II que decorreu entre 11 de Outubro de 1962 e 8 de Dezembro de 1965, que foi o segundo mais longo da História da Igreja, a seguir ao Concílio de Trento que decorreu entre 13 de Dezembro de 1545 e 4 de Dezembro de 1563, talvez por isso os mais marcantes dos 21 Concílios Ecuménicos que já se realizaram.

Para além dos aspectos teológicos e pastorais, o Concílio Vaticano II trouxe profundas alterações ao ritual das celebrações religiosas, especialmente ao da Missa. Como eu, muitos de vós ainda se recordam de a Missa ser celebrada em Latim, com os sacerdotes de costas para os fiéis. Como se recordarão que as mulheres não podiam entrar nas igrejas sem que a cabeça fosse tapada com um véu. Imaginem o escândalo que seria nesse tempo se uma mulher jovem entrasse numa igreja com uma mini-saia dos tempos modernos, ou com um generoso decote da moda actual. Se tal acontecesse no tempo do Cónego Silva Martins, do Padre Eduardo Dias Afonso, estes da Paróquia de Sardoal, ou do Padre Francisco Pires, da Paróquia de Santa Clara de Alcaravela, seria apontada como mulher de mau porte, violadora dos usos e costumes e da moral cristã, seria expulsa ou impedida de entrar no templo, ou mesmo quase excomungada!

Feita esta explicação breve e porque sinto nas vossas expressões a tradução da famosa locução latina com que Cícero, no Senado Romano interpelou Catilina, famoso pelos seus longos e enfadonhos discursos e com uma oratória despida de qualquer conteúdo: Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra? Porque abusas da nossa paciência, Catilina? E porque não quero abusar da vossa paciência para me ouvirem, pouco mais me alongarei.

Se Deus me der vida e saúde, espero poder continuar a dar o meu modesto contributo para o conhecimento e divulgação da História do Concelho de Sardoal. Tenho dois trabalhos prontos para publicação. Um com o título «Gastronomia, Tradições e outras memórias do concelho de Sardoal», um percurso pelas tradições gastronómicas do nosso concelho e alguns apontamentos curiosos sobre alguns aspectos da vida social e política do Sardoal, de um período agitado, como foram os dez últimos anos da Monarquia. Um outro sobre o Mestre do Sardoal, muito falado, mas provavelmente pouco conhecido, que deverá ser lançado durante as Festas do Concelho que vão decorrer de 20 a 24 de Setembro. Escrevi ainda no ano passado, quando a freguesia de Valhascos perfez 50 anos, alguns apontamentos que contêm os elementos que conheço da sua história e que não chegou a ser publicado. Uma monografia sobre a Igreja Matriz da Paróquia de S. Tiago e S. Mateus de Sardoal, uma resenha biográfica sobre as figuras da História de Portugal que mais directamente estiveram relacionadas com o Sardoal e uma outra resenha biográfica sobre os sacerdotes naturais do nosso concelho que mais marcaram a vida religiosa e política da nossa terra, para além de outros trabalhos de menor dimensão sobre pessoas e acontecimentos relacionados com o Sardoal, em relação aos quais vou descobrindo novos elementos documentais.

Termino, agradecendo o convite que me fizeram e a atenção com que me escutaram, colocando-me à vossa disposição para responder a algumas questões que me queiram colocar.

Muito obrigado!

Sardoal, 29 de Junho de 2000